Alexandre "eram os Deuses astronautas", tem razão: não se pode atribuir a forte queda da produção a política monetária, o que não implica, contudo, negar o seu impacto sobre a produção. Ele, contudo, não é tão forte quando cantado em verso e prosa pela turma de sempre. Não acredito ser um caso de desonestidade intelectual, mas de desconhecimento dos rudimentos da teoria econômica. Eles gostam de serem chamados de economistas, mas, aparentemente, nunca tiveram tempo e disposição para as horas b. necessarias à formação em economia. É pura pose... passear com livros sem os ler... é a Sindrome do Visconde de Sabugosa...
Há quem receba mais atenção do que merece; há quem receba menos, como é o caso do IBGE. De fato, além de acelerar a divulgação da produção industrial, o IBGE tem trazido novas aberturas que auxiliam o trabalho de análise econômica. Dessas, uma em particular mostra o comportamento de setores industriais de acordo com sua intensidade exportadora, isto é, aqueles que tipicamente superam de forma significativa o coeficiente médio de participação das exportações no produto (20,8%) e os que costumam exportar uma fração menor de sua produção.
Ao contrário do que se imagina, os segmentos produtores de commodities são importantes tanto para o setor de alta intensidade exportadora como para o de baixa intensidade, respondendo por cerca de 65%-70% do peso no caso de seus principais produtos. Já os produtos mais sofisticados, como automóveis e aviões, representam parcela importante da produção do setor exposto ao mercado externo, enquanto outros, como celulares e computadores, apresentam peso considerável no setor com menor exposição. A divisão entre commodities e produtos diferenciados não é, pois, a mesma que existe entre alta e baixa intensidade exportadora.
Dado esse pano de fundo, convido os 17 leitores a analisar o comportamento dos dois setores a partir do início da série (ver gráfico). O primeiro fato que salta aos olhos é o avanço francamente superior do setor intensivo em exportações. Entre 2002 e o terceiro trimestre de 2008, sua produção cresceu à taxa média de 6,4% ao ano, ante 3,3% no caso dos segmentos de baixa intensidade exportadora, diferença que se mantém mesmo se escolhermos outros períodos amostrais.
Em outras palavras, apesar da conversinha sobre como a apreciação cambial -associada à forte valorização das commodities no período- estaria levando à desindustrialização do país, a realidade insiste em mostrar precisamente o oposto. Foi o setor de alta intensidade exportadora que liderou a vigorosa expansão industrial dos últimos anos e, dentro dele, o melhor desempenho veio de segmentos produtores de bens diferenciados, como automóveis, caminhões e aviões.
Obviamente, dado o cenário de forte contração do comércio internacional, que registrou queda de 40% entre o terceiro trimestre do ano passado e o começo de 2009, foi também esse setor quem mais sofreu com a crise, agravada ainda pelo colapso das importações argentinas (55% entre julho de 2008 e maio de 2009), destino de quase 20% das exportações industriais brasileiras. Tal resultado, diga-se, é congruente com o que já havíamos mostrado nesta coluna, isto é, que a queda das exportações explicava a maior parte da redução da produção industrial.
À luz desses dados, seria surpreendente a insistência de certos economistas em ignorar o contexto externo e atribuir a forte queda da produção à política monetária. Só não surpreende porque há muito se sabe que tal "análise" deriva, em partes iguais, de incrível despreparo técnico e inigualável desonestidade intelectual.
Fonte: FSP