terça-feira, 10 de setembro de 2013

Yoshiaki Nakano: Novo ciclo de expansão está aí!


Artigo interessante do conhecido tucano e administrador do country club da rua itapeva.


Desde 2011, a economia brasileira perdeu seu dinamismo. No atual quadro, se houver recuperação, o crescimento deverá ficar entre 2% a 3%. Por enquanto, não há nada de concreto no horizonte que possa reverter o pessimismo, gerar um novo conjunto de investimentos e deslocar a economia brasileira para uma nova trajetória de crescimento acelerado e sustentado, pelo menos para os próximos 10 anos.

Economias emergentes como a brasileira não alcançaram a "maturidade" por que ainda estamos longe da fronteira tecnológica. Portanto, a trajetória mais rápida e de menor custo é trazer rapidamente para dentro do país, a fronteira tecnológica, ampliando as importações e melhorando a capacidade das empresas brasileiras de absorverem e se adaptarem a essas inovações.

A pré-condição para que isto aconteça é que a taxa de investimento seja elevada dos atuais 18% do PIB para pelo menos 25% do PIB e que as exportações cresçam rapidamente para vibilizar as importações. Dai o papel chave que a taxa real de câmbio competitiva tem no processo de desenvolvimento, a capacidade de estimular investimentos no setor de tradables. Entretanto, uma taxa de câmbio para gerar um "boom de investimentos", particularmente de manufaturados, teria que ser excessivamente depreciada para compensar o custo Brasil, o que tornaria as importações de bens de capital excessivamente caras. Portanto, o estímulo teria que vir de outra fonte.

Em outras palavras, o que poderia gerar, no atual contexto, um bloco de investimentos suficientemente grande, que tenha forte efeitos multiplicadores, capazes de aumentar a produtividade e se transformar na locomotiva da economia brasileira?

O grande economista Ignácio Rangel, com longa experiência de analista de projetos do BNDES, dizia que o ponto de estrangulamento da economia, num período, cuja remoção exige grandes investimentos, tende a transformar-se, no período seguinte, na locomotiva que vai comandar a expansão econômica. E antevia que dado que a poupança pública era negativa, a concessão de serviços públicos poderia engendrar esta locomotiva.

A locomotiva aí está na nossa cara: é o programa de concessões de infraestrutura anunciado há um ano pela presidente Dilma. É a incompetência da burocracia brasileira e o ranço ideológico petista que está emperrando. Agora que o ministro Guido Mantega está assumindo o comando do programa, já com bom encaminhamento das negociações com o setor privado, temos novas esperanças.

Não há dúvidas de que o programa de concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos pode gerar centenas de bilhões de reais de investimentos nos próximos anos e um novo ciclo de expansão da economia brasileira. O setor privado está com apetite e há uma fantástica abundância de recursos em busca de retorno, ainda com financiamentos a taxas de juros baixíssimas.

Sabemos também que investimentos em infraestrutura e sua qualidade são condições necessárias tanto para crescimento, como para aumento de produtividade. Num estudo econométrico recente, dois economistas franceses (NATIXIS Economic Research no. 227, march 22, 2013) estimaram para quatro países da Europa (Alemanha, França, Itália e Espanha) que a elasticidade do PIB em relação ao investimento em transporte é muito elevada, de 0,11 após um ano e 0,18 após cinco anos. O efeito multiplicador total de um euro investido em transporte nestes países resultou num aumento de l4 euros. No Brasil, o prof. Vladimir Teles (FGV/EESP), estimou que um aumento de 1% no capital investido em infraestrutura, gera incremento de produtividade entre 0,48% a 0,53% na produtividade total dos fatores, com defasagem de 4 anos. Pode-se concluir que o investimento em infraestrutura se auto-financia, no médio e longo prazos. Os investimentos públicos se auto-financiam com aumento da receita tributária, sem aumento da carga tributária.

No caso brasileiro após tantos anos de investimento muito abaixo do mínimo necessário (3% do PIB) para manter o estoque de capital existente, estima-se que precisaremos investir 6% do PIB durante 20 a 30 anos para termos uma infraestrutura competitiva, isto é comparável ao padrão mundial. O mais trágico é que este estoque de capital padrão, considerando países como a China, corresponde a 70% do PIB, no Brasil este percentual atinge apenas 16% do PIB, segundo um estudo da Mckinsey. Isto leva a uma estimativa de que precisaremos investir US$ 1 trilhão para sermos competitivos globalmente!

Para concluir, temos que ser realistas. Sendo otimista e assumindo que tudo vai ocorrer como programado, as licitações que se iniciam neste mês deverão ter um trâmite burocrático tal que os investimentos deverão, na melhor das hipóteses, iniciar daqui a um ano. Assim, impactos sobre crescimento do PIB teremos somente a partir de 2015. Os ganhos de produtividade têm defasagem de 4 anos, mas se as licitações forem bem sucedidas ao menos surge uma luz no fim do túnel.

Yoshiaki Nakano

Fonte: Valor