segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Stefano Zamagni

Entrevista com Stefano Zamagni, economista italiano, co-autor de um importante livro sobre a História do Pensamento Econômico, meu ex-professor desta disciplina na Bocconi(Milão) e um dos assessores de Bento XVI na redação da encíclica Caritas in Veritate


Professor, toda encíclica procura ajudar a entender os “sinais dos tempos”. Quais são os desafios de hoje que o “Caritas in veritate” quer ajudar a responder?
Esta é uma encíclica muito inovadora, porque não se limita, a uma leitura dos “sinais dos tempos”, mas vai mais adiante: indica por onde devemos nos mover se queremos ver resolvidos os problemas que ela denuncia. “Rerum novarum” e “Centesimus annus” são encíclicas que se colcoavam em defensiva: a Igreja expressava dúvidas e dúvidas e convidava os homens de boa vontade a corrigir os erros do sistema. Mas a atual encíclica me parece mais propositiva.

O qual é, no seu modo de ver, o verdadeiro centro da encíclica?
A crítica e o convite a superar a dicotomia entre a esfera econômica e a esfera social, característica dos dois sistemas doutrinários e ideológicos que dominaram o século XX: o “liberalismo anárquico” e o socialismo. Para ambos, o econômico, rejeitado ou aceito, era uma esfera “ruim”, que se reduzia à maximização dos lucros em detrimento dos direitos do outro. Em oposição estava o social, entendido como âmbito no qual se tentava contrabalançar o que havia acontecido de doente e perverso no econômico. Daqui nasceu a idéia do “Estado do bem-estar social” (welfare state): o Estado intervém na sociedade para redistribuir os bens derivados dos erros do mercado.

E os católicos?
O papel dos católicos no plano social foi retalhado até ser visto apenas como o de mitigar as situações problemáticas. Na encíclica, o Papa diz “não” a essa posição, porque muitos elementos necessários à vida social, como solidariedade e fraternidade, devem entrar na economia e não ficar do lado de fora. É a superação da lógica dos dois momentos: primeiro se acumula a riqueza e depois se pensa como redistribuí-la. Essa lógica está errada, porque quando se começa a redistribuição já é muito tarde. Se eu, para obter aquela riqueza, atingi a dignidade das pessoas, a redistribuição sempre virá tarde demais, porque eu não posso compensar a dignidade ferida.

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