Não sou o único a chamar os ex-comunistas(PCB) de nova direita. Em artigo genial no Valor um dos melhores intelectuais brasileiros, Wanderley Guilherme dos Santos, usa expressão semelhante: "a nova direita chic, os comunistas nostálgicos". Ele esta se referindo, naturalmente, aos ex-comunistas alojados no partido do candidato da Nova Direita.
No mesmo jornal, uma longa matéria com o Plinio, que, ao contrário do que pensava, esta cada vez mais longe daquilo que defino como católico. É lamentável...
abaixo o artigo do Wanderley:
Registro dois óbitos iminentes: o da eficácia eleitoral da política de redistribuição de renda e o do poder desestabilizador da grande mídia. São movimentos dessa natureza que brazilianistas e a nova direita chic, os comunistas nostálgicos, não antecipam. Há quem acredite que nada mudou no Brasil desde a Primeira Missa. Outros, que mudou para pior desde a Primeira República. São ecos do passado, nutridos pela lerdeza real com que o país tem resolvido alguns problemas clássicos da modernidade. A urbanização custou a chegar, assim como a industrialização e a transformação da estrutura ocupacional. Argentina, Chile e Uruguai brilhavam com taxas européias de urbanização e alfabetização (nada de industrialização, é bem verdade) quando o mundo era campestre e a poesia e o romance, bucólicos. Em um par de décadas, contudo, a urbanização e a transformação ocupacional brasileiras bateram recordes históricos, deixando na rabeira não só a América do Sul, mas China, Índia e, em alguns aspectos, a Rússia, inventando ao longo da travessia um eleitorado de 136 milhões de votantes, indomável a qualquer elite leninista e, cada vez mais, insubmissa ao comando coronelista. A poda das oligarquias hereditárias ocorre de Norte a Sul do país. Por fim, descobriu-se uma classe média (próxima de 90 milhões de pessoas) quase do tamanho do Japão. Dezenas de milhões de "japoneses", digamos assim, falando português, mas com igual apetite consumista, invadiram as lojas de eletrodomésticos, de roupas, agências de viagens, aviões, hotéis e, até mesmo, as revendedoras de automóveis japoneses propriamente ditos. Não há nostalgia que suporte isso sem virar ressentimento. Mas, a contragosto, será nesse depósito que a história obrigará os conservadores a colher votos no futuro.
Do berço ao túmulo, a população brasileira passou a ser assistida por complexa rede de políticas sociais institucionalmente inéditas, em grande parte, e incomparáveis em sua cobertura. Multidões foram extraídas à miséria e à pobreza em prazo mínimo, se confrontado aos quase cem anos que o sistema social europeu exigiu para ser elaborado e implementado. Evidentemente, nossos séculos preguiçosos legaram tal espetáculo de carências que a profunda subversão de prioridades operada pela era Lula não está senão a meio caminho da empreitada em seus efeitos estruturais. Metas ainda por atingir, ocasionais gestões deficientes, equívocos de formulação inicial de alguns programas fazem parte da história real do período e comparecem na queda de braço das argumentações eleitorais. Mas não é nesse discurso ao tele-espectador que se encontra o coração da matéria.
de parte das políticas sociais em curso dispensa intermediários. Os atingidos têm acesso direto aos benefícios, extinguindo-se o pedágio de gratidão que deveriam pagar aos agentes executivos das ações distributivas. A fruição dos bens sociais a que têm direito independe de conexão com algum doador individualizado, subordinando-se tão somente ao vínculo formal com a apropriada agência de implementação. O funcionamento do sistema, naturalmente, claudica aqui e ali e a eficiência da máquina não é uniforme. Isso tende a melhorar. E tende a melhorar na exata medida em que os beneficiados deixam de aceitar o serviço ou o bem como favor (a cavalo dado não se olham os dentes) e a entendê-lo como obrigação do Estado. Nessa mesma medida o voto-gratidão ou se transforma em voto-confiança ou migra. Em breve a população brasileira sentirá a rede social em expansão (volume e qualidade) como estado da natureza, solo sobre o qual se desloca sem prévia licença de autoridade política a que deva lealdade. Certamente que o eleitorado, sobretudo o mais antigo, preserva um estoque de confiança nas lideranças que deram origem à re-fundação do pacto político original. Mas a simples lembrança daquele momento pode se tornar insuficiente para a renovação da confiança. E é assim que deve ser.
Parte considerável da nova classe média tende ao conservadorismo por entender com absoluta lucidez que existem limites à mobilidade social ascendente e que mudanças, dadas certas circunstâncias, serão, provavelmente, para pior. É sociológica e economicamente impossível que a totalidade das pessoas que alcançaram ou venham a alcançar em breve o topo salarial ou de posição em algum ramo do comércio, serviços ou ocupação industrial, se transfiram para um patamar acima na estratificação social, dando início a nova trajetória ascendente. A maioria das moças e rapazes que, recém alfabetizados ou saídos de escolas profissionalizantes, encontram vagas em abundância como atendentes, vendedoras, caixas, recepcionistas etc., irão se aposentar na mesma profissão ou em profissão aparentada. Algumas chegarão a supervisora ou gerente de filial; pouquíssimas a postos de direção. Grandes agregados sociais não costumam pular dois degraus na estratificação, independente da orientação dos governos e dos sociólogos de boa vontade. A ascensão inter-geracional é outra história. Em uma geração, porém, o jovem que se entusiasmava com o fervilhante trânsito social é o mesmo adulto maduro que, seguro em sua posição atual e aposentadoria próxima, teme promessas de solavancos sociais. O mais provável é que o solavanco o desaloje. Alguns chamam o fenômeno de "aversão ao risco", mas podemos chamá-lo, sem ofensa, de "potencial de votos conservadores". Em próximas eleições, o aceno da consolidação de conquistas feitas pode ser tão ou mais atraente do que prometida alvorada de grandes transformações.
E eis que o poder desestabilizador da grande mídia parece agônico. Poder que detinha menos em função do jornalismo político investigativo, exacerbado em períodos eleitorais, e mais pelas ilações que faz, os olhos que a liam e os ouvidos que as ouviam. Acusar a mídia de omitir informações, procede, com frequência, mas é trivial. Negar os resultados reais do jornalismo investigativo é tolo e inútil. O mesmo leitor que recusa o exagero aceita o fato comprovado. E o que importa, em primeiro lugar, são os fatos comprovados. Culpa cabe ao governo, ao atual, aos anteriores e a todos os que vierem depois, por entregarem seus eleitores e apoiadores aos embaraços de se verem expostos aos resultados de uma política negligente de recrutamento de pessoal para cargos de absoluta relevância e respeitabilidade. Não é aceitável, em nenhum governo, que ocupantes de cargos de confiança estejam a salvo para operar sem sistemático escrutínio da legalidade e lisura de seus atos. Os órgãos de segurança do governo devem ser responsabilizados pelas constantes provas de incompetência que vêm dando. Um aparato estatal oligárquico, historicamente destituído de capacidade operacional para implementar políticas de grande envergadura - por isso mesmo obrigado a recrutar rapidamente quadros capazes, mediante concursos e funções de confiança - está especialmente sujeito a ser penetrado por funcionários cuja idoneidade ainda está para ser comprovada. O cuidado com o funcionamento da engrenagem governamental deve ser permanente e habilidoso, antes que meramente burocrático. Não é o governo que se torna vulnerável. Isso pode passar. São os seus eleitores que se envergonham e gaguejam, pagando enorme preço em estima social pela confiança que depositaram em governantes, e que a transferiram à desonra. Por isso, não é a grande mídia a responsável. Ao contrário, deve-se ao jornalismo investigativo de boa fé a fiscalização que órgãos governamentais deixam escapar e que a desídia de uma oposição de nariz arrebitado não exercita.
Referia-me ao jornalismo investigativo de boa fé. As ilações editoriais pertencem a outro departamento. Fora da temperatura eleitoral, não há pessoa de bom senso suscetível à idéia de que o presidente Luiz Inácio, ou qualquer outro presidente normal, tenha montado um governo para saquear o país ou promover o nepotismo como política oficial. Não haveria recursos, tempo e sequer mão de obra para, ao mesmo tempo, reduzir espetacularmente a miséria, redistribuir renda e estimular o desenvolvimento econômico. A transferência de significado dos reais ilícitos administrativos para deliberadas intenções políticas se deve ao exercício do poder desestabilizador da grande mídia. Não consta de nenhuma apuração jornalística nem faz qualquer sentido no contexto geral das eleições. Mas é recorrente no Brasil. Assim aconteceu em 1950, 1954, 1960, 1964, no século passado, e em 2002 e 2006, no atual. Ao contrário de épocas pretéritas, todavia, suspeito que esse poder desestabilizador agoniza e, por isso, esperneia.
Tudo começou, creio, com a decisão do então presidente Fernando Henrique Cardoso de criar o Ministério da Defesa, entregando seu comando a um civil. O grande economista Inácio Rangel sorriria ao verificar que, mais uma vez, teria que ser um membro da elite a tomar medidas bastante ousadas. Fernando Henrique, candidato preferencial que fora da oficialidade militar, fez, sem susto, o que Lula, certamente, não teria condições de fazer, à época. Firmou-se constitucional precedente e a sucessão de ministros naturalizou a condição civil do cargo. Despreocupado com problemas de soberania, contudo, Fernando Henrique levou as Forças Armadas à mesma dieta do resto do funcionalismo público e das instituições do Estado, fazendo-as raquíticas, quando não as esfacelando. Outra vez, coube agora ao ex-espantalho Lula, comprometido com a recuperação do povo e da soberania nacional, re-incorporar as Forças Armadas à sociedade e integrá-las em projeto comum. Hoje, nem o Exército nem as demais forças militares estão em busca de identidade, como diria o sociólogo Edmundo Campos, distinta da identidade dos demais segmentos do país. Não obstante resquícios de privilégios, preconceitos e temores herdados de passado nem tão remoto, o entendimento entre as instituições civis e militares se manifesta na total discrição e profissionalismo com que os responsáveis pelos comandos armados têm agido de tempos para cá. Na verdade, o que está fugindo ao poder desestabilizador da grande mídia são os olhos e ouvidos militares. Ela nunca interpretou, fora raros momentos, o sentimento da maioria da população, valham as sucessivas derrotas de seus candidatos como recibo da afirmativa. Mas vociferava aboletada em tanques. Hoje, resta-lhe o potencial para assassinatos de caráter - algo ainda terrivelmente assustador. Tímidas tentativas de se aconchegarem aos bivaques, entretanto, diria o marechal Castelo Branco, têm sido apenas patéticas.
A influência dos meios de comunicação nos processos eleitorais é inteiramente normal em democracias. Inevitável, ademais. Perigoso é quando, além da malícia retórica, o poder desestabilizador busca se realizar, irresponsável, pela mão de terceiros. Isso, parece, está fora de cogitação. A propósito, em 2012 o opúsculo "Quem Dará o Golpe no Brasil?" completará cinquenta aninhos.
E para não dizer que não falei de flores: o poder desestabilizador se concentra, hoje, nesse fóssil institucional que é a Justiça Eleitoral.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Martin Wolf e o Brasil
Gostei, como sempre, da análise do Martin Wolf, mas não compartilho seu pessimismo em relação ao Brasil. Recomendo, também a leitura da entrevista dele publicado na edição de hoje, quarta-feira, do Valor. A sugestão de crise em uma economia emergente não me parece um exagero, porem sugerir que o Brasil possa ser esta economia é um grande equivoco, que ele felizmente não comete, mas que provavelmente será visto como confirmação de tese semelhante defendida por alguns dos meus amigos economistas. É bom deixar claro que são bons economistas. Naturalmente, discordo da avaliação deles.
"Estamos no meio de uma guerra cambial internacional, de um enfraquecimento geral das moedas. Isso nos ameaça porque tira a nossa competitividade". Essa queixa feita por Guido Mantega, o ministro das Fazenda do Brasil, é plenamente compreensível.
Numa era de demanda insuficiente, emissores de reservas cambiais adotam expansão monetária, e não emissores reagem com intervenção cambial. Aqueles, como o Brasil, que não estão entre os primeiros e preferem não copiar os últimos, se deparam com uma disparada nas suas moedas. Eles temem os resultados.
Essa não é a primeira vez que ocorrem esses tipos de conflitos cambiais. Em setembro de 1985, os governos da França, Alemanha Ocidental, Japão, EUA e Reino Unido se encontraram no Plaza Hotel em Nova York e acertaram a depreciação do dólar dos EUA. Ainda antes, em agosto de 1971, o presidente Richard Nixon impôs o "choque Nixon", lançando uma sobretaxa de importação de 10% e encerrando a conversibilidade do dólar em ouro. Os dois eventos refletiram o desejo dos EUA de desvalorizar o dólar. O país tem o mesmo desejo hoje. Mas desta vez é diferente: o centro da atenção não é um aliado obediente, como o Japão, mas a próxima superpotência do mundo, a China.
Quando dois elefantes desse porte lutam, os espectadores podem ser pisoteados. Eis três fatos, relevantes para as guerras cambiais atuais.
Primeiro, como resultado da crise, o mundo desenvolvido está sofrendo uma demanda cronicamente deficiente. Em nenhuma das seis maiores economias de alta renda - EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália - o Produto Interno Bruto no segundo trimestre deste ano retornou ao ponto onde esteve no primeiro trimestre de 2008. Essas economias agora operam num nível até 10% abaixo das suas tendências passadas. Uma indicação do excesso de oferta é a queda no núcleo da inflação para perto de 1% nos EUA e na zona do euro: a deflação acena. Esses países anseiam por crescimento puxado por exportações. Isso vale tanto para os países com déficits na balança comercial ( EUA) como para os que têm superávits ( Alemanha e Japão). No todo, porém, isso só poderá acontecer se os países emergentes se moverem na direção de déficits em conta corrente.
Segundo, os setores privados estão trabalhando exatamente nessa direção. Nas suas projeções de abril (prestes a serem atualizadas), o Institute for International Finance (IIF), com sede em Washington, sugeriu que neste ano o fluxo líquido de financiamento privado externo que ingressará nos países emergentes será de US$ 746 bilhões. Esse montante seria parcialmente compensado por uma saída líquida de recursos privados desses países, da ordem de US$ 566 bilhões. Mesmo assim, também com um superávit de US$ 320 bilhões em conta corrente, e com modestos ingressos de capital oficial, o saldo externo do mundo emergente, sem intervenção oficial, seria um superávit de US$ 535 bilhões. Sem a intervenção, porém, isso não poderia acontecer: a conta corrente precisa equilibrar o fluxo líquido de capital. O ajuste ocorreria com uma taxa de câmbio mais alta. No fim, o mundo emergente teria um déficit em conta corrente financiado por um ingresso líquido de capital provado vindo dos países de alta renda. Realmente, isso é exatamente o que seria de se esperar que aconteça.
Terceiro, esse ajuste natural continua sendo frustrado pelo acúmulo de reservas cambiais. Essas somas representam uma saída de capital oficial. Entre janeiro de 1999 e julho de 2008, as reservas oficiais do mundo cresceram de US$ 1,615 trilhão para US$ 7,534 trilhões, um aumento espantoso de US$ 5,918 trilhões. Esse aumento foi uma forma de autosseguro depois das crises anteriores. Realmente, as reservas foram consumidas durante essa crise; encolheram em US$ 472 bilhões entre julho de 2008 e fevereiro de 2009. Sem dúvida, isso ajudou países sem reservas a amortecer o impacto. Mas esse uso de reservas representou meros 6% do nível anterior à crise. Além disso, entre fevereiro de 2009 e maio de 2010, as reservas aumentaram em US$ 1,324 trilhão adicional, para atingir um valor próximo de US$ 8,385 trilhões. O mercantilismo vive!
A China é o interventor dominante, respondendo por 40% do acúmulo desde fevereiro de 2009. Até junho de 2010, suas reservas atingiram US$ 2,45 trilhões, 30% do total mundial e um desconcertante percentual de 50% do seu próprio PIB. Esse acúmulo deve ser visto como um enorme subsídio às exportações.
Jamais na história humana o governo de uma superpotência emprestou tanto ao governo de outra. Há quem afirme - Komal Sri-Kumar, do Trust Company of the West, no Financial Times de ontem, por exemplo - que esse tipo de administração da taxa de câmbio não é manipuladora, ao contrário das opiniões do Congresso dos EUA, já que o ajuste pode ocorrer por meio de "mudanças nos custos e preços internos". Esse argumento seria mais convincente se a China não tivesse se empenhado tanto e de forma tão bem-sucedida para suprimir as consequências monetárias e, portanto, inflacionárias, da sua intervenção. Enquanto isso, o ajuste inevitável na direção dos déficits em conta corrente no mundo emergente está sendo deslocado para países que são atraentes aos ingressos de capital e que também relutam ou são incapazes de intervir nos mercados cambiais na escala necessária. Pobre Brasil! Será que estaríamos presenciando o tiro de largada para a próxima crise financeira num mercado emergente?
John Connally, secretário do Tesouro de Nixon, teria dito aos europeus que o dólar "é a nossa moeda, mas seu problema". Os chineses respondem à altura. Na ausência de ajustes cambiais, estamos testemunhando uma forma de operação militar monetária: na realidade, os EUA estão tentando inflacionar a China, e a China, a deflacionar os EUA. Os dois lados estão convencidos de que estão certos; nenhum está tendo êxito; e o resto do mundo sofre.
Não é difícil enxergar o ponto de vista da China; o país está desesperado em evitar o que ele considera como o terrível destino do Japão após o acordo do Plaza. Com sua competitividade nas exportações prejudicada pela forte alta na sua moeda e pressionado pelos EUA a reduzir seu superávit em conta corrente, o Japão optou não pelas necessárias reformas estruturais, mas por uma enorme expansão monetária. A bolha consequente ajudou a produzir a "década perdida" dos anos de 1990. Outrora recordista mundial, o Japão caiu numa depressão. Para a China, obviamente, qualquer desfecho semelhante seria uma catástrofe. Ao mesmo tempo, é difícil conceber uma configuração robusta da economia mundial sem vastos ingressos líquidos de capital dos países de alta renda rumarem para os demais.
O que se necessita é um caminho para esses ajustes globais necessários. Isso exigirá não somente uma determinação para cooperar, que agora parece estar extremamente em falta, como também maior imaginação sobre reformas internas e internacionais. Eu gostaria de ser otimista. Mas não estou: é muito improvável que um mundo que pratica políticas de autoproteção tenha um final feliz.
Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT.
Fonte: Valor
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Igreja e Evangelicos
Há um aspecto interessante nesta eleição e que ainda não recebeu a devida atenção da midia nacional. Dos quatros candidatos a Presidência, 3 são quadros formados pela Igreja: Serra, já é bem conhecido; hoje evangelica, Marina é um dos produtos do período da Teologia da Libertação. Plinio é um dos grandes quadros da Igreja e um dos poucos que realmente me parece ser ainda católico, apesar da sua inacreditável guinada para a ultra esquerda. No caso do Serra já era esperado a sua opção pelo extremo oposto:a velha e decrepita direita nacional.
Apesar deste histórico a Igreja está longe de ocupar o mesmo espaço que, no passado, tinha na arena política nacional. O crescimento dos evangelicos, por outro lado, é impressionante e um dado novo que poderá ter consequências interessantes no mercado eleitoral
Apesar deste histórico a Igreja está longe de ocupar o mesmo espaço que, no passado, tinha na arena política nacional. O crescimento dos evangelicos, por outro lado, é impressionante e um dado novo que poderá ter consequências interessantes no mercado eleitoral
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Entrevista com Ruy Fausto
Interessante entrevista, não publicada, com o Ruy Fausto, filosofo marxista e "darling" da esquerda universitária nos dois lados do rio pinheiros.
RESPOSTAS A UMA ENTREVISTA
Tomei distância em relação ao PT por causa do escândalo chamado de “mensalão”, e de outros casos ainda mais graves e tenebrosos. O que é o PT? Há algum tempo, meu colega André Singer, jornalista e ex-´portavoz do governo, escreveu um artigo sobre o tema, publicado na revista do Cebrap, artigo do qual se falou bastante. O texto, bastante rigoroso, era centrado numa análise das bases de classe do PT, e se apoiava em textos clássicos, como o 18 de Brumário, de Marx, e também em Gramsci. Ora, acho que se a elucidação do que é o PT deve passar por esse tipo de investigação focalizada nas relações entre as classes, ela não pode ficar nisso. A observação vale, também, para o caso de outros partidos brasileiros.
Que é o PT?
Acho que ele é muitas coisas. Por um lado, o que já complica, o PT é ele mesmo, e o Lula... Depois, dentro dele, existem, creio, pelo menos três elementos. Há ainda, lá dentro, grupos bastante radicais, cujos projetos, como sempre, não estão isentos de ilusões com as formas autoritárias (ou néo-totalitárias) de governo. Há, em segundo lugar, grupos empenhados em reformas, e com uma consciência democrática suficientemente arraigada. Há, em terceiro lugar, os setores que, na falta de um termo melhor, deveríamos chamar de “máfias”. O PT é, a meu ver, isso tudo. E, sendo assim, se uma análise das bases de classe do partido é válida e até (entre outras coisas) se impõe, ela evidentemente não dá conta de tudo o que existe no PT, principalmente do “terceiro elemento”.
No 18 Brumário de Brumário de Marx há lugar para as máfias, mas finalmente eles giram na superfície do que seria, essencialmente, um conflito de classes. Ora, isso representa uma limitação, para analisar uma experiência como a brasileira. Sem dúvida, as máfias atuam sobre o fundo de uma sociedade em que existem classes e diferenças de classe. Mas eu diria que seu movimento é, de certo modo, autônomo. Ou, mais precisamente, que elas apontam, antes de mais nada, para elas mesmas. Para isso, é necessário em primeiro lugar, que se fale delas (nas análises mais sofisticadas, por incrível que pareça, elas, freqüentemente, são pura e simplesmente esquecidas). Que se pode dizer hoje do PT? Que empurrado pelo que ele tem de melhor (e esse melhor “corta” tendências e personagens), ele pôs em prática programas sociais que deram certo, embora em escala limitada. É preciso ressaltar esse fato, e lutar para que esses programas sejam mantidos e ampliados. Mas ao mesmo tempo, deve-se dizer que não só eles vêm junto com uma política econômica que, sob certos aspectos, é contestável, mas que eles coexistem com o fenômeno do peso crescente de grupos suspeitos (e até pior do que isto) dentro do partido ou no perímetro das suas alianças. Dilma continuará a implementar as medidas econômicas populares do governo Lula. Muito bem. Mas, com Dilma, sobe ao poder, embora não só ele, um grupo ou grupos bem conhecidos pela vontade com que lidam com o dinheiro público, e pela “desenvoltura” dos seus métodos. Por outro lado, Dilma seria eleita em aliança com o PMDB, e com um candidato a vice sobre o qual se poderia dizer algumas coisas. Outro problema é o da política externa do PT. Não vejo como parte da esquerda pode se entusiasmar com essa política. Ela remete a um pretenso “anti-imperialismo” que cultiva gente do tipo de Ahmadinejad, alguém que metralha manifestantes, apedreja mulheres, falsifica eleições etc etc. E ela conduz o nosso presidente a comparar dissidentes cubanos com bandidos.
O provável novo governo petista continuará nessa via desastrosa? Dito isto, que atitude tomar diante da candidatura Dilma?
Manter e ampliar programas como a bolsa família, o micro-crédito etc é muito desejável, mas o peso político que ganharão certos grupos (agravado por uma vice-presidência entregue ao PMDB) é real. E não temos garantias de que a política externa de Dilma será mais atenta à crítica dos despotismos pretensamente socialistas ou terceiromundistas. O julgamento da candidata depende do peso relativo que se dê a cada um desses fatores. Mas é preciso analisar também os outros candidatos. Não sei se vale a pena continuar falando do PT, porque, como já disse, é impossível falar desse partido, e da sua candidata (e avaliá-los), sem comentar os outros partidos e candidatos.
Que tal se passarmos a esses temas? Voltaríamos depois ao PT, se houver tempo e espaço.
- Serra não é mais um homem de esquerda (foi ele mesmo que o disse), ele é mais ou menos um homem de centro. Isto, quanto a ele. Porque a sua candidatura, acho que ela pode ser considerada como uma candidatura de direita. Em primeiro lugar, houve, já antes do processo eleitoral, uma polarização de forças, e o conjuntos das forças sociais e políticas, digamos, conservadoras se concentraram em torno de partidos como o Dem e também o PSDB. Este já foi um partido de centro-esquerda, mas quaisquer que sejam as convicções de alguns, ou vários dos seus membros, ele não é mais de centro-esquerda. Isto significa, por um lado, que, mesmo que ele se comprometa a continuar certos programas postos em prática pelo governo Lula, um governo Serra teria muito menos, digamos, vocação para realizar políticas econômicas que ajudem os mais pobres. E isso no Brasil é urgente.
Porém, há uma coisa que me preocupa mais nesses partidos, PSDB inclusive. Fora o fato de que em matéria de “gente duvidosa” eles não ficam atrás do PT, existe hoje uma mobilização da extrema-direita, que se faz na periferia, senão no interior desses partidos. Dir-se-á que esse gente tem pouco peso, e no momento atual, não é uma real ameaça.
Mas, cuidado. Por trás de certo jornalismo de sarjeta, que se manifesta com a sua “finura” bem conhecida na campanha eleitoral, há dinheiro, instrumentos midiáticos, há o peso de seitas religiosas do tipo “Opus Dei” etc. Toco nesse assunto, porque, embora isto não seja ainda muito visível, existe, evidentemente, em escala mundial, uma reorganização da extrema-direita, cujo cerne é o movimento neo-conservador (seus membros são freqüentemente ex-gauchistas que inverteram os sinais). Ele atua nos EUA (articulando ex-gauchistas com mafiosos do tipo Karl Rove), mas também na Europa. Penetra na administração, nos partidos, e também nas universidades. Sua ideologia é uma mistura de “fanatismo do progresso” e fideismo medieval.
Ele explora essencialmente dois pontos fracos de parte da esquerda (ele só os vê na esquerda e não na direita e nele mesmo): as inclinações totalitárias, e a corrupção. Que aqueles que encarnam no Brasil essa tendência se movam em torno (ou mesmo dentro), de partidos que incluem um ex-partido de centro-esquerda como o PSDB, é um pouco assustador, embora o perigo não seja imediato. Mas importa registrá-lo, porque a médio prazo ele será efetivo.
A rigor, não é grave que um partido fique muito tempo no poder, isto se as regras democráticas forem respeitadas. O que se deve e pode fazer é: 1) denunciar toda eventual derrapagem institucional do eventual novo governo petista; 2) não embarcar na canoa da direita e principalmente da extrema-direita, que fará tudo para denunciar também conspirações inexistentes, em proveito próprio.
Complicado?
É complicado, mas uma política lúcida tem que responder à complicação do mundo.
Há três elementos essenciais. Combate pela defesa da democracia, em prol da crítica do capitalismo e contra a corrupção.
Mas primeiro preferiria completar o quadro da análise dos candidatos.
Plínio Arruda Sampaio consegue brilhar na TV, arranhando os adversários com críticas ao capitalismo nacional e mundial. Muito bem. Que Plínio inclua no seu programa pontos como a redução da jornada de trabalho, é positivo. Mas a visão global de Plínio, conhecemos. Ele é capaz de fazer as críticas mais detalhadas e sutis ao capitalismo, mas diante dos novos regimes de opressão e exploração, que surgiram há quase um século, e que não desapareceram da história (mesmo se sobrevivem, muitas vezes, em forma muito modificada), em relação a estes, Plínio e os seus amigos são de uma cegueira total. Eles crêem no que dizem os representantes destes regimes com a candura com que os ideólogos do capitalismo ocidental acreditam no democratismo de Bush. Para Plínio, é Marx na terra, e Deus (e Cristo) no céu. Dogmatismo que só prepara catástrofes. O paradoxo é que ele seria um melhor homem de esquerda se fosse mais sensível a certos temas que em principio são caros aos cristãos (respeito aos direitos do homem - também no plano internacional, luta contra a corrupção) e menos apreciador dessa iguaria indigesta que é o marxismo dogmático.
- Marina poderia ser a melhor candidata. Tem o mérito de ser de esquerda (ela o é, sem dúvida), e se revelar ao mesmo tempo anti-totalitária e anti-corrupção. Um dos seus pontos fracos é conhecido: sua religiosidade bastante tradicional. Outra coisa, e mais grave, é o que se passa com o partido verde. Se Marina se mostrasse (se mostrar) capaz de denunciar leilões de legendas e outros coisas desse tipo, que lá vicejam,ela seria, apesar de tudo, o melhor dos candidatos. - O novo governo deve continuar um programa de reformas. Em princípio, não creio que ameaçará internamente a democracia, embora no plano externo, eu não seja otimista quanto ao caminho que seguirá. O capítulo corrupção é certamente o mais pesado, mas é difícil prever.
Tentando resumir e generalizar. Aqueles três pontos, representam certamente as questões fundamentais. Nenhum deles é primeiro em relação aos outros. Eles se completam e se reforçam mutuamente. Um ponto que interessa diretamente a esses três elementos são as questões ligadas ao imposto de renda. A luta contra a sonegação, e a necessária alteração das cargas tributárias de maneira a beneficiar os mais pobres, abririam perspectivas muito favoráveis no programa da redução das desigualdades, na luta contra a corrupção, e no reforço da democracia.
Duas palavras finais sobre a corrupção. Sem dúvida, ela se encaixa mal nos velhos esquemas explicativos da esquerda tradicional. No artigo sobre o PT, a que me referi no início, a luta contra a corrupção entra de forma apenas adjetiva e sociologizante, como anseio (sempre suspeito) da classe média, ou como motivo de mobilização da direita. A análise intrínseca do que representa um partido que se pretende de esquerda mas que, ao mesmo tempo, tolera (para não dizer mais) a corrupção, está ausente.
Corrupção existe em todo lugar. Mas ela tem duas características inquietantes no Brasil. Uma, precisamente, é a de que ela atinge a fundo também os partidos de esquerda (na Europa, não é bem assim, há alguma corrupção também à esquerda, mas não dessa ordem). O outro é que se desenvolveu dentro da esquerda uma ideologia de tolerância “geral” em relação a tais práticas. E, mutatis mutandis, isso vale para todos os terrenos, grande política, universidade, vida pessoal. Aqui não é o lugar para dizer tudo o que teria a dizer sobre esse tema a propósito da universidade, ou mais precisamente, a propósito dos concursos universitários (não de todos). Disse-o numa entrevista à TV Escola, que dei no Rio há um ano (espero que a passagem não tenha desaparecido na versão final).
Para terminar, observo, voltando à grande política, que, além de outros méritos, uma mudança de atitude no campo da luta anti-corrupção daria a sustentação política necessária para promover reformas mais radicais do que as que se vai fazendo até aqui. Há sinais, aliás, de que uma mudança como essa poderá vir a ocorrer ou de que já esteja ocorrendo, penso numa campanha popular recente, que teve êxito e deu origem a um projeto de lei, hoje em vigor.
Fonte: Luis Nassif on line
domingo, 26 de setembro de 2010
sábado, 25 de setembro de 2010
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
A viuva porcina
A midia golpista procura com ferocidade impressionante criar um clima que seja favorável ao seu candidato. A primeira pagina é, invariavelmente, um conjunto de manchetes com forte conteúdo negativo sempre relacionado ao Governo Federal. Muito alem, diga-se de passagem , da pratica, em países em que os jornais assumem, sem falsos pudores, o apoio a um determinado candidato. Via de regra isto não compromete o trabalho jornalístico e ajuda o leitor a escolher o seu jornal predileto. Nada mais transparente e democrático.
Na edição desta sexta-feira, o jornal da Ditabranda, depois de participar da campanha de desinformação em relação a venda de ações da Petrobras foi obrigado a reconhecer que ele foi um sucesso e colocou ao lado, em letras menores, à esquerda da manchete principal o bom resultado do desemprego e do rendimento médio mensal dos trabalhadores. Três noticiais positivas, apenas uma com o devido destaque que, mais uma vez, comprova o partidarismo daquele que poderia ter sido um grande jornal.
Na edição desta sexta-feira, o jornal da Ditabranda, depois de participar da campanha de desinformação em relação a venda de ações da Petrobras foi obrigado a reconhecer que ele foi um sucesso e colocou ao lado, em letras menores, à esquerda da manchete principal o bom resultado do desemprego e do rendimento médio mensal dos trabalhadores. Três noticiais positivas, apenas uma com o devido destaque que, mais uma vez, comprova o partidarismo daquele que poderia ter sido um grande jornal.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
De volta ao passado?
A atuação conjunta do Bacen e Tesouro para evitar uma maior valorização do Real ate pode ser uma medida louvável, porem esta longe de ser a solução do problema e , pior ainda, o custo fiscal não será nada barato. O que leva a seguinte questão: vale a pena? Sinceramente tenho dúvidas, mas devido a pressão - afinal este é periodo eleitoral - da mídia e de outros grupos era inevitável, assim como as criticas quando for apresentada a conta.
O fato é que este problema não abarca somente o Brasil e requer uma negociação a nível internacional antes que algum participante importante opte pela pela pior solução econômica: a desvalorização competitiva cujo resultado final nunca é benéfico para a economia mundial, alem dos resultados políticos bem conhecidos.
Será que da história nada se aprende?
O fato é que este problema não abarca somente o Brasil e requer uma negociação a nível internacional antes que algum participante importante opte pela pela pior solução econômica: a desvalorização competitiva cujo resultado final nunca é benéfico para a economia mundial, alem dos resultados políticos bem conhecidos.
Será que da história nada se aprende?
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Mesquita e a questão cambial
Bom artigo do Mario Mesquita sobre questão tecnicamente/teoricamente complicada e que vem sendo debatida com a superficialidade, tradicional, nos debates sobre política econômica no grande bananão
A questão cambial volta a ganhar destaque no debate público, e não apenas no Brasil -vide a intervenção recente das autoridades japonesas para enfraquecer o iene.
Uma característica do debate sobre taxa de câmbio é que este se presta a avaliações quantitativas tão precisas quanto errôneas.
As avaliações sobre o nível de equilíbrio da taxa de câmbio têm longo histórico. A metodologia tradicional utilizada com esse fim é a teoria da paridade de poder de compra (PPC), segundo a qual as taxas de câmbio devem igualar os preços de cestas de mercadorias equivalentes em diferentes países.
Um exemplo de aplicação da teoria PPC é o índice Big Mac, compilado pela "The Economist", no qual o conhecido sanduíche serve como cesta de consumo representativa.
Por esse índice, o real estaria sobrevalorizado em 31% ante o dólar norte-americano. Como a própria revista reconhece, esse é um indicador simplista, já que nem o Brasil só comercia com os Estados Unidos, nem todo mundo pode viver todo o tempo à base de Big Mac (afinal, as pessoas precisam se vestir, morar em algum lugar, estudar etc.).
Mas análises derivadas da teoria da PPC volta e meia são apresentadas sem as qualificações da revista britânica. Escolhe-se uma base de comparação, ajusta-se a taxa de câmbio nominal do período-base pela diferença entre a inflação acumulada no Brasil e em seus parceiros comerciais e logo chega-se a uma estimativa do que seria a taxa de câmbio nominal de "equilíbrio".
Se a taxa de câmbio do dia está apreciada, com o dólar, por exemplo, mais barato do que essa taxa de equilíbrio, então fala-se em defasagem cambial ou sobrevalorização.
A chave da questão é a escolha da base de comparação, que deve buscar períodos típicos, e não extraordinários. Por exemplo, é pouco razoável tomar como base o final de 2002, e decretar que, como o real se apreciou consideravelmente desde então (mais de 50%, descontada a inflação doméstica e dos parceiros comerciais, segundo séries na página do Banco Central) estaria "mega", "hiper" valorizado.
Ocorre que, no final de 2002, como se sabe, o Brasil estava apenas começando a sair de uma severa crise de confiança, e todos os ativos brasileiros estavam a preço de liquidação. Tomar dezembro de 2002 como base para a avaliação da evolução posterior da taxa de câmbio é, portanto, bastante inadequado, e leva a conclusões enganosas.
Mas a análise no espírito PPC tem os seus méritos, se aplicada com a devida cautela. Em vez de utilizar um período específico como base, parece mais razoável considerar a média da taxa de câmbio real por um período suficientemente longo, que inclua tanto momentos de bonança externa como de crise. Tomando por exemplo a taxa média para os últimos 22 anos como base, a taxa de câmbio estaria atualmente apreciada em cerca de 20%.
Note-se que nem chegamos ao final do artigo e já consideramos três números diferentes para o grau de valorização da moeda nacional.
Essa é talvez a maior limitação da teoria PPC -pode-se chegar com certa facilidade a avaliações quantitativas precisas, mas bem distintas entre si.
Outra teoria considera a interação entre a dinâmica da economia e do balanço de pagamentos para avaliar o nível das taxas de câmbio.
Simplificando bastante a análise, se a economia combina atividade econômica fraca com resultados em conta-corrente piores do que a média histórica, então trata-se de um caso de sobrevalorização cambial (Brasil 1998, por exemplo).
Se, por outro lado, temos crescimento acima da média com saldo em conta-corrente melhor do que o normal, configura-se um caso de subvalorização (Brasil 2004?).
Só que há uma ampla área cinzenta: períodos de crescimento fraco e resultado em conta-corrente melhores do que a média e momentos que combinam crescimento extraordinário com resultados em conta-corrente piores do que o normal, na qual julgar sobre ou subvalorização é bem mais complexo. Em resumo, há que se avaliar com muita cautela e certo ceticismo analítico estudos que ofereçam medidas muito precisas de sub ou sobrevalorização cambial.
Fonte: FSP
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Um poeta menor e um grande cronista
Domingo um poeta menor que passou boa parte da vida na melhor escola de formação de quadros da direita brasileira, o velho e decrepito PCB, atacou novamente o Presidente da República. À epoca seu partido defendia a ditadura sanguinária na União Sovietica, considerada a patria do socialismo; a invasão de paises que tentaram fugir do modelo de ineficiência, corrupção e negação de liberdade; para não mencionar a perseguição religiosa. Nada disto acontece no Brasil e parece que o único erro do atual Presidente foi ter liderado a construção de um Partido que condenou aquele que sobrevivia com o ouro de moscou ao lixo de história e, mais recentemente, colocar em pratica uma política social e econômica que finalmente esta resgatando os deserdados da terra e demonstrando que um capitalismo de face humana é perfeitamente possível. É claro que ainda há muito a ser feito, mas o caminho esta correto e as fraquezas humanas que tem levado à comportamentos inaceitáveis não podem e não devem ser toleradas.
Mas, hoje, é terça, dia da semana em que é publicado a coluna semanal do Coutinho, no jornal da Ditabranda. Não importa o tema, é sempre uma aula de estilo e apreço pela lingua portuguesa.Confesso, minha inveja , mas fazer o que, pelo menos ainda me resta o prazer de ler e reler para ver se aprendo um pouco. Naturalmente, sem nenhum resultado pratico....
Mas, hoje, é terça, dia da semana em que é publicado a coluna semanal do Coutinho, no jornal da Ditabranda. Não importa o tema, é sempre uma aula de estilo e apreço pela lingua portuguesa.Confesso, minha inveja , mas fazer o que, pelo menos ainda me resta o prazer de ler e reler para ver se aprendo um pouco. Naturalmente, sem nenhum resultado pratico....
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Mendonça de Barros e industria brasileira
Bom artigo do Luiz Carlos Mendonça de Barros sobre a industria brasileira. Acho que ele exagera o risco, futuro, de desindustrialização.
Em 2007 o Valor publicou um artigo escrito por mim e pelos economistas Paulo Miguel e José Roberto Mendonça de Barros, sobre a influência da China na indústria brasileira. Chamava-se "China - Um dragão de três cabeças."
A imagem que construímos - a China como um poderoso dragão de três cabeças - ainda não tinha assumido os contornos claros que podemos observar hoje. Era preciso um exercício de futurologia para entender como se daria a interação das duas economias. Hoje, quase três anos depois, as coisas estão muito mais claras para o analista.
Dizíamos então que uma das cabeças do dragão chinês - aquela que engolia quantidades fantásticas de produtos primários - seria responsável por uma expansão muito forte de nossas exportações. Uma das formas de medir os efeitos dessa primeira cabeça é pela evolução dos chamados termos de troca de nosso comércio exterior. Em 2000 cada US$ 100 de exportação brasileira comprava US$ 90 de produtos importados; agora, em 2010, os mesmos US$ 100 exportados compram US$ 120 de importação.
O aumento de nossas exportações fez com que o Brasil apresentasse saldos comerciais crescentes e, a partir de 2006, se transformasse em um país credor internacionalmente (reservas maiores do que a dívida externa total). Dizíamos que, com essa nova realidade externa, a economia brasileira começaria a viver um processo de abertura importante, com as importações de bens finais e intermediários crescendo de forma sistêmica.
A partir do momento que os canais de importação e distribuição se estruturassem as importações de bens industriais finais e de componentes cresceriam rapidamente pelo simples movimento de arejamento de uma economia ainda muito fechada. Esse movimento sempre gera um aumento da eficiência produtiva, pois as empresas nacionais são obrigadas a se modernizar para conseguir competir com as importações.
O que surpreende hoje são a rapidez e a intensidade com que isso ocorreu. O comportamento do preço do aço é didático nesse sentido: por décadas, sem a concorrência das importações, o preço do aço brasileiro sempre foi negociado com um ágio - de 20% a 30% - sobre os preços internacionais. Hoje essa diferença não ultrapassa 10%, valor compatível com os custos de logística para trazer esse produto do exterior. O mesmo vem ocorrendo com os preços de vários bens de consumo, principalmente os automóveis. Como sempre acontece no Brasil, os agentes econômicos reconheceram rapidamente as oportunidades abertas pela confiança na nossa moeda e pela intensa disponibilidade de produtos em um mundo desenvolvido em recessão.
Neste período - 2006 até os dias de hoje - o processo de abertura tem sido muito positivo tanto do ponto de vista macro como na vida dos consumidores brasileiros. No nível macro dois aspectos precisam ser ressaltados: a criação de outro canal de oferta de bens industriais e a diminuição do poder de controle de preços de setores importantes nas cadeias produtivas. Ambos vêm funcionando como instrumentos auxiliares no controle da inflação por parte do Banco Central e no aumento sistêmico da eficiência de nosso aparelho produtivo. No nível micro, o resultado mais importante do processo de abertura é certamente o aumento da oferta de bens de melhor qualidade e preços ao consumidor brasileiro.
Mas temo que a penetração das importações em nosso mercado esteja agora entrando em uma fase menos positiva. Com os canais de importação consolidados e com os agentes econômicos no Brasil já acostumados a olhar para o exterior, a queda da competitividade do aparelho produtivo, por aumento de custos internos, passa a afetar mesmo as empresas que são competitivas e eficientes. E se olharmos para frente o cenário não é nada animador.
De um lado está o imobilismo do governo no sentido de incorporar à sua agenda de prioridades a questão da competitividade. Isto fica ainda mais grave com o aumento da presença do Estado em áreas importantes e a baixa eficiência dos órgãos públicos responsáveis pela regulação e controle de setores ligados à logística. Do outro está o aparecimento de gargalos de oferta que até hoje não existiam. O mais importante deles é o mercado de trabalho com a escassez de mão de obra especializada começando a criar aumentos salariais muito superiores ao de outras economias com as quais competimos. Essa pressão de custo é ainda mais grave na medida em que o real forte leva a um aumento ainda maior quando os salários são medidos em dólares.
Se esse cenário não for revertido, vamos começar a perder segmentos produtivos, principalmente na indústria, que ainda são competitivos quando isolamos esses fatores externos às empresas. E a chamada desindustrialização deixará de ser um fenômeno de correção de desequilíbrios estruturais criados por uma economia muito fechada e passará a refletir a destruição de partes eficientes de nosso aparelho produtivo. Também nessas condições deixaremos de nos aproveitar da terceira cabeça do dragão chinês, aquela que importa bens industriais de valor intermediário.
Fonte: Valor
Em 2007 o Valor publicou um artigo escrito por mim e pelos economistas Paulo Miguel e José Roberto Mendonça de Barros, sobre a influência da China na indústria brasileira. Chamava-se "China - Um dragão de três cabeças."
A imagem que construímos - a China como um poderoso dragão de três cabeças - ainda não tinha assumido os contornos claros que podemos observar hoje. Era preciso um exercício de futurologia para entender como se daria a interação das duas economias. Hoje, quase três anos depois, as coisas estão muito mais claras para o analista.
Dizíamos então que uma das cabeças do dragão chinês - aquela que engolia quantidades fantásticas de produtos primários - seria responsável por uma expansão muito forte de nossas exportações. Uma das formas de medir os efeitos dessa primeira cabeça é pela evolução dos chamados termos de troca de nosso comércio exterior. Em 2000 cada US$ 100 de exportação brasileira comprava US$ 90 de produtos importados; agora, em 2010, os mesmos US$ 100 exportados compram US$ 120 de importação.
O aumento de nossas exportações fez com que o Brasil apresentasse saldos comerciais crescentes e, a partir de 2006, se transformasse em um país credor internacionalmente (reservas maiores do que a dívida externa total). Dizíamos que, com essa nova realidade externa, a economia brasileira começaria a viver um processo de abertura importante, com as importações de bens finais e intermediários crescendo de forma sistêmica.
A partir do momento que os canais de importação e distribuição se estruturassem as importações de bens industriais finais e de componentes cresceriam rapidamente pelo simples movimento de arejamento de uma economia ainda muito fechada. Esse movimento sempre gera um aumento da eficiência produtiva, pois as empresas nacionais são obrigadas a se modernizar para conseguir competir com as importações.
O que surpreende hoje são a rapidez e a intensidade com que isso ocorreu. O comportamento do preço do aço é didático nesse sentido: por décadas, sem a concorrência das importações, o preço do aço brasileiro sempre foi negociado com um ágio - de 20% a 30% - sobre os preços internacionais. Hoje essa diferença não ultrapassa 10%, valor compatível com os custos de logística para trazer esse produto do exterior. O mesmo vem ocorrendo com os preços de vários bens de consumo, principalmente os automóveis. Como sempre acontece no Brasil, os agentes econômicos reconheceram rapidamente as oportunidades abertas pela confiança na nossa moeda e pela intensa disponibilidade de produtos em um mundo desenvolvido em recessão.
Neste período - 2006 até os dias de hoje - o processo de abertura tem sido muito positivo tanto do ponto de vista macro como na vida dos consumidores brasileiros. No nível macro dois aspectos precisam ser ressaltados: a criação de outro canal de oferta de bens industriais e a diminuição do poder de controle de preços de setores importantes nas cadeias produtivas. Ambos vêm funcionando como instrumentos auxiliares no controle da inflação por parte do Banco Central e no aumento sistêmico da eficiência de nosso aparelho produtivo. No nível micro, o resultado mais importante do processo de abertura é certamente o aumento da oferta de bens de melhor qualidade e preços ao consumidor brasileiro.
Mas temo que a penetração das importações em nosso mercado esteja agora entrando em uma fase menos positiva. Com os canais de importação consolidados e com os agentes econômicos no Brasil já acostumados a olhar para o exterior, a queda da competitividade do aparelho produtivo, por aumento de custos internos, passa a afetar mesmo as empresas que são competitivas e eficientes. E se olharmos para frente o cenário não é nada animador.
De um lado está o imobilismo do governo no sentido de incorporar à sua agenda de prioridades a questão da competitividade. Isto fica ainda mais grave com o aumento da presença do Estado em áreas importantes e a baixa eficiência dos órgãos públicos responsáveis pela regulação e controle de setores ligados à logística. Do outro está o aparecimento de gargalos de oferta que até hoje não existiam. O mais importante deles é o mercado de trabalho com a escassez de mão de obra especializada começando a criar aumentos salariais muito superiores ao de outras economias com as quais competimos. Essa pressão de custo é ainda mais grave na medida em que o real forte leva a um aumento ainda maior quando os salários são medidos em dólares.
Se esse cenário não for revertido, vamos começar a perder segmentos produtivos, principalmente na indústria, que ainda são competitivos quando isolamos esses fatores externos às empresas. E a chamada desindustrialização deixará de ser um fenômeno de correção de desequilíbrios estruturais criados por uma economia muito fechada e passará a refletir a destruição de partes eficientes de nosso aparelho produtivo. Também nessas condições deixaremos de nos aproveitar da terceira cabeça do dragão chinês, aquela que importa bens industriais de valor intermediário.
Fonte: Valor
domingo, 19 de setembro de 2010
sábado, 18 de setembro de 2010
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Os jornalistas tucanos
Ótimo artigo do Marcos Coimbra na Carta Capital sobre o papel dos jornalistas tucanos na eleição 2010. Eles e os acadêmicos anti-petistas( maioria esmagadora ex-membros da melhor escola de formação de quadros da direita brasileira, o PCB) continuam a negar o obvio: ele é o candidato da Nova Direita e eles os tolos que sempre embarcam na canoa errada.
Quando, no futuro, for escrita a crônica das eleições de 2010, procurando entender o desfecho que hoje parece mais provável, um capítulo terá de ser dedicado ao papel que nelas tiveram os jornalistas tucanos.
Foram muitas as causas que concorreram para provocar o resultado destas eleições. Algumas são internas aos partidos oposicionistas, suas lideranças, seu estilo de fazer política. É bem possível que se saíssem melhor se tivessem se renovado, mudado de comportamento. Se tivessem permitido que novos quadros assumissem o lugar dos antigos.
Por motivos difíceis de entender, as oposições aceitaram que sua velha elite determinasse o caminho que seguiriam na sucessão de Lula. Ao fazê-lo, concordaram em continuar com a cara que tinham em 2002, mostrando-se ao País como algo que permanecera no mesmo lugar, enquanto tudo mudara. A sociedade era outra, a economia tinha ficado diferente, o mundo estava modificado. Lula e o PT haviam se transformado. Só o que se mantinha intocada era a oposição brasileira: as mesmas pessoas, o mesmo discurso, o mesmo ar perplexo de quem não entende por que não está no poder.
Em nenhum momento isso ficou tão claro quanto na opção de conceder a José Serra uma espécie de direito natural à candidatura presidencial (e todo o tempo do mundo para que confirmasse se a desejava). Depois, para que resolvesse quando começaria a fazer campanha. Não se discutiu o que era melhor para os partidos, seus militantes, as pessoas que concordam com eles na sociedade. Deram-lhe um cheque em branco e deixaram a decisão em suas mãos, tornando-a uma questão de foro íntimo: ser ou não ser (candidato)?
Mas, por mais que as oposições tivessem sido capazes de se renovar, por mais que houvessem conseguido se libertar de lideranças ultrapassadas, a principal causa do resultado que devemos ter é externa. Seu adversário se mostrou tão superior que lhes deu um passeio.
Olhando-a da perspectiva de hoje, a habilidade de Lula na montagem do quadro eleitoral de 2010 só pode ser admirada. Fez tudo certo de seu lado e conseguiu antecipar com competência o que seus oponentes fariam. Ele se parece com um personagem de histórias infantis: construiu uma armadilha e conduziu os ingênuos carneirinhos (que continuavam a se achar muito espertos) a cair nela.
Se tivesse feito, nos últimos anos, um governo apenas sofrível, sua destreza já seria suficiente para colocá-lo em vantagem. Com o respaldo de um governo quase unanimemente aprovado, com indicadores de performance muito superiores aos de seus antecessores, a chance de que fizesse sua sucessora sempre foi altíssima, ainda que as oposições viessem com o que tinham de melhor.
Entre os erros que elas cometeram e os acertos de Lula, muito se explica do que vamos ter em 3 de outubro. Mas há uma parte da explicação que merece destaque: o quanto os jornalistas tucanos contribuíram para que isso ocorresse.
Foram eles que mais estimularam a noção de que Serra era o verdadeiro nome das oposições para disputar com Dilma Rousseff. Não apenas os jornalistas profissionais, mas também os intelectuais que os jornais recrutam para dar mais “amplitude” às suas análises e cobertura.
Não há ninguém tão dependente da opinião do jornalista tucano quanto o político tucano. Parece que acorda de manhã ansioso para saber o que colunistas e comentaristas tucanos (ou que, simplesmente, não gostam de Lula e do governo) escreveram. Sabe-se lá o motivo, os tucanos da política acham que os tucanos da imprensa são ótimos analistas. São, provavelmente, os únicos que acham isso.
Enquanto os bons políticos tucanos (especialmente os mais jovens) viam com clareza o abismo se abrir à sua frente, essa turma empurrava as oposições ladeira abaixo. Do alto de sua incapacidade de entender o eleitor, ela supunha que Serra estava fadado à vitória.
Quem acompanhou a cobertura que a “grande imprensa” fez destas eleições viu, do fim de 2009 até agora, uma sucessão de análises erradas, hipóteses furadas, teses sem pé nem cabeça. Todas inventadas para justificar o “favoritismo” de Serra, que só existia no desejo de quem as elaborava.
Se não fossem tão ineptas, essas pessoas poderiam, talvez, ter impulsionado as oposições na direção de projetos menos equivocados. Se não fossem tão arrogantes, teriam, quem sabe, poupado seus amigos políticos do fracasso quase inevitável que os espera.
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. Também é colunista do Correio Braziliense.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Brazil's huge new port highlights China's drive into South America
Bom artigo do Guardian sobre o interesse da China pelo Brasil. É o tipo de jornalismo de qualidade que, infelizmente, ainda é uma raridade no grande bananão
Blades slicing through the morning heat, the helicopter rose from the tarmac and swept into a cobalt sky, high above Rio's Guanabara Bay.
It powered north-east over deserted beaches, dense Atlantic rainforest and fishing boats that bobbed lazily in the ocean below. Then finally, 80 minutes on, the destination came into view: a gigantic concrete pier that juts nearly two miles out into the South Atlantic and boasts an unusual nickname: the Highway to China.
Dotted with orange-clad construction workers and propped up by dozens of 38-tonne pillars, this vast concrete structure is part of the Superporto do Acu, a £1.6bn port and industrial complex that is being erected on the Rio coastline, on an area equivalent to 12,000 football pitches.
Reputedly the largest industrial port complex of its type in the world, Açu is also one of the most visible symbols of China's rapidly accelerating drive into Brazil and South America as it looks to guarantee access to much-needed natural resources and bolster its support base in the developing world.
When Acu opens for business in 2012, its 10-berth pier will play host to a globetrotting armada of cargo ships, among them the 380-metre wide ChinaMax – the largest vessel of its type, capable of ferrying 400,000 tonnes of cargo.
Millions of tonnes of iron ore, grain, soy and millions of barrels of oil are expected to pass along the "Highway" each year on their way east, where they will alleviate China's seemingly unquenchable thirst for natural resources.
"This project marks a new phase in relations between Brazil and China," Rio's economic development secretary, Julio Bueno, said during the recent visit of about 100 Chinese businessmen to the port complex, which is being built by the Brazilian logistics company LLX and should receive billions of dollars of Chinese investment.
This new phase of engagement with Brazil and South America, is part of China's "going out strategy" – an economic and, some say, diplomatic push for Chinese companies, many of them state-run, to invest abroad, snapping up access to minerals, energy and food by pouring the country's colossal foreign reserves into overseas companies and projects.
China is expected to overtake Japan as the world's second largest economy this year and may already be the world's greatest energy consumer. Now it is set to become Brazil's top foreign investor, with its companies plowing $20bn into the country in the first six months of 2010, compared with $83m in 2009. A recent study by Deloitte predicted that Chinese investments in Brazil could hit an average of about $40bn a year between now and 2014, with companies throwing money at sectors ranging from telecommunications, infrastructure and farming, to oil, biofuels, natural gas, mining and steel manufacturing.
"Relations with Brazil in all areas have entered a new era," Qiu Xiaoqi, China's ambassador in Brazil, recently told the state news agency Xinhua.
The surge in China's South American spending is not just a Brazilian phenomenon. Ecuador has already signed around $5bn of bilateral deals with China this year, including $1.7bn to help build a hydro-electric dam and $1bn investments for oil exploration and infrastructure projects. That compared with Chinese investment of just $56m in 2009.
Chinese companies have sunk $1.4bn into mining operations in Peru this year, while in April Hugo Chávez announced that the Chinese, already major sponsors of Venezuelan oil exploration, had agreed to open a $20bn credit-line for the "Bolivarian revolution".
Michael Klare, author of Rising Powers, Shrinking Planet, a book about the growing tussle for global resources, described today's China as "the shopaholic of planet Earth".
"The Chinese authorities understand that to sustain the country's continued growth, they will have to ensure that its industries are provided with adequate supplies of energy, minerals, and other basic raw materials," he said. But the "going out" strategy went far beyond business transactions, he added.
"They seek to fashion a multipolar world in which no single power – read the United States – plays an overwhelmingly dominant role. To this end, they seek to bolster ties with rising regional powers like Brazil and South Africa."
In Sao Joao da Barra, the city nearest to Acu and one of Rio state's poorest regions, the Chinese presence is being felt even before Brazil's Highway to China is complete.
Keen to impress, LLX staff at the Açu port lay on hot water and Mandarin interpreters for visiting Chinese dignitaries. Sao Joao da Barra's town hall, meanwhile, has started offering free Mandarin lessons to locals interested in working with the wave of Chinese guests that is anticipated.
"You should see a 10-year-old boy saying, 'I understand … the Chinese are coming and when the Chinese industries come I want to work for them and if I speak Mandarin I'll have a competitive advantage on the others'," beamed Eike Batista, the billionaire entrepreneur behind the superport and one of the most vocal cheerleaders for Chinese advances into Brazil. "[It is] wonderful."
Leonardo Gadelha, LLX's CFO, said during a recent tour of the port: "This is part of a Chinese strategy of going to the market more and more. They are already a very considerable presence in Africa and we are now going through this moment in Brazil."
The Highway to China lay "in the middle" of this blossoming relationship with China, he said, adding: "We are betting that … this will continue growing."
Not all Brazilians, or indeed western governments, share such enthusiasm.
"There are many in Washington who worry about China's growing presence in Africa and Latin America and claim that this poses a threat to America's long-term strategic interests," said Klare, noting, however, that the US' "fixation" with Afghanistan and the war on terror meant there had been virtually no reaction.
In Brazil meanwhile China's arrival has prompted cries of neo-colonialism. "The Chinese have bought Africa and now they are trying to buy Brazil," the prominent economist Antônio Delfim Netto complained in a recent interview with the Estado de Sao Paulo newspaper, warning that it was a "grave mistake" to allow a foreign state to buy "land, minerals [and] natural resources" from another sovereign power.
Batista, Brazil's richest man, rejected such criticism, saying: "The association between Brazil and China is a two-way highway." Chinese companies such as Wuhan Iron and Steel had committed to helping build a $5bn steel mill at the port complex, rather than always shipping out primary resources to process at home, he pointed out. "You want to get three tonnes of raw iron ore, [so] produce one tonne of steel in Brazil," he said. "That philosophy is sinking in and is great for both sides."
Neither would Chinese companies be allowed to flood the complex with hordes of foreign workers as had happened in Africa, said Gadelha, the CFO.
"If it was up to them they would bring lots of Chinese workers as they are used to doing," he admitted. "[But] Brazil's legislation is very strict in this sense."
Batista suggested that rather than complaining about China's courtship of Brazil, western powers should urge their own companies to pay more attention to the region themselves.
"In the last 15 years or so the [American and European] CEOs have stopped coming here and that is why they are a little bit behind," he said. "We are pushing European companies and saying: 'You're not really understanding what is happening in Brazil'."
"Don't put Brazil in the same bag as our neighbours," he added. "We are not Central America. We are not Venezuela. We are not Argentina."
Fonte: Guardian
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
A tentação mercantilista
Bom artigo do alexandre "eram os deuses astronautas". A pratica mercantilista é difícil de resistir, mas continua, como no passado, sem fundamento téorico.
Não falta quem veja as contas do balanço de pagamentos como uma demonstração de resultados do país: superavit são associados a "lucros", enquanto deficit seriam as "perdas".
Não é uma visão muito diferente da que prevalecia no século 18, entre os chamados mercantilistas, que também identificavam o progresso de um país ao seu saldo comercial, noção devidamente refutada ao longo da história, mas incrivelmente resistente.
A questão ganha relevância porque o Brasil passou a registrar deficit externos de magnitude crescente. Usando os números dessazonalizados das contas nacionais, notamos que, depois de 44 trimestres, as importações (de bens e serviços, exceto remuneração do capital) finalmente superaram as exportações.
Assim, nos dois primeiros trimestres de 2010, o deficit externo atingiu, respectivamente, 0,8% e 1,2% do PIB, com perspectiva de valores maiores à frente.
Esse processo, por mais que nossos "keynesianos de quermesse" insistam no contrário, está intrinsecamente associado à elevação do investimento em relação ao produto.
Nos últimos 62 trimestres, observa-se clara relação positiva entre a razão investimento-PIB e o deficit externo, isto é, tipicamente o investimento e o deficit externo caminham na mesma direção.
Há, adicionalmente, outro fato interessante: praticamente toda vez que o investimento supera a fronteira dos 17,5% do PIB, as importações excedem as exportações; apenas em três trimestres (desde 1995) isso não ocorreu.
Obviamente, essas informações são insuficientes para determinar se é o aumento do investimento que leva ao deficit externo ou se, ao contrário, é a elevação do deficit externo (por exemplo, por maior apetite por ativos nacionais) que causa maiores investimentos.
Provavelmente esses dois fenômenos interagem entre si, o que torna a questão da relação causa-efeito bastante complexa. No entanto, independentemente dessa discussão, a experiência histórica sugere que taxas mais altas de investimento não ocorrem sem elevação correspondente do deficit externo.
Tal fenômeno reflete a baixa poupança nacional. De 2000 para cá, a poupança bruta atingiu, em média, pouco mais de 17% do PIB, tomando-se como base os números trimestrais sazonalmente ajustados, não por acaso patamar bastante semelhante àquele a partir do qual o nível do investimento corresponde a deficit externos.
A reduzida poupança nacional não parece, todavia, resultar de um consumo privado particularmente elevado. Apesar de o consumo brasileiro, em torno de 63% do PIB, ser bastante superior ao da China, por exemplo, ele não difere muito do observado nos demais países latino-americanos.
A bem da verdade, inclusive, o consumo privado no Brasil, além de inferior à média de Argentina, Chile, Colômbia e México, é também o menor nessa (limitada) amostra.
A grande diferença nesse caso refere-se ao consumo do governo. Em 2009, o gasto público nesse conceito atingiu pouco menos de 21% do PIB, enquanto na média desses países da região ficou em 13,6% do PIB, repetindo o padrão dos últimos anos.
Assim, se o governo estivesse mesmo preocupado com a evolução das contas externas, o remédio seria simples do ponto de vista econômico (ainda que politicamente complicado): um programa de austeridade fiscal que enfrentasse decisivamente o elevado patamar de gasto público no país.
Tal política abriria espaço para a expansão do investimento relativamente ao PIB sem que fosse necessário recorrer à poupança externa.
Concretamente, isso se traduziria em redução da demanda doméstica, permitindo a queda da Selic e a consequente depreciação cambial.
Vale dizer, mais eficaz do que limitar o ingresso de capitais num contexto de necessidade crescente de poupança externa seria reduzir essa própria necessidade.
Isso, porém, ainda parece além da compreensão de quem ainda vive no século 18.
Fonte: UOL
terça-feira, 14 de setembro de 2010
A direita envergonhada.
A primeira vez que o chamei de candidato da Nova Direita a reação foi de espanto... Será que hoje alguem ainda discorda desta avaliação? Na campanha eleitoral, debates e entrevistas ele usa e abusa do discurso do velho baluarte da direita brasileira: a UDN. Mais direita impossível, ou quase: ainda resta sugerir intervenção militar ou organizar uma marcha semelhante a de triste memória do inicio dos anos 60. Diante da impossibilidade de ganhar no voto a direita velha e a nova recorrem ao passado e demonstram que, infelizmente, eles ainda não aceitam as regras do jogo democrático. Infelizmente, porque um partido de direita, democrático e competitivo com propostas e programa de governo enriqueceria e fortaleceria a democracia brasileira. O mais forte candidato a ocupar esta vaga no mercado político brasileiro ainda peca pela ausência de propostas e o reconhecimento de sua própria identidade.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
sábado, 11 de setembro de 2010
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Fidel: 'Cuban Model Doesn't Even Work For Us Anymore'
Qual será a reação do marxismo talebã - codinome anti-catolicismo - à entrevista histórica em que o Ditador Castro reconhece, finalmente, o que qualquer pessoa com um conhecimento elementar de economia já sabia: o modelo cubano não funciona. Corrida em massa à biblioteca para estudar os livros de economia? Otimismo demais? Esperar encontra-los lendo o livro de Macro do Blanchard? Mas-Colell então, nem pensar...Econometria, ah! ai seria delírio demais.
There were many odd things about my recent Havana stopover (apart from the dolphin show, which I'll get to shortly), but one of the most unusual was Fidel Castro's level of self-reflection. I only have limited experience with Communist autocrats (I have more experience with non-Communist autocrats) but it seemed truly striking that Castro was willing to admit that he misplayed his hand at a crucial moment in the Cuban Missile Crisis (you can read about what he said toward the end of my previous post - but he said, in so many words, that he regrets asking Khruschev to nuke the U.S.).
Even more striking was something he said at lunch on the day of our first meeting. We were seated around a smallish table; Castro, his wife, Dalia, his son; Antonio; Randy Alonso, a major figure in the government-run media; and Julia Sweig, the friend I brought with me to make sure, among other things, that I didn't say anything too stupid (Julia is a leading Latin American scholar at the Council on Foreign Relations). I initially was mainly interested in watching Fidel eat - it was a combination of digestive problems that conspired to nearly kill him, and so I thought I would do a bit of gastrointestinal Kremlinology and keep a careful eye on what he took in (for the record, he ingested small amounts of fish and salad, and quite a bit of bread dipped in olive oil, as well as a glass of red wine). But during the generally lighthearted conversation (we had just spent three hours talking about Iran and the Middle East), I asked him if he believed the Cuban model was still something worth exporting.
"The Cuban model doesn't even work for us anymore," he said.
This struck me as the mother of all Emily Litella moments. Did the leader of the Revolution just say, in essence, "Never mind"?
I asked Julia to interpret this stunning statement for me. She said, "He wasn't rejecting the ideas of the Revolution. I took it to be an acknowledgment that under 'the Cuban model' the state has much too big a role in the economic life of the country."
Para ler o resto desta entrevista histórica clique
There were many odd things about my recent Havana stopover (apart from the dolphin show, which I'll get to shortly), but one of the most unusual was Fidel Castro's level of self-reflection. I only have limited experience with Communist autocrats (I have more experience with non-Communist autocrats) but it seemed truly striking that Castro was willing to admit that he misplayed his hand at a crucial moment in the Cuban Missile Crisis (you can read about what he said toward the end of my previous post - but he said, in so many words, that he regrets asking Khruschev to nuke the U.S.).
Even more striking was something he said at lunch on the day of our first meeting. We were seated around a smallish table; Castro, his wife, Dalia, his son; Antonio; Randy Alonso, a major figure in the government-run media; and Julia Sweig, the friend I brought with me to make sure, among other things, that I didn't say anything too stupid (Julia is a leading Latin American scholar at the Council on Foreign Relations). I initially was mainly interested in watching Fidel eat - it was a combination of digestive problems that conspired to nearly kill him, and so I thought I would do a bit of gastrointestinal Kremlinology and keep a careful eye on what he took in (for the record, he ingested small amounts of fish and salad, and quite a bit of bread dipped in olive oil, as well as a glass of red wine). But during the generally lighthearted conversation (we had just spent three hours talking about Iran and the Middle East), I asked him if he believed the Cuban model was still something worth exporting.
"The Cuban model doesn't even work for us anymore," he said.
This struck me as the mother of all Emily Litella moments. Did the leader of the Revolution just say, in essence, "Never mind"?
I asked Julia to interpret this stunning statement for me. She said, "He wasn't rejecting the ideas of the Revolution. I took it to be an acknowledgment that under 'the Cuban model' the state has much too big a role in the economic life of the country."
Para ler o resto desta entrevista histórica clique
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Fabio Wanderley: "Udeenizar" de vez?
Ótimo artigo sobre o ambiente político nacional. Quem sabe com este artigo de um dos mais respeitados intelectuais brasileiros ocorra alguma mudança, pra melhor, no comportamento do candidato da Nova Direita e, principalmente, nos seus aliados na mídia e na academia.
Pouco tempo atrás, no Brasil, os democratas preocupavam-se com as ações de gente ideologicamente levada a menosprezar as eleições como algo "burguês" e supérfluo e a admitir, ou mesmo buscar, um poder ditatorial para realizar metas revolucionárias. Afora os sonhos radicais de uns tantos renitentes, isso acabou. Mas o momento eleitoral que vivemos, em que a popularidade inédita do presidente Lula o torna o protagonista maior de uma provável vitória eleitoral de feições - e, aparentemente, proporções - também inéditas, faz surgir a paranoia da democracia em risco, minoritária mas barulhenta (como costumo lembrar, eleitorado e "opinião pública" não se confundem, e são várias e fluídas, na verdade, as "opiniões públicas", algumas mais vocais que outras). E tome denúncias de "mexicanização" e PRI, ameaças corporativas de Estado-amálgama que junta sindicatos e empresários, personalismo e imposição pessoal da candidata petista, uso da máquina governamental.
Pessoalmente, não gosto nem um pouco de Dilma Rousseff como candidata. Talvez seja gestora competente. Do ponto de vista eleitoral, porém, é, sim, um poste que jamais se viabilizaria por si mesmo (o que tem desdobramentos relevantes para a avaliação da liderança presidencial, em sentido mais exigente, que seria capaz de exercer), e sua provável eleição é, claramente, puro e simples milagre de Lula. De outro lado, seria bom ter no PT um partido institucionalmente consistente, em vez da entidade posta na sombra do Super-Lula. Mas é difícil pretender que as coisas sejam melhores no PSDB, onde quem é posto na sombra, pela leitura feita das necessidades eleitorais, é sua figura maior, Fernando Henrique Cardoso, na campanha infeliz que resulta das vacilações e do joguinho míope de poder na escolha do candidato presidencial e que se viu há pouco reduzida a xingar pelas violações do sigilo fiscal - que precisam ser apuradas, é claro.
Quanto aos riscos "mexicanos", à parte o diagnóstico adequado do PRI e seu sistema, somos levados às questões complicadas em torno do que F. Zakaria chamou de "democracias iliberais": eleições garantirão por si só a democracia ou será preciso atentar para o autoritarismo (cesarismo, bonapartismo, "bolivarianismo") que se vale do apoio popular para afirmar-se? Há aí um problema autêntico. E é revelador das tentações envolvidas o fato de termos ouvido do próprio FHC, como presidente, a invocação da "voz rouca das ruas" a propósito da mudança legal que lhe permitiria reeleger-se.
Mas não basta, naturalmente, a força do apoio popular e eleitoral para que se possa falar de autoritarismo. É preciso que haja o empenho de usá-la como instrumento para acomodar as instituições aos desígnios autoritários (veja-se a Venezuela de Chávez); e, nessa ótica, a denúncia de risco autoritário mostra a cara de simples expediente de briga eleitoral. Não é senão de justiça lembrar que a iniciativa da "rerreeleição" não teve a acolhida de Lula, apesar de legalmente poder ser conduzida em termos tão respeitáveis como a introdução da reeleição com FHC. E não creio que alguém se disponha a questionar a independência de nosso Judiciário perante o Executivo, incluída a Justiça Eleitoral ativa e ativista, ou a importância da atuação do STF na revisão judicial das políticas públicas (ponhamos de lado o silêncio em torno das numerosas nomeações de Lula para o tribunal, em cuja recomposição extensa ninguém acusa política partidária ou ideológica). Tampouco se veem restrições governamentais à atividade dos partidos, em geral, de que Lula na verdade depende no Congresso e eleitoralmente. Talvez sejam as propostas sobre controle da imprensa as que melhor servem à paranoia, embora a questão certamente deva ser considerada (afinal, até quanto ao Judiciário o controle externo é recomendável) em termos mais sofisticados do que os resultantes da frequente arrogância ideológica de uma categoria profissional - ou dos interesses correlatos. De toda forma, não se falou de ameaça à democracia quando Sérgio Motta anunciava o projeto de 20 anos de poder do PSDB, assim como não se fala a propósito da prolongada hegemonia de partidos socialdemocratas em algumas democracias europeias exemplares. E não cabe esperar que, para ser democrático, um partido deva tratar de perder eleições de vez em quando.
Resta a crítica ao Estado-"amálgama". Evocando o "corporativismo" de ressonâncias negativas, ela omite o neocorporativismo como instrumento socialdemocrático e redunda em seletividade quanto a quem pode partilhar da intimidade do Estado: os sindicatos são um perigo... Mas que dizer de que a aprovação do fundamental das políticas que permitem o amálgama é - ainda bem, de muitos modos - imposta pelo próprio processo eleitoral aos candidatos oposicionistas?
Ah, o uso da máquina. Será que não basta a Justiça? Talvez se queira, tudo somado, "udeenizar" de vez e tentar chamar os militares. Mas "marchas da família" parecem difíceis.
Fábio Wanderley Reis é cientista político e professor emérito da UFMG.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
VTF: A nossa moral e a deles: eles quem?
Bom artigo do VTF no jornal da ditabranda. Concordo com à analise e obviamente ela cai como uma luva para descrever a histeria que tomou conta do jornal onde ele trabalha. Não me parece ser o vicio comunista a melhor explicação para o comportamento de alguns membros do partido da atual administração. O agir político no meio sindical, principalmente, durante a ditadura me parece ser uma hipotese muito mais interessante. Ele não menciona, mas é claro que há na reação histerica um forte preconceito de classe.
Há muita ignorância e hipocrisia em meio à justa indignação contra a espionagem criminosa de sigilos tributários.
Para começar pela ignorância: diz-se que a violação da privacidade é uma "ruptura do Estado de Direito", "atentado à democracia". O Estado de Direito é um sistema de proteção e instituição de direitos. Um ou mais crimes não impedem o seu funcionamento, menos ainda anulam o seu atributo de ser democrático. O Estado de Direito soçobra quando a proteção de direitos ou a instituição de novos deles é sistematicamente prejudicada.
Sim, Lula e o lulismo-petismo toleraram, por vezes com deboche, os crimes do mensalão, da violação do sigilo do caseiro Francenildo, de máfias sindicais, dos aloprados e, agora, da devassa criminosa na Receita. Apadrinharam malfeitores.
Lideranças restantes do PT toleraram ou promoveram a ressurreição política das figuras de proa (e de popa) dos escândalos. Dilma Rousseff não teve nem a grandeza nem o espírito democrático de condenar os espiões da Receita e seus mandantes, não importa de que partido fossem, preferindo atacar seu adversário. Foi de um partidismo mesquinho e preocupante.
Dada a hipótese provável de vitória do PT, trata-se de um crescendo de deixar democratas alarmados. Mas o Estado de Direito deixou de funcionar? Há novidade no fato de que funcione mal? Quantas das figuras que se descabelam com malversação lulista-petista não são apenas fariseus? Diz-se que "sem alternância de poder" não há democracia. Que sindicatos agora têm poder. Que a maioria dos postos-chave é ocupada por petistas.
Que o PT tem vícios da esquerda comunista está bem evidente. Mas "alternância de poder" é cláusula constitucional? O eleitorado que "não alterna" tem de ser interditado? O que dizer do longo governo Margaret Thatcher? Roosevelt?
Aceita-se que sindicatos patronais tenham livre trânsito no poder, não os de trabalhadores. Mas vide o poder destes na França e na Alemanha. E como ministérios têm de ser compostos? Com o partido majoritário ou via "barganha fisiológica"?
Tais perguntas são ingênuas de propósito. O Brasil não é a França ou o Reino Unido. O Estado tem poder demais, a Justiça funciona mal, o Congresso é de cabresto, os presidentes (FHC ou Lula) governam por meio de medidas provisórias, a falta de instrução é maciça. Etc.
Mas a pergunta ingênua suscita uma menos hipócrita: além do petismo "aloprado", onde mais há problemas no Estado de Direito? Onde estão os democratas?
Empresários e banqueiros que idolatram Antonio Palocci, por exemplo, o que pensam da quebra de sigilos, de caseiros ou outros?
Megaempresas que acertam com o governo fusões, aquisições e licitações em "parcerias" Estado-empresa dizem o que sobre a "República sindicalista"? Nada, pois em parte colaboram com o sindicalismo estatizado (quando não com o mafioso) e defendem seu sindicato, o dos oligopólios benzidos pelo Estado.
O PSDB é muito mais manso que o PT, mas o que fez de seus muitos escândalos na era FHC (dossiês e espionagens inclusive), de seus protomensaleiros etc.? Se Lula comanda o deboche do direito, por que o candidato tucano se ombreia com o presidente na propaganda da TV?
Fonte: FSP
terça-feira, 7 de setembro de 2010
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Falsos conservadores
Nem todo conservador é golpista, alias no atual cenário nacional são os falsos conservadores formados na melhor escola de quadros da direita brasileira, o velho PCB, que estão de braços dados com o candidato da Nova Direita e a velha direita golpista. Lembrando que o tal candidato nunca foi católico conservador, muito pelo contrário. Dai melhor não confundir alhos com bugalhos. Ele perdeu o rumo e no desespero resolveu ser o que nunca foi. É patetico, mas fazer o que.
Acusar a candidata da atual administração de liderar o fascismo de esquerda é assinar no livro de ouro dos falsos conservadores e desconhecer o obvio.: na academia e em outros segmentos chic, a turma do fascismo de esquerda apoia e defende o candidato da nova direita. O chic que é chic, reconheço, apoia a candidata dos verdes. Repito o que disse em outro post: sub-paulo francis é um saco, pose não é o suficiente é preciso talento e estofo. O único que possui é o portugues e por isto não é um sub, mas tem personalidade própria.
Acusar a candidata da atual administração de liderar o fascismo de esquerda é assinar no livro de ouro dos falsos conservadores e desconhecer o obvio.: na academia e em outros segmentos chic, a turma do fascismo de esquerda apoia e defende o candidato da nova direita. O chic que é chic, reconheço, apoia a candidata dos verdes. Repito o que disse em outro post: sub-paulo francis é um saco, pose não é o suficiente é preciso talento e estofo. O único que possui é o portugues e por isto não é um sub, mas tem personalidade própria.
domingo, 5 de setembro de 2010
sábado, 4 de setembro de 2010
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Ferreira & Fragelli: Desindustrialização e o Pato Donald
Bom artigo do Ferreira & Fragelli da FGV-RJ sobre a desindustrialização que ainda parece ser um tópico levado muito a sério na Rua Itapeva. Apesar de ser mestre e doutor em economia pela instituição da mencionada rua, devo reconhecer que discordo da tese e concordo com a opinião dos dois professores do balneario.
Não será advogando políticas que só beneficiam a indústria que se conseguirá acelerar o crescimento do país
A despeito da celeuma recente sobre uma suposta desindustrialização do país, não há evidência forte de que isso venha ocorrendo. Ao contrário, a indústria nacional tem crescido a taxas bastante altas. Isso não impediu aqueles que sempre preconizaram a desvalorização cambial como estratégia para combater os efeitos nefastos da desindustrialização de insistirem nos mesmos argumentos, agora como medida de combate aos supostos efeitos negativos da "re-primarização" da pauta de exportações.
Os efeitos presumidamente negativos das exportações de commodities sobre a economia brasileira carecem de base empírica e teórica, bem como agridem o bom senso. Não há estudos relevantes estimando o efeito da composição da pauta de exportação sobre crescimento. Pode-se identificar a origem dessa ideia na tradição do pensamento dito "desenvolvimentista". A premissa - ou dogma - é que a indústria seria (sempre) o setor mais dinâmico da economia, aquele onde se daria a adoção e criação de novas tecnologias, o setor que puxa a reboque os outros. Uma vez aceita essa hipótese, segue-se como prescrição de política econômica que qualquer fator que pareça prejudicar a indústria - valorização cambial, abertura comercial, juros elevados etc. - deveria ser "corrigido" o mais rapidamente possível, independentemente dos custos implicados por tal decisão sobre o resto da economia.
A ênfase excessiva na industrialização ignora dois fatos importantes. O primeiro é que inovação tecnológica não é prerrogativa do setor industrial. Numa semente de soja produzida no Cerrado há embutidos bilhões de dólares em pesquisa desenvolvida pela Embrapa e empresas privadas. A tecnologia gerada por essas pesquisas foi responsável por um espetacular aumento de produtividade de muitas outras culturas no país, bem como da agroindústria. As exportações agrícolas dispararam não só porque a demanda externa cresceu, mas porque o Brasil tornou-se tecnologicamente avançado e altamente competitivo.
O segundo fato ignorado é que, ao longo de suas trajetórias de crescimento, os países sofrem uma transformação estrutural em que o trabalho é inicialmente realocado da agricultura para indústria - tal como na China atual, e no Brasil dos anos 1950 a 1970 - e, posteriormente, da indústria para os serviços. Na Espanha, por exemplo, entre 1960 e 2000, o emprego na agricultura caiu de 42% do total para 7%; na indústria, de 34% para 30%; enquanto no setor de serviços, saltou de 24% para 63%. Na Bélgica, no mesmo período, o emprego na agricultura caiu de 29% do total para 2%; na indústria de 28% para 23%; enquanto nos serviços cresceu de 43% para 75% do total. Números semelhantes se observam nos países mais avançados do planeta.
Há cerca de 20 anos, as ações da U.S. Steel foram substituídas pelas da Walt Disney no índice Dow Jones. Isso não significa que, para a economia americana, uma chapa de aço seja menos importante que o Pato Donald ou o Buzz Lightyears. Mas constitui um sinal da influência do setor de entretenimento e, de forma mais geral, do setor de serviços no PIB americano.
Uma inexorável consequência do crescimento do setor de serviços é o fato aritmético de que a produtividade média da economia, bem como sua taxa de crescimento, serão largamente influenciadas, senão determinadas, pelo que ocorre nesse setor. O desempenho da indústria continuará a impactar positivamente muitos subsetores do terciário, mas é pouco provável que um setor que tende a recuar para 20% da economia determine o desempenho agregado.
Aqui se encontra um grave problema brasileiro: nos anos recentes, o setor terciário cresceu a uma taxa muito baixa, tanto em comparação com outros países quanto com outros setores domésticos. No início dos anos 1950, segundo dados do Groningen Growth and Development Centre, a produtividade do setor de serviços (excluindo setor público) no Brasil era de cerca de um quarto do observado nos EUA. Se isto já era ruim, em 2005 a situação tornou-se bem pior: a produtividade média caiu para cerca de um décimo da americana! Em termos relativos, andamos para trás, pois enquanto a produtividade no setor terciário americano aumentou 250%, no período, aqui cresceu menos de 20%.
Em resumo, como em todos os países de renda média e alta, o Brasil tende a se tornar uma economia com predominância do setor de serviços, mas é justamente nesse setor que a produtividade está quase estagnada. Os economistas brasileiros não têm se dedicado ao estudo do setor terciário com a mesma intensidade que estudam a indústria e agricultura. Não será advogando políticas que somente beneficiam a indústria, ou criando falsos problemas como a "re-primarização" da pauta de exportações, que se conseguirá acelerar o crescimento futuro do país. É preciso identificar o que fazer para que, em alguns anos, o Cebolinha e a Turma da Mônica façam parte do Ibovespa, isto é, como aumentar o dinamismo e a produtividade dos setores de entretenimento, comércio, transporte, turismo, entre outros.
Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli Cardoso são professores da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas
Fonte: Valor
Não será advogando políticas que só beneficiam a indústria que se conseguirá acelerar o crescimento do país
A despeito da celeuma recente sobre uma suposta desindustrialização do país, não há evidência forte de que isso venha ocorrendo. Ao contrário, a indústria nacional tem crescido a taxas bastante altas. Isso não impediu aqueles que sempre preconizaram a desvalorização cambial como estratégia para combater os efeitos nefastos da desindustrialização de insistirem nos mesmos argumentos, agora como medida de combate aos supostos efeitos negativos da "re-primarização" da pauta de exportações.
Os efeitos presumidamente negativos das exportações de commodities sobre a economia brasileira carecem de base empírica e teórica, bem como agridem o bom senso. Não há estudos relevantes estimando o efeito da composição da pauta de exportação sobre crescimento. Pode-se identificar a origem dessa ideia na tradição do pensamento dito "desenvolvimentista". A premissa - ou dogma - é que a indústria seria (sempre) o setor mais dinâmico da economia, aquele onde se daria a adoção e criação de novas tecnologias, o setor que puxa a reboque os outros. Uma vez aceita essa hipótese, segue-se como prescrição de política econômica que qualquer fator que pareça prejudicar a indústria - valorização cambial, abertura comercial, juros elevados etc. - deveria ser "corrigido" o mais rapidamente possível, independentemente dos custos implicados por tal decisão sobre o resto da economia.
A ênfase excessiva na industrialização ignora dois fatos importantes. O primeiro é que inovação tecnológica não é prerrogativa do setor industrial. Numa semente de soja produzida no Cerrado há embutidos bilhões de dólares em pesquisa desenvolvida pela Embrapa e empresas privadas. A tecnologia gerada por essas pesquisas foi responsável por um espetacular aumento de produtividade de muitas outras culturas no país, bem como da agroindústria. As exportações agrícolas dispararam não só porque a demanda externa cresceu, mas porque o Brasil tornou-se tecnologicamente avançado e altamente competitivo.
O segundo fato ignorado é que, ao longo de suas trajetórias de crescimento, os países sofrem uma transformação estrutural em que o trabalho é inicialmente realocado da agricultura para indústria - tal como na China atual, e no Brasil dos anos 1950 a 1970 - e, posteriormente, da indústria para os serviços. Na Espanha, por exemplo, entre 1960 e 2000, o emprego na agricultura caiu de 42% do total para 7%; na indústria, de 34% para 30%; enquanto no setor de serviços, saltou de 24% para 63%. Na Bélgica, no mesmo período, o emprego na agricultura caiu de 29% do total para 2%; na indústria de 28% para 23%; enquanto nos serviços cresceu de 43% para 75% do total. Números semelhantes se observam nos países mais avançados do planeta.
Há cerca de 20 anos, as ações da U.S. Steel foram substituídas pelas da Walt Disney no índice Dow Jones. Isso não significa que, para a economia americana, uma chapa de aço seja menos importante que o Pato Donald ou o Buzz Lightyears. Mas constitui um sinal da influência do setor de entretenimento e, de forma mais geral, do setor de serviços no PIB americano.
Uma inexorável consequência do crescimento do setor de serviços é o fato aritmético de que a produtividade média da economia, bem como sua taxa de crescimento, serão largamente influenciadas, senão determinadas, pelo que ocorre nesse setor. O desempenho da indústria continuará a impactar positivamente muitos subsetores do terciário, mas é pouco provável que um setor que tende a recuar para 20% da economia determine o desempenho agregado.
Aqui se encontra um grave problema brasileiro: nos anos recentes, o setor terciário cresceu a uma taxa muito baixa, tanto em comparação com outros países quanto com outros setores domésticos. No início dos anos 1950, segundo dados do Groningen Growth and Development Centre, a produtividade do setor de serviços (excluindo setor público) no Brasil era de cerca de um quarto do observado nos EUA. Se isto já era ruim, em 2005 a situação tornou-se bem pior: a produtividade média caiu para cerca de um décimo da americana! Em termos relativos, andamos para trás, pois enquanto a produtividade no setor terciário americano aumentou 250%, no período, aqui cresceu menos de 20%.
Em resumo, como em todos os países de renda média e alta, o Brasil tende a se tornar uma economia com predominância do setor de serviços, mas é justamente nesse setor que a produtividade está quase estagnada. Os economistas brasileiros não têm se dedicado ao estudo do setor terciário com a mesma intensidade que estudam a indústria e agricultura. Não será advogando políticas que somente beneficiam a indústria, ou criando falsos problemas como a "re-primarização" da pauta de exportações, que se conseguirá acelerar o crescimento futuro do país. É preciso identificar o que fazer para que, em alguns anos, o Cebolinha e a Turma da Mônica façam parte do Ibovespa, isto é, como aumentar o dinamismo e a produtividade dos setores de entretenimento, comércio, transporte, turismo, entre outros.
Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli Cardoso são professores da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas
Fonte: Valor
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Será que vale a pena?
A Nova Direita vai com velocidade surpreendente transformando-se em Velha Direita. As mesmas velhas e bem conhecida táticas e estratégias usadas no grande bananão com os resultados trágicos conhecidos. A novidade é que o país mudou e o que era aceitável no passado, tornou-se intolerável no presente. A Republica de Bananas, do Candidato da Nova Direita existe apenas na sua mente criativa, no mundo paralelo em que habita acompanhado de figuras conhecidas saidas da melhor escola de quadros da direita brasileira, o velho PCB. Felizmente, nem todos são maças podres.
O triste na história é o comportamento do candidato da Nova Direita, que como mencionamos em vários posts, tem passado honroso e que aos poucos vai sendo esquecido devido ao comportamento carregado de vicios e sem nenhuma virtude. Perder faz parte do jogo em um regime democrático e é uma virtude de poucos aceitar a derrota sem macular o passado, sem tornar-se em uma palida figura, uma negação do que já se foi. Será que vale a pena?
O triste na história é o comportamento do candidato da Nova Direita, que como mencionamos em vários posts, tem passado honroso e que aos poucos vai sendo esquecido devido ao comportamento carregado de vicios e sem nenhuma virtude. Perder faz parte do jogo em um regime democrático e é uma virtude de poucos aceitar a derrota sem macular o passado, sem tornar-se em uma palida figura, uma negação do que já se foi. Será que vale a pena?
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Martin Wolf: O erro de Obama foi ser muito cauteloso
Artigo do Martin Wolf é sempre leitura obrigatória, este não é diferente.
Excesso de cautela permitiu a oponentes alegar que a política econômica é ineficiente, quando apenas vem sendo inadequada.
Suponham que a eleição presidencial dos Estados Unidos em 1932 tivesse, na verdade, ocorrido em 1930, na fase inicial da Grande Depressão. Suponham, também, que Franklin Delano Roosevelt tivesse sido eleito em 1930, embora não com a maioria esmagadora vista em 1932. Os eventos posteriores poderiam ter sido bem diferentes. O presidente poderia ter visto, incapaz de fazer algo, a produção e o emprego desabarem. As décadas de domínio democrata poderiam não ter se materializado.
É nesses acasos que gira a roda da história. Desta vez, foi diferente: a crise trouxe Barack Obama ao poder perto do início do colapso econômico. Na época, eu (entre outros) argumentei que a política econômica tinha de ser extremamente agressiva. Infelizmente, não foi. Ressaltei em 4 de fevereiro de 2009, no início da nova presidência: "Em vez de um enorme estímulo fiscal, o que está tomando forma é pequeno demais, envolve excessivo desperdício e está muito mal focado." Uma semana depois perguntei: "Será que a presidência de Barack Obama já fracassou? Em tempos normais, essa seria uma pergunta ridícula. Mas estes não são tempos normais. São tempos de grande perigo. Hoje, o novo governo dos Estados Unidos pode repudiar a responsabilidade por sua herança; amanhã, a responsabilidade será sua. Hoje, pode oferecer soluções; amanhã, terão se tornado o problema. Hoje, está no controle dos eventos; amanhã, os eventos tomarão seu controle. Fazer pouco agora é muito mais arriscado do que fazer em excesso." Isso estava correto.
A direção seguida pela política não estava errada: as autoridades monetárias - embora nem todos os economistas - aprenderam muito com os anos 30. Pessoas sensatas sabiam que era necessária uma expansão monetária e fiscal agressiva, combinada com a reconstrução do setor financeiro.
Como disse Larry Summers, principal assessor econômico de Obama, "quando os mercados passam do limite, as autoridades monetárias também precisam passar do limite". Infelizmente, o governo não conseguiu seguir esse excelente conselho. Isso permitiu a oponentes alegar que a política econômica vem sendo ineficiente, quando apenas vem sendo inadequada.
Em consequência, o governo perdeu credibilidade com o público e as chances de retomada da expansão fiscal desapareceram. Com o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) também cauteloso, a probabilidade de termos um longo período de baixo crescimento e pesado desemprego é alta. As chances de fricções políticas domésticas e mundiais, também.
Certamente, a ideia de que as políticas adotadas nos últimos meses do governo Bush e nos primeiros do atual eram muito melhores do que nada é estranhamente controversa nos EUA. Em recente estudo de Alan Blinder, ex-vice-presidente do Fed, e Mark Zandi, da Moody ' s, argumentam que tais críticas estão erradas. Eles usaram um modelo macroeconômico padrão para avaliar o que teria ocorrido sem nenhuma intervenção, fossem intervenções financeiras (inclusive de política monetária) ou ações fiscais. Concluíram que o declínio entre o pico e o ponto mais baixo do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA teria sido próximo a 12% caso medidas de política econômica não tivessem sido tomadas, em comparação à queda de apenas 4% que ocorreu de fato. Da mesma forma, o índice de desemprego teria chegado a 16,5% em vez dos atuais 10%. Um colapso maior também teria significado déficit fiscal de US$ 2,6 trilhões no ano fiscal de 2011. O resultado também seria desastroso levando em conta uma resposta fiscal modesta desacompanhada de medidas de política financeira . De forma inversa, é um pouco melhor.
Dizer que o pacote modesto de estímulos em fevereiro de 2009 - meros 5,7% do PIB de 2009, espalhados ao longo de vários anos - teve contribuição positiva é reforçado pela análise do Gabinete de Orçamento do Congresso: o departamento argumenta que em 2010, como resultado do pacote, o PIB dos EUA será entre 1,5% e 4,1% maior e o índice de desemprego, entre 0,7 e 1,8 ponto porcentual menor.
Os excessivamente otimistas, para quem a economia privada está sempre em equilíbrio, a não ser quando os governos intervêm, discordam. Gostaria que houvesse alguma forma de fazer esse experimento sem prejudicar centenas de milhões de pessoas. Mas acho muito bizarra a ideia de que permitir o colapso de grande parte do sistema financeiro, evitando políticas monetárias não convencionais e lutando para acabar com o déficit fiscal, teria sido mais consistente com uma recuperação mais rápida e sustentável.
Uma perspectiva fascinante, no entanto, de fato surge a partir de comparações com o acontecido em outros países avançados. A recessão na produção dos EUA (e, então, na demanda) foi relativamente pequena, mas o declínio no emprego foi excepcionalmente grande, como resultado do aumento extraordinário na produtividade dos EUA. Faltou esse contraste entre o que ocorreria à produção e o que ocorreria ao emprego na análise inicial do estímulo pelo Gabinete de Orçamento do Congresso.
Como os EUA foram o epicentro da crise financeira, o declínio relativamente pequeno na produção é notável. Além disso, como os estímulos monetários e fiscais agem diretamente na demanda e produção, não nos empregos, isso é um sucesso da política. Ao mesmo tempo, o entusiasmo com que os administradores americanos demitiram funcionários também é extraordinário. Sem dúvida, parte disso deve-se ao colapso no setor de construção. Mas parte disso também tem de estar ligado à facilidade com que as empresas dos EUA podem demitir e aos incentivos para os administradores manterem os lucros em maus momentos econômicos, à custa de postos de trabalho.
Começa a surgir um debate sobre quanto do aumento no desemprego é estrutural. Minha resposta, a partir da experiência europeia, é que deixá-lo prolongar-se apenas garante que ele se torne estrutural. No curto prazo, a melhor forma de evitar que isso ocorra é expandir a demanda e, portanto, a produção. Como há uma folga imensa no mercado de trabalho e não há o menor sinal de ameaça inflacionária - há, muito mais, um risco de deflação - e não há limitações dos mercados de câmbio ou bônus a estímulos fiscais e monetários adicionais, essas são as políticas que devem ser aplicadas. Infelizmente, contudo, o Fed parece ter decidido cair adormecido e o governo perdeu a iniciativa.
Então, o que vai acontecer? Presumo que, após as eleições de meio de mandato, o ressurgimento dos republicanos trará novos cortes nos impostos e ignorará os déficits fiscais. Eles fingirão que isso não tem nada a ver com os vilipendiados estímulos, embora seja basicamente a mesma coisa - aumentar os déficits fiscais para compensar a frugalidade do setor privado. Isso colocará o governo em situação complicada. Terá de escolher entre vetar cortes de impostos ou aceitá-los e permitir, portanto, que os republicanos recebam os créditos por uma recuperação impulsionada pelos mais ricos, puxada por "iates e mansões". Qualquer recuperação é melhor que nenhuma. Mas a recuperação poderia ter sido bem melhor do que esta. Os que foram cautelosos quando deveriam ter sido ousados pagarão um grande preço.
Fonte: Valor
Excesso de cautela permitiu a oponentes alegar que a política econômica é ineficiente, quando apenas vem sendo inadequada.
Suponham que a eleição presidencial dos Estados Unidos em 1932 tivesse, na verdade, ocorrido em 1930, na fase inicial da Grande Depressão. Suponham, também, que Franklin Delano Roosevelt tivesse sido eleito em 1930, embora não com a maioria esmagadora vista em 1932. Os eventos posteriores poderiam ter sido bem diferentes. O presidente poderia ter visto, incapaz de fazer algo, a produção e o emprego desabarem. As décadas de domínio democrata poderiam não ter se materializado.
É nesses acasos que gira a roda da história. Desta vez, foi diferente: a crise trouxe Barack Obama ao poder perto do início do colapso econômico. Na época, eu (entre outros) argumentei que a política econômica tinha de ser extremamente agressiva. Infelizmente, não foi. Ressaltei em 4 de fevereiro de 2009, no início da nova presidência: "Em vez de um enorme estímulo fiscal, o que está tomando forma é pequeno demais, envolve excessivo desperdício e está muito mal focado." Uma semana depois perguntei: "Será que a presidência de Barack Obama já fracassou? Em tempos normais, essa seria uma pergunta ridícula. Mas estes não são tempos normais. São tempos de grande perigo. Hoje, o novo governo dos Estados Unidos pode repudiar a responsabilidade por sua herança; amanhã, a responsabilidade será sua. Hoje, pode oferecer soluções; amanhã, terão se tornado o problema. Hoje, está no controle dos eventos; amanhã, os eventos tomarão seu controle. Fazer pouco agora é muito mais arriscado do que fazer em excesso." Isso estava correto.
A direção seguida pela política não estava errada: as autoridades monetárias - embora nem todos os economistas - aprenderam muito com os anos 30. Pessoas sensatas sabiam que era necessária uma expansão monetária e fiscal agressiva, combinada com a reconstrução do setor financeiro.
Como disse Larry Summers, principal assessor econômico de Obama, "quando os mercados passam do limite, as autoridades monetárias também precisam passar do limite". Infelizmente, o governo não conseguiu seguir esse excelente conselho. Isso permitiu a oponentes alegar que a política econômica vem sendo ineficiente, quando apenas vem sendo inadequada.
Em consequência, o governo perdeu credibilidade com o público e as chances de retomada da expansão fiscal desapareceram. Com o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) também cauteloso, a probabilidade de termos um longo período de baixo crescimento e pesado desemprego é alta. As chances de fricções políticas domésticas e mundiais, também.
Certamente, a ideia de que as políticas adotadas nos últimos meses do governo Bush e nos primeiros do atual eram muito melhores do que nada é estranhamente controversa nos EUA. Em recente estudo de Alan Blinder, ex-vice-presidente do Fed, e Mark Zandi, da Moody ' s, argumentam que tais críticas estão erradas. Eles usaram um modelo macroeconômico padrão para avaliar o que teria ocorrido sem nenhuma intervenção, fossem intervenções financeiras (inclusive de política monetária) ou ações fiscais. Concluíram que o declínio entre o pico e o ponto mais baixo do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA teria sido próximo a 12% caso medidas de política econômica não tivessem sido tomadas, em comparação à queda de apenas 4% que ocorreu de fato. Da mesma forma, o índice de desemprego teria chegado a 16,5% em vez dos atuais 10%. Um colapso maior também teria significado déficit fiscal de US$ 2,6 trilhões no ano fiscal de 2011. O resultado também seria desastroso levando em conta uma resposta fiscal modesta desacompanhada de medidas de política financeira . De forma inversa, é um pouco melhor.
Dizer que o pacote modesto de estímulos em fevereiro de 2009 - meros 5,7% do PIB de 2009, espalhados ao longo de vários anos - teve contribuição positiva é reforçado pela análise do Gabinete de Orçamento do Congresso: o departamento argumenta que em 2010, como resultado do pacote, o PIB dos EUA será entre 1,5% e 4,1% maior e o índice de desemprego, entre 0,7 e 1,8 ponto porcentual menor.
Os excessivamente otimistas, para quem a economia privada está sempre em equilíbrio, a não ser quando os governos intervêm, discordam. Gostaria que houvesse alguma forma de fazer esse experimento sem prejudicar centenas de milhões de pessoas. Mas acho muito bizarra a ideia de que permitir o colapso de grande parte do sistema financeiro, evitando políticas monetárias não convencionais e lutando para acabar com o déficit fiscal, teria sido mais consistente com uma recuperação mais rápida e sustentável.
Uma perspectiva fascinante, no entanto, de fato surge a partir de comparações com o acontecido em outros países avançados. A recessão na produção dos EUA (e, então, na demanda) foi relativamente pequena, mas o declínio no emprego foi excepcionalmente grande, como resultado do aumento extraordinário na produtividade dos EUA. Faltou esse contraste entre o que ocorreria à produção e o que ocorreria ao emprego na análise inicial do estímulo pelo Gabinete de Orçamento do Congresso.
Como os EUA foram o epicentro da crise financeira, o declínio relativamente pequeno na produção é notável. Além disso, como os estímulos monetários e fiscais agem diretamente na demanda e produção, não nos empregos, isso é um sucesso da política. Ao mesmo tempo, o entusiasmo com que os administradores americanos demitiram funcionários também é extraordinário. Sem dúvida, parte disso deve-se ao colapso no setor de construção. Mas parte disso também tem de estar ligado à facilidade com que as empresas dos EUA podem demitir e aos incentivos para os administradores manterem os lucros em maus momentos econômicos, à custa de postos de trabalho.
Começa a surgir um debate sobre quanto do aumento no desemprego é estrutural. Minha resposta, a partir da experiência europeia, é que deixá-lo prolongar-se apenas garante que ele se torne estrutural. No curto prazo, a melhor forma de evitar que isso ocorra é expandir a demanda e, portanto, a produção. Como há uma folga imensa no mercado de trabalho e não há o menor sinal de ameaça inflacionária - há, muito mais, um risco de deflação - e não há limitações dos mercados de câmbio ou bônus a estímulos fiscais e monetários adicionais, essas são as políticas que devem ser aplicadas. Infelizmente, contudo, o Fed parece ter decidido cair adormecido e o governo perdeu a iniciativa.
Então, o que vai acontecer? Presumo que, após as eleições de meio de mandato, o ressurgimento dos republicanos trará novos cortes nos impostos e ignorará os déficits fiscais. Eles fingirão que isso não tem nada a ver com os vilipendiados estímulos, embora seja basicamente a mesma coisa - aumentar os déficits fiscais para compensar a frugalidade do setor privado. Isso colocará o governo em situação complicada. Terá de escolher entre vetar cortes de impostos ou aceitá-los e permitir, portanto, que os republicanos recebam os créditos por uma recuperação impulsionada pelos mais ricos, puxada por "iates e mansões". Qualquer recuperação é melhor que nenhuma. Mas a recuperação poderia ter sido bem melhor do que esta. Os que foram cautelosos quando deveriam ter sido ousados pagarão um grande preço.
Fonte: Valor
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