sexta-feira, 30 de maio de 2014

Mariembad não é aqui?




Todo ano aguardo ansiosamente pelo encontro. Será este ano, penso com meus botões.  Imagino toda a mise en scène e ansiedade da midia a espera da declaração bombastica.  As contradições, ah! as contradições, palavra magica responsável pelo trabalho de parto da nova ordem,  que causa tantas dores e  ano, após, ano insiste em manter-se no mesmo nível do ano anterior e postergar o anuncio do dia  do derrumbre, da queda do malefico sistema capitalista.  Alguns, no entanto, discordam da leitura e anunciam  a queda inevitável,  não sem antes, fazer uma longa exposição com palavreado estranho que cria um clima de medo  e ambiente sufocante de um bom filme de horror dos tempos d'antanho: menores de idade e aqueles com fragil compleição, imagino,  deixam rapidamente o local em busca de um copo de agua com açucar. Meus nervos, ah! meus nervos.  Mas divago. Enquanto  o publico  mal respira, tamanha  é a ansiedade. Será este ano. O que ele disse, cutuca alguem do lado. O que ele disse?  Será mesmo este ano?  Sim, é isto mesmo. Quando, sim, Quando.  Depois do verão no hemisferio norte? Quem sabe durante o inverno?  Seus olhos contemplam o auditorio lotado, os pontos escuros no canto esquerdo, os cartazes ao lado com os herois do passado:  Marx, Lenin e um outro que lembra Althusser ou seria outro?  Nenhuma palavra a mais, apenas o silêncio,  troca de olhares   seguida do som inconfundível de dobradiças envelhecidas quebrando a mágica. Ano que vem tem mais ou quem sabe, ela vem antes. Quem sabe, quem sabe...