Bom artigo do Vinicius Torres Freire, colunista do jornal da ditabranda, sobre a consolidação dos "barons" no grande bananão. Espera-se que a eles não seja necessário adicionar o adjetivo que acompanha seus similares americanos: "robber".
Nem toda fusão & aquisição tem o dedo do governo Lula. Algumas são feitas a braçadas, outras à boca miúda, algumas levam só a benção estatal. Algumas das principais personagens desses grandes negócios são proprietários do que antes eram apenas empreiteiras gigantes, agora conglomerados diversificados (Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez).
Os grandes empreiteiros conversam muito bem com Lula, em pessoa.
Outra parte do jogo é armada por Luciano Coutinho, do BNDES, que anunciou o projeto das "campeãs" e "multinacionais" brasileiras e o implementou com eficácia, em tempo escasso -o economista assumiu o banco faz menos de três anos.
O contexto histórico deu o resto do impulso à criação de "chaebol" coreanos ou "keiretsu" japoneses à moda brasileira (ou se trata de algo como a criação de conglomerados americanos e alemães na virada do século 19 para o 20?). A crise financeira descapitalizou ou quebrou empresas no Brasil e lá fora. O mundo rico (a contragosto) e o Brasil (com gosto) convocaram o Estado para resolver a lambança. O relativo sucesso do Brasil na crise reforçou os vetores ativistas do governo.
O BNDES terá R$ 180 bilhões do Tesouro no biênio 2009-10. Ajudou a concentrar o negócio de carnes na mão do JBS; o de frango, suínos e derivados na mão da Perdigão-Sadia (a Perdigão já era "semiestatal"); a telefonia nacional na mão da Oi; boa parte do negócio de celulose na mão da Votorantim-Aracruz.
O comentário vem a propósito da simpatia do governo pelo desejo da Camargo Corrêa de açambarcar um terço da distribuição de eletricidade no Brasil, embora tal negócio seja ainda incipiente. Além da Camargo, a Odebrecht também gostaria de levar a Brasiliana (Eletropaulo e AES), hoje de BNDES e AES; pode ser que tente levar a Duke no Brasil. E a Cemig sempre sonhou em ser grande consolidadora do setor.
Com a Odebrecht, a Petrobras forma um grande elo da ciranda de fusões & aquisições do período Lula 2. Sócias na Braskem, que engoliu a Quattor, Petrobras e Odebrecht quase monopolizaram e verticalizaram a petroquímica no Brasil. Por falar nisso, a Braskem comprou ontem as petroquímicas muito mal das pernas da Sunoco, nos EUA.
Odebrecht e Petrobras estão preocupadas com o movimento anunciado ontem pela Cosan, que fundiu seus negócios de etanol e postos com a Shell (lembre-se que a Cosan comprara os postos Esso no Brasil).
A Petrobras quer ter pelo menos um quinto do negócio do álcool no Brasil. Está procurando mais usinas para comprar, uma meia dúzia. A Odebrecht tem a ETH Bionergia, que está acabando de comprar a Brenco (também de etanol, com apoio e sociedade do BNDES).
A consolidação não acabou -as alcooleiras estão mal das pernas, endividadas. Os estrangeiros estão chegando, na contramão das "múltis brasileiras". A múlti francesa do agronegócio Louis Dreyfuss levou a Santelisa, a segunda do etanol (a primeira é a Cosan). A múlti americana de commodities Bunge vendeu seu negócio de fertilizantes para a Vale (outra "semiestatal") a fim de se concentrar no etanol.
O que falta? Farmacêuticas, siderurgia? Quem dá mais?
Fonte: FSP