terça-feira, 30 de junho de 2009

Crise econômica e mercado: as indicações da Doutrina Social da Igreja. 1ª. Parte: A subsidiariedade e a crise.

Importante artigo do Dom Giampaolo Crepaldi sobre a relevância da Doutrina Social da Igreja na análise e soluções para a atual crise econômica.


Não há dúvidas: esta crise econômica e financeira nos interpela em profundidade e, ao mesmo tempo em que faz com que nos sintamos mais vulneráveis, solicita nossa responsabilidade. Todos percebemos que é muito mais que uma crise econômica e que pede uma mudança de rota. Mas as mudanças de rota sempre implicam em muito mais que simples políticas econômicas.

O próprio Santo Padre se deixou interpelar pela crise econômica, se posicionando sobre ela muitas vezes. A última vez foi no encontro com os padres da diocese de Roma, no início da Quaresma, quando disse que “Devemos denunciar esta idolatria que vai contra o verdadeiro Deus e a falsificação da imagem de Deus com outro deus "dinheiro". Devemos fazê-lo com coragem, mas também concretamente. Pois os grandes moralismos não ajudam se não forem substanciados com conhecimentos da realidade”. Por isso, ele vem se dando um tempo para examinar a crise econômica antes de lançar sua nova encíclica social, para não incorrer em um moralismo não substanciado pelo conhecimento da realidade.

A Doutrina Social da Igreja não é um moralismo, não é uma série de desejos éticos ou de expectativas edificantes projetadas sobre a realidade social e econômica. Ela nasce do encontro da luz da fé cristã com a razão, como disse Bento XVI na encíclica “Deus caritas est”. A fé aceita aquilo que a razão diz em seu campo específico, mas a purifica e a torna capaz de responder melhor a sua tarefa original.
Isso vale também para a atual crise econômica: as ciências econômicas e políticas fazem a sua parte, mas ela, por si só, é insuficiente = como mostra o fato de que não conseguiram evitar a crise atual. Centenas de centros de pesquisa voltados exclusivamente ao estudo dos fluxos financeiros e econômicos não foram capazes de lançar um lampejo de terapias preventivas, de modo que hoje o mundo inteiro sofre com uma crise que pegou a todos de surpresa. Evidentemente é necessário recorrer a uma outra luz, que novamente nos ilumine sobre a natureza da economia e a que ela serve.

Isso, por sua vez, requer que se ilumine, primeiro, a natureza da pessoa e o sentido ético e religioso – e não somente técnico – de seu agir. Bento XVI, numa outra colocação que também suscitou muito debate, feita durante a inauguração do Sínodo sobre a Palavra de Deus, disse que só a Palavra de Deus permanece para sempre, enquanto todas as outras riquezas passam, como mostra a crise financeira em ato. Não se tratava de retórica religiosa. A crise mostra que a economia não é capaz de reger-se por si só, sem ser sustentada por um sistema de valores de referência que a transcenda, ou seja, que não sejam valores apenas econômicos. E quando esse sistema entra em colapso, a economia, por si só, não é capaz de reconstruí-lo. A economia não se salva por si mesma, como pensaram por muito tempo os defensores da “mão invisível”. Mas não pode também ser salva também apenas pela política, como pensam os defensores de uma nova intervenção estatal. Mas voltaremos a isso mais tarde...
A crise nos interpela. Deve ser vista como uma ocasião, mas temos que nos entender bem sobre esse termo. Muitos consideram bem-vinda essa crise econômica – pois nos obrigaria a rever muitos de nossos comportamentos excessivamente voltados ao crescimento, ou seja, á produção e ao consumo, e não à sobriedade e à preservação dos recursos. Como condenam o crescimento enquanto tal, vêem na crise a derrota do modelo de crescimento e a ocasião para inverter a rota, em direção a uma redução.

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