quarta-feira, 20 de março de 2013

Esperando pelos russos...



Nada mais patetico que o comportamento cipriota: recusaram a proposta da troica e agora batem na porta dos russos, esperando que eles cumpram o papel do cavaleiro branco que resgataria a donzela do malfeitor alemão e de seus aliados que insistem em pedir a contribuição dos correntistas cipriotas para o bail e out e, pior ainda, em fechar a lavanderia russa. A igreja ortodoxa, maior proprietária de terras na ilha e com participação minoritaria no terceiro banco cipriota, colocou seus bens a disposição do governo para usa-los como garantia de empréstimos para salvar os bancos da patria ameaçada. Ela o faz, naturalmente, com as melhores das intenções, mas parece não perceber que a proposta original da troica era tributar somente as contas acima de 100.000. A tributação de contas abaixo deste valor era uma demanda dos políticos cipriotas, mais preocupados em proteger os não residentes - leia-se russos - que os correntistas residentes.Esta é a grande ironia da infeliz opera bufa em cartaz nesta agradável ilha dividida entre gregos e turcos: a defesa dos interesses estrangeiros e dos seus aliados políticos , em detrimento dos interesses da maioria dos cipriotas que não tem nada com o peixe.

Os russos estão bravos e compararam o imposto sobre os depositos bancários à política de expropriação do imperio sovietico. Exagero retórico, naturalmente, que procura ganhar tempo enquanto se procura uma solução que mantenha Chipre na zona do euro e proteja os interesses russos. É um fato que é exatamente por fazer parte do exclusivo clube europeu que a ilha é tão atraente para os russos, que a usam como lavanderia enquanto desfrutam do seu clima sempre agradável e de suas praias. A saida da zona do euro é uma solução que não lhes interessa e por isto qualquer proposta de socorro tem que ser negociada, também, com a poderosa alemanha e aliados que sabidamente estão aproveitando a oportunidade para forçar Chipre a aceitar uma relação menos intima com os russos. Em outras palavras, como já ocorreu outras vezes, é um problema econômico, cuja solução passa, necessariamente pela esfera política, nesta caso da grande política europeia.

Enquanto se espera por uma solução negociada ate o dia 28 de março, quando se reune o conselho do ECB, única autoridade com poder de cortar a Assistencia de Liquidez de Emergencia, o mercado continua a sinalizar que por enquanto não há risco de contaminação da Italia e da Espanha, como podemos inferir a partir da queda nos yield dos titulos de 10 anos nesta terça feira:o primeiro fechou em 4.64% e o segundo em 4.98%.