terça-feira, 30 de abril de 2013

Limongi: Em defesa do Congresso


Excelente artigo sob os atritos entre o STF e o Congresso. Como o Limongi é reconhecidamente simpático ao PSDB, o artigo torna-se mais relevante e , quem sabe, poderá abrir um debate adulto sobre o comportamento lamentável do STF, principalmente da conhecida figura nefasta...



A confusão está armada. Supremo e Congresso entraram em rota de colisão. Gilmar Mendes, em curta declaração, apontou o culpado: o Poder Executivo. O Supremo se exime de culpa e responsabiliza os demais Poderes. Suas repetidas intervenções teriam um único motivo: pôr ordem no coreto. A omissão do Congresso, sua incapacidade de promover reformas institucionais teria forçado as repetidas investidas do Judiciário na seara alheia.

Rápida revisão das decisões recentes permite concluir o contrário. Da imposição da verticalização das coligações à intervenção do ministro Gilmar Mendes na semana passada, o Supremo tem contribuído mais para confundir do que para esclarecer, para lembrar o refrão do saudoso Chacrinha. As decisões emanadas do Poder Judiciário têm sido tão ou mais "casuísticas" do que as do Congresso Nacional; todas, sem exceção, prenhes de efeitos imediatos para a disputa político- partidária. Não há isenção possível neste tipo de questão. Tampouco é possível argumentar em nome do fortalecimento da democracia ou coisa do gênero. Qualquer decisão tomada favorecerá alguns partidos e prejudicará outros.

Segundo o noticiário da imprensa, o ministro Gilmar Mendes teria identificado vícios formais na tramitação da proposta apresentada pelo deputado Edinho Araújo (PMDB-SP). O Congresso teria agido de forma rápida demais. Não deixa de ser irônico. O Congresso é sempre atacado por sua omissão ou morosidade. Quando é ágil, levanta suspeição. Tamanha celeridade só se justificaria por razões escusas.

O fato é que o Congresso pode agir rapidamente e o faz com frequência. O ritmo da tramitação das matérias é ditado pela maioria, respeitada as normas regimentais. A intervenção do ministro se justificaria se estas normas e ritos tivessem sido violados. Foram? Se sim, quais? A opinião pública não foi informada dos vícios formais identificados pelo ministro Gilmar Mendes. Pelo que se depreende do que publicado na imprensa, a celeridade em si foi questionada. A suspeição motivou a intervenção.

Muitos analistas comungam da desconfiança que motivou a medida cautelar. O Congresso só se moveria com esta presteza para defender interesses particulares e imediatos. Por isto, mesmo, a medida foi comparada ao Pacote de Abril. O governo estaria alterando a legislação em causa própria. No entanto, é preciso ter claro que o Congresso estava apenas restaurando o status quo vigente antes da surpreendente intervenção do Supremo, concedendo tempo de TV ao partido criado por Kassab. Note-se: a emenda mais polêmica foi proposta pelo DEM e não por um partido da coalizão que apoia a presidente Dilma.

O tempo no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HPGE) conferido a cada partido é proporcional à sua bancada na Câmara dos Deputados. Partidos ganhavam tempo na TV na medida em que conseguiam aumentar suas bancadas. O Congresso Nacional, tempos atrás, barrou esse incentivo à migração partidária, impondo como referência a bancada eleita, isto é, a vontade do eleitor expressa nas urnas nas últimas eleições. Com esta decisão, um dos principais estímulos à migração partidária foi neutralizado. Foi esta decisão do Congresso Nacional - e não a imposição da fidelidade partidária pelo STF - a maior responsável pela diminuição das dança das cadeiras. Aliciar parlamentares para ganhar tempo na TV deixou de figurar entre as estratégias dos pré-candidatos à Presidência.

O STF, ao decidir que o PSD tinha direito a tempo na TV proporcional à sua bancada, reintroduziu, pela porta dos fundos, a motivação para a migração partidária. A estratégia teve que ser devidamente adaptada. Em lugar de atrair deputados, cria-se um novo partido. As restrições impostas pelo CN podem, agora, ser contornadas. A oportunidade foi prontamente percebida e alguns partidos, não necessariamente os mais fisiológicos, logo viram como tirar proveito das novas oportunidades.

Repentinamente, após anos de convivência, PPS e PMN descobriram suas afinidades ideológicas. Note-se o que está em jogo. Não se trata apenas de somar os tempos de TV que PPS e PMN têm direito em função da bancada que elegeram em 2010. Se fosse isto, a fusão teria o mesmo efeito que uma coligação. A fusão soma tempo de TV desde que seja capaz de atrair novos parlamentares, por exemplo, do DEM e do PMDB. Estes, ao se juntarem ao novo partido, carregam consigo seu tempo de TV. E é assim por força da decisão tomada pelo Supremo quando da criação do PSD.

A contradição entre esta decisão do Supremo e a que impôs a fidelidade partidária é patente. Afinal, a quem pertence o mandato parlamentar? Na realidade, ao assegurar tempo na TV ao PSD, o Supremo contradisse decisão tomada pouco antes, quando a bancada do PSD teve negada sua participação na distribuição de cargos no interior do Poder Legislativo. Depois desta decisão, ninguém mais, nem mesmo o PSD e seus aliados esperavam que o partido ganhasse tempo na TV.

Nestes termos, a proposta do deputado Edinho Araújo (PMDB-SP) e a emenda do DEM são reações a um "casuísmo". O Supremo alterou as regras do jogo. Difícil sustentar que a intervenção do Judiciário tenha contribuído para fortalecer os partidos e aperfeiçoar a democracia. Basicamente, a proposta, que o ministro Gilmar barrou antes que sua tramitação chegasse a termo, simplesmente restaurava o status quo.

As intervenções do Supremo no terreno da legislação eleitoral e partidária - é tempo de afirmá-lo com todas as letras - carecem de coerência. O Supremo, por paradoxal que possa parecer, tem sido fonte de instabilidade. Ao pretender legislar no campo eleitoral, não tem como evitar atrelar suas decisões à disputa político-partidária. Perde assim a isenção para reclamar a capacidade de arbitrar uma luta em que se envolve.

Fernando Limongi é professor-titular de ciência política da Universidade de São Paulo (USP)

Fonte: Valor

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Chico Lopes: A Selic e a meta efetiva


Artigo bem interessante de um dos nossos melhores macroeconomistas. Confesso que acho a tese do Pastore criativa, mas nenhum pouco convincente.

Affonso Pastore é um dos melhores economistas brasileiros. Em palestra recente apresentou análise econométrica rigorosa demonstrando que a meta de inflação efetivamente praticada pelo Banco Central (BC) desde 2010 parece ser superior a 4,5% ao ano. Sua conclusão é que "não se pode rejeitar a hipótese de que a sociedade passou a perceber, nesse período, que a verdadeira meta perseguida pelo BC é de 5,5%".

Admitamos que isso é de fato o que está na mente da maioria dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom). Para eles o objetivo de longo prazo da política monetária, num horizonte, digamos, de cinco anos, ainda seria fazer a inflação convergir para os 4,5%. Esta seria a "meta teórica". Já a meta efetiva, relevante para um horizonte de 12 meses a 24 meses, seria de 5,5%. Isto significa que, nesse horizonte de tempo, se a inflação for maior do que 4,5% mas menor do que 5,5% o Copom não estaria disposto a operar a taxa Selic para trazer rapidamente a inflação até a meta teórica. Naturalmente ninguém de fora do Copom pode saber se a conclusão do Pastore é correta ou não. Podemos apenas especular sobre suas implicações.

A rigor a discrepância entre meta teórica e meta efetiva não chega a ser um pecado capital. Governos muitas vezes se comprometem com objetivos ambiciosos de longo prazo e terminam buscando objetivos bem mais modestos no curto prazo. No governo FHC, por exemplo, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixava periodicamente uma banda de flutuação bastante ampla para a taxa de câmbio, com distância da ordem de 10% entre o piso e o teto, enquanto na prática a mesa de operação do BC trabalhava com uma minibanda quase igual a uma taxa fixa. Claro que seria melhor se o governo reconhecesse oficialmente que trabalha com uma meta de curto de prazo de 5,5%. Talvez pudesse alterar também o intervalo de tolerância, que poderia ser reduzido para mais ou menos 100 pontos de percentagem em torno da meta. Devia deixar claro, porém, que continua comprometido com um objetivo mais ambicioso de longo prazo, contemplando uma meta teórica até inferior a 4,5%.


É interessante notar que se a meta verdadeira for de fato 5,5% o processo de elevação da Selic iniciado agora poderia ser considerado tecnicamente desnecessário. A razão é que a inflação projetada para os próximos 12 meses, segundo a última pesquisa Focus do BC, está exatamente em 5,5%. Ou seja, a expectativa de inflação está ajustada à meta efetiva; logo não há nada a fazer dentro da concepção do regime de metas. Isto parece ser o raciocínio em que se baseava a noção da convergência não linear da inflação sugerida por Tombini. A inflação acumulada em 12 meses supera agora os 6,5%, é verdade. Não obstante, como é possível inferir da projeção para os próximos 12 meses, deverá convergir para 5,5%. Portanto o próprio mercado acredita que a inflação vai convergir para a meta efetiva.

Como vimos o BC decidiu não bancar essa aposta da convergência não linear. Ficou impossível enfrentar a artilharia pesada da mídia e dos formadores de opinião quando a inflação acumulada em 12 meses superou os 6,5% (não importando o fato de ter sido uma evolução absolutamente previsível!). A ameaça de perda de reputação ficou muito forte.

Estaria a autoridade monetária submetida a uma restrição política no manejo do seu principal instrumento? Estaria ela assumindo uma aposta arriscada contra o mercado? Todo mundo sabe que um bom banco central, como instituição guardiã da moeda, deve ser conservador e avesso a apostas de risco.

Então fica combinado assim. O BC vai elevar gradualmente a Selic enquanto a inflação 12 meses não começar a ceder. Isto só deverá ocorrer por volta de setembro ou outubro, o que sugere que a taxa atingirá um patamar de 8,25% a 8,5%. A partir desse ponto, com a inflação 12 meses caindo, a Selic poderá permanecer estável. Acontece, porém, que, em janeiro ou fevereiro de 2014, a inflação 12 meses vai cair abaixo da meta efetiva de 5,5%. Logo, usando a mesma lógica que motiva o atual ciclo de alta, o BC poderia promover um novo ciclo de baixa, levando a Selic de volta ao ponto de partida de 7,25% ou mesmo abaixo dele.

Pensando bem essa estratégia de política monetária tem mesmo alguns méritos. Primeiro, defende a reputação do BC eliminando a suspeita de que a Selic estaria congelada por determinação superior. Depois, aumenta a volatilidade na taxa, o que num regime de metas deve ser considerado uma virtude, não um defeito. O que deve ser estável é a inflação, o objetivo da política, não a taxa de juros, o instrumento. A volatilidade da Selic indica apenas que a autoridade está disposta a atuar sempre que julgar necessário, se as condições objetivas da economia assim o demandarem. Finalmente, há o benefício de que, se o quadro inflacionário se deteriorar em 2014 muito além do que está sendo projetado pelo próprio mercado, o Copom já terá iniciado em 2013 o movimento da taxa de juros na direção correta. Nesse caso, será necessário apenas tornar o movimento mais amplo e complementá-lo com medidas fiscais e macroprudenciais.

Francisco Lafaiete Lopes


Fonte: Valor




sexta-feira, 26 de abril de 2013

Lunch with Michael Sandel



O rock star da filosofia política em entrevista publicada no FT, no inicio do mês de abril. Vale a leitura.




A youthful 60, with mildly thinning hair, Michael Sandel is dressed in the garb of the academic: slacks, light blue shirt, drab jacket and no tie. There is little about his slight build and gentle mien to suggest he commands the kind of audiences usually associated with thriller writers or TV anchors. If you had to pick the celebrity from a line-up of scholars, Sandel would get away with it.
I had recently caught a glimpse of the philosopher at the annual literary festival in Jaipur, where he spoke about whether rape should be treated as a special crime after the gruesome murder of a young woman in Delhi last year. Presiding over a sea of colourful saris and tunics, Sandel came across as half-geek, half-guru. For a man who has been dubbed by the US media the world’s first “moral rock star”, it was a modest showing – a mere 5,000 Indians had gathered to hear him. Compared with the 14,000 he had drawn to an open-air sports stadium in South Korea a few weeks before, or the 30m hits he has received for his online lectures in China alone, it was small chapattis. But the lecture, which Sandel staged as a kind of Socratic dialogue with his audience, held everyone spellbound.
Coming from solid middle class background and raised in Minnesota and Los Angeles, Sandel studied at Brandeis University and then got a Rhodes scholarship to Oxford, where he discovered his passion for moral philosophy. He never looked back. He has taught at Harvard for most of his adult life and lives with his wife and two sons in Brookline, Massachusetts, just outside Boston.
The philosopher made his reputation in 1982 with his debut book, Liberalism and the Limits of Justice, a powerful critique of John Rawls’s “veil of ignorance”. Rawls was the giant of postwar US liberal philosophy. But it was only in the 1990s, when Sandel started his “Justice” lecture series at Harvard, that he began to acquire a broader following.

Sandel asks audiences to imagine themselves in acute moral dilemmas – facing an oncoming train, for example, or participating in a market for human organs. Then he uses people’s answers to tease out their hidden contradictions. Neither the type of example, nor his method of reasoning, is strikingly original. Instead, it is Sandel’s packed lecture performances and pioneering use of online educational technology that sets him apart. Even Sandel’s critics are impressed by how well he can command large audiences, sometimes on the other side of the planet which he can see only through a large screen.
. . .
It takes me a minute or two to adjust to the unassuming – almost mouse-like – professor sitting opposite me. We have taken a booth at Legal Sea Foods, a fish restaurant in Harvard Square, Cambridge, that is a short walk from Sandel’s faculty. It is part of a middle-market chain of fish restaurants. “I wanted you to experience real New England cooking,” says Sandel.
It is a bitingly cold late winter’s day and both of us are craving something hot. We order straight away: Sandel chooses a tuna burger and a small Caesar salad; I order a mug of lobster bisque and fish and chips. I apologise for the Britishness of my choice. “You can’t go wrong with fish and chips,” Sandel says. In spite of the temperature outside, we both stick to the glasses of heavily iced water before us. “Oh, no, no, I won’t,” says Sandel looking mildly perturbed when I ask if he wants a glass of wine with his burger.
I remind Sandel of his lecture at Jaipur. Does that type of reception still have the capacity to surprise him? “The short answer is that it kind of amazes me there would be such interest in books about philosophy around the world,” he says, before pausing a little awkwardly. He seems reluctant to discuss the reasons behind his popularity. I press on, and ask about the high-tech lecture he gave in Korea. Sandel nods enthusiastically. “It was in a beautiful set-up as the sun was setting, and then complete darkness. The upper stadium lit up, and the giant screen had translations running at the top,” he says, using his arms to indicate the scale of the event.
“I threw out questions and the audience’s images were projected because there were many, many cameras and they could see who was responding, and, if I called on another student on the other side to respond, you could see them responding to each other.”
But what is it that draws so many people in such diverse countries? Sandel thinks about it for a minute. We are already on our starters. Sandel seems uninterested in his salad. I drain my cup of soup. “There is an enormous hunger to engage in big questions that matter,” he says finally. “I find this in all these places I’ve been travelling – from India to China, to Japan and Europe and to Brazil – there is a frustration with the terms of public discourse, with a kind of absence of discussion of questions of justice and ethics and of values. My hunch is that part of what this is tapping into – the books, but also the lectures – is that people don’t find their political parties are really addressing these questions.”
I ask him about his latest book, What Money Can’t Buy: The Moral Limits of Markets (Penguin), in which he argues that the US and other countries are turning from market economies into market societies, as Lionel Jospin, the former French prime minister, once put it. Sandel argues that we live in a time of deepening “market faith” in which fewer and fewer exceptions are permitted to the prevailing culture of transaction. The book has infuriated some economists, whom he sees as practitioners of a “spurious science”.
He has been at loggerheads with the profession for many years. In 1997, he enraged economists when he attacked the Kyoto protocol on global warming as having removed “moral stigma” from bad activity by turning the right to pollute into a tradeable permit. Economists said he misunderstood why markets work. Sandel retorts that they know the price of everything and the value of nothing. To judge by his sellout lecture tours, he has clearly tapped into a larger disquiet about the commodification of life.
Which countries are the least receptive to his concerns about market fundamentalism? “China and the US – no question,” he replies instantly. “In other parts of east Asia, in Europe and in the UK and in India and Brazil, it goes without arguing that there are moral limits to markets and the question is where to locate them. In the US and China, there are strong voices who will challenge the whole idea of there being any limits.”
Sandel’s method is to probe audiences for where those might be. In China, he explains, people tend to draw the line at train-ticket scalping (reselling tickets for profit) during the Lunar New Year, when almost everyone travels home to their ancestral village. In the US, people recoil when confronted with the idea of markets intruding on “family issues”, as Sandel puts it, such as surrogate motherhood, or to the prospect of a free market in votes. “It is a question of locating people’s boundaries,” he says.
We are now on our main courses. I have resumed my industrious eating while Sandel makes only occasional prods at his burger. “Right at the heart of market thinking is the idea that if two consenting adults have a deal, there is no need for others to figure out whether they valued that exchange properly,” he continues. “It’s the non-judgmental appeal of market reasoning that I think helped deepen its hold on public life and made it more than just an economic tool; it has elevated it into an unspoken public philosophy of everything.”
Sandel mentions that, in 2005, he took part in a joint lecture series on “globalisation and its critics” with Lawrence Summers, then Harvard’s president, now back there as a professor having served in between as Barack Obama’s senior economic adviser. Sandel and Summers, who are also neighbours, clearly disagreed on where, or whether, to draw the line on economic reasoning. Their debates were a blowout. There was not a spare seat to be found in the Sanders Theatre. “Look, some of my best friends are imperialist economists,” says Sandel, half-smiling. “But they tend to see everything through their own lens.”
Fair enough, I respond. But isn’t it quixotic to suppose the political debate can be “remoralised” in the way Sandel is hoping? And shouldn’t we be careful what we wish for? There is, I say, a thin line between promoting virtue and practising tyranny. “It’s an open question,” Sandel disarmingly concedes. Then he gives me a quick sketch of “the rise of market reasoning”, from the triumphalism of Ronald Reagan and Margaret Thatcher through Bill Clinton and Tony Blair up to the present day. “What Blair and Clinton did – and I’m using them not to blame them but as emblematic of this tendency – was they moderated but also consolidated the assumption that markets are the primary instrument for achieving the good life,” he says. “So we never really had a debate.”
Still gently toying with his burger, Sandel’s tone takes on a note of regretfulness when I mention Obama, who in the philosopher’s view has promised so much and delivered so little. “During the healthcare debate in 2009 there was a long angry summer. I was listening to Obama on C-Span and I heard him make the case for healthcare reform by saying we have to ‘bend the cost curve in the out years’. I cringed because I thought that if that’s the way he’s trying to sell healthcare, he will never succeed.
“Later in the fall, Obama did recover his footing to some degree and he quoted Ted Kennedy, who did make a moral argument and not a technocratic one for healthcare. So he is capable of speaking a larger language but it’s been strikingly muted during his first term.”
. . .
Our plates having been cleared – mine clean, his half-finished – Sandel orders a skimmed latte with chocolate syrup on the side. I go for a double espresso. I confess that I am pretty hazy about the practical implications of what he is saying. Can he give an example of a specific change he would like to see that would put economics in its place? What he had just said about Obama sounded more like a critique of the White House communications strategy than of the policy itself, I add. Again, Sandel starts by politely agreeing with my premise. He says he is worried that in the US the language of values is monopolised by the Christian right, which focuses on personal issues such as abortion. Others, he says, should recapture the language of values and extend it to the economy.
But what kind of change would that lead to? I ask, hoping for something more concrete. “I think you could say that the weakness of my argument is that I’m arguing against an overarching singular way of thinking about all questions – ‘an economic way of looking at life’, as Gary Becker [the Chicago economist and Nobel Prize winner] described it,” Sandel replies. “I’m arguing against that not by putting my own overarching singular philosophy but by saying that is a mistake and we must value goods case by case. So the answer may be one thing on the environment and the right way of dealing with nature, and a different one with education and on whether we should offer financial incentive to kids to do their homework, for example, and different still if we’re arguing against a free market in kidneys and surrogate pregnancy.”
Still not entirely convinced, I ask Sandel whether he does anything in his own life to make the world less money-minded. He begins a couple of answers but peters out. I suggest that he makes all his lectures free online. “Yes, that’s one thing,” he agrees. After our lunch I see that Sandel is listed on Royce Carlton, a speaker’s agency, as one of its big names (without apparent irony, a posting by the agency last year said Sandel was available to lecture “at a reduced fee in conjunction with his new book, What Money Can’t Buy”).
But it is talking about the free stuff that gets him going. Sandel says he was recently approached by a Silicon Valley tech company, which he did not name, that has developed the technology to support interactive global lectures. He recently did a pilot run with simultaneous live audiences in Cambridge Massachusetts, Rio de Janeiro, New Delhi, Shanghai and Tokyo. Cisco TelePresence charges hundreds of thousands of dollars per session, says Sandel. This new method costs only a couple of thousand. The drop in price could change everything. “We could see them and they could see us. I could call out to a student in Delhi, and ask a student in the fifth row of a theatre in Harvard to reply to someone in São Paulo and someone in Shanghai – and it worked. The technology worked.”
Sandel confesses he would happily go on chatting about education’s new frontiers for as long as I want – but that would be a good while and I am in danger of missing my flight. The bill settled, Sandel kindly accompanies me on a hunt for a taxi outside. As we walk, he tells me of a recent conversation he had with Rahul Gandhi, scion of the Nehru-Gandhi dynasty, and likely future prime minister of India. “Gandhi was really excited about the possibilities of online education,” he says. “He told me: ‘We could never put all these people in universities. The internet is the answer.’ I was struck by how excited he was.”
As I get into the cab, it is Sandel’s enthusiasm that strikes me. The world may be in thrall to Sandel’s “imperialist economists”, I muse en route to the airport. But there is a living to be made in the resistance.

Edward Luce is the FT’s Washington columnist and commentator

Fonte: FT

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Inside the offbeat economics department that debunked Reinhart-Rogoff


Ótimo perfil de uma raridade no mundo acadêmico americano: um departamento de economia heterodoxo.


It was surprising to learn last week that Harvard professors Kenneth Rogoff and Carmen Reinhart’s argument for austerity is based in part on an Excel blooper. What’s not surprising is who found it out.

The rebuttal came in the form of a paper released by the Political Economy Research Institute, a group at the University of Massachusetts – Amherst with close ties to its economics department. Two of its authors, Michael Ash and Robert Pollin, are UMass professors, and the other, Thomas Herndon, is a grad student in the department. No one who knows the UMass department was surprised they’d trained their considerable analytical firepower on Reinhart and Rogoff. Amherst has, over the past 40 years, developed a reputation as perhaps the single most important heterodox economics department in the country.

It wasn’t always that way. In the 1960s, it was a fairly mainstream department, with a moderately conservative inclination, according to emeritus professor and influential Marxist economist Richard D. Wolff. It employed Vernon Smith, a noted libertarian who shared the 2002 Nobel, from 1968 to 1972, and Hugo Sonnenschein, who would go on to be president of the University of Chicago, from 1970 to 1973.

That was when things started to change. The tipping point, Wolff says, was the denial of tenure for Michael Best, a popular, left-leaning junior professor. “He had a lot of student support, and because it was the 1960s students were given to protest,” Wolff recalls. That, and unrelated personality tensions with the administration, inspired the mainstreamers to start leaving.

That created openings, which, in 1973, the administration started to fill in an extremely unorthodox way. They decided to hire a “radical package” of five professors: Wolff (then at the City College of New York), his frequent co-author and City College colleague Stephen Resnick, Harvard professor Samuel Bowles (who’d just been denied tenure at Harvard), Bowles’s Harvard colleague and frequent co-author Herbert Gintis, and Richard Edwards, a collaborator of Bowles and Gintis’s at Harvard and a newly minted PhD. All but Edwards got tenure on the spot.

“One dean did mention, and whether this was a joke I’ll never know, that the goal was to become the Berkeley of the east,” Wolff says. “They said, ‘They became famous with the free speech movement, and you five will make us famous.’”

It’s rare to hire five new faculty at a time. It’s rarer to hire them after bargaining with them as a group. “We actually bargained as a group of five,” Wolff recalls. “On one side of the table, three deans, and on the other side of the table, five faculty hires. I had never experienced it before, and I have never experienced it since.”

Under those five’s guidance, the department came to specialize in both Marxist economics and post-Keynesian economics, the latter of which presents itself as a truer successor to Keynes’s actual writings than mainstream Keynesians like Paul Samuelson. “When I got there, the department basically had three poles,” said Gerald Epstein, who arrived as a professor in 1987. “There was the postmodern Marxian group, which was Steve Resnick and Richard Wolff, and then there was a general radical economics group of Sam Bowles and Herb Gintis, and then a Keynesian/Marxian group. Jim Crotty was the leader of that group.” Suffice it to say, most mainstream departments have zero Marxists, period, let alone Keynesian/Marxist hybrids or postmodern Marxists.

With the end of the Cold War, however, the Marxian element started to subside. The radicals started to get less radical, and the newcomers weren’t very radical at all. “I think a number of my colleagues on the left end of the department were taken with the idea that the great twentieth century battle between capitalism and socialism had ended. Capitalism had won and socialism had lost.” Wolff remembers. “So that project struck them as suddenly out of date or even anachronistic. It wasn’t relevant anymore.”

“The younger economists were much more empirically oriented, a bit more policy oriented,” Epstein says. “We’re a much more diverse group now.”

A big influence on that was the arrival of Pollin in 1998 from University of California – Riverside. Pollin, who had briefly been in the spotlight as an adviser to Jerry Brown’s 1992 presidential campaign, shared the empirical, policy-oriented bent of the department’s younger economists. And he brought money. When he arrived, he and Epstein founded PERI as a vehicle for the kind of policy research they specialized in. The money, Wolff recalls, came in large part from Pollin’s father Abe, who at various points owned the Washington Wizards and Washington Capitols.

(Update – Robert Pollin emails to note that among the other donors to PERI is Ben Cohen of Ben & Jerry’s Ice Cream fame. Cohen gave more after Ash, Pollin, and Herndon’s paper on Reinhart-Rogoff came out, in addition to “sending cases of ice cream for all our hard-working grad students.”)

“There was now, in a sense, two economics departments. There’s the regular one and PERI,” Wolff says. “You might want to call them left Keynesians, but the Keynesianism is the theoretical frame. Marxism, for sure, is not.” Pollin insists he’d be more than happy to hire Marxists; it’s just that economics departments don’t churn them out anymore.

To be sure, some of the economists in the department today wouldn’t be out of place working as applied macroeconomists anywhere else. But they still tend to focus on issues that other departments neglect. Lee Badgett, for example, is arguably the most important economist in the country on sexual orientation issues, and in particular on the economic and social benefits to LGBT couples of having their marriages legally recognized. Nancy Folbre, a professor in the department and frequent New York Times contributor, is one of the leading feminist economists currently working.

“I had long been interested in demography, fertility decisions, and household work, never central themes in Marxian theory,” Folbre tells me. “Still, I found a very supportive environment for the development of new ideas, including explorations of feminist theory.”

The demographics certainly bear that out. Only 10 out of the department’s 27 active faculty members are white men. At Harvard, by contrast, 39 out of 45 are.

Still, the gaps between UMass and its mainstream peers are shrinking. Arindrajit Dube, an assistant professor in the department, was trained at the notoriously conservative University of Chicago department and will be visiting MIT next year. “I’ve always had a really hard time with labels,” he tells me. “In grad school, a lot of my professors would talk about what makes a good Chicago economist, and I wasn’t sure I wanted to be a good Chicago economist.”

Whether or not he’s a good “Chicago economist,” Dube has certainly made a splash as an Amherst one. His research suggesting that raising the minimum wage does not reduce employment landed him a spot testifying before the Senate HELP committee. He claims his outlook, and that of the department, is more empirical than anything else. “One of the lessons I have drawn from controversies as well as my own work is that the theory will only take you so far, and empirical work is hard and fraught with dangers, but that’s really where things get hashed out,” he says.

Those skills were also on display in Dube’s own analysis of the Reinhart-Rogoff argument, which, while less splashy and certainly less funny than Ash, Pollin and Herndon’s analysis, was arguably more devastating. Dube used relative simple data analysis techniques to show that it’s far likelier that slow growth would cause high debt than the reverse.

That’s how more macro should go, Pollin emphasizes. “Use simple techniques,” he says. “Try to keep your modeling simple. Try to tell the story as simply and as clearly as possible.” Not all of Amherst is necessarily opposed to complex modeling. “Saying that current theory is a blind alley doesn’t mean we shouldn’t do theory,” Peter Skott, a post-Keynesian at Amherst, says.

But the key insight behind the UMass approach is that there are a whole lot of tenets of modern macroeconomics (and microeconomics, for that matter) that have gone empirically under examined. Take the idea that there’s a “natural” rate of unemployment, and that having unemployment below that would trigger troublesome inflation. Pollin understands the theory but argues it just doesn’t fit reality. “I think that core idea is just, is very weak empirically, the evidence is very weak,” he says.

It’s easy to overestimate the differences between UMass and more mainstream departments. The empirical microeconomics Dube does is not too different from what David Card, David Autor, Raj Chetty, and other microeconomists in more mainstream departments do. Pollin helped the Department of Energy implement the green portions of the stimulus, which was designed initially by mainstreamers like Larry Summers. And even the “left Keynesians” of Amherst don’t go as far as some of their peers at, say, the University of Missouri – Kansas City in dismissing the possibility of high deficits leading to inflation later on.

“It’s almost a talmudic claim that since no country with its own currency can go bankrupt, no deficit can be bad,” Epstein says. “They’ve made important contributions, and a lot of them are my friends, but we try to look at things more critically and not assume there are absolutes.”

But the department’s radical openness to alternate perspectives still sets it apart. “Learn from Marx, learn from Keynes, learn from Hayek,” Pollin says. “One of the biggest influences on me personally was Milton Friedman. He was very engaged with real world questions, and he made no bones about his ideological predilections.”

Sounds familiar.

Read more:

- At the Edge of Camelot by Donald Katzner, a former UMass professor. This is an excellent, expansive history of the UMass department.

- “Hip Heterodoxy” by Chris Hayes (before he got all famous), a classic The Nation piece on Amherst and other heterodox departments.

Update: I’m informed students and faculty call it “UMass” not “Amherst.” So I swapped that in where appropriate. Apologies for the lingo mixup.

Update II – the original version of this post said Abe Pollin owned the Washington Nationals. He never did; he only owned the Capitals and the Wizards.

Dylan Matthews

Fonte: The Washington Post

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Italia: Enrico Letta, Democrata Cristão...


Perfil do novo Presidente do Conselho de Ministros da Italia: um jovem Democrata Cristão.


Enrico Letta, nominated on Wednesday as Italy’s next prime minister, comes from the moderate Catholic wing of the centre-left Democrats, a party loyalist working behind the scenes among its bitterly divided factions, while acting as the long-time bridge to Silvio Berlusconi and the centre-right.
Mr Letta, who at 46 will be among Italy’s youngest postwar prime ministers, was cabinet secretary in the last centre-left government of Romano Prodi from 2006 to 2008, a position his uncle Gianni Letta held in the Berlusconi government that followed.
The deputy prime minister in the new government is likely to be Angelino Alfano, former centre-right justice minister and a Berlusconi loyalist. Mr Letta and Mr Alfano are seen to have developed a good working relationship, keeping lines of communication open between the two parties.
A convinced pro-European who speaks excellent English and French – rare in Italian politics – Mr Letta was seldom seen as destined for high office. But in the context of the present crisis after two months of deadlock, he emerged as an anodyne and respected candidate acceptable to all sides in the new “grand coalition”.
While Mr Letta is regarded as the capable mediator between Democrats and Mr Berlusconi’s People of Liberty, his diplomatic skills will be tested by the leftwing of his own party, which is strongly opposed to forming a coalition.
Leading the Democrats in a round of consultations with Giorgio Napolitano, the president, on Tuesday, Mr Letta committed the party to co-operation in the unprecedented left-right coalition, while stressing the need for policies to create jobs and return Italy to growth, as well as political and institutional reforms.
Mr Letta also said there was a “need to make the EU change its line as, up to now, it has not given sufficient answers” to Europe’s economic crisis. On political reforms, Mr Letta said the number of parliamentarians should be reduced, the bicameral system changed, the administrative layer of provinces abolished, and the electoral law amended to allow voters a direct choice of their candidates. “Without the reform of politics, there is no way out of the crisis,” he said.
Mr Letta had been deputy leader of the Democrats. The party’s secretary Pier Luigi Bersani submitted his resignation last week after the party’s implosion, when it failed in five rounds of voting in parliament to agree on the choice of a successor to Mr Napolitano. That impasse led to the main parties appealing to Mr Napolitano, 87, to accept an unprecedented second seven-year term.
Speaking to the Financial Times on February 25, as it emerged that the Democrats had failed to secure the majority in parliament they had expected, Mr Letta said: “The result is the absolute majority of Italians have voted against austerity measures, the euro and Europe. This sends a very clear signal to Brussels and Frankfurt.”
In late March, Mr Letta said a broad coalition with the centre-right as proposed by Mr Berlusconi was “not ideal”, noting the “bitter differences” between the two main parties. But significantly, Mr Letta did not rule out the possibility, despite the hardline opposition to such a coalition expressed by Mr Bersani.
Mr Letta began his political career in the Christian Democrats, Italy’s dominant postwar party that disintegrated amid corruption scandals in the early 1990s. Some moved to the centre-right under Mr Berlusconi and others, such as himself, eventually migrated to the Catholic-dominated Margherita party, which later merged with the left to form the Democratic party in 2007.
Born in Pisa, Mr Letta graduated in political sciences at the city’s university and has a doctorate in European Community law. A former member of the European parliament, he sat on its committee for economic and monetary affairs.
He became Italy’s youngest minister when appointed as European policy minister under Massimo D’Alema’s centre-left government in 1998, and also covered the role of industry and agriculture a year later. He is secretary-general of Arel, a think-tank founded in 1976 by Nino Andreatta, the Christian Democrat economist, and is a member of the Aspen Institute

Fonte: FT

terça-feira, 23 de abril de 2013

Delfim e o PIB potencial


Ótimo artigo do esforçado economista da ditadura: didático e up to date com a literatura na área, vale a leitura.



A estratégia mais utilizada pelos economistas na construção de seus modelos é considerar todas as condições que estão fora dele como constantes. A essa hipótese se dá em latim um nome pomposo: "ceteris paribus. Em português menos elegante, significa ignorar, pelo menos numa primeira aproximação, todos aqueles fatores que estão fora do modelo e cuja variação lhe seriam inconvenientes ou perturbadoras. Frequentemente os modelos exigem o conhecimento de parâmetros não estimáveis diretamente, e cuja construção estatística é, então, condicionada às necessidades do próprio modelo.

É o caso, por exemplo, do chamado produto potencial, cuja estimativa é o maior problema da política monetária. Mas o que é esse misterioso "produto potencial"? Na definição clássica de Frederic S. Mishkin ("Conference on Price Measurement for Monetary Policy", Federal Reserve Bank of Dallas, May 4, 2007), "ele é o nível do PIB no qual oferta e procura agregadas da economia são iguais de forma que, ceteris paribus ("all else being equal"), a taxa de inflação tende, no longo prazo, a gravitar em torno do seu valor esperado".

E por que é importante? Porque: 1) pensamos o produto potencial como o nível do PIB que leva ao maior nível sustentável do emprego; 2) precisamos saber qual o nível futuro do PIB consistente para mantê-lo; e 3) porque o "output gap" (a diferença entre o nível do PIB corrente e o seu nível potencial) parece exercer um papel importante na determinação do nível de inflação.

O item 1 decorre de uma relação (relativamente robusta) chamada Lei de Okun (um economista americano), que sugere uma ligação relativamente estável entre a taxa de crescimento do PIB e o nível de desemprego deduzido da taxa de desemprego "natural". Essa taxa é outra invenção do modelo. Ela corresponde ao nível de desemprego quando o PIB está no seu nível "potencial".

O item 2 decorre de uma relação (relativamente tênue), chamada curva de Phillips (um economista neo-zelandês), entre a variação da taxa de inflação e da taxa de desemprego: quando o nível de desemprego é o "natural", a inflação permanece constante. As quatro variáveis mencionadas acima são ligadas por duas relações que exigem o conhecimento do PIB "potencial" e da sua irmã siamesa, a taxa "natural" de desemprego. A grande questão é que a existência e estabilidade da lei de Okun e da curva de Phillips também dependem da condição ceteris paribus.

Agora mesmo, um excelente trabalho do FMI (o capítulo 3 do World Economic Outlook, April 2013, pg. 79) mostra como durante recessões a relação entre a variação da taxa de inflação e o aumento do desemprego (uma variante da curva de Phillips) é diferente (o que mostra que "todo o resto não permanece constante"). O efeito da diferença entre a taxa de desemprego e o seu nível "natural" parece ter hoje um efeito deflacionário muito menor do que no passado. Em outras palavras, dadas as condições institucionais atuais do mercado de trabalho, uma redução da taxa de inflação parece exigir um aumento consideravelmente maior do desemprego do que anteriormente.

No artigo de Mishkin a que nos referimos, ele explora os três métodos mais conhecidos para estimar o PIB potencial: a) o primeiro envolve a determinação da taxa "natural" de desemprego pela curva de Phillips e usá-la na lei de Okun, o que, pelos motivos expostos acima é mais do que duvidoso; b) o segundo usa a clássica "contabilidade do crescimento", com funções de produção para estimar a produtividade marginal do trabalho e do capital, esquecendo que elas, em geral, são apenas manipulações algébricas de uma identidade fundamental: o PIB (valor adicionado) é, por definição, igual ao total de salários mais o lucro do capital; e c) o terceiro usa o modelo neo-keynesiano (Dinamic Stochastic General Equilibrium (DSGE), que pensa o produto potencial como aquele que poderia ser atingido, se fossem eliminadas todas as ineficiências produzidas pela rigidez de preços e salários nos mercados de uma economia habitada por agentes racionais maximizantes. Dado o considerável fracasso desse modelo na antecipação da possibilidade de crises como a de 2008, a proposta é um beco sem saída.

Aparentemente, o grande economista Claudio Borio (acompanhado de Piti Disyatat e Mikael Juselius), começa a abrir uma nova porta que pode levar a resultados mais adequados. Em um recente trabalho ("Rethinking Potencial Output: Embedding Information about the Financial Cycle", BIS Working Papers nº 404, February 2013), sugere introduzir as fricções financeiras na estimativa do inobservável produto potencial.

Os resultados preliminares são muito interessantes, principalmente porque mostram as deficiências das estimativas anteriores e põem em evidência os riscos e os consequentes custos sociais das políticas monetárias mal informadas que os bancos centrais do mundo vêm utilizando há pelo menos 30 anos. Mostram, também, como é precária e pretensiosa a suposta "ciência" monetária de que se supõem portadores alguns economistas, e como eles ganhariam maior credibilidade se fossem mais modestos e menos "cientificistas".

A conclusão de Borio e seus companheiros é que "os fatores financeiros são importantes no entendimento e na mensuração do produto potencial e do 'output gap'. Eles são fundamentais para explicar a flutuação cíclica nas frequências tradicionais dos ciclos econômicos e na determinação de quais trajetórias do PIB são sustentáveis ou não". O trabalho está apenas começando. Mãos à obra, então!

Antonio Delfim Netto

Fonte: Valor

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Entrevista com o Blanchard



Blanchard está muito otimista com relação a economia americana e exageradamente compreensivo com a agressiva política monetária japonesa. Vale a leitura.


Valor: A recuperação dos EUA é sustentável, num cenário em que o setor privado parece em boa forma, mas a incerteza sobre a política fiscal deve continuar elevada?

Olivier Blanchard: Eu estou confiante que a retomada vai continuar. Há muitos fatores que estão na direção certa. Primeiro, há a política monetária. O Fed foi agressivo e tomou muitas medidas para ajudar a economia. Os investidores esperam que as taxas de juros vão seguir baixas, o que é bom para a demanda. É bom que os juros básicos estejam baixos, mas as taxas que afetam a vida das pessoas é aquela de hipotecas e empréstimos. O sistema bancário nos EUA não está em situação perfeita, ainda há riscos, mas ele está melhorando em termos de indicadores de capital, de funding. O mecanismo de transmissão está funcionando de novo. Há juros baixos para quem quer tomar dinheiro emprestado. Há também o que os economistas chamam de demanda reprimida. Quando há uma recessão longa e poucos imóveis são construídos, o que nós vimos por algum tempo, então o estoque de imóveis cai. Em algum ponto não há imóveis suficientes, e a construção começa de novo. É a mesma coisa no mercado de automóveis. Se as pessoas não compram carros por um tempo, em algum momento elas têm que trocar um automóveis que não está funcionando bem. Nós vemos esse fenômeno no mercado imobiliário, nós vemos a mesma coisa em bens duráveis. Todos esses são sinais de uma economia que está se recuperando.
Valor: Mas e a política fiscal?

Blanchard: A política fiscal está de fato desacelerando a recuperação. A consolidação fiscal nos EUA é muito forte neste ano. É de 1,8% do PIB. Pode estar tirando de 1,5 a 2 pontos do crescimento. Eu espero que os EUA adotem uma trajetória melhor de ajuste fiscal. A ironia é que o sequestro [corte automático de US$ 85,3 bilhões que entrou em vigor em março], de algum modo, melhorou o panorama. Ele levou os investidores a concluir que o pior que pode acontecer é que o sequestro continue, e então o déficit será menor. Não é o melhor modo de fazer o ajuste, que deveria ser feito mais lentamente e com mais inteligência. Minha avaliação é de que a consolidação fiscal vai desacelerar e a demanda privada vai continuar forte. Com isso, a recuperação é razoavelmente forte.

Valor: O sr. acredita que os EUA poderão se tornar um competidor dos mercados emergentes nos próximos anos, devido ao renascimento da manufatura, mais do que uma economia baseada no consumo?

Blanchard: A maneira de pensar nisso é em termos de cadeias de valor. Produtos manufaturados não serão inteiramente fabricados na China, no Brasil ou nos EUA. Algumas partes serão produzidas na China, outras no Brasil e outras nos EUA. Pelo menos por algum tempo, os Estados Unidos vão continuar a ter vantagem em tecnologia de ponta, então parte da produção de manufaturados vai ocorrer no país. Nós vemos isso em biologia, em tecnologias da informação. No fim, produtos manufaturados serão feitos em todos os lugares do mundo. Nos casos em que é muito importante o trabalho barato, ela será feita nos países em que há esse fator. Nos segmentos em que for importante o trabalho especializado, será feita nos países em que ele existe. Quando for necessário basicamente estar próximo da pesquisa e desenvolvimento, os manufaturados serão feitos em países mais avançados, como os EUA.

Valor: Os bancos centrais dos países desenvolvidos, especialmente o Federal Reserve [Fed, o banco central americano] e o Banco do Japão, têm adotado políticas monetárias extremamente expansionistas. Como elas afetam os mercados emergentes? Eles devem manter ou intensificar controles de capitais para lidar com esses fluxos?

Blanchard: Há vários motivos pelos quais os capitais estão indo para os mercados emergentes, e é importante fazer distinções entre elas. A principal não tem a ver com a política monetária. Ela tem a ver com o fato de que os países em desenvolvimento simplesmente parecerem bem. Em termos de fluxos de investimentos estrangeiros diretos, os mercados emergentes, com forte potencial de crescimento, são muito atraentes. Em termos de investimento em carteira, os mercados de ações desses países parecem boas apostas, ainda que arriscadas. Esses fatores refletem a força dos mercados emergentes. Essa parte dos fluxos de capitais é boa. Outra força por trás dos fluxos de capitais são os diferenciais de juros. Como as economias avançadas têm um desempenho fraco e os mercados emergentes estão indo melhor em termos de atividade cíclica, há juros mais baixos nos países desenvolvidos e mais elevados nos países em desenvolvimento. Isso faz do investimento nos títulos dos mercados emergentes algo atraente. Esse diferencial de juros deve continuar por muito tempo e vai levar a fluxos de capitais para os emergentes. Também não são ruins, mas são menos importantes do que os do primeiro tipo. A terceira força por trás dos fluxos de capitais são episódios de aumento e redução de risco. Os investidores gostam de riscos, depois não gostam, o que faz os fluxos de capitais entrarem e saírem. Esses são desestabilizadores e países que os recebem, como o Brasil, devem ser livres para tentar suavizá-los por meio de instrumentos de administração de fluxos de capitais, medidas macroprudenciais e intervenção no mercado de câmbio.

Valor: O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, diz que há uma solução de meio termo entre países desenvolvidos e emergentes sobre esse assunto. Os primeiros adotam políticas monetárias expansionistas e os segundos usam eventualmente medidas de controle de capitais e macroprudenciais para lidar com eles. O sr. concorda?

Blanchard: Eu não gosto do termo solução de meio termo [compromise, em inglês]. Eu prefiro a palavra acordo. Acho que há acordo amplo de que as economias avançadas precisam usar política monetária não convencional porque não sobrou nenhuma política monetária convencional para ajudar na recuperação. Eles precisam fazer tudo o que podem. Eles não podem usar a política fiscal, uma vez que precisam de consolidação fiscal. Ao mesmo tempo, os países avançados entendem que essas políticas monetárias vão produzir movimentos nos fluxos de capitais. Como eles são voláteis, o acordo é que os países que os recebem devem ser livres para suavizá-los e usar quaisquer ferramentas que tenham à disposição. Esse é o acordo implícito. Ele não é perfeito, mas não é ruim, e talvez seja o melhor que pode ser feito.

Valor: Daqui a alguns anos, os bancos centrais dos países desenvolvidos vão começar a elevar os juros. O FMI espera que, no caso do Fed, isso ocorra no começo de 2016, mas considera que possa ser antes, se o crescimento for mais forte. Como isso afetaria emergentes como o Brasil e como esses países devem se preparar para esse cenário?

Blanchard: Quando isso ocorrer, é provavelmente porque o crescimento voltou, e essa parte é uma boa notícia para os mercados emergentes. Isso significa que as exportações vão aumentar. É algo que vai ocorrer com juros mais altos e, com isso, vai levar uma reversão parcial dos fluxos de volta para onde os juros estão mais atraentes, que seriam os EUA. Alguns fluxos de capitais provavelmente vão mudar de sinal.

Valor: O Banco do Japão adotou uma política monetária muito agressiva. Ela pode dar início a um processo de desvalorização competitiva ou é uma resposta a um processo de desvalorização competitiva que já estava ocorrendo?

Blanchard: Nenhuma das duas coisas. O Japão é um caso especial. Ele está numa situação econômica difícil há muito tempo. Já tentou muitas coisas. Um dos problemas do Japão é a deflação. Não é uma grande deflação, mas é deflação. É necessário fazer alguma coisa para estimular a inflação. Acho que a desvalorização do câmbio, que é um dos efeitos da política monetária, não tem como objetivo aumentar a competitividade, mas aumentar os preços. Se ela for bem sucedida, veremos mais inflação. Com isso, no fim, a taxa real de câmbio (que considera a inflação) não vai se mover muito. E a política monetária não vai fazer a situação da dívida pior. É uma tentativa de fazer a economia andar, e um modo de reduzir a relação entre dívida e PIB é aumentando o PIB, e é isso o que eles estão tentando fazer. Nós desejamos sorte a eles.

Valor: O real oscila hoje num intervalo estreito, depois de uma desvalorização significativa no ano passado. O Brasil abandonou o regime de câmbio flutuante?

Blanchard: Eu não acho que o Brasil tenha abandonado o regime de câmbio flutuante. O real ainda é uma moeda que flutua. Manter a flexibilidade da taxa de câmbio é claramente importante para o Brasil. Eu chamaria de flutuação administrada. Ela flutua, mas com o uso de controle de capitais. Nesse sentido não é flutuação pura.

Valor: O Banco Central brasileiro reduziu agressivamente os juros, o câmbio teve uma desvalorização expressiva no ano passado, o governo fez uma série de desonerações tributárias, mas a economia teve crescimento fraco em 2012 e a recuperação não parece forte. Por que a economia não reagiu de modo mais vigoroso a todos esses estímulos?

Blanchard: Deixe-me fazer pontos. O primeiro é que o crescimento potencial talvez seja menor do que nós pensávamos antes. O outro é que, se você olhar para a queda no crescimento, ela parece vir em grande parte do investimento. É provável que um número de distorções, assim como alguma incerteza sobre políticas, tenham um papel aí.

Valor: O Brasil cresceu 0,9% no ano passado e a inflação ficou próxima de 6%. O Brasil está preso num equilíbrio ruim de baixo crescimento e inflação elevada?

Blanchard: Não acredito nisso. Para mim, isso sugere que o Brasil pode não estar longe do crescimento potencial. Se estivesse muito abaixo do PIB potencial, a inflação cairia. O fato de que não vemos a inflação cair muito sugere que talvez o crescimento potencial seja menor do que pensávamos. Nós revisamos a previsão de crescimento para 2013 de 3,5% para 3%. A margem de manobra para usar políticas de estímulo à demanda é provavelmente limitada.

Valor: Na quarta-feira, o Banco Central brasileiro elevou os juros em 0,25 ponto percentual. A inflação está acima do teto da meta, de 6,5%, mas a recuperação não é ainda forte. É uma boa ideia começar a elevar os juros num mundo com grande liquidez?

Blanchard: Eu não conheço os motivos exatos por trás da decisão, então vou fazer um comentário mais geral. Você não quer aumentar os juros no último minuto, numa grande magnitude. É perturbador e como leva tempo para o aumento dos juros afetar a atividade, pode ser tarde demais. Então você quer fazê-lo antes, e lentamente.

Fonte: Valor



sexta-feira, 19 de abril de 2013

A dose of reality for the dismal science

Mais um artigo sobre o famoso paper da Reinhart e do Rogoff.

For a few years, advocates of rapid fiscal austerity have argued as though public debt is like a black hole – once it reaches a certain size, it collapses in on itself under its own weight and pulls the economy down with it. Crisis awaits the spendthrift. A 2010 academic paper by Carmen Reinhart and Kenneth Rogoff, two eminent economics professors, provided many pundits and politicians with the desired evidence for this instinctive view. They seemingly found that economic growth fell off sharply when national debts reached 90 per cent of gross domestic product.
A new study that has attracted lots of attention, however, shows that no such sharp fall-offs occur. Put aside the details of Excel coding errors and statistical weights. In fact, forget that specific paper. The claim that there was a clear tipping point for the ratio of government debt to GDP past which an economy’s walls caved in never made any sense. If such a critical level were to hold, there would have to be some equally abrupt causal mechanism by which the dire predictions for growth would have to come to pass – perhaps interest rate rises, a currency crisis or an increase in hoarding and saving resulting from feared future tax rises? Such an event would be clearly visible in the data among those countries that went past the debt event horizon of 90 per cent. But it is not there.
A casual perusal of 20th-century economic history, let alone more rigorous econometric analysis, turns up multiyear periods in the UK and US following the second world war, and in Belgium, Italy, and Japan in the past 20 years, when public debt was greater than 90 per cent of GDP but nothing much happened. Either stagnation in economies led to slowly rising debt levels, as in Italy or Japan of late, or growth returned and debt levels declined, as in the UK and US in the 1950s. The latter two escaped the black hole of debt without an austerity rocket booster.
In other words, slow growth is at least as much the cause of high debt as high debt causes growth to slow – which if you stop to think about it, as some of us did before this week, makes more sense. The current UK economy is exhibit A for such a dynamic, with its slowing growth and mounting debt. On the other hand, public debt is sometimes incurred by spending on constructive things with a positive return, such as infrastructure and education. So it is common sense that slow growth is always bad for debt accumulation, but not all debt accumulation is bad for growth. Thus, the causality runs more dependably from growth to debt than vice versa.
Some would like to turn the debunking of the fiscal event horizon claim into a cautionary tale about macroeconomic policy advice in general. They would throw up their hands, saying macroeconomic analyses either inherently depend upon too little data to have reliable results, or inevitably will be selectively picked up by ideologues and opportunistic politicians to suit their purposes.
Perhaps both: there will always be some willing economist who can play with the data to provide a credible-seeming study to support any given politically influential point of view. This, however, is far too defeatist, if not craven, a conclusion to draw.
Yes, I have some scars from having had to fight policy battles over and over – against spurious claims about expansionary budget consolidations, low or zero fiscal multipliers and the imminent threat of inflation during recession. I have heard claims from the 1930s repeated in Japan in 1999, in Britain in 2010, and again in the euro area today.
Certainly, academics who oversell their conclusions to get their lines into a speech or to come up with a rule that can be named after them can become disproportionately influential. And the academic establishment does not help matters by encouraging the production of new and counter-intuitive results irrespective of their validity in practice. It also disincentivises the replication and empirical testing of previously published work. Yet, eventually, the truth will out – as it did this week.
Every time that the truth does emerge from the data, a few more researchers and officials find something lasting. This process of intellectual attrition took a long while to convince policy makers that trade protectionism is harmful, and that adherence to the gold standard is ill-advised. But we have now reached a state of public debate where only the obviously self-interested advocate the first, and only the obviously loony defend the second. Perhaps, as the mistakes of the current UK and eurozone economic leaderships become more evident, discussed, and analysed, similar progress will be made in limiting policy discussion to the more reasonable options.
It is a victory for common sense and good policy that the International Monetary Fund has publicly decided to reverse its past mistakes and come out clearly for sensible fiscal approaches – not least recognising the impact on growth of cutting the deficit and that reducing public debt is a task that should primarily occur once countries are out of recession.
The moderate middle ground between panicked austerity and heedless spending is the right place for policy advisers to be. Such moderation will not suit many of those who seized upon the event-horizon hypothesis – that result’s attraction was that it suggested a crisis was around the corner as a spur to consolidation.
But let us celebrate rather than mourn what this re-evaluation of the evidence demonstrates, even though most already should have known it: too much public debt has its costs for growth, but the extent of those costs depends on the reasons the debt accumulated and the trajectory of the economy. And it is not worth provoking a crisis to forestall a crisis that is unlikely to come, for black holes are rare and not of this Earth.

The writer is president of the Peterson Institute and a former member of the UK Monetary Policy Committee

Fonte: FT

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Selic


Tombini, como esperado, acatou a ordem emitida pelo Governo e pelos conselheiros da Dilma e elevou a taxa Selic em 0.25%. Essa era a minha aposta, mas não era a do mercado que defendia 0.5%. Como havia mencionado no Facebook essa era uma aposta com pequena probabilidade de sucesso. Os desenvolvimentistas sonhavam com a manuteção da taxa no mesmo patamar, 7,25%, e não conseguem entender onde erraram: esqueceram que o mambo jambo heterodoso tem validade bem limitada.
Analistas, na mídia, procuram justicativas econômicas para uma decisão que foi essencialmente política, resultado da entrevista/confissão da Presidente na Africa. A forte reação, somada a inflação dos alimentos, que encontrou no preço absurdo do tomate a sua melhor expressão e perigoso simbolo de uma suposta perda de controle da inflação, tornou inevitável a elevação da taxa Selic. O inesperado resultado apertado da eleição para Presidente na Venezuela ajudou, provavelmente, a convencer a Presidente Dilma, que não valia a pena correr o risco de ser acusada de nada fazer para debelar o processo inflacionário e que não seria prudente esperar ate maio para enfrentar o problema.
A decisão de elevar em apenas 0,25% não altera, no entanto, a percepção a respeito da posição do Govero Dilma sobre a inflação e tão pouco contribui para a recuperação da credibilidade do Banco Central. Alias ela reforça a tese dos que acreditam que no atual governo ele perdeu a autonomia operacional que desfrutava durante o Governo Lula. Em outras palavras, a atual administração não parece estar preocupada com a inflação, mas com o estado da economia brasileira, ou seja com o crescimento mediocre que ela insiste em apresentar, apesar da serie de medidas criativas implementadas pelo Governo Federal.
Sem alterar essa percepção do mercado, será difícil para o Bacen ancorar adequadamente as expectativas. Vale mencionar que o diretor de política monetária e o de assunto internacionais, coerentemente, votaram pela manutenção da taxa Selic em 7.25%, já que o cenário externo apresentado como justificativa para o inicio do ciclo de sua redução em 2011 não apresentou mudanças significativas.
Apesar de coerente, a decisão dos dois diretores é preocupante, já que o diagnotico era e continua a ser equivocado.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Reinhart & Rogoff e a controversia a respeito do “Growth in a Time of Debt”...



Em dia de reunião e decisão do Copom, recomendo dar um tempo e ler o artigo abaixo, assim como o trabalho objeto da critica e resposta da Reinhart e do Rogoff e o comentário do Chris Cook no FT..


In 2010, two Harvard economists published an academic paper that seemed to speak to the world’s biggest policy question: should we cut public spending to control the deficit or use the state to rekindle economic growth? “Growth in a Time of Debt” by Carmen Reinhart and Kenneth Rogoff has served as an important intellectual bulwark in support of austerity policies in the US and Europe. But we have shown that several critical findings advanced in this paper are wrong. So do we need to rethink austerity economics more broadly?
The Reinhart-Rogoff research is best known for its result that, across a broad range of countries and historical periods, economic growth declines dramatically when a country’s level of public debt exceeds 90 per cent of gross domestic product.
In their work with a sample of 20 advanced economies over the postwar period, they report that average annual GDP growth ranges between about 3 per cent and 4 per cent when the ratio of public debt to GDP is below 90 per cent. But average growth collapses to -0.1 per cent when the ratio rises above a 90 per cent threshold.
In a new working paper, co-authored with Thomas Herndon, we found that these results were based on a series of data errors and unsupportable statistical techniques. For example, because of straightforward miscalculation and unconventional method of averaging data, a one-year experience in New Zealand in 1951, during which economic growth was -7.6 per cent and the public debt level was high, ends up exerting a big influence on their overall findings.
When we performed accurate recalculations using their dataset, we found that, when countries’ debt-to-GDP ratio exceeds 90 per cent, average growth is 2.2 per cent, not -0.1 per cent. We also found that the relationship between growth and public debt varies widely over time and between countries.
So what does this mean? Consider a situation in which a country is approaching the threshold of a 90 per cent public debt/GDP ratio. It is not accurate to assume that these countries are reaching a danger point where economic growth is likely to decline precipitously.
Rather, our corrected evidence shows that a country’s growth may be somewhat slower once it moves past the 90 per cent public debt-to-GDP level. But we cannot count on this being true under all, or even most, circumstances. Are we considering the US demobilisation after the second world war or New Zealand experiencing a severe one-year recession? Our evidence shows that one needs to ask these and similar questions, including whether slow growth was the cause or consequence of higher public debt, before we can draw meaningful conclusions.
What about our present circumstances? Using Prof Reinhart’s and Prof Rogoff’s data, we found that for the years 2000 to 2009, the average GDP growth rate for countries carrying public debt levels greater than 90 per cent of GDP was either comparable to or higher than those for countries whose public debt/GDP ratios ranged between 30 and 90 per cent.
Of course, one could say that these were special circumstances due to the 2007-9 financial collapse and Great Recession. Yet that is exactly the point. When the US and Europe were hit by the financial crisis and subsequent collapse of private wealth and spending, deficit-financed government spending was the most effective tool for injecting demand back into the economy. The increases in government deficits and debt were indeed historically large in these years. But this was a consequence of the crisis and a policy tool for moving economies out of the deep recession. The high levels of public debt were certainly not the cause of the growth collapse.
The case for austerity has never relied entirely on Prof Reinhart and Prof Rogoff. But the other major claims made recently by austerity hawks have also not held up well. Focusing on the US case, austerity supporters circa 2009-10 consistently argued (frequently in this newspaper) that the large US deficits would lead to dangerously high inflation and interest rates. Neither of these predictions came true. In fact, both inflation and the interest rates on US Treasuries were at historic lows in the four years, 2009-12, during which government deficits were at their peak.
It is also not true that the large deficits have created an unsustainable burden on US government finances. In fact, since 2009, the US government’s interest payments on debt have been at historically low levels, not historic highs, despite the government’s rising level of indebtedness. This is precisely because the US Treasury has been able to borrow at low rates throughout these high deficit years.
We are not suggesting that governments should be free to borrow and spend profligately. But government deficit spending, pursued judiciously, remains the single most effective tool we have to fight against mass unemployment caused by severe recessions. Recent research by Prof Reinhart and Prof Rogoff, along with all related arguments by austerity proponents, does nothing to contradict this fundamental point.

Robert Pollin and Michael Ash, University of Massachusetts Amherst.

Fonte: FT




terça-feira, 16 de abril de 2013

The Radical Return to Ratzinger


[Pope Benedict XVI will be] remembered by Catholics as radical in the truest sense of the word, whose time at the Petrine helm was devoted to a return to tradition to affect reform. Today, to be a traditionalist is a stigma for being stuck in the past. But Benedict XVI rejoiced in the past and drove it down deep, like a plow, to cultivate the arid areas of the vineyard. ...
Nothing this Pope did (until now) was really what can be called new and exciting. Everything he did, though, was old and exciting. Pope Benedict was a radical pope because he clung to the roots of the Faith—and this was his genius, which is so commonly and mistakenly branded as “closed-mindedness.” It is only an open mind, however, that can take in the relevance of this world, the world that was, and the World to come.

There is the modern radicalism of change, and then there is the ancient radicalism of holding the line. Benedict embodied the latter, a style which is not in vogue. The only things fashionable about Benedict XVI were his red shoes.


Sean Fitzpatrick


Fonte: Crisis 2/12/13

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Mendonça de Barros e a Inflação.


Gostei muito desse artigo do Mendonça de Barros. Vale a leitura.


É muito triste para o analista acompanhar o debate atual sobre a política monetária do Banco Central (BC). Este sentimento nasce principalmente em função da volta da inflação para o centro das discussões, depois de mais de dez anos de esquecimento por parte da sociedade. Esta nossa sensação de "déjà vu" fica reforçada pelo aparecimento de velhos protagonistas de corte heterodoxo - com suas mesmas ideias e soluções do passado - ao lado de novos economistas liberais, com os mesmos erros e utopias de seus colegas mais velhos. Ou seja, em mais de 30 anos, os membros destes dois grupos não esqueceram nada, mas também não aprenderam nada de novo.
Como escrevi acima, considero um retrocesso voltar à questão da inflação nos termos que vêm sendo colocados pela mídia, aqui e no exterior. Em um extraordinário trabalho a quatro mãos, os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula conseguiram convencer a sociedade brasileira que a estabilidade de preços é uma condição absolutamente necessária para que o crescimento econômico seja perene. Mais do que isto, que para atingir este objetivo é preciso ter um Banco Central comprometido com uma meta clara para a inflação e com um mínimo de independência para persegui-la ao longo do tempo.
Aliás, é bom lembrar que foi por conta deste compromisso que a economia brasileira cresceu continuadamente entre 1994 e 2008, apesar das crises que enfrentamos. Nestes 14 anos, a renda real do brasileiro cresceu mais de 3,5% ao ano e a parcela da sociedade que vive na economia de mercado passou de 34% para mais de 60%. Um resultado incrível e que ganhou reconhecimento internacional. Pensava eu que, por isto, estivessem sepultadas de vez as teorias alternativas que sempre fizeram parte do programa de ação do Partido dos Trabalhadores e de parte da esquerda brasileira.
Também por isso me surpreendeu quando a presidenta Dilma começou a deixar de lado este compromisso com o aparecimento de alguns entraves ao crescimento da economia. Ela não percebeu que o problema tinha sua origem em questões estruturais não enfrentadas adequadamente nos anos Lula e no início de seu mandato. No começo, estas mudanças foram sutis, mais relacionadas a intervenções pontuais do governo. Mas, a partir da frustração com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, as ações passaram a ser mais abrangentes, enfraquecendo o arcabouço macroeconômico que havia prevalecido até então.
Nos anos Lula o governo considerava os mercados como um instrumento de ação do governo na busca da geração de renda para, a partir daí, alterar a natureza da distribuição dos frutos do crescimento. De certa forma, o governo Lula utilizou-se da mesma estratégia que os chineses desenvolveram nos últimos anos para construir uma nova economia.
Já a presidenta Dilma colocou a ação do governo como peça central da política econômica, sujeitando a ação privada a um papel apenas complementar e secundário. Ao fazer isto recolocou o ideário do PT tradicional - e também do PDT brizolista - novamente no comando de suas ações. Daí o teor de suas declarações recentes de que não concorda com a utilização dos juros como instrumento de redução do consumo privado no combate à aceleração da inflação. E foi mais longe ainda, ao resgatar a antiga e desgastada imagem do remédio matando o paciente.






Mas vamos também olhar de forma crítica para o outro lado do espectro ideológico e que procura vender a imagem de que estamos próximos a um total descontrole da inflação. O gráfico abaixo mostra, de forma clara, dois momentos distintos dos números do IPCA nos últimos anos. No primeiro, que corresponde à passagem do ponto A para o B, temos um período de desinflação em função da valorização do real e da existência de espaços produtivos ociosos no tecido econômico, como o índice de desemprego de dois dígitos. Por isto a inflação chega a ficar momentaneamente abaixo do centro da meta do BC entre 2006 e 2007.
Já entre B e C temos um período em que pressões inflacionárias por conta da ocorrência de vários choques externos - câmbio e commodities - em um ambiente de redução rápida dos espaços ociosos na economia, levam a inflação a mais de 6% ao ano.
Em resumo, nos últimos anos, mesmo durante o período de um Banco Central ortodoxo e com liberdade de ação, a inflação no Brasil nunca ficou abaixo dos 5% ao ano por um período mais longo. Um sinal claro de que não conseguimos sair da armadilha de um sistema de preços indexados à inflação passada e, portanto, ultrassensível a choques externos de oferta. Por isto, quando voltamos agora a uma situação limite e perigosa, temos que buscar uma política de combate a inflação menos rudimentar do que a proposta pelos dois lados do espectro ideológico que domina o debate econômico nestes dias.
Não serão apenas medidas clássicas como a elevação da taxa Selic que vão tirar a dinâmica de aumento de preços da perigosa trajetória atual. Temos que voltar os olhos ao Plano Real e buscar na sua agenda um conjunto abrangente de medidas de política econômica.

Luiz Carlos Mendonça de Barros




Fonte: Valor

domingo, 14 de abril de 2013

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Great Scientist ≠ Good at Math


O artigo abaixo do famoso biologo E.O. Wilson está dando o que falar: Krugman escreveu um comentario endossando,parcialmente, a tese criticada por uma dupla de cientistas no FT desta sexta feira. Na historia do pensamento econômico encontramos vários matemáticos que se tornaram economistas importantes: Marshall, Keynes, Wicksell e a maioria dos membros da chamada escola de estocolmo, para citar alguns, mas há outros, com formação em outras áreas e que são excelentes economistas como é o caso do Schumpeter, Menger, Coase, Alchiam...


For many young people who aspire to be scientists, the great bugbear is mathematics. Without advanced math, how can you do serious work in the sciences? Well, I have a professional secret to share: Many of the most successful scientists in the world today are mathematically no more than semiliterate.
For many young people who aspire to be scientists, the great bugbear is mathematics. Without advanced math, how can you do serious work in the sciences? Well, I have a professional secret to share: Many of the most successful scientists in the world today are mathematically no more than semiliterate.
Fortunately, exceptional mathematical fluency is required in only a few disciplines, such as particle physics, astrophysics and information theory. Far more important throughout the rest of science is the ability to form concepts, during which the researcher conjures images and processes by intuition.

Everyone sometimes daydreams like a scientist. Ramped up and disciplined, fantasies are the fountainhead of all creative thinking. Newton dreamed, Darwin dreamed, you dream. The images evoked are at first vague. They may shift in form and fade in and out. They grow a bit firmer when sketched as diagrams on pads of paper, and they take on life as real examples are sought and found.

Pioneers in science only rarely make discoveries by extracting ideas from pure mathematics. Most of the stereotypical photographs of scientists studying rows of equations on a blackboard are instructors explaining discoveries already made. Real progress comes in the field writing notes, at the office amid a litter of doodled paper, in the hallway struggling to explain something to a friend, or eating lunch alone. Eureka moments require hard work. And focus.

Ideas in science emerge most readily when some part of the world is studied for its own sake. They follow from thorough, well-organized knowledge of all that is known or can be imagined of real entities and processes within that fragment of existence. When something new is encountered, the follow-up steps usually require mathematical and statistical methods to move the analysis forward. If that step proves too technically difficult for the person who made the discovery, a mathematician or statistician can be added as a collaborator.

In the late 1970s, I sat down with the mathematical theorist George Oster to work out the principles of caste and the division of labor in the social insects. I supplied the details of what had been discovered in nature and the lab, and he used theorems and hypotheses from his tool kit to capture these phenomena. Without such information, Mr. Oster might have developed a general theory, but he would not have had any way to deduce which of the possible permutations actually exist on earth.

Over the years, I have co-written many papers with mathematicians and statisticians, so I can offer the following principle with confidence. Call it Wilson's Principle No. 1: It is far easier for scientists to acquire needed collaboration from mathematicians and statisticians than it is for mathematicians and statisticians to find scientists able to make use of their equations.

This imbalance is especially the case in biology, where factors in a real-life phenomenon are often misunderstood or never noticed in the first place. The annals of theoretical biology are clogged with mathematical models that either can be safely ignored or, when tested, fail. Possibly no more than 10% have any lasting value. Only those linked solidly to knowledge of real living systems have much chance of being used.

If your level of mathematical competence is low, plan to raise it, but meanwhile, know that you can do outstanding scientific work with what you have. Think twice, though, about specializing in fields that require a close alternation of experiment and quantitative analysis. These include most of physics and chemistry, as well as a few specialties in molecular biology.

Newton invented calculus in order to give substance to his imagination. Darwin had little or no mathematical ability, but with the masses of information he had accumulated, he was able to conceive a process to which mathematics was later applied.

For aspiring scientists, a key first step is to find a subject that interests them deeply and focus on it. In doing so, they should keep in mind Wilson's Principle No. 2: For every scientist, there exists a discipline for which his or her level of mathematical competence is enough to achieve excellence.

Dr. Wilson is a professor emeritus at Harvard University.

Fonte; WSJ

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Martin Wolf e o legado da Dama de Ferro

Excelente analise do impacto e legado do Governo Thatcher. Os adoradores da Dama de Ferro no grande bananão demonstraram conhecer muito pouco a respeito do Reino Unido. Desconhecimento aceitável no passado, quando era impossível conseguir uma cópia do FT, felizmente este não é mais o caso. Trata-se, me parece, da cegueira ideológica que costuma atacar o marxismo talebã, mas que desta vez atacou a incipiente, vulgar e intelectualmente sofrivel direita brasileira.

Today’s British economy is the legacy of Margaret Thatcher. The governments that succeeded her did not change the broad lines of her policies. John Major privatised the railways. Labour lightly regulated the City of London and made the Bank of England independent. When it did reverse direction – such as with the introduction of the minimum wage – the measures were carefully calibrated. So how should we judge Thatcher’s legacy?
The UK economy has registered at least four clear successes since 1979, notes Professor John Van Reenen of the London School of Economics.
First, roughly a century of underperformance relative to its peers came to an end. In 1979, according to the Conference Board’s database, UK gross domestic product per head (at purchasing power parity) was 76 per cent of US levels, while French GDP per head was 82 per cent. By 2007, UK GDP per head was up to 83 per cent of US levels, while the French level was down to 73 per cent. By 2007, UK GDP per head was third highest in the Group of Seven leading economies, after the US and Canada.
Second, this marked turnround was because of a relative improvement in both employment and productivity. In 1979, output per worker in the UK was 75 per cent of US levels, far behind that in France, at 88 per cent. By 2007, UK output per worker was 85 per cent of US levels, the same as in France.
Third, the improvement in productivity performance was not just the result of a financial bubble: only 10 per cent of the productivity growth between 1979 and 2007 was generated inside finance.
Finally, the collapse in economy-wide productivity performance since 2007 is a mirror image of the greater flexibility of real wages and consequent employment resilience. Moreover, the poor productivity performance since 2007 has not eroded all the prior gains.
The evidence, then, is that the market-oriented and regulatory reforms – labour market liberalisation, withdrawal of subsidies and privatisation – did improve UK performance. But Prof Van Reenen also notes important failures: rising inequality, excessive financial deregulation and inadequate investment in both human and physical capital.
I agree. But I would put these criticisms in a wider context, one that bears on where the post-crisis UK might now go. Thatcher – like many who supported her – had a 19th-century view of the economy, rejecting most of what happened in the 20th century. She was a pragmatic politician: she did not seek to abolish the welfare state. The same was true of US President Ronald Reagan. But her core belief was that all good things would follow from pruning back the state.
The economic history of the UK suggests this view is, at the least, incomplete. The nation did not fall behind the late-19th century US or Germany because its governments did too much. It was far more because it was culturally and institutionally incapable of remaining central during the “second industrial revolution” – an era of rapid innovations and giant corporations. Increasingly, the British became rentiers. That was one reason why the City became the leading global financial centre.
It is not an accident that an effort by a forceful politician to reverse the interventionism of the 20th century has brought the UK so far back to this future. Thus, it has a huge financial centre, weak domestic manufacturing, a deregulated labour market, rising inequality and low private and public investment. It all looks remarkably late-19th century.
As Richard Lambert, former director-general of the CBI, the business organisation, and former FT editor, noted in a recent lecture, the British business sector still shows a “relatively low commitment to long-term investment, [and] to research and innovation”. When the City determines how companies are run, that is sure to happen. A company such as Rolls-Royce could hardly be created today. That is not what the City would dare to support.
So how should the UK build on Thatcher’s legacy? As Andy Haldane, a leading BoE official, notes, radical simplification could still make the economy work far better in some areas – taxes and the reform of financial regulation, for example. In other respects, however, the government has to act much more positively. It needs, for example, to consider its balance sheet, not just its debts. It must see the case for far higher investment when interest rates are so low. It must appreciate more the role it has to play in promoting science-led innovation.
The crisis has shown that the post-Thatcher economy was weaker than many believed. Going back to the 19th century is also not enough. The country needs institutions, public and private, better capable of generating widely shared growth. Is that possible? Perhaps not. But it is today’s challenge.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Prosperity requires more than rule of law

Bom artigo do Kay sobre o novo mantra do desenvolvimento econômico: instituições. No Brasil ele se materializou, durante a gestão do infeliz Ministro da Fazenda no primeiro Governo Lula, nas reformas microeconômicas, que ate hoje ainda é defendida pelos seus proponentes com sendo o novo Santo Graal...

The idea that “institutions matter” is a relatively recent amendment to the standard corpus of economic thinking. Only in the past two decades has it become a mantra of development economists.
The trigger was the recognition that plans to promote growth after decolonisation had failed. The continued poverty of many countries could not be fully explained by a shortage of capital or the legacy of foreign exploitation. Economic historians emphasised that the industrial revolution was the product not just of technological change and related investment in plant and machinery; it had also required the contemporaneous evolution of political and economic institutions.
A visit to Hong Kong is a reminder of how much institutions matter. A Chinese population under British administration created an island of prosperity, while the mainland stagnated under warlords and erratic dictators. When Chinese institutions achieved greater stability after the death of Mao Zedong, Hong Kong became a hub for the spectacular growth of the whole country.
But to say institutions matter is to beg the question: which institutions? The conventional reply emphasises property rights and rule of law. This excludes the arbitrary rule of the mad dictator or the king who enjoys power by divine right – but provides little further guidance.
Is security of property rights either necessary or sufficient to promote investment and innovation? The perceived illegitimacy of the distribution of property rights has often obstructed the achievement of these economic goals – as in Latin America and post-communist Russia.
And it makes no sense to talk of the rule of law in isolation from the nature of the laws and the processes through which they are promulgated and enforced. Many of the nastiest totalitarian regimes have had legal codes and constitutions that would on paper win plaudits from the most demanding of human rights activists.
Joseph Tainter, the anthropologist, attributed the decline of civilisations to their inability to manage the complexity they accreted. And at the Institute for New Economic Thinking conference I attended last week in Hong Kong, historian Niall Ferguson described the economic disadvantage for the US of too many property rights and too much law.
The conference offered numerous illustrations of the problem. There was an address by a spokesman for a leading patent troll, which buys and asserts patents in the hope of forcing companies to pay royalties. Another talk reminded the audience that the value of outstanding derivatives contracts exceeds by a considerable margin the value of all underlying assets to which they might relate. The spiralling costs of litigation establish an environment in which the rule of law operates in favour of bullies and the rich and privileged – a process whose outcomes closely resemble those of dispute resolution in very primitive societies. The rule of law is to be welcomed, but not the rule of lawyers.
Of course, even with legal costs absorbing almost 2 per cent of gross domestic product, the US is an affluent country. But, like its European counterparts, it suffers from the impediments to growth identified by economic historian Mancur Olson; sclerosis arising from the conflicting demands of too many established vested interests.
So when the Chinese ask how to establish the institutions to support a stable, prosperous economy, it is not enough to mumble: “Property rights and rule of law – go to Denmark and see.” There are many versions of the successful formula of lightly regulated capitalism and liberal democracy, each with its own challenges. While there are common principles, there is no blueprint that can be enshrined in a Washington consensus or proclaimed “the end of history”.
Nor is there an established blueprint for a transition from anarchy or traditional society to the institutions that today’s development economists understand matter. Hong Kong in the 19th century experienced one such transition – the importing of institutions from another jurisdiction with the support of the Royal Navy and a garrison of troops. But that model for the most part did not prove acceptable, or permanent, elsewhere. Its resilience in Hong Kong was the result of a unique context. Institutions matter – but perhaps histories matter even more. And while countries can learn from history, they cannot reproduce histories.

John Kay

Fonte: FT

terça-feira, 9 de abril de 2013

Nakano e a inflação

Interessante artigo do meu ex-orientador de mestrado e figura de destaque do chamado neo-desenvolvimentismo. Vale a leitura.


Em 2011 e 2012 a inflação acelerou cerca de um ponto percentual em relação à média dos anos anteriores, caminhando para uma patamar médio próximo a 6,5%. Isto ocorreu num contexto em que a taxa de crescimento recuou fortemente de um patamar médio de 4% ao ano, entre 2004 e 2010, para a média de apenas 1,8% ao ano em 2011/2012.

O quadro é preocupante pois, com um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 0,9% no ano passado, a inflação devia ter desacelerado e não acelerado. Neste quadro, à primeira vista, o tradicional remédio de desaquecer a economia através da elevação da taxa de juros parece perder sentido.

Neste panorama de baixo crescimento, se as principais causas da inflação alta fossem choques vindos do lado da oferta ou pressões de custos oriundos da depreciação da taxa de câmbio e de choques externo e interno de preços de alimentos, a aceleração da inflação seriam transitória. Não seria necessário elevar a taxa de juros, pois os preços de alimentos já estão cedendo no mercado internacional, internamente a perspectiva é de uma boa safra agrícola e o efeito relevante da depreciação do câmbio no ano passado já foi absorvido.

Mas o problema da inflação brasileira não se esgota nestas e outras pressões transitórias. Existem pressões persistentes e que tornam o reajustes de preços quase que generalizado.

Em primeiro lugar, estamos vivendo no mercado de trabalho uma situação inédita de pleno emprego. Neste novo quadro a elevação dos salários acima da produtividade, isto é, o aumento do custo unitário de trabalho tem sido generalizado na economia brasileira. Esta pressão origina-se no setor de serviços, que lidera o crescimento, favorecido pelo prolongado período de apreciação da taxa de câmbio. Sendo um setor "non tradables" pode facilmente repassar as pressões salariais para os preços sem sofrer competição dos importados. Esta pressão se transforma em tendência generalizada já que trabalho é um fator universal de produção.

Mesmo em setores que tenham contraído a produção, como a indústria de transformação, não há como escapar desta pressão de custos. De fato, estes setores ou absorveram estas pressões reduzindo suas margens de lucro ou foram substituídas pelas importações. Na verdade, a pressão inflacionária seria muito maior se a taxa de câmbio não fosse apreciada e controlada pelo Banco Central. É como se tivéssemos adotado uma política de meta de inflação e considerássemos na meta apenas os preços dos "tradables" (bens da indústria de transformação), que seria controlados ao se controlar a taxa de câmbio. A inflação dos "non tradables" corre livremente sendo até estimulado quando o governo toma medidas de estímulo à demanda na indústria. Mas o problema é que a indústria de transformação representa apenas 13,2% do PIB e os serviços, mais de 60%.

De qualquer forma não há outro caminho para conter estas pressões inflacionárias a não ser esfriar a demanda de serviços e, por esta via, o mercado de trabalho.

A segunda pressão persistente é o componente inercial devido à persistência da indexação formal e obrigatória em que a inflação passada se torna em futura por lei. Por exemplo, todos os contratos de prestação de serviços ou de fornecimento de bens com mais de um ano de duração têm uma cláusula de reajuste. Mensalidades escolares e tarifas públicas em geral têm reajuste anual. Os ativos financeiros em geral estão indexadas à inflação via taxa diária de juros Selic/DI. Estima-se que um terço dos preços ao consumidor esteja indexado.

A terceira pressão volátil, mas que tende a tornar-se persistente vem da expectativa de inflação. Num país que viveu um processo de hiperinflação há menos de 20 anos tem ainda na memória de grande parcela de sua população a prática da indexação generalizada. Com boa parte dos preços indexada formalmente, a inflação permanecendo em um patamar não desprezível mais de 6% ao ano, os reajustes de preços tendem a ser generalizada. Se o Banco Central e o governo não agirem convincentemente corremos o risco do hábito de reajustar os preços de acordo com a inflação passada voltar com toda a sua força.

É neste quadro complexo e delicado que o Banco Central e o governo têm que agir cedo ou tarde. Se o governo não está disposto a fazer uma "contração fiscal" que mereça este nome não resta senão o Banco Central elevar a taxa de juros. Evidentemente, se os preços na economia brasileira forem desindexados, incluindo os preços dos ativos financeiros, pequena elevação de juros teria efeito forte sobre o preço dos ativos financeiros e daí para os seus fluxos, para a demanda e, finalmente, na inflação, no devido tempo. Mas, no contexto brasileiro, com os canais dos preços dos ativos financeiros obstruídos e com a persistência da indexação de preços, os efeitos da elevação das taxas de juros têm atuado principalmente por meio do canal de transmissão da apreciação cambial, com contração dos preços industriais e da oferta das empresas que dependem de capital de giro, particularmente as pequenas e médias. Como a apreciação da taxa de câmbio está na origem da elevação dos salários e da inflação de serviços, o Banco Central deveria elevar a taxa de juros, mas neutralizando a apreciação cambial de forma que não serão os preços dos "tradables" (indústria de transformação) que serão comprimidos mais uma vez, com a invasão de importados, mas sim os preços dos serviços.

Yoshiaki Nakano

Fonte: Valor