terça-feira, 30 de junho de 2009

Crise econômica e mercado: as indicações da Doutrina Social da Igreja. 1ª. Parte: A subsidiariedade e a crise.

Importante artigo do Dom Giampaolo Crepaldi sobre a relevância da Doutrina Social da Igreja na análise e soluções para a atual crise econômica.


Não há dúvidas: esta crise econômica e financeira nos interpela em profundidade e, ao mesmo tempo em que faz com que nos sintamos mais vulneráveis, solicita nossa responsabilidade. Todos percebemos que é muito mais que uma crise econômica e que pede uma mudança de rota. Mas as mudanças de rota sempre implicam em muito mais que simples políticas econômicas.

O próprio Santo Padre se deixou interpelar pela crise econômica, se posicionando sobre ela muitas vezes. A última vez foi no encontro com os padres da diocese de Roma, no início da Quaresma, quando disse que “Devemos denunciar esta idolatria que vai contra o verdadeiro Deus e a falsificação da imagem de Deus com outro deus "dinheiro". Devemos fazê-lo com coragem, mas também concretamente. Pois os grandes moralismos não ajudam se não forem substanciados com conhecimentos da realidade”. Por isso, ele vem se dando um tempo para examinar a crise econômica antes de lançar sua nova encíclica social, para não incorrer em um moralismo não substanciado pelo conhecimento da realidade.

A Doutrina Social da Igreja não é um moralismo, não é uma série de desejos éticos ou de expectativas edificantes projetadas sobre a realidade social e econômica. Ela nasce do encontro da luz da fé cristã com a razão, como disse Bento XVI na encíclica “Deus caritas est”. A fé aceita aquilo que a razão diz em seu campo específico, mas a purifica e a torna capaz de responder melhor a sua tarefa original.
Isso vale também para a atual crise econômica: as ciências econômicas e políticas fazem a sua parte, mas ela, por si só, é insuficiente = como mostra o fato de que não conseguiram evitar a crise atual. Centenas de centros de pesquisa voltados exclusivamente ao estudo dos fluxos financeiros e econômicos não foram capazes de lançar um lampejo de terapias preventivas, de modo que hoje o mundo inteiro sofre com uma crise que pegou a todos de surpresa. Evidentemente é necessário recorrer a uma outra luz, que novamente nos ilumine sobre a natureza da economia e a que ela serve.

Isso, por sua vez, requer que se ilumine, primeiro, a natureza da pessoa e o sentido ético e religioso – e não somente técnico – de seu agir. Bento XVI, numa outra colocação que também suscitou muito debate, feita durante a inauguração do Sínodo sobre a Palavra de Deus, disse que só a Palavra de Deus permanece para sempre, enquanto todas as outras riquezas passam, como mostra a crise financeira em ato. Não se tratava de retórica religiosa. A crise mostra que a economia não é capaz de reger-se por si só, sem ser sustentada por um sistema de valores de referência que a transcenda, ou seja, que não sejam valores apenas econômicos. E quando esse sistema entra em colapso, a economia, por si só, não é capaz de reconstruí-lo. A economia não se salva por si mesma, como pensaram por muito tempo os defensores da “mão invisível”. Mas não pode também ser salva também apenas pela política, como pensam os defensores de uma nova intervenção estatal. Mas voltaremos a isso mais tarde...
A crise nos interpela. Deve ser vista como uma ocasião, mas temos que nos entender bem sobre esse termo. Muitos consideram bem-vinda essa crise econômica – pois nos obrigaria a rever muitos de nossos comportamentos excessivamente voltados ao crescimento, ou seja, á produção e ao consumo, e não à sobriedade e à preservação dos recursos. Como condenam o crescimento enquanto tal, vêem na crise a derrota do modelo de crescimento e a ocasião para inverter a rota, em direção a uma redução.

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segunda-feira, 29 de junho de 2009

A New Vision

Interessante análise e propostas do Wilber, um importante economista católico americano.



As we look ahead to recovery from the present financial and economic crisis, we must ask ourselves: Do we return to business as usual? Or is this a moment when a re-envisioning of the economy is both possible and necessary? Some would argue that President Obama is already trying to change the social compact from an emphasis on opportunity to an emphasis on fairness. Others, however, look at the economic team the president has gathered and conclude that it includes the same Wall Street professionals who got us into this mess. Still others, myself included, think that the world will never be the same. The consumer-led growth of the past is not viable in a world where every country wants to have the same consumer society, because the demand on natural resources and the environmental strain would be too great. There is no single Catholic response to all of these issues, but Catholic social thought provides guidance for distinctive Catholic responses.

Beyond Consumption
Catholic social thought is rooted in a commitment to certain fundamental values—the right to human dignity, the need for human freedom and participation, the importance of community and the nature of the common good. These values are drawn from a belief that each person is called to be a co-creator with God, participating in the redemption of the world and the furthering of God’s kingdom. From these values emerge two central principles: a special concern for the poor and powerless, which leads to a criticism of political and economic structures that oppress them; and a concern for certain human rights against the collectivist tendencies of the state and the neglect of the free market.

Among the reasons to be concerned about consumption-driven growth are three prominent points in Catholic social thought. First, excessive consumption by some individuals and nations while other individuals and nations suffer from want is morally unacceptable. A passage from Pope Paul VI illustrates the point: “...the superfluous wealth of rich countries should be placed at the service of poor nations.... Otherwise their continued greed will certainly call down upon them the judgment of God and the wrath of the poor....” (Populorum Progressio, No. 49).

Second, excessive consumption threatens the earth’s environment, which is also morally unacceptable. Pope John Paul II has written: “Equally worrying is the ecological question which accompanies the problem of consumerism and which is closely connected to it. In his desire to have and to enjoy rather than to be and to grow, man consumes the resources of the earth and his own life in an excessive and distorted way” (Centesimus Annus, No. 37).

Third, treating material consumption as the primary goal of life—that is, focusing on having instead of being—is seen as detrimental to human dignity. Pope John Paul II has written that “all of us experience firsthand the sad effects of this blind submission to pure consumerism: in the first place a crass materialism, and at the same time a radical dissatisfaction because one quickly learns...that the more one possesses the more one wants, while deeper aspirations remain unsatisfied and perhaps even stifled” (Sollicitudo Rei Socialis, No. 28).

Seven Policy Suggestions
If we stop here, we have sound philosophical principles and general guidelines for policy, but any re-envisioning of the economy remains vague and fuzzy. What is needed are specific policies that flow from the Catholic principles. Below I outline seven such policies.

1. Re-regulation. The main thrust of public policy since the Reagan administration has been to free up markets by deregulation, tax cuts and the reduction or elimination of social programs. The result has been frequent federal deficits, a dramatic increase in inequality of income and wealth, periodic financial scandals, decay of public services and infrastructure, and the current collapse of the financial services sector. Today, the role of government needs to be rethought. Catholic social teaching insists that “government has a moral function: protecting human rights and securing basic justice for all members of the commonwealth” (Pacem in Terris, Nos. 60-62). At a minimum this means government must restructure and regulate the financial sector, protect the rights of workers and find ways of using intermediate institutions like churches to deliver social services.

2. Economic decision-making at all levels of government. The U.S. bishops’ pastoral letter Economic Justice for All (1986) argues in its very first paragraph (No. 1) that every perspective on economic life that is truly human, moral and Christian must be shaped by three questions: What does the economy do for people? What does it do to people? And how do people participate in it? These questions should be asked at each and every level of government before any economic policy is enacted or undertaken, paying special attention to the economy’s impact on the poor and powerless (No. 24). Weighting costs and benefits with monetary values alone means that the access road will always be put through the poor neighborhood, not the well-off one. Cost-benefit analysis studies need to be restructured in order to answer these questions.

3. Full employment. In a market economy, employment—and access to wealth—is necessary to one’s identity as a human being. We do not ask someone, “Who are you?” but rather “What do you do?” I am a professor or a carpenter. I work for General Motors or the University of Notre Dame. Therefore, whether through a public employment program or job tax credits to the private sector, a top policy priority must be to guarantee a job to everyone willing and able to work. We should also provide adjustment-assistance to those who lose their jobs because of changes in competitive position, and we should make every effort to keep open plants that can be operated efficiently. A host of other policies are also possible: targeted jobs programs, education and training programs to equip workers with the skills needed for the future, daycare centers for employed parents, and so on.

4. Universal health care. Human dignity demands that basic health care be available to all. How we do this is less important than that we do it. My personal preference is to detach health care insurance from jobs, because it is a burden individual businesses should not have to bear. The best way to organize a universal system is debatable; but the Kaiser Permanente system, which has almost nine million patients, might provide important lessons. Their high performance as an H.M.O. has been attributed to three practices. First, they place a strong emphasis on preventative care, which reduces costs later on. Second, their doctors are salaried instead of paid by fee for service, which removes the incentive to perform unnecessary procedures. Finally, they strive to minimize the time patients spend in high-cost hospitals by advance planning and by providing for care in clinics. This results in cost savings and greater physician attention to patients. And any restructuring of medicine needs to shift the focus from high-tech medicine for the few to basic medicine for all.

5. Energy conservation. The most dangerous conflict and the one most difficult to resolve is that between traditional patterns of economic growth and environmental systems. Because we are stewards of the earth, any program for future economic improvement must be based on a wiser use of natural resources and more attention to the impact on environmental systems. At this point particular attention must be paid to reducing fossil fuel burning and to safer disposal of toxic waste. Increased taxation of gasoline and carbon is likely necessary to force conservation. And the additional revenue might also provide new opportunities for combating the federal budget deficit and aid subsidies to public transport that could make it cheaper than private transport. This would bring further energy savings.

6. Globalization. Catholic social teaching calls us to recognize that all the peoples of the world are our brothers and sisters. As a result we cannot pursue “beggar thy neighbor” policies in international trade and aid while constructing domestic economic solutions. In addition, Pope John Paul II has argued for social intervention on the international level “to promote development, an effort which also involves sacrificing the positions of income and power enjoyed by the more developed countries” (CA, No. 52). To carry out this effort, “it is not enough to draw on the surplus goods which in fact our world abundantly produces: it requires above all a change of life-styles, of models of production and consumption, and of the established structures of power which today govern societies” (No. 58). This strikes at the heart of a consumption-oriented market system.

7. The church and subsidiarity. A principal objective of publicly proclaimed laws and regulations is to stigmatize certain types of behavior and to reward other types, thereby influencing individual values and behavior codes. Aristotle understood this: “Lawgivers make the citizens good by inculcating habits in them, and this is the aim of every lawgiver; if he does not succeed in doing that, his legislation is a failure. It is in this that a good constitution differs from a bad one.” While families, peer groups, churches and schools play the most important role in shaping behavior and inculcating values, public laws have a role to play as well. While civil law, for example, cannot make people stop holding racist beliefs, it can stop them from engaging in certain types of racist behavior. Over time that behavior (refusing service in a restaurant, for example) becomes delegitimized in public opinion.

Short-Term Sojourners
At the political level we need to rethink liberal theory, which vests sovereignty in the state limited only by individual rights. A more communitarian view requires that sovereignty be shared with intermediate groups.

Much work must be done at the lower levels, too. The church as an institution must honor its own employees’ rights to organize and to participate. It needs to educate its people in Catholic social thought, including their obligations as persons and as citizens to feed the hungry, house the homeless and so on. The promotion of soup kitchens and Catholic Worker houses and lobbying for social service needs are responsibilities that the laity should be urged to take on to a greater degree. Much is already being done, but more is needed.

All well and good, some would say, but how can we get these policies enacted and bring the church to change its ways? I do not know. It will require us as a people to rethink the type of society we want for ourselves, our children and our grandchildren. Resource shortages and environmental limits tell us that consumer-driven growth is no longer viable. Globalization is leading to a multipolar world in which the United States no longer controls events economically or militarily. If this makes it possible for the United States to reduce its policing function around the world, lowered defense spending can help pay for the needed health care reforms and other public investments, such as those for infrastructure.

Finally, we must remember that as Christians we are short-term sojourners in this world. It is a temporary dwelling place, where we reside not as citizens with full rights but as aliens or pilgrims whose true home is in a city to come. The church’s tendency to provide religious legitimation to the debilitating and sometimes lethal workings of the market and/or the state must be resisted. Instead, the members of Christ’s body must mount a critique of the iniquities of both the market and the state, and carry out their obligation to love and serve God and their neighbor.


Charles K. Wilber is professor emeritus of economics and a fellow at the Kroc Institute for International Peace Studies at the University of Notre Dame in Indiana.

domingo, 28 de junho de 2009

sábado, 27 de junho de 2009

Death XXVII, Khalil Gibran

Then Almitra spoke, saying, "We would ask now of Death."

And he said:

You would know the secret of death.

But how shall you find it unless you seek it in the heart of life?

The owl whose night-bound eyes are blind unto the day cannot unveil the mystery of light.

If you would indeed behold the spirit of death, open your heart wide unto the body of life.

For life and death are one, even as the river and the sea are one.

In the depth of your hopes and desires lies your silent knowledge of the beyond;

And like seeds dreaming beneath the snow your heart dreams of spring.

Trust the dreams, for in them is hidden the gate to eternity.

Your fear of death is but the trembling of the shepherd when he stands before the king whose hand is to be laid upon him in honour.

Is the shepherd not joyful beneath his trembling, that he shall wear the mark of the king?

Yet is he not more mindful of his trembling?

For what is it to die but to stand naked in the wind and to melt into the sun?

And what is to cease breathing, but to free the breath from its restless tides, that it may rise and expand and seek God unencumbered?

Only when you drink from the river of silence shall you indeed sing.

And when you have reached the mountain top, then you shall begin to climb.

And when the earth shall claim your limbs, then shall you truly dance.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Misunderstanding Socrates

Artigo controverso, mas muito importante, para aqueles, que como esse missivista, é leitor do Gregory Vlastos.


The notion of a Socratic PHILOSOPHY, as distinct
from what is commonly known as Platonism, has its
origins in the work of Gregory Vlastos and continues today
through the scholars he has influenced. The Socratic movement
in Plato studies maintains that one can identify in certain
Platonic dialogues a philosophical method and a collection
of philosophical theses which may properly be attributed
to Socrates. The enterprise of Socratic philosophy rests
upon a series of subtle and, from my point of view, controversial
claims, some of which I aim in this short paper to
locate and challenge. This is not to say that I am opposed to
placing the character Socrates at the center of our understanding
of the Platonic texts; to the contrary, the alternate
understanding I propose here may strike some as going too
far in this direction. Rather, the target of my criticisms will
be the conception of Plato’s Socrates upon which current
Socratic philosophy rests. I begin with the position taken by
Vlastos and those who follow him.

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quinta-feira, 25 de junho de 2009

The World Finance Crisis & the American Mission

Artigo-resenha de autoria do Skidelsky, do livro recente do Martin Wolf.

By common consent, we have been living through the greatest economic downturn since World War II. It originated, as we all know, in a collapse of the banking system, and the first attempts to understand the resulting economic crisis focused on the reasons for bank failures. The banks, it was said, had failed to "manage" the new "risks" posed by financial innovation. Alan Greenspan's statement that the cause of the crisis was the "underpricing of risk worldwide" was the most succinct expression of this view.[1] Particular attention was paid to the role of the American subprime mortgage market as the source of the so-called "toxic" assets that had come to dominate bank balance sheets. Early remedies for the crisis concentrated on bailing out or refinancing the banks, so that they could start lending again. These were followed by "stimulus packages," both monetary and fiscal, to revive the real economy.

Now that we are—or may be—over the worst of the crisis, attention has partly switched to trying to understand its deeper causes. The two most popular explanations to have emerged are the "money glut" and the "saving glut" theories. The first blames the crisis on loose fiscal and monetary policy, which enabled Americans to live beyond their means. In particular, Greenspan, chairman of the Federal Reserve in the critical years until his retirement in early 2006, used low interest rates to keep money too cheap for too long, thus allowing the housing bubble to get pumped up till it burst.

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quarta-feira, 24 de junho de 2009

The bumpy road ahead

Interessante artigo do Dani Rodrik sobre o andamento da crise econômica e sobre o cenário pós crise.


If stock market and interest-rate spreads are to be believed, America’s economy has seen the worst and may be on its way to a slow recovery. But the troubles for the world economy are just starting. If globalization does not get the fix it needs, economic prospects will be dim for rich and poor countries alike.

The worst that could happen is a return to the 1930’s, when countries put up high trade barriers and retreated into isolationism, to the detriment of all. Fortunately, this is a remote scenario today. But the next worst thing is to assume that a minor patch-up will be enough to render globalization healthy and sustainable. It will take real effort and creativity to repair the deep cracks in globalization revealed by the financial crisis.

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terça-feira, 23 de junho de 2009

Recuperação...

Os dados do Caged são animadores - ainda que anemicos - e parecem indicar que a recuperação não é apenas um desejo, mas um fato. É claro que isto entristece a turma de sempre, aqueles que esperam a queda do capitalismo na próxima esquina.

Reservas nunca é demais, mas elevar para US$300 bi, com a atual taxa de juros, implica em um custo elevado e tenho dúvidas se realmente esta seria uma boa idéia, exceto se for acompanhada de redução, razoavel, da taxa de juros. Se isto não for possível, melhor seria trabalhar com numero menor: 250 bi é um bom número.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Me da um dinheiro ai...

A gestão dele tem sido adequada, com poucos equivocos, ate o momento... Mas,..., o comentário sobre a carne "made in amazonas" foi infeliz e parece indicar que o velho projeto - dos tempos dos milicos - de criar multis brasileiras continua firme e forte. A ídeia é boa, mas não se justifica o preço que o Coutinho parece estar disposto a pagar: não é função do Banco, que ele preside, financiar o desmatamento da amazonia. É um ato criminoso que não pode continuar.O Banco deve rever o quanto antes sua política e fazer valer seu poder para garantir o respeito ao meio ambiente. É um minimo que se espera...

Como era de se esperar, a fila por alguns trocados do contribuinte continua a crescer. No caso do pedido mais recente, do setor de maquinas, a solução não é tão facil, afinal o problema deles é falta de demanda, devido ao aumenta da capacidade ociosa. Enquanto este cenário não se alterar, há muito pouco a fazer...

domingo, 21 de junho de 2009

sábado, 20 de junho de 2009

De Profundis, Georg Trakl

Há um restolhal, onde cai uma chuva negra.
Há uma árvore marrom;ali solitária.
Há um vento sibilante, que rodeia cabanas vazias.
Como é triste o entardecer

Passando pela aldeia
A terra órfã recolhe ainda raras espigas.
Seus olhos arregalam-se redondos e dourados no crepúsculo,
E seu colo espera o noivo divino.

Na volta
Os pastores acharam o doce corpo
Apodrecido no espinheiro.

Sou uma sombra distante de lugarejos escuros.
O silêncio de Deus
Bebi na fonte do bosque.

Na minha testa pisa metal frio
Aranhas procuram meu coração.
Há uma luz, que se apaga na minha boca.

À noite encontrei-me num pântano,
Pleno de lixo e pó das estrelas.
Na avelãzeira
Soaram de novo anjos cristalinos.

(tradução: Cláudia Cavalcante)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

The Crisis and How to Deal with It

Trechos do simpósio sobre a crise econômica organizado pela The New York Review of Books e o PEN World Voices no the Metropolitan Museum of Art no dia 30 de abril do corrente ano. Participantes: o ex-senator Bill Bradley, Niall Ferguson, Paul Krugman, Nouriel Roubini, George Soros, Robin Wells e Jeff Madrick(moderador).

Jeff Madrick: It was six months ago now that the Lehman debacle occurred, that AIG was rescued, that Bank of America bought Merrill Lynch; it was about six months ago that the TARP funds started being distributed. The economy was doing fairly poorly in much of 2008, and then fell off a cliff in the last quarter of 2008 and into 2009, shrinking at a 6 percent annual rate—an extraordinary drop in our national income. It is now by some very important measures the worst economic recession in the post–World War II era. Employment has dropped faster than ever before in this space of time.

We have a three-front problem: a housing market that went crazy as the housing bubble burst; a credit crisis, the most severe we've known since the early 1930s; and now a sharp drop in demand for goods and services and capital investment, leading to a severe recession. What gives us the jitters is that all of these are related. We have seen some deceleration in the rate of economic decline, and many people are saying that "green shoots" are showing. What is the actual state of the economy, and do we need a serious mid-course correction on the part of the Obama administration?

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quinta-feira, 18 de junho de 2009

A opção menos ruim...

Cinismo ou ignorância? Ou as duas? Escolha dificil, diante da reação do governo com a queda na arrecadação. Inesperada? Como!!! ah!!! entendi,..., desonerações tributárias e crise econômicas, somadas, logicamente e obrigatoriamente, deveriam levar a um aumento da arrecadação.

Inesperada, seguramente, não é a palavra apropriada, mas o fato é que deu, por enquanto, resultado: ajudou a minimizar o impacto da crise econômica e , também, na redução do período de recuperação da economia. O que fazer? A opção menos ruim, no cenário atual, é reduzir, mais uma vez, o superavit primário. Nunca fui favorável a esta opção e tão pouco sou da turma que clama sempre pela redução do superavit primário. Mas, no período em que vivemos, "business as usual", não é, necessariamente, a opção recomendavel.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Will Global Imbalances Return?

Outro artigo recente e que, também, levanta questões importantes sobre o cenário pós crise econômica.


Future history books, depending on where they are written, will take one of two approaches to assigning blame for the world’s current financial and economic crisis.

One approach will blame lax regulation, accommodating monetary policy, and inadequate savings in the United States. The other, already being pushed by former and current US officials like Alan Greenspan and Ben Bernanke, will blame the immense pool of liquidity generated by high-savings countries in East Asia and the Middle East. All that liquidity, they will argue, had to go somewhere. Its logical destination was the country with the deepest financial markets, the US, where it raised asset prices to unsustainable heights.

Note the one thing on which members of both camps agree: the global savings imbalance – low savings in the US and high savings in China and other emerging markets – played a key role in the crisis by allowing Americans to live beyond their means. It encouraged financiers desperate to earn a return on abundant funds to put them to more speculative use. If there is a consensus on one issue, it is the impossibility of understanding the bubble and the crash without considering the role of global imbalances.

Preventing future crises similar to this one therefore requires resolving the problem of global imbalances. Here, the early signs are reassuring. American households are saving again. The US trade deficit has declined from $60 billion a month to just $26 billion, according to the most recent data. As a matter of simple arithmetic, we know that the rest of the world is running correspondingly smaller surpluses.

But once American households rebuild their retirement accounts, they may return to their profligate ways. Indeed, the Obama administration and the Federal Reserve are doing all they can to pump up US spending. The only reason the US trade deficit is falling is that the country remains in a severe recession, causing US imports and exports to collapse in parallel.

With recovery, both may recover to previous levels, and the 6%-of-GDP US external deficit will be back. In fact, there has been no change in relative prices or depreciation of the US dollar of a magnitude that would augur a permanent shift in trade and spending patterns.

Whether there is a permanent reduction in global imbalances will depend mainly on decisions taken outside the US, specifically in countries like China. One’s forecast of those decisions hinges, in turn, on why these other countries came to run such large surpluses in the first place.

One view is that their surpluses were a corollary of the policies favoring export-led growth that worked so well for so long. China’s leaders are understandably reluctant to abandon a tried-and-true model. They can’t restructure their economy instantaneously. They can’t move workers from painting children’s toys in Guangdong to building schools in Western China overnight. They need time to build a social safety net capable of encouraging Chinese households to reduce their precautionary saving. If this view is correct, we can expect to see global imbalances re-emerge once the recession is over and to unwind only slowly thereafter.

The other view is that China contributed to global imbalances not through its merchandise exports, but through its capital exports. What China lacked was not demand for consumption goods, but a supply of high-quality financial assets. It found these in the US, mainly in the form Treasury and other government-backed securities, in turn pushing other investors into more speculative investments.

Recent events have not enhanced the stature of the US as a supplier of high-quality assets. And China, for its part, will continue to develop its financial markets and its capacity to generate high-quality financial assets internally. But doing so will take time. Meanwhile, the US still has the most liquid financial markets in the world. This interpretation again implies the re-emergence of global imbalances once the recession ends, and their very gradual unwinding thereafter.

One development that could change this forecast is if China comes to view investing in US financial assets as a money-losing proposition. US budget deficits as far as the eye can see might excite fear of losses on US Treasury bonds. A de facto policy of inflating away the debt might stoke such fears further. At that point, China would pull the plug, the dollar would crash, and the Fed would be forced to raise interest rates, plunging the US back into recession.

There are two hopes for avoiding this disastrous outcome. One is relying on Chinese goodwill to stabilize the US and world economies. The other is for the Obama administration and the Fed to provide details about how they will eliminate the budget deficit and avoid inflation once the recession ends. The second option is clearly preferable. After all, it is always better to control one’s own fate.

Barry Eichengreen

Fonte: Project-Syndicate

terça-feira, 16 de junho de 2009

A De-Globalized World?

Importante artigo do Dani Rodrik sobre o cenario pós crise econômica


It may take a few months or a couple of years, but one way or another the United States and other advanced economies will eventually recover from today’s crisis. The world economy, however, is unlikely to look the same.

Even with the worst of the crisis over, we are likely to find ourselves in a somewhat de-globalized world, one in which international trade grows at a slower pace, there is less external finance, and rich countries’ appetite for running large current-account deficits is significantly diminished. Will this spell doom for developing countries?

Not necesarily. Growth in the developing world tends to come in three distinct variants. First comes growth driven by foreign borrowing. Second is growth as a by-product of commodity booms. Third is growth led by economic restructuring and diversification into new products.

The first two models are at greater risk than the third. But we should not lose sleep over them, because they are flawed and ultimately unsustainable. What should be of greater concern is the potential plight of countries in the last group. These countries will need to undertake major changes in their policies to adjust to today’s new realities.

The first two growth models invariably come to a bad end. Foreign borrowing can enable consumers and governments to live beyond their means for a while, but reliance on foreign capital is an unwise strategy. The problem is not only that foreign capital flows can easily reverse direction, but also that they produce the wrong kind of growth, based on overvalued currencies and investments in non-traded goods and services, such as housing and construction.

Growth driven by high commodity prices is also susceptible to busts, for similar reasons. Commodity prices tend to move in cycles. When they are high, they are apt to crowd out investments in manufactures and other, non-traditional tradables. Moreover, commodity booms frequently produce ugly politics in countries with weak institutions, leading to costly struggles for resource rents, which are rarely invested wisely.

So it is no surprise that the countries that have produced steady, long-term growth during the last six decades are those that relied on a different strategy: promoting diversification into manufactured and other “modern” goods. By capturing a growing share of world markets for manufactures and other non-primary products, these countries increased their domestic employment opportunities in high-productivity activities. Their governments pursued not just good “fundamentals” (e.g., macroeconomic stability and an outward orientation), but also what might be called “productivist” policies: undervalued currencies, industrial policies, and financial controls.

China exemplified this approach. Its growth was fueled by an extraordinarily rapid structural transformation towards an increasingly sophisticated set of industrial goods. In recent years, China also got hooked on a large trade surplus vis-à-vis the US – the counterpart of its undervalued currency.

But it wasn’t just China. Countries that had been growing rapidly in the run-up to the great crash of 2008 typically had trade surpluses (or very small deficits). These countries did not want to be recipients of capital inflows, because they realized that this would wreak havoc with their need to maintain competitive currencies.

It is now part of conventional wisdom that large external balances – typified by the bilateral US-China trade relationship – played a major contributing role in the great crash. Global macroeconomic stability requires that we avoid such large current-account imbalances in the future. But a return to high growth in developing countries requires that they resume their push into tradable goods and services. In the past, this push was accommodated by the willingness of the US and a few other developed nations to run large trade deficits. This is no longer a feasible strategy for large or middle-income developing countries.

So, are the requirements of global macroeconomic stability and of growth for developing countries at odds with each other? Will developing countries’ need to generate large increases in the supply of industrial products inevitably clash with the world’s intolerance of trade imbalances?

There is in fact no inherent conflict, once we understand that what matters for growth in developing countries is not the size of their trade surpluses, nor even the volume of their exports. What matters is their output of modern industrial goods (and services), which can expand without limit as long as domestic demand expands simultaneously. Maintaining an undervalued currency has the upside that it subsidizes the production of such goods; but it also has the downside that it taxes domestic consumption – which is why it generates a trade surplus. By encouraging industrial production directly, it is possible to have the upside without the downside.

There are many ways that this can be done, including reducing the cost of domestic inputs and services through targeted investments in infrastructure. Explicit industrial policies can be an even more potent instrument. The key point is that developing countries that are concerned about the competitiveness of their modern sectors can afford to allow their currencies to appreciate (in real terms) as long as they have access to alternative policies that promote industrial activities more directly.

So the good news is that developing countries can continue to grow rapidly even if world trade slows in and there is reduced appetite for capital flows and trade imbalances. Their growth potential need not be severely affected as long as the implications of this new world for domestic and international policies are understood.

One such implication is that developing countries will have to substitute real industrial policies for those that operate through the exchange rate. Another is that external policy actors (for example, the World Trade Organization) will have to be more tolerant of these policies as long as the effects on trade balances are neutralized through appropriate adjustments in the real exchange rate. Greater use of industrial policies is the price to be paid for a reduction of macroeconomic imbalances.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

É do interesse de Pequim ajudar Geithner

Como sempre, em se tratando de um artigo do Martin Wolf, leitura obrigatoria.

Os países credores estão preocupados com a segurança de seu dinheiro. É isso o que liga duas das principais histórias econômicas da semana passada: o ataque da chanceler Angela Merkel às políticas monetárias adotadas pelos bancos centrais, incluindo o seu próprio e o Banco Central Europeu (BCE); e a pressão sobre Tim Geithner, o secretário do Tesouro americano, para convencer seus anfitriões em Pequim de que seu investimento em moeda e papéis do governo americano está seguro. Mas está? A resposta é: apenas se os países credores facilitarem o ajuste na balança global de pagamentos. Os países devedores ou exportarão sua saída desta crise ou serão levados a algum tipo de calote. Os credores terão que escolher qual.

A Alemanha e a China têm muito em comum: elas possuem os dois maiores superávits em conta corrente do mundo, de US$ 235 bilhões e US$ 440 bilhões, respectivamente, em 2008; e ambas também são potências de exportação de produtos manufaturados. Como resultado, elas sofreram como o colapso da demanda dos compradores superendividados de suas exportações. Logo, ambas se sentem terrivelmente injustiçadas. Por que, elas se perguntam, sua população virtuosa deve sofrer porque seus clientes se permitiram ficar tão quebrados?

A Alemanha e a China também são muito diferentes: a Alemanha é uma produtora global de bens manufaturados altamente competitiva. Mas também é uma potência regional que compartilha seu dinheiro com seus vizinhos desde 1999. Seu problema é que seus superávits foram compensados pelo excesso de gasto privado de seus vizinhos. Agora que os tomadores de empréstimos estão falidos, a demanda doméstica de seus países também está sofrendo um colapso. Isso leva a uma imensa expansão dos déficits fiscais e pressão para políticas monetárias mais brandas por parte do BCE. Logo, Merkel busca minar a independência do banco central alemão, visando proteger a meta ainda mais vital da estabilidade monetária.

A Alemanha pode ser a principal economia da Europa. Mas a China é uma superpotência nascente. Sem ter a intenção, ela já sacudiu a economia mundial. A incorporação deste colosso dinâmico na economia mundial envolve imensos ajustes. Isso já está evidente em qualquer discussão de uma saída sustentada da crise.

Um recente estudo da Goldman Sachs -infelizmente, não disponível publicamente- lança uma luz fascinante sobre o impacto da ascensão da China na economia mundial.* Em particular, ele amplia a análise do papel dos "desequilíbrios globais", sobre os quais eu (e muitos outros) tenho escrito.

O estudo aponta para quatro características salientes da economia mundial durante esta década: um aumento global imenso nos desequilíbrios em conta corrente (com o surgimento, em particular, de imensos superávits nas economias emergentes); um declínio global nos rendimentos reais e nominais de todas as formas de dívida; um aumento nos retornos globais sobre o capital físico; e um aumento no "prêmio de risco no mercado acionário" -a diferença entre o rendimento dos lucros nas ações e o rendimento real dos títulos. Eu acrescentaria a esta lista a forte pressão para baixo sobre os preços em dólar de muitos bens manufaturados.

O estudo argumenta que a hipótese padrão da "abundância de poupança global" ajuda a explicar os primeiros dois fatos. De fato, ele nota que uma alternativa popular -uma política monetária muito frouxa- não explica as taxas reais de longo prazo persistentemente baixas. Mas, ele acrescenta, isso não explica a terceira e quarta (ou minha quinta) características.

Segundo o estudo, um aumento imenso na oferta de mão-de-obra global e a extrema aversão ao risco dos novos credores nos países emergentes explicam a terceira e quarta características. Como nota o estudo, "o acúmulo de ativos líquidos no exterior se deve totalmente a aquisições do setor público... e foi canalizado principalmente para as reservas". As economias emergentes asiáticas -a China, acima de tudo- dominaram esses fluxos.

Os imensos fluxos externos foram consequência de decisões políticas, dentre as quais o regime cambial foi o mais importante. A decisão de manter as taxas de juros baixas também colocou um teto aos preços em dólar de muitos fabricantes. Eu acrescentaria que o estouro da bolha do mercado de ações em 2000 também aumentou a percepção de risco no mercado de ações e aumentou a atração pelos supostamente seguros instrumentos de crédito, cujo inchaço vimos nos anos 2000. A pressão sobre os salários também pode ter encorajado a dependência dos empréstimos e, assim, contribuído para alimentar as bolhas de crédito dos anos 2000.

Os autores concluem que os baixos rendimentos dos títulos causados pela abundância de reservas levou aos empréstimos desenfreados cujos resultados estamos vendo agora. Com uma melhor regulamentação, a confusão seria menor, como o Fundo Monetário Internacional argumenta acertadamente em seu recente Panorama Econômico Mundial. Mas alguém tinha que emprestar esse dinheiro. Se não fossem os lares, quem o teria feito -os governos, incorrendo em déficits fiscais ainda maiores, ou as corporações, já repletas de lucros? Esta é tanto uma história macroeconômica quanto uma de falta de regulamentação tola e gananciosa.

Mas ela não é apenas história. Ela pesa igualmente sobre a saída da crise pelo mundo. A característica dominante da economia atual é que os antigos tomadores de empréstimo privados estão, para colocar de forma branda, quebrados. Para sustentar os gastos, os bancos centrais estão sendo obrigados a realizar as emissões monetárias das quais Merkel suspeita e os governos estão sendo levados a um endividamento imenso, para compensar a poupança privada maior do que a desejada.

Hoje, a Alemanha quer preservar o valor de seu dinheiro, enquanto a China está desesperada para preservar o valor de seus ativos externos. São metas compreensíveis. Mas, para que isso aconteça, os países devedores precisam estabilizar suas economias sem outra rodada de altos empréstimos privados ou de aumento ilimitado da dívida do governo. Ambos os caminhos levarão no final a calotes, inflação ou ambos, e assim a perdas para os credores. A única alternativa é os devedores pagarem sua saída. No nível de um país inteiro, isso significa um grande aumento líquido nas exportações. Mas se os países endividados quiserem atingir esta meta, em uma economia mundial vigorosa, os países com superávit devem expandir fortemente a demanda, em relação à oferta.

A decisão da China de acumular cerca de US$ 2 trilhões em reservas de moeda estrangeira foi, no meu entender, um erro. Agora ela tem uma opção. Se ela quiser que seus investimentos no Estados Unidos sejam seguros, ele tem que facilitar o ajuste na balança global de pagamentos. Se ela e outros países com superávit quiserem incorrer em imensos superávits e acumular vastas reservas financeiras, eles devem esperar calotes. Não é possível ter tanto ativos estrangeiros seguros quanto enormes superávits. Eles devem escolher entre eles. Pode parecer injusto. Mas quem disse que a vida é justa?

domingo, 14 de junho de 2009

sábado, 13 de junho de 2009

Winter Landscape, John Berryman

The three men coming down the winter hill
In brown, with tall poles and a pack of hounds
At heel, through the arrangement of the trees,
Past the five figures at the burning straw,
Returning cold and silent to their town,

Returning to the drifted snow, the rink
Lively with children, to the older men,
The long companions they can never reach,
The blue light, men with ladders, by the church
The sledge and shadow in the twilit street,

Are not aware that in the sandy time
To come, the evil waste of history
Outstretched, they will be seen upon the brow
Of that same hill: when all their company
Will have been irrecoverably lost,

These men, this particular three in brown
Witnessed by birds will keep the scene and say
By their configuration with the trees,
The small bridge, the red houses and the fire,
What place, what time, what morning occasion

Sent them into the wood, a pack of hounds
At heel and the tall poles upon their shoulders,
Thence to return as now we see them and
Ankle-deep in snow down the winter hill
Descend, while three birds watch and the fourth flies.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Cristianismo e marxismo

Resumo da Lecture "Christianity, Marxisn - Liberation Theology", apresentada pelo teologo luterano Wolfhart Pannenberg, nos USA em 1987. As razões contrárias ao marxismo, por ele apresentadas, ainda me parecerem validas e, importantes, principalmente, devido a atual crise econômica que pode dar novo alento aos defensores desta controversa união.

"Pannenberg contends that there are two basic reasons why Christians cannot use Marxism as a scientific, sociological tool in the task of understanding the dynamic of oppression in contemporary societies. First, building on the work of the Polish philosopher Adam Schaff and the Swiss theologian Fritz Lieb, Pannenberg; declared that Marxism harbors a flawed understanding of the person, an understanding that is irreconcilable with Christianity. Marxism declares the person to be a function of society. Each individual is the product of social interaction and therefore thoroughly dependent on social context. This idea gives rise to the Marxist rejection of religion. The religious claim that each person is endowed with dignity from his or her relation to God alienates the person from his or her true nature. To the Marxist, therefore, the church's existence testifies to the continuing presence of alienation in the social system, an alienation that ought to vanish after the socialist revolution.

That Pannenberg himself understands the social context's significant role in the development of the person is evidenced in his Anthropology. However, he concluded in his recent lecture that from the perspective of Christian personalism, it is actually the Marxist proposal that results in alienation. By suggesting that the individual is exclusively social, Marx alienates the individual "from the constitutive center of his or her human life, i.e., from God." In so doing Marxism deprives persons of autonomy and human dignity.

Further, the Marxist understanding of human nature views social history as the process of the human species' selfcreation. Christianity sees in this proposal a disastrous attempt to emancipate humanity from divine providence by setting the creation above the Creator. This Marxist proposal is too optimistic concerning human nature, for it fails to recognize the problem of sin as pride.
According to Pannenberg, this atheistic orientation "is not an accidental element in Marxist thought," but is intimately connected with the anthropology underlying its social theory. For this reason one cannot "use Marxist economic descriptions without buying their atheist implications. "

[...]

Pannenberg's second point, although not as significant theologically and philosophically as the first, is also formidable. He claims that as an economic theory Marxism is an unscientific oversimplification of complex realities. Contrary to Marx's theory, labor is not the only source of economic value, especially in the current technological age. On the basis of this observation, Parmenberg asserts that the question of economic and social justice is far more complex than Marxist categories would indicate. Marxism, therefore, is not an ideologically neutral, analytic instrument, as liberation theologians claim. Nor is it scientific, as its historically false prediction of the demise of the middle class has shown.

In spite of its flaws, Marxism, Pannenberg admits, is undeniably appealing to both Western and Third World intellectuals. He maintains that this is probably so because the system imparts moral value to political involvement in the class struggle. But in the end those who engage in this movement "turn out to be victims of the seductive power of an ideology."

Although he is sharply critical of Marxism and any theology that appeals to Marxist categories, Pannenberg is not unconcerned about social justice in Third World countries. In the closing section of his lecture, he affirmed recent Vatican statements on social justice. He also called for involvement in the struggle against "examples of clear injustice" in the world. He admitted that his proposal appears modest compared with "the quest for justice in the full and complete sense of the word." But in its defense he cited Alasdair MacIntyre's conclusion in After Virtue (University of Notre Dame Press, 1984) that no generally accepted concept of justice is available therefore, "even justice can only be provisional this side of the eschatological fullness of the kingdom of God."

Fonte:Stanley J. Grenz, Pannenberg on Marxism: Insights and Generalizations.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

''Meirelles peitou o mercado inteiro. Foi histórico''

Li a excelente entrevista do Mendonça de Barros depois de escrever o último post. Acho que ele está correto na análise da dinamica da taxa de cambio, ou então sou tão louco quanto ele.



Ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ex-ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso, o economista e engenheiro Luiz Carlos Mendonça de Barros é um grande crítico da sobretaxa de juros. Mas também vai contra a corrente que defende uma intervenção maior do governo no câmbio. Ontem, ele se disse muito surpreso com o que classificou como "atitude corajosa" do Banco Central e disse que o presidente da instituição, Henrique Meirelles, "peitou" o mercado. Mendonça de Barros foi um dos que haviam depositado todas as fichas na aposta de corte de 0,75 ponto porcentual. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. classifica o corte de 1 ponto porcentual?

Foi muita coragem do (Henrique) Meirelles. Ele peitou o mercado inteiro. Foi uma decisão histórica. O BC tem razão em dizer que não tem como comandar a taxa de câmbio, porque o real hoje se tornou moeda internacional. Mas, por causa disso, o BC também não tem o direito de manter a taxa de juros tão acima da de outros países, com uma inflação a quase 4,5%. A decisão, repito, histórica, foi nessa direção. Está certo que o PIB (Produto Interno Bruto, de -0,8% no primeiro trimestre) foi melhor do que se esperava, mas foi ruim ainda. Não sei se isso pesou na reunião, mas certamente pesou no mercado, que vai ter de se explicar, que projetou uma queda muito maior (para o PIB do período). É muito cedo ainda para definir.

O que esse corte indica para o futuro?

Uma expectativa de a Selic chegar a, pelo menos, 8,75% na próxima reunião do Copom. Meu número é até um pouco mais baixo. Mas eu não esperava que o BC tivesse coragem para promover essa queda de um ponto, que certamente terá as razões explicadas na ata. Agora, é histórico porque ele peitou o mercado e geralmente o BC não faz isso. O que vamos ver na sexta-feira (primeiro dia útil após a decisão) é como o mercado vai trabalhar com a taxa longa. Porque a taxa longa, de um ano, que corrige o crédito, já está a 12%, o que é alto comparado a outros países.

Que taxa de juros hoje acompanharia de forma mais eficiente o câmbio no nível em que está?

Acho que temos de construir essa taxa através do juro real. Se ponderar que a inflação está ancorada numa expectativa de 4,5%, uma taxa de 8,5% já estaria num nível alto comparado a outros países.

E qual o nível ideal?

Não tem nível ideal. Minha tese é que o BC, por razões históricas, sempre trabalhou com taxa de juros real maior do que eventualmente fosse necessário para estabilizar a inflação na meta, porque o nosso passado nos condena. Só que isso mudou agora, com o real como moeda forte. Portanto, o BC não tem mais condição de manter uma sobretaxa de juros diante de um real que o mercado internacional vai arbitrar. O real hoje é uma alternativa para quem tem ativos em dólar. Essa é a novidade, que estou rouco de tanto falar e as pessoas ficam pensando que eu sou louco. Eu posso ser um monte de coisas, mas louco, não. E aí temos de acompanhar o mercado com a internacionalização da nossa moeda.

Essa valorização do real não é artificial, então, na sua opinião?

Não tem nada artificial. E não é valorização do real, mas desvalorização do dólar em relação a moedas que são mais confiáveis hoje. Esse é o movimento que está acontecendo. Está todo mundo com medo do dólar, sobreaplicado em dólar, e aí começam a aparecer alternativas, como o real. O endividamento será menor nos próximos dois anos, a economia brasileira está crescendo e vai continuar e isso o Banco Central tem de considerar. Não dá para serem cautelosos demais. Tem até outra palavra, mas não gosto de usar. Fico satisfeito de ver que eles perderam um pouco isso.

O sr. quer dizer que o Banco Central abandonou o conservadorismo?

Não é conservadorismo pelo seguinte: como temos um passado de inflação que nos condena, o BC sempre preferiu errar para mais. Só que isso não dá para fazer mais por causa da internacionalização do real.

O sr. chegou a defender uma Selic de 8% e, se a economia não aguentasse, o retorno a um nível mais alto. Esse vaivém não seria mais prejudicial?

Bem, primeiro acho que aguenta hoje 8%. Segundo, é uma fronteira nova e quando se lida com coisas novas, não tem a história para trás para te ajudar, então se tem de correr um certo risco. Não acho que vai acontecer nada. Essa decisão é histórica e a frase que já falei várias vezes é: "Não cobrem o Banco Central porque ele não tem como interferir na taxa de câmbio". Agora, o BC não pode trabalhar com uma taxa de juros real tão diferente da de outros países.

Fonte: O Estado

Surpresa

Redução de um ponto percentual. Confesso minha surpresa, mas não discordância com a decisão. Diante das perspectivas para a inflação a queda, mais acentuada, é plenamente justificada. Apesar de justifica-la, não parece ser a única explicação: me parece que o Bacen está testando o piso da taxa de juros, que, como argumenta Keynes, é um fenomeno fundamentalmente convencional, ou seja determinado pelas convenções dos agentes econômicos. Sabemos que altera-las não é tarefa nada fácil, ainda que, naturalmente, necessarias.

Um outro aspecto interessante é o impacto desta decisão sobre a taxa de câmbio. A turma de sempre argumenta que a apreciaçao da moeda nacional é consequencia do diferencial de juros. É uma oportunidade de ouro para fazer o teste do pudim. Algum impacto é esperado, mas aposto que não será forte o suficiente para alterar a dinamica da taxa de cambio.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O eterno retorno...

Divertido artigo do Alexandre "eram os deuses os astronautas" sobre o velho problema do câmbio. O argumento apresentado não é novo, mas correto e, alias, já havia sido apresentado em artigo recente - não lembro o nome do autor, mas não era o alexandre - no mesmo jornal da Ditabranda. Aparentemente, a turma de sempre não leu o artigo. Nenhuma surpresa...

Um outro artigo, interessante, e com argumentação diferente da apresentada pelo Alexandre, saiu hoje no mesmo jornal. O autor é o esforçado economista da Ditadura. Cada vez mais niilista, lembra algumas verdades incomodas, mas que não justificam o comportamento por ele adotado em artigos recentes.


"Certas afirmações sobre a recente apreciação do câmbio no Brasil me lembram uma velha história. Um cientista, apreciador de bebidas mais fortes, resolveu testar o que causava suas monumentais ressacas. Assim, na segunda-feira tomou gim e tônica, sofrendo a inevitável ressaca. Na terça, uísque e tônica, com as mesmas consequências. Na quarta, cachaça e tônica, enquanto na quinta e na sexta foram testadas tequila e tônica seguidas de bourbon e tônica. No sábado, confiante, apesar da cabeça latejando, concluiu: a causa da ressaca é a água tônica.
Já nossos keynesianos de quermesse (incluindo os que em dezembro, com o dólar a R$ 2,40, reclamavam da depreciação excessiva da moeda) apontam a taxa de juros como o fator que tem levado ao fortalecimento do real, aparentemente alheios ao fato de o diferencial entre o juro brasileiro e o americano ser hoje menor do que há alguns meses, quando o real era bem mais fraco. De fato, em dezembro a diferença de taxas era de 13,5%, caindo para algo como 10%. Se o juro explica tudo e era maior lá atrás, por que a moeda só se valorizou agora?
Mas, se não é a água tônica, o que poderia estar causando o barateamento do dólar? A primeira coisa a notar é que esse fenômeno não é local, mas nitidamente global. Assim, o índice DXY, que mede o valor do dólar contra uma cesta de seis moedas (euro, iene, libra, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço), mostra uma queda de quase 11% da moeda norte-americana nos últimos três meses.
Isso dito, a apreciação do real é mais intensa que a depreciação global do dólar, o que poderia sugerir que, ao final da história, a taxa de juros teve um papel relevante. Mas não. O gráfico mostra o desempenho das moedas importantes que mais se fortaleceram no ano, do real ao dólar neozelandês. Não parece ser possível atribuir esse desempenho às taxas de juros, pois, além de muito diferentes entre si, houve em todos os países uma redução expressiva do diferencial de juros. Por outro lado, à exceção da libra esterlina, todas as campeãs guardam uma característica comum: são moedas de países exportadores de commodities.
O gráfico mostra também a evolução dos preços de commodities em 2009, medido pelo índice CRB, que revela uma apreciação da ordem de 16% no período, não muito distinta do desempenho das moedas. Da mesma forma, quando preços de commodities caíram quase 25% no último trimestre do ano passado, as moedas-commodities despencaram, apesar do aumento do diferencial de taxa de juros então observado.
Isso não significa que a redução dos juros que já vem acontecendo, associada à melhora das perspectivas inflacionárias, não possa ter algum impacto sobre o câmbio, ainda que insuficiente para compensar a melhora do ambiente externo. O fundamental, porém, é não perder de vista que o BC possui apenas um instrumento, a taxa de juros, que deve continuar a ser guiada pelo compromisso com a meta de inflação, e não pela tentativa (inútil) de fixação da taxa de câmbio, como tentado no passado. A alternativa é ressaca na certa."

Fonte: FSP

terça-feira, 9 de junho de 2009

Quanto melhor é melhor...

Para tristeza da direita civilizada e da extrema esquerda deslumbrada, o numero do PIB do trimestre- retação de 0,8% - indica que a crise atual, não traduziu-se ainda - e dificilmente será diferente no futuro - em uma crise com a mesma dimensão das anteriores. Alias, este foi o topico da reportagem do jornal da Ditabranda nesta segunda-feira. Curioso, mas nem tanto, afinal o setor mais atingido, como haviamos comentado em outro post, foi e, continua a ser, o segmento ligado a exportação, ou seja ela não contaminou, significativamente, outros setores da economia. É verdade que a geração de emprego anda anemica e deverá manter este comportamento por algum tempo, mas a recuperação, ainda que lenta, já é visivel. A tão criticada política social do atual governo, também, desempenhou papel importante e isto parece ser o que mais incomoda a turma de sempre. Pobres se alimentando é algo inaceitável, ou melhor imperdoável, não combina com o retrato que fazem do grande bananão. Não é nada exótico.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Rasgando a fantasia...

Discurso aqui, acola,... criticas contundentes ao protecionismo...Mas a tentação era forte demais para resistir e, como era esperado, o governo rasgou a fantasia e assumiu, definitivamente e escancaradamente, a sua porção protecionista. Levando-se em conta a linha teorica da atual equipe econômica, ate que demorou um tempo razoavel. Não há, naturalmente, justificativa econômica para as medidas, quem sabe em outro depto...Cala te boca...

É, no entanto, no minimo curioso e estranho: o governo corta imposto para ajudar o setor e depois aprova medidas que encarecem o custo de produção deste mesmo setor. Obviamente a conta será paga pelo consumidor que, mais uma vez, vai ajudar a engordar os lucros da burguesia industrial brasileira. Eficiente somente na defesa dos seus interesses e cada vez mais egoista....

Que maravilha...

domingo, 7 de junho de 2009

sábado, 6 de junho de 2009

The Refugees, Randall Jarrell

In the shabby train no seat is vacant.
The child in the ripped mask
Sprawls undisturbed in the waste
Of the smashed compartment. Is their calm extravagant?
They had faces and lives like you. What was it they possessed
That they were willing to trade for this?
The dried blood sparkles along the mask
Of the child who yesterday possessed
A country welcomer than this.
Did he? All night into the waste
The train moves silently. The faces are vacant.
Have none of them found the cost extravagant?
How could they? They gave what they possessed.
Here all the purses are vacant.
And what else could satisfy the extravagant
Tears and wish of the child but this?
Impose its canceling terrible mask
On the days and faces and lives they waste?
What else are their lives but a journey to the vacant
Satisfaction of death? And the mask
They wear tonight through their waste
Is death's rehearsal. Is it really extravagant
To read in their faces: What is there we possessed
That we were unwilling to trade for this?

sexta-feira, 5 de junho de 2009

The functional man. Capitalism, property, role of the states

Importante e controverso artigo do Ernst-Wolfgang Böckenförde, filosofo católico, sobre a crise econômica e o capitalismo. Manifesto anti-capitalista, segundo Sandro Magister, retoma teses superadas do Marx e de outros pensadores e apresenta uma visão romantica do mundo anterior ao capitalismo, já criticada pelo conhecido teologo luterano Wolfhart Pannenberg. Serve, contudo, como uma especie de aquecimento para a tão esperada nova enciclica social do Bento XVI, a "Caritas in veritate", prometida para o dia 29 de junho

"The financial and consequently economic crisis that has struck us and is still far from over raises many questions. Was it caused by the irresponsibility and greed of various banks, especially investment banks? Or by the lack of strict rules for the international financial markets, by the lack of effective oversight of banks and finance, by the separation and independence of a virtual (and acrobatic) economy from the real economy of production and assets? Probably a number of such factors contributed, combined with a naive trust in a "free" and unregulated market.

But looking for causes only in this direction does not take us very far. In fact, the system that has been set up in this area for decades with success and with significant material profits, but also with a growing distance between poor and rich, that "turbo-capitalism" (called this by Helmut Schmidt) which reached a new level with globalization before causing a collapse, cannot be defined and explained only by making reference to the wrongful actions of individual persons or even of groups.

This certainly could have played a part, but more generally it is a matter of the results of an established and very widespread system of interaction that follows its own functional logic, and subjects everything else to it. This system of interaction was transformed into a system of action: modern capitalism. This forges the economic (and in part the non-economic) activity of individuals, and integrates it into the system. These individuals are certainly the ones who act, but in their action they do not follow so much their own free impulses as the stimuli produced by the system and its functional logic.


THE INHUMAN CHARACTER OF CAPITALISM


But how does modern capitalism present itself more precisely as a system of action? We can get help in this from a great humanistic sociologist of the last century, Hans Freyer. In his book "Theorie des gegenwärtigen Zeitalters [Theory of the present era]," he discusses "secondary systems" as specific products of the modern industrialized world, and analyzes their structure in detail (1).

The secondary systems are characterized by the fact that they develop processes of action that are not connected to preexisting arrangements, but are based on a few functional principles that give them their form and makeup. These processes of action integrate man not as a person in his entirety, but only with the active forces and the functions that are required by the principles and their implementation. What persons are or should be is left aside.

These kinds of processes of action are developed and consolidated in a diffuse system characterized by its specific functional rationality, which overlaps existing social reality, influencing, changing, and shaping it.

This is the key to analyzing capitalism as a system of action. It is based on just a few premises: the general freedom of the individual and of associations of individuals in matters of purchasing and contracts; full freedom in matters of transferring goods, business, and capital across national borders; the guarantee and free control of personal property (including the right of succession), intending by property the possession of goods and money, but also of information, technology, and capacity.

The functional objective is the general liberation of a potentially unlimited profit interest, in addition to the possibilities for earnings and production, which operate on the free market and enter into competition with each other. The decisive impulse is given by an egotistical individualism that drives the persons involved to buy, innovate, and profit. This impulse constitutes the engine, the active principle; it does not pursue a preexisting content objective that establishes measures and limits, but an unlimited expansion, growth and enrichment. For this reason, it is necessary to eliminate or set aside all of the obstacles and regulations that are not required by the aforementioned premises. The only regulating principle must be the free market."

Para ler o resto do artigo clique aqui

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Metas inflacionárias ou de câmbio

Como mencionado em outro post o velho problema esta de volta: a apreciação do cambio. As vozes de sempre voltam a martelar e como sempre sem apresentar uma proposta para solucionar o problema. Os juros estão altos, argumentam eles, e a solução seria uma nova queda, quem sabe juros reais proximos de zero ou negativo. Ok, mas como resolver o problema do investimento direto. Sim, porque ele, como todos sabem, não são atraidos pelo diferencial do juros ou será que esqueceram deste pequeno detalhe?

O Brasil é um porto seguro, não somente devido aos juros altos, mas, também, devido ao conjunto da obra, ou seja, a boa situação econômica que apresenta se comparada a outros países- inclusive os emergentes. Essa é a grande ironia: é a boa política econômica, tão criticada pela turma de sempre, que torna o país atrativo ao capital externo. Reduzir os juros, tem, naturalmente, algum impacto na apreciação, mas não tão forte quanto o desejado.

Ah! e as exportações,..., já estão sofrendo com os problemas da economia mundial com a moeda apreciada... será um total desastre. Já ouvi esse argumento antes e ele provou estar errado, por que seria diferente agora? Mesmo aceitando que ele está correto, resta a questão inicial: como resolver o problema? Abandonar o sistema de metas inflacionárias e trabalhar com o sistema de metas de taxa de câmbio? Loucura?, nem tanto esta era a proposta de um economista desenvolvimentista de Oxford, o Valpy FitzGerald. Interessado? é so procurar nos textos para discussão do depto de economia de Oxford.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Aumento das taxas dos títulos do governo prova que a política está funcionando

Li o artigo do Niall Ferguson e tendo a concordar com a resposta do Martin Wolf no artigo abaixo. Ainda não li o do John Taylor que, também, publicou um pequeno livro sobre a atual crise econômica. O livro esta na minha lista de compras na Amazon. Dai vai levar um tempo razoável...


Os Estados Unidos (e vários outros países ricos) estão no caminho do Armageddon fiscal? Os recentes aumentos das taxas dos títulos do governo provam que os investidores estão preocupados com as perspectivas fiscais? Minhas respostas para estas perguntas são: não e não. Isso não significa que não há motivo para preocupação. Mas sim que há argumentos poderosos contra a retração fiscal no momento e fortes motivos para apreciar os movimentos recentes no mercado de títulos.

Na semana passada, o "Financial Times" publicou duas colunas argumentando que o caminho fiscal americano era insustentável, um de autoria de John Taylor, da Universidade de Stanford, e o outro de Niall Ferguson, o historiador de Harvard. O segundo era um comentário sobre um debate com, entre outros, o colunista do "New York Times" e ganhador do Nobel, Paul Krugman, no final de abril.

Em um ponto todos os analistas sérios concordam: a dívida pública não pode subir, em relação ao produto interno bruto, sem limite. Para embarcar no estímulo fiscal a curto prazo, é preciso se manter crível a longo prazo.

Então, onde está o desacordo? O prof. Ferguson apresentou três opiniões: primeiro, o aumento recente nas taxas dos títulos do governo americano mostram que o mercado de títulos está "cedendo" antes da imensa emissão por parte do governo; segundo, os déficits fiscais imensos são tanto desnecessários quanto contraproducentes; e, finalmente, há motivo para temer um resultado inflacionário. São pontos de vista compartilhados por muitos. Estão certos?

O primeiro ponto está, com base nas evidências, errado. O aumento nas taxas do títulos é uma normalização desejável após um pânico. Os investidores correram para o dólar e títulos do governo. Agora estão saindo de novo. Bem-vindo ao mundo volúvel dos mercados financeiros.

Ao final de dezembro de 2008, o rendimento do título de 10 anos do Tesouro americano caiu para o nível assustadoramente baixo de 2,1%, em comparação a próximo de 4% em outubro. Em parte em consequência desta queda e em parte devido ao aumento surpreendente do rendimento dos títulos protegidos contra a inflação (Tips), a expectativa implícita era de que a inflação chegaria a uma baixa próxima de zero. O medo de deflação tinha se tornado real demais.

O que aconteceu foi um retorno repentino à normalidade: após alguma turbulência, o rendimento dos títulos convencionais do governo americano fechou em 3,5% na semana passada, enquanto o rendimento dos Tips caiu para 1,9%. Logo, a inflação esperada atingiu um nível de acordo com os objetivos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), de próximo de 1,6%. Praticamente o mesmo aconteceu no Reino Unido, com um aumento da inflação esperada de perto de 1,3%, em março, para 2,3%. O medo do colapso deflacionário passou. Viva!

É verdade que os spreads entre os títulos americanos convencionais e os títulos emitidos pela Alemanha e Reino Unido estreitaram. Mas os rendimentos americanos estiveram extraordinariamente deprimidos durante o pânico. A normalidade retorna.

Se as expectativas de inflação não são dignas de preocupação até o momento, o que dizer de outras preocupações causadas pela grande emissão de títulos, como uma saída forçada do mercado dos tomadores de empréstimo privados? Isso apareceria no aumento das taxas de juros reais. De novo, é grande a evidência do contrário.

O mais recente rendimento dos Tips está abaixo de 2%, enquanto os dos títulos indexados britânicos está próximo de 1%. Enquanto isso, à medida que cresce a confiança, os spreads entre os títulos corporativos e do Tesouro caíram. Também é possível fazer uso das estimativas de inflação esperada a partir dos títulos do governo para estimar as taxas de juros reais sobre os títulos corporativos. Elas também caíram acentuadamente. Apesar dos títulos de maior risco estarem rendendo mais do que há dois anos, eles estão rendendo bem menos do que no final de 2008. Esta também é uma notícia muito boa.

Agora vejamos a política fiscal. O argumento apresentado pelos oponentes é tanto de que a política fiscal sempre foi desnecessária e ineficaz ou, como sugere o prof. Ferguson, redundante, porque esta não é uma "Grande Depressão". Os monetaristas argumentam que a política fiscal sempre é desnecessária, já que a expansão monetária basta. Os economistas que acreditam na "equivalência ricardiana" - que leva o nome do economista do início do século 19, David Ricardo - argumentam que a política fiscal é ineficaz, porque os lares compensarão qualquer não poupança por parte do governo com suas próprias poupanças mais altas.

Os economistas discordam ferozmente nestes pontos. Minha abordagem é "keynesiana": em momentos extremos, o excesso de poupança desejada em relação ao investimento aumenta. De novo, a política monetária, apesar de importante, se torna menos eficaz quando as taxas de juros estão em zero. Então é sábio usar tanto o cinto monetário quanto o suspensório fiscal.

Uma recessão profunda prova que há um aumento imenso no excesso de poupança desejada em pleno emprego, como argumenta o prof. Krugman. No presente, portanto, os déficits fiscais não estão tirando do mercado o setor privado. Eles o estão enchendo, ao apoiar a demanda, que sustenta os empregos e lucros.

O prof. Ferguson argumenta que a expansão fiscal foi desnecessária porque se trata apenas de uma recessão moderada. A questão, entretanto, é por que é apenas uma recessão moderada, já que os precursores de uma depressão certamente estavam presentes.

As respostas, em parte, são as políticas monetárias agressivas dos bancos centrais e o resgate do sistema financeiro. Mas isso foi tudo? O que teria acontecido se os governos tivessem decidido cortar os gastos e aumentar os impostos? Alguém poderia discordar de quanto afrouxamento fiscal deliberado era necessário. Mas um dos motivos mais importantes para esta não ser a Grande Depressão é que aprendemos a lição daquela experiência e a do Japão nos anos 90: não endurecer a política fiscal muito cedo. Além disso, economias historicamente bem dirigidas certamente são confortavelmente capazes de suportar níveis elevados de endividamento público.

Isto então, nos trás para a última preocupação: o medo de inflação. Esta é essencialmente a pergunta sobre como sair das atuais políticas extremas. As pessoas precisam acreditar que as atuais políticas fiscal e monetária extraordinariamente agressivas serão revertidas. Se não acreditarem nisso, poderia muito bem ocorrer um grande aumento das expectativas inflacionárias muito antes da economia mundial se recuperar. Se isso acontecer, os autores de políticas seriam pegos em um arrocho doloroso e o mundo poderia de fato parar em uma estagflação ao estilo anos 70.

As políticas excepcionais usadas para lidar com as circunstâncias extremas estão funcionando. Agora, como resultado, os autores de políticas estão caminhando por uma corda bamba: de um lado está a retirada prematura e um retorno a uma recessão profunda; do outro está o aumento das expectativas inflacionárias e a estagflação. É irresponsabilidade insistir tanto em um endurecimento imediato quanto em um afrouxamento persistente das políticas. Tanto os Estados Unidos quanto o Reino Unido agora correm o risco do segundo. Mas seus críticos correm o risco de cometer um erro igual e oposto. A resposta é tanto clara quanto arriscada: escolher um forte endurecimento, mas não ainda.

terça-feira, 2 de junho de 2009

O ano passado em Marienbad

... E o esperado aconteceu, a GM foi estatizada. Os problemas dessa empresa eram bem conhecidos e a crise foi, simplesmente, o tiro de misericordia no grande simbolo do capitalismo americano. A nova empresa será menor e dificilmente conseguira, algum dia, ser tão importante quanto a velha GM. É o fim de uma era, mas seguramente não é o fim do capitalismo americano. É, contudo, mais uma fase no longo processo de decadência do Imperio. Afinal, nenhum Imperio é eterno. Resta saber o papel de Pepino, o breve,vulgo Obama, nesse processo. Reversão do processo é dificil, mas não impossível. Eu, contudo, não apostaria nessa possibilidade.

Equanto isto, no grande bananão, apesar dos desejos contrários da direita civilizada e da extrema esquerda deslumbrada, a economia, aos poucos, vai se recuperando do panico do final do ano passado. Ate parece cena de filme, me vem a mente, pelo menos um nome: o ano passado em Marienbad.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Uivando para a Lua

Gostei muito desse artigo do Ponde. Ele explica com sua verve habitual a relação de um certo anti-clericalismo tolo e outros neobobos com a religião.


Não sou contra a religião. Ser religioso não implica ser menos inteligente, informado ou ético. Tem muita gente "inteligente" que comete erros ridículos como esse. Nem todo religioso uiva para a Lua. Tampouco os religiosos detêm o monopólio do apetite por matar seus semelhantes. Religiosos ou não, gostamos de matar e odiar. O século 20 destruiu qualquer ilusão quanto à doçura ou autocrítica dos ateus ou dos que creem na "história" ou na ciência.
Mas de fato há riscos específicos na crença religiosa, ainda mais em tempos de indústria cultural. Caro leitor, caso queira buscar uma religião, evite aquelas que têm menos de mil anos. Em matéria de religião, quanto mais velha, melhor. Outra coisa: se passou pela Califórnia, a chance de a religião ficar boba aumenta muito.
Mas existem umas "novas" religiões por aí, que Deus me perdoe. Pegue o exemplo do tal neopaganismo da deusa-mãe. Pessoas de boa-fé simpáticas aos paganismos antigos devem tomar cuidado com a literatura barata que é comum nessa área. Procurem trabalhos de historiadores da Antiguidade e da Idade Média reconhecidos, e não livros de auto-ajuda espiritual escritos por picaretas quânticos. Infelizmente, muitos dos neopagãos soam como adolescentes mal-informados e de idade um pouco passadinha.
O termo "paganismo" aqui normalmente quer dizer religião celta, mas às vezes pode ser uma salada mista com a Isis egípcia e o Odin escandinavo. Percebe-se que a atitude é basicamente a mesma de quem escolhe uma calça jeans, um CD ou uma praia "cabeça". Na falta de informação arqueológica significativa sobre essas religiões "celtas" (fato que os neopagãos desconhecem), filmes ruins e literatura barata entram no lugar, compondo o imaginário "histórico" acerca do passado celta, que é sempre visto como harmonioso e sábio como se houvesse algum passado harmonioso e sábio em nossa história.
Um dos exemplos da visão adolescente nesse caso é achar que o cristianismo destruiu uma religião (das bruxas celtas) que vivia em paz com o mundo. Não existe religião na história que não tenha tido seu quinhão de sordidez, mas "crianças" não entendem isso. Segundo algumas fontes romanas (não cristãs), há suspeita de que alguns dos cultos "celtas" praticavam sacrifícios humanos, o que para os romanos era um pouco fora dos limites. Os romanos eram conhecidos por sua tolerância religiosa (Roma não foi um desfile de Neros), se eles destruíram alguns desses cultos, é porque coisa boa não era.
O imaginário adolescente é claro: o cristianismo, este perverso, patriarcal, destruiu uma sociedade onde homens e mulheres viviam em comunhão sem opressão. Para eles, queimaram-se milhares de mulheres e homens inteligentíssimos na Idade Média. A verdade é que provavelmente a maior parte dessas infelizes vítimas era gente boba mesmo. Pergunta: como seria o mundo se o paganismo tivesse vencido?
Responderiam os "adoradores da deusa": viveríamos num mundo sem classes, sem machismo, sem ódio, sem guerras, mas, ainda assim, rico, com antibióticos, internet, sexo aos montes, aviões e baladas.
As bobagens também aparecem no uso absurdo de referências advindas de sistemas religiosos que ainda existem. Por exemplo, alguns neopagãos afirmam que a cabala (mística judaica medieval) foi uma criação egípcia pré-era cristã! A tal "árvore da cabala", onde aparecem os atributos de Deus, é uma das coisas que mais sofrem com o besteirol neopagão. A culpa do mau uso da cabala é, em parte, infelizmente, de alguns "cabalistas" judeus atuais que a vendem como receita barata de conseguir dinheiro, amor e sexo. Jung também vira bobagem nas mãos dos neopagãos: tudo é "arquétipo" a serviço de qualquer ideia besta que você tenha.
O neopaganismo é em grande parte invenção de caras ingleses esquisitos e suas namoradas mal-amadas do século 20 mesmo. Junte-se a isso um pouco de física quântica (aquela que, segundo alguns "entendidos", faz acontecer tudo o que você quiser contanto que se diga a palavra mágica "energia!"), a mania incontrolável de falar sobre si mesma, uma pitada de feminismo místico, e você será uma neobruxa.
Tenho um critério para levar religiosos a sério: se usar a palavra "energia" e disser que posso fazer tudo o que eu quiser porque tudo o que preciso saber está em meu inconsciente, pulo fora. O próximo passo dele será uivar para a Lua.

Fonte: FSP