quarta-feira, 30 de junho de 2010

Martin Wolf e a politica fiscal

Ótimo artigo do Martin Wolf do FT sobre o problema fiscal criado em decorrência da crise bancária. Leitura obrigatória para quem anda comprando a tese da mudança de sinal da política fiscal como pilula milagrosa. Como mencionado em outros posts a proposta é um grande equivoco com sérias consequências para a economia mundial e, principalmente, para a zona do euro.





Os déficits não podem ser reduzidos sem que se resolva o excesso de endividamento de setores privados avariados

O encontro de cúpula do Grupo dos 20 países líderes no Canadá no último fim de semana foi um passo à frente para a cooperação ou um passo atrás, em direção ao desacordo? As duas respostas parecem certas. A defesa de "planos de consolidação fiscal favoráveis ao crescimento" oferece avanços a todos. Mas presume algo ainda não provado: que a rápida consolidação neste momento sustentaria a expansão econômica em vez de corroê-la.

Ainda assim, em vez de examinar em detalhes seu provável resultado, faço uma pergunta mais ampla: Em que nos metemos? Quando o fiz, me vi pensando no jogo infantil britânico de "passar o pacote". No jogo, um pacote é passado de mão em mão até a música parar. O jogador que ficou com o embrulho, então, remove uma camada de papel e o jogo recomeça. O vencedor é quem remove o último papel e fica com o prêmio.

Nosso jogo adulto de passar o pacote é mais complexo: há muitos jogos ocorrendo ao mesmo tempo; e há muitos pacotes, alguns com prêmios; outros com castigos. Seria melhor se fossem jogados de forma cooperativa, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) ressalta em seu documento sobre o "processo de avaliação mútua do G-20", preparado para o encontro de cúpula. Mas é muito difícil fazê-lo. Apesar de todas as belas intenções, a probabilidade de resultados não cooperativos é muito maior.

Aqui estão, então, quatro desses jogos. O primeiro é jogado dentro do setor financeiro: o objetivo de cada jogador é assegurar que os créditos inadimplentes acabem com algum outro, enquanto ganham tarifas a cada camada de papel que retiram. O segundo é jogado entre o setor financeiro e o resto do setor privado. A meta é vender ao setor privado o máximo possível de serviços e garantir que as perdas acabem nas mãos dos clientes. O terceiro é jogado entre o setor financeiro e o Estado: o objetivo é assegurar que, se tudo falhar, as perdas acabem nas mãos do Estado. Então, quando o Estado promover o resgate, o setor financeiro pode lucrar vendendo a descoberto contra os Estados que levou à falência. O quarto é jogado entre Estados. A meta é garantir que os outros países acabem ficando com qualquer excesso de oferta em suas mãos. Os países superavitários ganham ao quebrar em série o setor privado, e depois, o público de seus parceiros comerciais. Pode ser chamado de "empobreça o vizinho, mas sinta-se bem quanto a isso". É o jogo que a Alemanha vem jogando tão bem na região do euro.

O que esses quatro jogos têm a ver com o encontro de cúpula do G-20? Em uma palavra, tudo. O primeiro jogo dispersou ativos tóxicos pelo sistema financeiro. O segundo deixou o setor privado não bancário com dívidas além de sua capacidade e em processo de desalavancagem. O terceiro, no devido tempo, danificou as finanças dos Estados. O quarto ajudou a provocar a crise e agora é obstáculo para a recuperação. Acima de tudo, esses jogos estão todos ligados entre si e, portanto, precisam ser modificados de forma conjunta. O G-20 sabe disso, mas apenas até certo ponto.

Como Talleyrand supostamente teria dito dos Bourbon, as autoridades não aprenderam nada nem nada esqueceram, inclusive sobre as raízes, no setor financeiro privado, das atuais crises fiscais. Com frequência o debate trata da consolidação fiscal isoladamente. Isso é um enorme equívoco. O que importa não é apenas a dívida pública, mas todas as dívidas.

O informe anual mais recente do Banco de Compensações Internacionais (BIS) assinala isso claramente: mostra que três importantes países deficitários - Estados Unidos, Reino Unido e Espanha - tinham posições de endividamento público que pareciam bem controladas, enquanto as dívidas dos consumidores explodiam em relação ao Produto Interno Bruto. No caso da Espanha, a dívida governamental até melhorava de forma consistente. A proporção entre as dívidas dos consumidores e os ativos financeiros dava a ilusória boa impressão de solidez nas dívidas primárias. Com a crise financeira e o estouro da bolha de ativos, veio a desalavancagem dos consumidores e a alavancagem fiscal.

São imagens refletidas no espelho: se o setor privado tem superávit financeiro (excesso de renda em relação aos gastos), haverá déficit fiscal ou superávit em conta corrente (ou ambos). Quanto maior o superávit privado, maiores terão de ser o déficit fiscal ou o superávit em conta corrente. Caso os déficits fiscais precisem cair, o setor privado terá de gastar mais em relação à renda ou a conta corrente precisará melhorar. É evidente que isso precisa acontecer com aumento nos gastos, não com renda mais baixa, especialmente após uma profunda recessão.

O que isso tem a ver com as decisões do G-20 sobre política fiscal? Nos anos anteriores à crise, três grupos de países tinham grandes excessos de renda sobre os gastos: alguns poucos países industriais amadurecidos, mais notavelmente Alemanha e Japão; China (que estava em uma categoria própria); e alguns exportadores de commodities. Enquanto isso, com a maioria das economias de países emergentes afetadas por crises financeiras, esses superávits eram compensados por déficits de alguns países avançados, mais notavelmente EUA, e nações do Leste Europeu e Europa Central. Então, quando a crise irrompeu, os superávits dos países superavitários encolheram, já que a demanda externa desabou. Sua demanda externa, no entanto, também era sustentada por déficits fiscais em alta, particularmente nos países deficitários: portanto, a alavancagem pública compensou parcialmente a desalavancagem privada. Agora, com o aperto involuntário na Europa periférica e o aperto voluntário nos demais lugares, o que vem por aí é mais austeridade.

Existe uma crença bastante ampla de que essa redução de gastos públicos, via impacto na confiança, levará ao aumento dos gastos privados. Como o informe anual do BIS também mostra, no entanto, a desalavancagem tende a ser profunda e prolongada em economias pós-crise. Quando uma parte tão grande da economia mundial é afetada, é provável que o legado adverso dure ainda mais.

Em resumo, pacotes de excesso de oferta saíram de países superavitários para os setores privados de países deficitários e, então, depois da crise, para os setores públicos dos países deficitários. Suponha que muitos dos países deficitários agora entrem em fase de redução de gastos públicos. Para onde os pacotes irão a seguir?

Isso está incerto: talvez os superávits sejam absorvidos em déficits externos ainda maiores em uma série de países emergentes, como os mercados financeiros, seduzidos pela relativa solvência desses países, buscam alcançar; talvez, como as autoridades dos EUA temem, especialmente com a região do euro entrando em superávit externo, esses superávits acabarão em déficits ainda maiores para o bom e velho Tio Sam; talvez os superávits encolham, com a China encabeçando o caminho; e, talvez, o superávits sejam deflacionados em uma prolongada retração global.

Ainda assim, está bastante claro que a discussão isolada da necessidade de reduzir os déficits fiscais não funcionará. Os déficits não podem ser reduzidos sem que se resolva o excesso de endividamento de setores privados avariados e sem reduzir desequilíbrios externos, ou ambos.

Os jogos que jogamos vêm sendo nocivos economicamente. Quando começarmos a participar de jogos melhores, estaremos no caminho para a recuperação.

Fonte: Valor

terça-feira, 29 de junho de 2010

A Nova Direita

Mas ele é cepalino e está à esquerda da atual administração em política econômica, argumentava um velho amigo que não consegui resistir ao estranho charme do candidato da Nova Direita. Não, ele não é de Direita, imagina, voce acha que somente petistas são de esquerda? Desnecessário responder. Como observei em outro post o ponto não é este: pouco importa se ele tem um passado na esquerda - não será o primeiro a mudar de lado - o fato é que no mercado eleitoral ele se coloca como candidato de direita. Ele, ao contrário do que se afirma, tem o figurino ideal sonhado pela sua base social e eleitoral que é uma direita envergonhada que se sente desconfortável ao sentar se ao lado de representantes da velha direita. O verniz de esquerda lhe cai bem e é o que o torna tão irresistível aos olhos desta gente. Não entendo a surpresa...

Tão pouco surpreende o apoio apaixonado de "intelectuais " do velho e pelego PCB a sua candidatura. Esta turma ate hoje ainda não engoliu o fato que os trabalhadores optaram por construir um partido próprio e os condenaram ao lixo da história. É preciso ter estomago forte para ler o que esta turma anda escrevendo o pior deles é, seguramente, um poeta menor que usa seu espaço no jornal da ditabranda para expressar a velha e conhecida arrogância dos stalinistas, para não mencionar a pratica do assassinato de personalidade que eles ainda praticam em outros lugares.

Felizmente com a derrota eles devem desaparecer do cenário político e abrir espaço pra uma direita mais inteligente e em melhores condições para fazer as criticas necessárias a admistração Dilma.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

The third depression


Infelizmente eu acho que ele tem razão. Em entrevista, semana passada, a BandNews, já havia expresso o mesmo temor.Não usei a expressão depressão, mas uma recessão profunda.


Recessions are common; depressions are rare. As far as I can tell, there were only two eras in economic history that were widely described as “depressions” at the time: the years of deflation and instability that followed the Panic of 1873 and the years of mass unemployment that followed the financial crisis of 1929-31.

Neither the Long Depression of the 19th century nor the Great Depression of the 20th was an era of nonstop decline — on the contrary, both included periods when the economy grew. But these episodes of improvement were never enough to undo the damage from the initial slump, and were followed by relapses.

We are now, I fear, in the early stages of a third depression. It will probably look more like the Long Depression than the much more severe Great Depression. But the cost — to the world economy and, above all, to the millions of lives blighted by the absence of jobs — will nonetheless be immense.

And this third depression will be primarily a failure of policy. Around the world — most recently at last weekend’s deeply discouraging G-20 meeting — governments are obsessing about inflation when the real threat is deflation, preaching the need for belt-tightening when the real problem is inadequate spending.

In 2008 and 2009, it seemed as if we might have learned from history. Unlike their predecessors, who raised interest rates in the face of financial crisis, the current leaders of the Federal Reserve and the European Central Bank slashed rates and moved to support credit markets. Unlike governments of the past, which tried to balance budgets in the face of a plunging economy, today’s governments allowed deficits to rise. And better policies helped the world avoid complete collapse: the recession brought on by the financial crisis arguably ended last summer.

But future historians will tell us that this wasn’t the end of the third depression, just as the business upturn that began in 1933 wasn’t the end of the Great Depression. After all, unemployment — especially long-term unemployment — remains at levels that would have been considered catastrophic not long ago, and shows no sign of coming down rapidly. And both the United States and Europe are well on their way toward Japan-style deflationary traps.

In the face of this grim picture, you might have expected policy makers to realize that they haven’t yet done enough to promote recovery. But no: over the last few months there has been a stunning resurgence of hard-money and balanced-budget orthodoxy.

As far as rhetoric is concerned, the revival of the old-time religion is most evident in Europe, where officials seem to be getting their talking points from the collected speeches of Herbert Hoover, up to and including the claim that raising taxes and cutting spending will actually expand the economy, by improving business confidence. As a practical matter, however, America isn’t doing much better. The Fed seems aware of the deflationary risks — but what it proposes to do about these risks is, well, nothing. The Obama administration understands the dangers of premature fiscal austerity — but because Republicans and conservative Democrats in Congress won’t authorize additional aid to state governments, that austerity is coming anyway, in the form of budget cuts at the state and local levels.

Why the wrong turn in policy? The hard-liners often invoke the troubles facing Greece and other nations around the edges of Europe to justify their actions. And it’s true that bond investors have turned on governments with intractable deficits. But there is no evidence that short-run fiscal austerity in the face of a depressed economy reassures investors. On the contrary: Greece has agreed to harsh austerity, only to find its risk spreads growing ever wider; Ireland has imposed savage cuts in public spending, only to be treated by the markets as a worse risk than Spain, which has been far more reluctant to take the hard-liners’ medicine.

It’s almost as if the financial markets understand what policy makers seemingly don’t: that while long-term fiscal responsibility is important, slashing spending in the midst of a depression, which deepens that depression and paves the way for deflation, is actually self-defeating.

So I don’t think this is really about Greece, or indeed about any realistic appreciation of the tradeoffs between deficits and jobs. It is, instead, the victory of an orthodoxy that has little to do with rational analysis, whose main tenet is that imposing suffering on other people is how you show leadership in tough times.

And who will pay the price for this triumph of orthodoxy? The answer is, tens of millions of unemployed workers, many of whom will go jobless for years, and some of whom will never work again.

Fonte>NYTimes

domingo, 27 de junho de 2010

sábado, 26 de junho de 2010

De um jogador brasileiro a um técnico espanhol, João Cabral de Melo Neto

Não é a bola alguma carta
que se leva de casa em casa:

é antes telegrama que vai
de onde o atiram ao onde cai.

Parado, o brasileiro a faz
ir onde há-de, sem leva e traz;

com aritméticas de circo
ele a faz ir onde é preciso;

em telegrama, que é sem tempo
ele a faz ir ao mais extremo.

Não corre: ele sabe que a bola,
Telegrama, mais que corre voa.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O profeta da rua itapeva

Um belo conjunto de equívocos com boa argumentação e propostas com algum fundamento econômico e um verdadeiro convite ao suicídio político em qualquer regime democrático. O autor desta proeza: Nakano, o profeta da rua itapeva.




Não há como não ser repetitivo no Brasil pois cometemos os mesmos erros repetidamente. Entramos novamente na armadilha que bloqueia a transição da economia brasileira para um processo de crescimento mais acelerado e estável. Antes da taxa de investimento chegar à casa dos 20% do PIB, para poder acelerar o crescimento do PIB potencial, surge a ameaça de inflação e do déficit excessivo nas transações correntes. Daí, ao invés de contermos os gastos correntes do governo aumentamos a taxa de juros. Aí está o erro. A inflação pode ser contida, em grande parte em função da apreciação da taxa de câmbio, mas o déficit em transações corrente dispara anunciando dificuldades ou crise no médio prazo. Se as autoridades decidirem evitar antecipadamente a crise terão que frear ainda mais o crescimento e depreciar a taxa de câmbio.

Vivenciamos esse erro de 1995 a 1999 e tivemos a crise cambial. Novamente em 2008, enquanto o Banco Central aumentava a taxa de juros a partir do mês de abril, o governo praticava política fiscal fortemente expansionista. Nesse caso o script final mudou por que fomos atropelados no último trimestre pela forte contração de crédito pelos bancos brasileiros em função do pânico gerado nos Estados Unidos com a quebra do Lehman ' s Brothers. Este ano, mal iniciamos a recuperação dos investimentos o Banco Central novamente iniciou a elevação da taxa de juros em função do aumento da expectativa de inflação. A política fiscal expansionista plenamente justificável no final de 2008 e primeiro semestre de 2009, pois foi uma ação contracíclica, não se justifica há muito tempo. Deveríamos ter uma coordenação entre a política fiscal e monetária de forma que neste ano a política fiscal deveria ser contracionista para conter o excesso de demanda e conter tanto déficit em transações correntes quando eliminar a ameaça de inflação. Nesse caso a política monetária poderia ser passiva de forma a não bloquear o aumento na taxa de investimento. Assim a expansão do produto potencial decorrente poderia acompanhar o crescimento da demanda agregada, mais moderada em função da política fiscal contracionista.

O efeito perverso da atual elevação da taxa de juros é que ao atrair fluxo de capitais do exterior e gerar novas pressões para apreciar a taxa de câmbio, agrava ainda mais o crescente déficit em transações corrente. Basta lembrar que o volume de importações cresceram 41,5% até maio deste ano, comparado ao mesmo período de 2009. Neste mesmo período o volume de importações de bens duráveis aumentou 77,1%.

É verdade que temos hoje quase US$ 250 bilhões de reservas cambiais, mas o estoque de ativos líquidos no Brasil é muito maior de forma que uma vez instalada a desconfiança de que a taxa de câmbio deverá depreciar, a probabilidade de interrompe-las será muito pequena. Só os recursos aplicados no overnight e nas operações com compromisso de recompra pelo Banco Central podem esgotar com as reservas cambiais. Pior, como nesses casos há sempre um "overshooting" o impacto sobre a taxa de câmbio deverá ser desnecessariamente forte.


O resultado desse processo é um crescimento médio moderado com fortes instabilidades tanto no produto como na taxa de inflação, na melhor das hipóteses. No longo prazo deverá resultar num crescimento medíocre quando finalmente a economia brasileira adquirir dinamismo e puder voltar a crescer aceleradamente como fizemos de 1940 a 1980 quando crescemos uma média anual de 7%. Para perceber as nossas possibilidades basta lembrar que apesar da taxa de câmbio apreciada, a indústria de transformação voltou a liderar o crescimento alimentada por um crescimento doméstico da demanda, por sua vez sustentada pelo aumento da massa real de salário que deverá ser superior a 5,5% este ano. É fundamental lembrar que este aumento vem acompanhado de aumento maior da produtividade do trabalho de forma que o custo unitário do trabalho está caindo. Portanto, a redução do desemprego e o aumento de salário real não exercem pressão inflacionária.

Como este é um ano eleitoral a questão fica para o próximo presidente: se quisermos transitar para um crescimento mais acelerado e estável não há outra saída senão reduzir relativamente ao PIB a despesa corrente do governo de forma a abrir espaço no PIB para que a taxa de investimento aumente para mais do que 25% do PIB. Isso não significa que a despesa corrente tenha que ser reduzida em termos absolutos, ela tem que crescer menos do que o PIB ao longo de anos. Não há outra opção pois a soma dos componentes da demanda agregada não pode ser maior do que o PIB. Para ampliar o investimento privado concomitantemente com a redução da despesa, a carga tributária terá que ser reduzida devolvendo renda a este setor. Nesse processo o déficit público deverá ser eliminado de forma que a taxa de juros possa convergir para níveis internacionais e a taxa de câmbio possa ser mantida mais competitiva. Essa transição para o crescimento mais rápido pode ser feito ao longo do primeiro mandato e o próximo Presidente ser reeleito, ou mais lentamente, com redução da probabilidade de ser reeleito.

Fonte: Valor

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Tranqueira

Tranqueira, há muito tempo não ouvia esta palavra. Mas ela parece ser adequada para definir a produção do marxismo talebã em economia. Se é que podemos chamar de economia, esta peculiar mistura de pobreza teórica com indigência empírica que tanta encanta os jovens revoltados com a injustiça social que eles acreditam seria solucionada - da noite para o dia - com a entrega do poder para o bravo e genial marxismo talebã. Naturalmente, desconhecem o que acontecia no antigo império sovietico e a ilha - famosa hacienda da familia castro - é mais uma vitima do imperialismo. Maravilhoso este mundo em que todos os problemas são solucionados pelo homem com coragem e peito para enfrentar os poderosos....

Palavras, palavras, diria um amigo, provocações de um economista iconoclasta .... ou de um conservador cansado da labuta diária contra o eclipse da razão?

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Martin Wolf e a politica monetaria

Ótimo artigo do Wolf do FT sobre os dilemas da politica econômica. Concordo com as críticas à tese do cenario idílico criado pelo forte aperto fiscal - o contexto é diferente -, mas será que a expansão monetária é realmente uma alternativa melhor?



Uma retração fiscal estrutural sólida e coordenada, focada em gastos, promoverá a prosperidade

Festina lente - apressa-te devagar - é um conselho que herdamos dos antigos romanos. Os legisladores ocidentais deveriam levá-lo a sério agora. Confrontados com colossais déficits fiscais, muitos concluíram que eles deveriam apressar o aperto fiscal, na esperança de que ele comprove ser expansionista. Quais são as probabilidades de que estejam certos? Pequenas, creio eu. Além disso, há alternativas bem melhores à mão. Seu inconveniente, porém, é que elas são heterodoxas: lamentavelmente, muitas pessoas "sólidas" preferem recessões ortodoxas a recuperações heterodoxas.

Por que um forte aperto fiscal estrutural promoveria recuperação? Como observam Alberto Alesina e Silvia Ardagna, de Harvard, num artigo influente, déficits potenciais menores poderão melhorar o grau de confiança entre consumidores e investidores, consequentemente elevando o consumo e reduzindo os prêmios de risco nas taxas de juros ("Large changes in fiscal policy", working paper 15438, www.nber.org ). Entrementes, no lado da oferta, o aperto fiscal poderá aumentar a oferta de mão de obra, de capital ou de empreendedorismo. As conclusões abrangentes do artigo deles são que os ajustes fiscais "baseados em cortes de despesas e sem aumentos de impostos têm maior probabilidade de reduzir déficits e dívida em relação às taxas do PIB que as baseadas em aumentos de impostos. Além disso, ajustes no lado do gasto em vez do lado do imposto têm menos probabilidade de criar recessões". Essa linha de argumento reforçou a determinação de George Osborne, o novo ministro das Finanças do Reino Unido.

É convincente? Em uma palavra, não. Os autores agrupam dados para membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico entre 1970 e 2007. Mas o impacto do aperto fiscal dependerá das circunstâncias.

Uma redução no déficit fiscal deverá ser compensada por mudanças nas contas externas e no setor privado. Para a retração fiscal ser expansionista, as exportações líquidas deverão crescer e os gastos privados deverão aumentar, ou a poupança privada deverá cair. Portanto, a experiência da retração fiscal deverá ser muito diferente quando ocorrer em alguns países pequenos, não em muitos países grandes simultaneamente; quando o setor financeiro estiver saudável, não incapacitado; quando o setor privado estiver sem dívidas, não altamente alavancado; quando as taxas de juros estiverem elevadas, não próximas de zero, quando a demanda externa estiver aquecida, não debilitada; e quando as taxas de câmbio reais se depreciarem acentuadamente em vez de permanecerem fixas.

Em suma, quando, como agora, as economias afetadas pela fragilidade do setor financeiro compuserem metade da economia mundial (de fato, junto com a ainda debilitada economia japonesa, perto de 60%); quando a mais dinâmica grande economia do mundo - a China - for mercantilista; quando as taxas de juros estiverem próximas de zero; e quando as companhias e as famílias estiverem limitadas em crédito, a noção de que um aperto fiscal prematuro comprovará ser intensamente expansionista é certamente heroica. Espero que isso seja verdade. Há poucos motivos, porém, para acreditar nisso.

Outro estudo, elaborado pelo Comitê dos EUA por um Orçamento Federal Responsável, examinou os casos do Canadá, Dinamarca, Finlândia, Irlanda e Suécia. O que emerge é a importância da demanda externa e, em vários casos, de enormes depreciações na taxa de câmbio. Será que esses exemplos bem sucedidos são realmente relevantes para os EUA e a União Europeia hoje? Duvido muito.

Outra abordagem seria identificar uma situação que realmente se pareça com a de hoje, O paralelo mais próximo é a década de 1930, em termos da proporção da economia mundial afetada pela crise, as baixas taxas de juros e o cenário desinflacionário (ou, naquele caso, deflacionário). Um estudo publicado no ano passado concluiu que o estímulo fiscal foi eficaz quando tentado (Almunia et al, "The effectiveness of fiscal and monetary stimulus in depressions", www.voxeu.org ).Conclui-se que o aperto fiscal teria sido recessivo à época.

Nas circunstâncias atuais, a crença de que um aperto fiscal coordenado por todo o mundo desenvolvido se comprovará expansionista é, para não dizer algo pior, otimista. Nessa etapa, inevitavelmente serei questionado: qual é a alternativa? Se esses déficits enormes continuarem, os mercados levarão um susto, as taxas de juros darão um salto e a dinâmica da dívida se tornará verdadeiramente terrível.

Tenho duas respostas para isso. A primeira, que formulei há uma semana, é que o ciclo de desalavancagem está gerando enormes superávits financeiros no setor privado em todo o mundo desenvolvido. A segunda resposta é que se os governos precisam administrar déficits para apoiar a demanda num momento de debilidade do setor privado eles sempre poderão tomar emprestado dos bancos centrais. Sim, isso é "imprimir moeda". É também uma política insanamente radical recomendada por ninguém menos radical que Milton Friedman, nos idos de 1948. Sua opinião era que o governo poderia expandir a base monetária durante recessões, e contraí-la nas expansões subsequentes. Um país com uma moeda fiduciária ("fiat currency") e uma moeda com taxa de câmbio flutuante poderia, portanto, estabilizar a economia sem desestabilizar os mercados de crédito. A perfeição nessa proposta é que não é preciso decidir se a política fiscal ou a política monetária fará o serviço pesado: elas são dois lados de uma moeda.

O argumento favorável a uma expansão monetária agressiva permanece sólido, embora não uniforme, uma vez que o crescimento da base monetária e do PIB nominal é fraco. Portanto, a política de "afrouxamento quantitativo" de Friedman, como é chamada, ainda faz muito sentido. Estaria eu recomendando a política econômica de Robert Mugabe? Não. Como em todas as demais coisas, o que interessa é o contexto. No momento, temos "uma quantia de dinheiro pequena demais perseguindo um número grande demais de mercadorias". Nesse ambiente, a política monetária precisa ser agressiva. Quando a economia se recuperar, os efeitos monetários deverão ser retirados, por meio de superávits orçamentários obtidos por meio de controles de longo prazo sobre os gastos. No curto prazo, mudanças nas exigências de reservas poderão compensar o impacto do crescimento dos depósitos dos bancos comerciais no banco central sobre a expansão monetária.

A crença generalizada reza que uma retração fiscal estrutural sólida e coordenada, focada em gastos, promoverá a prosperidade privada. Espero que isso se confirme. Mas duvido. Os governos devem se apressar devagar. Se eles se apressarem rapidamente, eles, e nós, poderemos nos arrepender muito em breve

Fonte: Valor

terça-feira, 22 de junho de 2010

Apanhando do MacBook

Estou com computador novo. Finalmente resolvi arriscar e comprei um MacBook branco e ainda estou apanhando da maquina que da pro gasto. anos de window e total incompetencia com informatica e eis me aqui perdido, sem saber configurar para o idioma brasileiro e aumentar o tamanho da tela. ja estou meio cego e vou ficar ainda mais, se nao aprender rapido...

o custo de troca realmente existe e explica, em parte, porque somos escravos de uma marca/sistema operacioal. neste momento deveria estar vendo o jogo da Franca, que parece estar perdendo. triste sina: ate no futebol eles nao se entendem...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Ate quando?

Anti-Marxista? Quem? Ah!!! eu, uuhh. Se acrescentarmos o adjetivo Talebã, com certeza. Naturalmente não sou marxista, mas quando jovem não resisti ao seu canto de sereia. Economista marxista acho que nunca fui: Ricardo e Keynes sempre foram os meus autores prediletos. Li quase tudo de e sobre Rosa Luxemburgo e por isto era um tipo estranho de marxista: nunca senti atração pelos russos, nem mesmo Trotsky, que considero apenas um bom escritor e um intelectual bem superior a média dos lideres do período. Nada se compara, obviamente, aos textos da Rosa. Boa economista e autora da melhor critica do sistema sovietico, ainda vale a pena ser lida. Li, também, muito Walter Benjamin e estudei seriamente a experiência socialisa chilena -tenho uma boa coleção de livros e documentos sobre o governo Allende.

O que me irrita profundamente no marxista talebã é sua pobreza intelectual e desprezo pelo conhecimento em geral e,principalmente, pela teoria econômica não marxista que vem a ser mais de 90% da produção em economia. Como não gostam de economia, abrem espaço pra quem não tem formação alguma em economia e justificam esta prática com o discurso do pluralismo que eles negam cotidianamente. Lembra as infames Republicas Democraticas e Populares do velho Imperio Sovietico , que sabemos não eram "democraticas" e muito menos "populares". Felizmente elas cairam de podre, já o aparelho deles continua firme e forte. Ate quando meu Deus?

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Agência

Perdido e assustado com os bons resultados na area econômica, o candidato da Nova Direita tenta colocar o "problema" das agências regulamentadoras no centro do debate eleitoral. Elas teriam se tornado parte da atual administração, deixando, portanto de cumprir sua função primordial de regulementação, passando a ser simplesmente mais um instrumento a serviço de interesse político-partidario.

Agência de regulamentação( ou seria de regulação?) é um problema complicado do ponto de vista teorico e tem um longo e controverso histórico de relacionamento com o governo e setor privado em vários países. Não tem sido diferente no Brasil e não é um problema exclusivo da atual admistração: na anterior as indicações também eram político-partidário. Os indicados nem sempre tinham o perfil adequado para o cargo. Este, aliás, é um ponto importante: o responsável pela agência tem que ser alguem com um bom cv na área. A experiência inglesa sugere que este é um dos fatores fundamentais para o sucesso da agência.

O sucesso da agência depende, também, da criação de entidades de defesa dos comsumidores com recursos suficientes para fazer o acompanhamento dos serviços prestados e oferecer subsidios ao público e ao governo na avaliação do desempenenho da agência. Alem disto ela diminui o risco de cooptação do responsável pela agência. Este é um aspecto que não parece ter sido considerado pelos genios da administração passada, mais preocupados em fazer caixa que em estruturar um sistema eficiente de regulamentação. Infelizmente a atual administração nunca demonstrou interesse em corrigir este equivoco e acho dificil acreditar que será diferente na futura administração, independente de quem venha ser eleito Presidente.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Os riscos de se antecipar o aperto fiscal

Excelente artigo do Wolf do FT sobre política fiscal. O argumento apresentado me parece convincente. O risco do aperto fiscal ser uma tiro no pé é muito grande, mas reconheço não ser uma decisão fácil. Ninguem nunca disse que política econômica é uma ciência exata...

A melhor política é adotar medidas que sustentem forte crescimento da demanda no curto prazo e contenha os enormes déficits no longo prazo

Mais uma vez ouvimos os brados da velha religião econômica: arrependa-se antes que seja tarde demais, o salário do pecado fiscal é a morte. Mas, será este o momento para medidas de austeridade? Eu duvido. No mínimo, temos de reconhecer os riscos: atraso na contenção de gastos cria um perigo de inflação e até mesmo de inadimplência; contenção prematura traz a ameaça de recessão e até de deflação, como argumentei na semana passada. Tendo por pouco sobrevivido ao maior colapso financeiro da história, precisamos entender que esses riscos adversos são graves.

Alguns argumentam que a economia está sempre em equilíbrio - que, nas palavras do dr. Pangloss, de Voltaire, tudo está ótimo no melhor dos mundos possíveis. Outros argumentam, com Andrew Mellon, secretário do Tesouro dos EUA no governo de Herbert Hoover, que após um grande boom de crédito, deveríamos "liquidar a mão de obra, as ações, os agricultores, ativos imobiliários imóveis (porque isso) purgará a podridão no sistema".

Não estou falando aos habitantes de quaisquer dessas cavernas. Falo aos que reconhecem que os erros no passado colocaram a economia mundial num buraco profundo e querem escapar o mais rapidamente possível. Mas pessoas sensatas acreditam que o maior perigo está agora em retardar o aperto fiscal. Sua convicção deve-se a quatro razões. Primeiro, temem que os mercados financeiros, tendo tomado como alvo a Grécia, Portugal e Espanha, logo apontarão suas armas para o Reino Unido, e até mesmo para os EUA; em segundo lugar, acreditam que déficits públicos "dissuadem" os investimentos privados necessários para uma recuperação; em terceiro lugar, alegam que déficits elevados produzem, necessariamente, inflação e, finalmente, acreditam que déficits fiscais não conseguem sustentar a demanda.

Vejamos onde estamos agora, usando a abordagem de equilíbrio financeiro do falecido Wynne Godley. Isso nos obriga a analisar como o setor privado está se comportando. Em 2010, segundo as previsões mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), o setor privado de cada país de alta renda incorrerá em excesso de receitas sobre despesas. Estima-se que esse diferencial seja de 7,8% do Produto Interno Bruto (PIB) reunido desses países, 12,6% no Japão, 9,7% no Reino Unido, 7,7% para os EUA e 6,8% para a zona do euro.

O que estamos vendo, em suma, é uma epidemia de frugalidade no setor privado - exatamente como receitaram muitos médicos econômicos. No entanto, essa contenção implica superávits em conta corrente ou déficits fiscais. Desses países, apenas a Alemanha e o Japão têm superávits em conta corrente. O restante são importadores de capital. Esses países incorrerão necessariamente em déficits fiscais maiores do que seus superávits privados. Temos, como notam os histéricos, uma onda fiscal vermelha.

O que veio primeiro - contenção do setor privado ou déficits fiscais? A resposta é: a primeira. No caso dos EUA, a enorme inflexão na balança do setor privado entre o quarto trimestre de 2007 e o segundo trimestre de 2009 - de um déficit de 2,2% do PIB para um superávit de 6,6% -, coincidiu com a crise financeira. O fato de a demanda agregada e as taxas de juro de longo prazo terem caído ao mesmo tempo mostra que o colapso dos gastos privados "atraíram" os déficits fiscais. O comportamento privado desregrado produziu o comportamento público desregrado.

Em sua coluna recente no FT, Jeffrey Sachs, da Universidade Colúmbia, afirmou que o estímulo fiscal foi desnecessário: medidas de política monetária teriam sidos suficientes. Eu discordo. A despeito de uma política monetária mais agressiva do que nunca, setores privados passaram a acumular enormes superávits. A política monetária estava enxugando gelo. Compensações fiscais, predominantemente estabilizadores orçamentários embutidos, e não o estímulo discricionário - ajudaram a sustentar a demanda durante a crise. Mas foram insuficientes, mesmo com apoio monetário, para evitar recessões profundas. É difícil de aceitar o argumento de que o estímulo foi desnecessário. É mais fácil crer que foi pequeno demais, embora também mal focado.

Então, com que rapidez deveriam os déficits ser eliminados? Precisamos reconhecer o perigo nesse ponto: cortar gastos públicos não implicará automaticamente em aumento dos gastos privados. A tentativa de redução do déficit estrutural poderia levar, isto sim, a um crescimento dos déficits fiscais cíclicos, o que equivaleria a correr sem sair do lugar, ou a uma redução dos superávits privados somente devido ao fato de a renda cair ainda mais rápido do que os gastos.

Enquanto a produção permanecer deprimida, é extremamente improvável que o apoio fiscal será inflacionário. O apoio fiscal também não "expulsará" o setor privado - é mais provável que o "atraia". A grande questão é, então, se os déficits podem ser financiados. Minha resposta é: sim. Lembre-se que enquanto o setor privado registrar superávits financeiros, precisará comprar dívida do setor público, a menos que o mundo desenvolvido como um todo esteja prestes a registrar enormes superávits externos.

De fato, o setor privado pode escolher entre um leque de governos. Mas é improvável que abandone os EUA. O setor privado não mostrou sinal de fazê-lo, até agora. O problema, para os europeus periféricos, é que eles têm pouca chance de um retorno de curto prazo ao crescimento. Os mercados não confiam na sustentabilidade política de economias em autoflagelação. O preocupante não são tanto os déficits fiscais, mas a incapacidade de sair deles.

A melhor política é implementar medidas que sustentem forte crescimento da demanda no curto prazo e, ao mesmo tempo conter os enormes déficits no longo prazo. Trata-se de andar e mascar chiclete ao mesmo tempo. Por que seria isso tão difícil?

Entretanto, agora seria um momento prejudicial para determinar austeridade fiscal à economia europeia e, assim, impor desfechos do tipo "empobrecer meu vizinho" aos infelizes EUA. Como Fred Bergsten, do Peterson Institute for International Economics, em Washington, advertiu, no FT, na semana passada, esse tipo de política pode ser muito perigoso. Assim, longe de ser estabilizadora, uma contenção fiscal prematura pode desestabilizar a economia mundial. Nesse caso, a decisão de transformar a zona do euro numa enorme Alemanha seria vista como um ato de guerra mercantilista contra os EUA. Por quanto tempo os americanos tolerariam a hipocrisia de países superavitários que culpam os tomadores de empréstimos pelos déficits que seus próprios superávits tornam inevitáveis? Não muito tempo, esse seria meu palpite, pelo menos agora que o governo dos EUA tornou-se o tomador de empréstimos de última instância do mundo.

Sim, compreendo que enormes déficits fiscais deixam as pessoas nervosas. Entendo, também, o desejo de tornar a solvência crível. Mas obedecer cegamente regras fiscais, ignorando o que está acontecendo no setor privado ou nas contas externas, é uma receita para desapontamento e conflitos políticos. Estabilização fiscal que dê sustentação ao crescimento é bem-vinda. Estabilização fiscal prematura que prejudique o crescimento é mais uma loucura

Fonte: Valor

terça-feira, 15 de junho de 2010

Céu de brigadeiro

O resulado do levantamento Focus, dados sobre a inflação e outras informações econômica relevantes confirmam o sucesso da política econômica da atual administração. É claro que há equivocos e exageros aqui e acolá, mas no geral há mais acertos que erros e os resultados ai estão para convencer ate os mais descrentes e rabujentos dos críticos. Nenhuma surpresa, observa um velho amigo, que, naturalmente, não conhece as análises geniais do marxismo talebã sobre a crise econômica. Pobre Marx, deve estar revirando no tumulo...

Enquanto no grande bananão o ceu é de brigadeiro, nas "oropas" os sinais estão longe de serem reconfortantes e a crise/recuperação deverá se estender por um longo período de tempo. Já no país de Pepino o Breve, vulgo Obama o cenário é um pouco melhor, mas longe do mundo cor de rosa por ele prometido e sonhado por seus eleitores. Ainda não é o fim do Império cantado em verso e prosa pelo marxismo talebã, mas a passagem do bastão já está em curso e, tudo indica, deverá ser demorada...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

domingo, 13 de junho de 2010

sábado, 12 de junho de 2010

Law like love, W.H.Auden

Law, say the gardeners, is the sun,
Law is the one
All gardeners obey
To-morrow, yesterday, to-day.

Law is the wisdom of the old,
The impotent grandfathers feebly scold;
The grandchildren put out a treble tongue,
Law is the senses of the young.

Law, says the priest with a priestly look,
Expounding to an unpriestly people,
Law is the words in my priestly book,
Law is my pulpit and my steeple.
Law, says the judge as he looks down his nose,
Speaking clearly and most severely,
Law is as I've told you before,
Law is as you know I suppose,
Law is but let me explain it once more,
Law is The Law.

Yet law-abiding scholars write:
Law is neither wrong nor right,
Law is only crimes
Punished by places and by times,
Law is the clothes men wear
Anytime, anywhere,
Law is Good-morning and Good-night.

Others say, Law is our Fate;
Others say, Law is our State;
Others say, others say
Law is no more,
Law has gone away.

And always the loud angry crowd,
Very angry and very loud,
Law is We,
And always the soft idiot softly Me.

If we, dear, know we know no more
Than they about the Law,
If I no more than you
Know what we should and should not do
Except that all agree
Gladly or miserably
That the Law is
And that all know this,
If therefore thinking it absurd
To identify Law with some other word,
Unlike so many men
I cannot say Law is again,
No more than they can we suppress
The universal wish to guess
Or slip out of our own position
Into an unconcerned condition.
Although I can at least confine
Your vanity and mine
To stating tirmidly
A timid similarity,
We shall boast anyway:
Like love I say.

Like love we don't know where or why,
Like love we can't compel or fly,
Like love we often weep,
Like love we seldom keep.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Marxismo talebã

É sempre dificil escolher uma profissão quando se tem 18 anos e mais dificil ainda conhecer as disciplinas do curso escolhido. Alguns gostam da idéia de ser economista, mas não se mostram dispostos a enfrentarem a carga quantitativa e tem pesadelos com a microeconomia e desistem antes de entrar em contato com a econometria. Outros insistem e finalmente descobrem a relevância de disciplinas que antes consideravam irrelevantes e entre estas a mais citada é sempre a microeconomia. Não serve pra nada é o discurso padrão.

O que mais sofre é aquele com preocupação social e sem facilidade com os metodos quantitativos. É uma presa fácil para o conhecido discurso do marxismo talebã contra a teoria neoclássica e a matematização da economia. Nenhuma relação, naturalmente, com as objeções bem fundamentadas de criticos famosos e respeitáveis, mas o velho chavão de sempre. É uma pena porque perdem uma grande oportunidade para incentiva-lo a estudar e superar esta falha na formação e introduzi-lo nos grandes debates do seculo passado, como, por ex, a controversia sobre o capital. É claro que para isto seria necessário gostar de economia e este me parece ser o grande problema do marxismo talebã: eles não gostam de economia, mas da idéia de ser economista...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

The new kid in town

A quinta coluna está feliz e comemorando a última peça encenada pelo Conselho de Segurança da ONU. É um movimento esperado e que somente confirma a retorica dos criticos das decisões da ONU e mais uma indicação - se é que ainda era necessário - da falta de criatividade da administração Obama. Mais do mesmo e dificuldade imensa em administrar os novos tempos na política internacional.

Afinal o Brasil saiu ganhando ou não? A resposta é obvia, ainda que uma surpresa para a nova direita: o Brasil deu os primeiros passos no espinhoso tabuleiro de gente grande da política internacional. Veio para ficar e não apenas para dar um passeio rapido. No caso de dúvidas, recomendo consultar a midia internacional.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Alexandre "eram os deuses astronautas" e o PIB...

Analise ponderada, raridade em se tratando de Alexandre "eram os deuses astronautas". Concordo com a necessidade do ajuste, porem a dificuldade política é imensa, dai ser mais realista aceitar, que a chamada poupança externa será a responsável pelo financiamento do crescimento. Há riscos, naturalmente, nesta estratégia,mas menores, me parece, que os alardeados por aqueles que ele chama de keynesianos de quermesse.


Os números do PIB divulgados ontem são impressionantes sob qualquer ótica. Descontada a sazonalidade do período, o crescimento anualizado sobre o trimestre anterior atingiu quase 11,5%. Mesmo se usarmos a média dos últimos dois trimestres (10,4% ao ano) ou dos últimos três trimestres (10% ao ano), é inevitável concluir que o país cresce a um ritmo fortíssimo. E, note-se, nesse critério de avaliação, a velocidade de crescimento não resulta da fraca base de comparação do começo de 2009; é mesmo extraordinário.
Obviamente, ninguém com mais de cinco neurônios acha ruim que a economia cresça vigorosamente. A questão é saber se esse ritmo de expansão é sustentável, isto é, se pode ser mantido por longo período, ou se, pelo contrário, ocasionará desequilíbrios graves que, mais à frente, cobrarão preço elevado em termo de redução do crescimento futuro. A alternativa correta é a segunda.
Pudemos manter essa taxa de crescimento por algum tempo, da mesma forma que uma caixa de água pode receber mais líquido que sua capacidade de vazão desde que esteja suficiente vazia no começo. Contudo, assim como a caixa se encherá, levando ao fatal transbordamento à medida que o espaço vago for preenchido, também os desequilíbrios surgirão quando a capacidade ociosa se esgotar. O desafio é elevar o crescimento sustentável, ou, nos termos do nosso exemplo, a capacidade de vazão.
Embora não falte quem sugira que basta um ato de vontade, tanto a teoria econômica como a experiência de inúmeros países indicam que o crescimento de longo prazo depende essencialmente de quatro fatores.
Em primeiro lugar, a demografia, por exemplo, o tamanho da força de trabalho relativamente à população total. Quanto maior essa relação, tanto mais rápido deverá ser o crescimento.
Em segundo lugar, a qualificação dessa força de trabalho, tipicamente medida pelos anos de educação, devidamente ponderados pela qualidade dessa educação, como aferida em exames internacionais. Provavelmente relacionado à educação, mas afetado também por outras variáveis, há também o crescimento da produtividade da economia, geralmente associada ao ambiente de negócios, a arranjos institucionais (como direitos de propriedade bem definidos) e à abertura comercial, entre outros.
Esses três fatores têm em comum o fato de serem pouco passíveis de alteração por políticas governamentais, exceto em prazos muito longos (basta pensar que é necessária uma geração para alterar substancialmente a qualificação da força de trabalho). O que pode ser afetado num prazo mais curto é apenas o quarto fator: o volume de investimento.
Há desenvolvimentos positivos: o ritmo de expansão do investimento tem se acelerado, atingindo mais de 30% ao ano na média dos três últimos trimestres. No entanto, mesmo depois desse crescimento vertiginoso, a formação de capital representava apenas 18% do PIB no primeiro trimestre de 2010, insuficiente para fazer o estoque de capital aumentar o bastante para acomodar uma expansão do produto superior a 4%, 4,5% ao ano.
Estimamos que, para manter o crescimento na faixa de 5% a 5,5% ao ano, o investimento deveria atingir valor em torno de 22% do PIB, ainda bem superior ao observado.
Note-se, ademais, que a poupança bruta tem girado ao redor de 15% do PIB, apesar da crença de alguns de que o investimento geraria sua própria poupança. Isso reflete em larga medida o nível elevado do gasto público, ainda na casa de 20% do PIB (ante, por exemplo, 13% do PIB em nossos pares latino-americanos).
Vale dizer, não basta querer aumentar a taxa de investimento; é imperativo que o país eleve também sua poupança, de preferência por meio da redução do consumo público. Na ausência desse ajuste, será a poupança externa, mais uma vez, que financiará o crescimento, gostem disso ou não nossos keynesianos de quermesse.

Fonte: FSP

terça-feira, 8 de junho de 2010

"No princípio era Marx, e Marx se fez carne e habitou entre nós...".

Divertido artigo do Ponde no jornal da Ditabranda. "No princípio era Marx, e Marx se fez carne e habitou entre nós..." é um grande achado e descreve com maestria o comportamento do marxismo talebã na terra das jabuticabas exóticas. Como mencionado em outros posts não se deve confundir o marxismo com a sua versão talebã. Infelimente nesta terra triste alguns dos seus aparelhos ainda resistem ...


Respondo assim de bate-pronto, a um aluno: "Não, não tenho nenhum ideal". Silêncio. Talvez um pouco de mal-estar. Todos ali esperavam uma resposta diferente porque todo mundo legal tem um ideal.
Eu não tenho. É assim? Confesso, não sou legal, nem quero ser. Duvido de quem é legal e que tem um ideal. Esperança? Tampouco. E suspeito de quem queira me dar uma.
De novo respondo assim, de bate-pronto, a outro aluno: "Não, não quero mudar o mundo, nem mudar o homem, muito menos a mulher, a mulher, então, está perfeita como é, se mudar, atrapalha, gosto dela assim, carente, instável, infernal, de batom vermelho e de saia justa".
Mentira, esta última parte eu acrescentei agora, mas devia ter dito isso também. Outro silêncio. Talvez, de novo, um pouco de mal-estar. Espero que falhem todas as tentativas de mudar o homem.
Não saio para jantar com gente que quer mudar o mundo e que tem ideais. Prefiro as que perdem a hora no dia que decidiram salvar o mundo ou as que trocam seus ideais por um carro novo. Ou as que choram todo dia à noite na cama.
Tenho amigos que padecem desse vício de ter ideais e quererem salvar o mundo, mas você sabe como são essas coisas, amigo é amigo, e a gente deve aceitar como ele (ou ela) é, ou não é amizade.
Perguntam-me, estupefatos: "Mas você é professor, filósofo, escritor, intelectual, colunista da Folha, como pode não ter ideal algum ou não querer mudar o mundo?".
Penso um minuto e respondo: "Acordo de manhã e fico feliz porque sou isso tudo, gosto do que faço, espero poder fazer o que faço até o dia da minha morte".
Perguntam-me, de novo, mais estupefatos: "Mas você está envolvido no debate público! Pra quê, se você não quer mudar o mundo?".
Sou obrigado a pensar de novo, outro minuto (afinal, são perguntas difíceis), e respondo: "Participo do debate público pra atrapalhar a vida de quem quer mudar o mundo ou de quem tem ideais".
Os intelectuais e os professores pegaram uma mania de ser pregadores, e isso é uma lástima. Inclusive porque são pessoas que leem pouco e que são muito vaidosas, e da vaidade nunca sai coisa que preste (com exceção da mulher, para quem a vaidade é como uma segunda pele, que lhe cai bem).
O que você faria se algum professor pregasse o evangelho ao seu filho na faculdade? Provavelmente você lançaria mão de argumentos do tipo que os intelectuais lançam contra o ensino religioso: "O Estado é laico e blá-blá-blá... porque a liberdade de pensamento blá-blá-blá...". Se for para proibir Jesus, por que não proibir qualquer pregação?
Pergunto-me por que não proíbem professores de pregar o marxismo em sala de aula e toda aquela bobagem de luta de classes e sociedade sem lógica do capital? Isso não passa de uma crendice, assim como velhas senhoras creem em olho gordo.
Nas faculdades (e me refiro a grandes faculdades, não a bibocas que existem aos montes por aí), torturam-se alunos todos os dias com pregações vazias como essas, que apenas atrapalham a formação deles, fazendo-os crer que, de fato, "haverá outro mundo quando o McDonald"s fechar e o mundo inteiro ficar igual a Cuba".
Esses "pastores da fé socialista" aproveitam a invenção dessa bobagem de que jovem tem que mudar o mundo para pregarem suas taras. Normalmente, a vontade de mudar o mundo no jovem é causada apenas pela raiva que ele tem de ter que arrumar o quarto.
E suspeito que, assim como fanáticos religiosos leem só um livro, esses pregadores também só leem um livro e o deles começa assim: "No princípio era Marx, e Marx se fez carne e habitou entre nós...".
Reconhece-se uma pregação evangélica quando se ouve frases como: "Aleluia, irmão!". Reconhece-se uma pregação marxista quando se ouve frases como: "É necessário destruir o mundo do capital e criar uma sociedade mais justa onde o verdadeiro homem surgirá"."
Pergunto, confesso, com sono: "E quem vai criar essa sociedade mais justa?". Provavelmente o pregador em questão pensa que ele próprio e os seus amigos devem criar essa nova sociedade.
Mentirosos, deveriam ser tratados como pastores que vendem Jesus e aceitam cartão Visa.

Fonte:FSP

segunda-feira, 7 de junho de 2010

domingo, 6 de junho de 2010

sábado, 5 de junho de 2010

Lines written in early spring, William Wordsworth

I heard a thousand blended notes,
While in a grove I sate reclined,
In that sweet mood when pleasant thoughts
Bring sad thoughts to the mind.

To her fair works did Nature link
The human soul that through me ran;
And much it grieved my heart to think
What man has made of man.

Through primrose tufts, in that green bower,
The periwinkle trailed its wreaths;
And 'tis my faith that every flower
Enjoys the air it breathes.

The birds around me hopped and played,
Their thoughts I cannot measure:--
But the least motion which they made
It seemed a thrill of pleasure.

The budding twigs spread out their fan,
To catch the breezy air;
And I must think, do all I can,
That there was pleasure there.

If this belief from heaven be sent,
If such be Nature's holy plan,
Have I not reason to lament
What man has made of man?

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Mendonça de Barros e os benefícios da abertura econômica

Mais um bom artigo do Mendonça de Barros. Análise impecável e, naturalmente, acho que ele tem toda razão: os criticos da abertura da economia brasileira tem o pessimo hábito de ignorar os aspectos positivos e exagerar os negativos. No caso de alguns- que insistem em confundir marxismo talebã com formação em economia - as razões são bem conhecidas, já no segundo grupo é uma grande incognita.

Tenho acompanhado com interesse o processo de abertura da economia brasileira no período do real forte. O que vem ocorrendo é um excepcional exemplo de como a racionalidade econômica constrói um processo de mudanças estruturais.
Tudo começou com o fortalecimento de nossas contas externas a partir da demanda chinesa. Com os preços das matérias-primas em alta e o aumento das quantidades exportadas, o Brasil passou a acumular elevados saldos comerciais. Em resposta a essa nova situação, o real passou a ser uma moeda confiável, permitindo que as empresas brasileiras utilizassem as importações como alternativas de produtos e matérias-primas aqui produzidos.
Na etapa seguinte, as cadeias de distribuição dos produtos importados foram implantadas de forma eficiente para responder ao aumento da demanda. A forma de produção das economias de hoje exige a disponibilidade quase imediata das mercadorias, sejam elas produtos intermediários ou finais. Para tanto, é preciso que os distribuidores tenham estoques e capacidade logística de entrega. E isso leva bastante tempo para ser conseguido.
Outro fator que retardou o processo de abertura no Brasil foi a existência de um certo terrorismo dos produtores locais, ameaçando com o corte do fornecimento os clientes que usassem as importações como fator de pressão por preços menores. Por tudo isso foram necessários vários anos para que, depois da volta da confiança no real, as importações passassem a funcionar como mecanismo de ajuste de preços em setores importantes da economia.
Trago essas reflexões motivado pela leitura de um relatório sobre a formação de preços no mercado de aço no Brasil. Historicamente os preços dos vários tipos de aço produzidos aqui apresentavam um prêmio de 25% em relação aos produtos importados. Ou seja, indústrias importantes como a automobilística e a de eletrodomésticos pagavam por essa matéria-prima 25% a mais do que os produtores de outros países. E claramente repassavam esse sobrepreço para os consumidores.
Com a abertura do mercado nos últimos meses, esse prêmio já é menor do que 10%. A Volkswagen brasileira já compra no exterior mais de 20% de suas necessidades de aço.
Outras empresas certamente estão adotando a mesma política. Com isso, a capacidade das siderúrgicas brasileiras de impor sobrepreços elevados foi muito reduzida.
Como ainda existe uma proteção tarifária de 12% e os custos de transporte do aço importado oneram seu preço final, as siderúrgicas locais perderam apenas parte de seu mercado. Com isso, foi possível acomodar os custos mais elevados de produção no Brasil sem abrir mão de uma dinâmica de concorrência e de preços com alguma flexibilidade para baixo. Um arranjo que me parece muito eficiente.
Outro setor em que as importações têm contribuído para um sistema mais eficiente de formação de preços é o da indústria automobilística. O mesmo processo de formação de cadeias de distribuição e contratos de fornecimento de longo prazo vem ocorrendo nos últimos anos.
Com isso temos um maior coeficiente de importação na cadeia de produção local e os automóveis importados reduzem a capacidade das montadoras de aumentarem seus preços. Estudo recente mostra que os preços dos automóveis no Brasil têm crescido sistematicamente abaixo do índice geral de preços ao consumidor.
O valor real de um automóvel popular deflacionado pelo salário mínimo caiu 40% entre 2005 e hoje. O aumento menor dos preços desse automóvel em relação ao IPCA do período representou 40% desse ganho para o consumidor.
São inúmeros os exemplos de setores industriais que tiveram o mesmo comportamento. Os ganhos com o aumento das importações nos últimos anos são expressivos e mostram que a crítica indiscriminada contra a abertura não fazem sentido. Perde-se do lado da produção interna, mas temos um sistema mais eficiente de preços e a economia como um todo fica mais produtiva.

Fonte: FSP

quinta-feira, 3 de junho de 2010

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Arminio Fraga conta o que queria saber aos 21 anos


Bom artigo autobiografico do Arminio, um dos nossos melhores economistas.




O economista Arminio Fraga, de 52 anos, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Gávea Investimentos, cresceu rodeado de médicos e por pouco não partiu para a Medicina. Segundo ele contou à seção Coisas que eu queria saber aos 21, do Estadão.edu, a opção por Economia surgiu aos poucos, "meio que por eliminação". Com doutorado pela Princeton, Fraga recomenda os estudos fora do País e vê com bons olhos o interesse de gente qualificada pelo serviço público. Confira o depoimento:


"Aos 21 anos eu fazia Economia na PUC do Rio. E foi mais ou menos aos 21, do meio para o fim do curso, que eu me encontrei com a economia propriamente - no início, eu pensava em fazer mestrado em Administração, estudar Finanças. Naquele momento, aconteceu uma mudança importante na PUC, a partir da chegada de alguns professores, como Dionísio Dias Carneiro, Rogério Werneck, Francisco Lopes (a quem Fraga sucedeu no comando do Banco Central), que também foi meu orientador de mestrado. Pelas mãos desses professores, acabei me apaixonando por economia especificamente. Fiz mestrado em Economia na própria PUC e doutorado fora, em Princeton. Isso mostra um pouco o que é o acaso na vida das pessoas. Se esse grupo de professores cujas raízes ainda estão na PUC não tivesse ido para lá, provavelmente eu teria feito um MBA depois.

A opção por Economia surgiu aos poucos, meio que por eliminação. Cresci cercado de médicos por todos os lados - meu pai, meu avô, vários dos meus tios. No Colégio Santo Inácio, no Rio, onde estudei a vida inteira, o curso colegial estava dividido em turmas na época. Eu estava na turma de Medicina e queria ser médico - ou melhor, achava que queria ser médico.

Quando foi chegando a hora do vestibular, me dei conta de que gostava da profissão, achava bonita por tudo que eu via, a paixão das pessoas que estavam perto de mim. Mas ficou claro que eu não tinha essa paixão. Foi interessante, porque eu vi o que é a vida de uma pessoa que gosta do que faz, que estuda, se dedica, sofre e comemora as coisas que acontecem. E, do outro, percebi que Medicina não era pra mim.

Aquilo me levou a procurar outro caminho. Eu gostava de matemática, de temas internacionais, estava começando a me interessar um pouco por história. Tinha desenvolvido um interesse genérico por fazer parte de alguma empresa. Tinha também na cabeça o modelo de meu pai, que era professor, trabalhava num hospital público, o hospital universitário, metade do dia e depois tinha a clínica dele. Eu gostava desse modelo de manter um pé na academia. Só não sabia muito bem em quê.

Fui para Economia pensando numa vida de executivo, mas com uma certa visão de consultoria. Acabou sendo a minha opção por ser um curso que começa com um ciclo básico bastante abrangente, onde se estuda matemática, economia, filosofia, história, antropologia, estatística. Parecia ser algo que me daria uma boa formação e surgiu como opção para quem ainda não tinha escolhido exatamente a área de interesse para trabalhar, mas conseguiu eliminar muita coisa. Àquela altura, eu já tinha concluído que não queria ser engenheiro, advogado, dentista.

Sempre busquei uma coisa que me motivasse, me entusiasmasse, eu ouvi isso sempre dos meus pais. É fundamental fazer as coisas que se gosta. Se você quiser trabalhar com algo pelo resto da vida, é mais importante fazer o que gosta do que o que vai gerar a maior renda, ou vai dar mais prestígio.

Comecei a trabalhar cedo. No segundo semestre, tinha acabado de fazer 19 anos, fui trabalhar na Atlântica Boavista Seguros, que na época era a maior do Brasil. Trabalhei lá um ano, foi uma experiência muito boa. Tinha uma vida social normal, de uma pessoa dessa idade. Na PUC eu não fiz parte do movimento estudantil em tempo integral, mas participava de uma coisa ou outra. Depois acabei sendo o orador da minha turma.

Aquela geração foi o fim de uma era mais pesada do regime militar, no início de distensão. E os diretórios da PUC tinham um movimento bastante aguerrido, realizavam uns eventos, eu ia a alguns. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, passou por lá, numa palestra, e foi um grande evento. Mas nunca fui, vamos dizer, dirigente.

Na minha casa sempre se falou sobre estudar fora. Sempre tive isso como objetivo: estudar no Brasil, para fincar raízes aqui, criar amizades, conhecer, e depois fazer uma especialização no exterior, para ter uma experiência de vida, chegar mais perto da fronteira do conhecimento. Fui a terceira geração a fazer isso pelo lado do meu pai. Depois de formado em Medicina, meu avô, nascido pobre no interior da Bahia, acabou ganhando uma das primeiras bolsas de estudo da Fundação Rockefeller e passou dois anos nos Estados Unidos. Mais tarde meu pai se formou em Medicina e foi fazer residência nos EUA. Nesse período conheceu minha mãe, americana, casou e a trouxe para cá.

Estudar fora é algo que recomendo fortemente. Acho que quem pode, é bom aluno, consegue se qualificar, certamente vale a pena. Eu fui como bolsista do CNPq, foi uma experiência única. Em Princeton foi uma imersão total no ambiente acadêmico. Dei aula quase todo o tempo de minha vida e leio muito, acompanho muito as coisas até hoje. Recomendo aos jovens que nunca parem de estudar! Não sou um produtor acadêmico ativo, mas certamente sou um consumidor da produção acadêmica no mundo da economia, das finanças.

A incerteza que a maioria das pessoas vive aos 21 faz com que acabem passando por um processo de tentativa e erro. Cada um tem o seu caminho. A questão é identificar esse caminho e correr atrás. A dificuldade para uma pessoa de 21 anos é que as consequências do caminho, na maioria dos casos, não estão tão claras. Eu teria estudado mais matemática, se soubesse aonde iria parar. Mas tem um momento para tudo.

Uma coisa da qual eu não me arrependo é, na partida, ter deixado algumas opções em aberto. É sempre arriscado, porque assim você deixa de se aprofundar. Economia dá uma boa formação geral, tem um lado humanista também, de as pessoas se sentirem inseridas no mundo. Aí, numa segunda etapa, o curso permite se especializar, estudar marketing, finanças, estratégia, gestão, caminhar para o mundo da diplomacia, o mundo do governo, para organizações sem fins lucrativos - que são um mundo fascinante e tendem a crescer.

Olhando para trás, outra coisa que fiz com muito gosto na vida é que, quando tive chance de ir para o governo, eu fui. Foi uma experiência fundamental na minha vida, que acabei repetindo duas vezes. É uma situação em que a gente pode trabalhar com objetivos diferentes daqueles da iniciativa privada, onde se aprende muito também.

É com muita satisfação que eu vejo hoje aqui no Rio, onde moro, tanto no governo quanto na prefeitura, o tanto de gente jovem, de boa formação, procurando uma posição no governo. É um sinal muito importante de que as coisas aqui estão melhorando, depois de um longo inverno.

É muito importante para um país atrair os seus melhores talentos para a vida pública, de maneira permanente ou na base de uma colaboração mais pontual. Não é uma via de mão única: as pessoas enriquecem suas experiências, entendem melhor como as coisas funcionam. Acredito muito que esta geração vai modernizar o serviço público. Vejo com entusiasmo jovens me procurando para falar sobre isso, até me dando a chance de passar a visão positiva que eu tenho sobre o assunto."

Fonte: Estadão

terça-feira, 1 de junho de 2010

On the benefits and costs of a monetary union

Ótimo artigo sobre um tema do momento na zona do euro e no bananão. No primeiro em razão da crise, já no segundo devido a insistência do candidato da Nova Direita em atacar o Mercosul. Alias, ele, como já haviamos adiantado neste blog, cada vez mais se posiciona do campo da direita, o que não implica afirmar ser ele de direita, mas que este é o espaço que lhe resta no mercado eleitoral.



Why would countries share a single currency? A
group of partner countries may decide to form,
or join, a monetary union in expectation that
the current and future benefits exceed costs. Yet, there
is no all-inclusive welfare analysis to estimate the net
benefits from sharing a single currency. Rather, a variety
of tools are employed to gauge partial views on diverse
benefits and costs. This gives an opportunity to
supporters as well as sceptics of monetary unions to
cast their arguments by giving different emphasis and
weights to the various benefits and costs. This note
flags some aspects that seem missing in the current
debate on the merits of the Eurozone.

According to conventional wisdom, this analysis is
rather straightforward. The macroeconomic costs of
losing influence over macroeconomic stabilisation, due
to the loss of direct control over monetary policy and
the exchange rate, are set against diverse
microeconomic gains of improved efficiency. In reality,
the benefits and costs from sharing a single currency are
more varied than that. On both sides of the equation
they must be assessed in terms of microeconomic
efficiency, macroeconomic stabilisation, and overall
external effect. They can be quite diverse in nature, time
profile, and on a country-by-country basis.
We must keep in mind that the Eurozone is part of a
broader process of economic, financial, and institutional
integration that started in the 1950s. This 60 year-long
process has political origins and positive economic
effects. There are two implications from this
progression.
. The first is a transformational one. All along,
national economies have had to adjust to the
changing institutional frameworks. Their market
structures have also been transformed. It is fair
to say that the gains for all European have been
enormous. All EU countries are now very
interdependent - each has an increasing stake in
the wellbeing of the others.

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