The conversation of prayers about to be said
By the child going to bed and the man on the stairs
Who climbs to his dying love in her high room,
The one not caring to whom in his sleep he will move
And the other full of tears that she will be dead,
Turns in the dark on the sound they know will arise
Into the answering skies from the green ground,
From the man on the stairs and the child by his bed.
The sound about to be said in the two prayers
For the sleep in a safe land and the love who dies
Will be the same grief flying. Whom shall they calm?
Shall the child sleep unharmed or the man be crying?
The conversation of prayers about to be said
Turns on the quick and the dead, and the man on the stair
To-night shall find no dying but alive and warm
In the fire of his care his love in the high room.
And the child not caring to whom he climbs his prayer
Shall drown in a grief as deep as his made grave,
And mark the dark eyed wave, through the eyes of sleep,
Dragging him up the stairs to one who lies dead.
sábado, 31 de julho de 2010
sexta-feira, 30 de julho de 2010
DIONÍSIO DIAS CARNEIRO (1945-2010)
Grande economista e responsável pela transformação e sucesso do depto de economia da puc-rj. Os melhores tem o pessimo habito de partirem cedo demais.
Por 30 anos Dionísio Dias Carneiro deu aulas no Departamento de Economia da PUC-Rio, que ajudou a criar.
Formou alunos que hoje fazem parte do primeiro time da economia brasileira, como Gustavo Franco, Eduardo Loyo e Ilan Goldfajn.
Nas palavras do ex-aluno e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga: "Foi um grande mentor, um brasileiro com visão pública capaz de pensar os temas mais importantes para o país".
Formado em economia pela UFRJ e considerado um dos grandes macroeconomistas do Brasil, Carneiro era conhecido por análises competentes e equilibradas.
Era sócio-diretor da Galanto Consultoria e um dos fundadores do Instituto de Estudos em Política Econômica da Casa das Garças.
O instituto é um centro de estudos formado por economistas da PUC-Rio destinado ao debate de temas da política econômica nacional e internacional.
Para Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, era um dos principais membros da geração de economistas que revolucionou o ensino de pós-graduação em economia no Brasil.
Além da PUC-Rio, foi professor também da UnB e da FGV e vice-presidente da Finep, Financiadora de Estudos e Projetos do governo federal.
Atuou como conselheiro e consultor de empresas e era membro do Conselho de Administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
Morreu ontem, aos 64, no Rio de Janeiro, após sofrer um derrame e ter descoberto um tumor no cérebro.
Era viúvo e deixa três filhos e uma neta.
Fonte: FSP
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Um velho projeto...
Nem todos estão felizes com o papel ativo do Estado na consolidação em alguns setores da economia brasileira. A Oi é o caso mais recente. Alem da questão do custo fiscal, há o aspecto político: criação de grupos econômicos simpáticos ao partido no poder que poderia vir a desempenhar papel importante no financiamento de campanhas eleitorais. Os riscos existem, mas há solução: reforço do aparato institucional e participação ativa do cidadão/contribuinte. É verdade, porém, que nem todas as intervenções do Estado são justificadas e tão pouco este tipo de política deve ser a regra a ser seguida. O projeto de construção de multinacionais brasileiras parece ser a justicativa teorica para este ativismo estatal e é um velho projeto de meados dos anos 70 e menina dos olhos do grupo de economistas cepalinos e neo-cepalinos do conhecido depto de sociologia econômica do interior e da Praia Vermelha. O candidato da Nova Direita era um dos membros do grupo, assim como o Presidente do BNDES.
Qualquer forma de intervenção do Estado deve ser guiado pelo principio do bem comum e reconhecer o simples fato que o setor privado, como mencionado em outro post, ainda é o melhor provedor de alguns bens e uma política sua amiga ainda é o melhor meio de se conseguir uma sociedade mais justa.
Qualquer forma de intervenção do Estado deve ser guiado pelo principio do bem comum e reconhecer o simples fato que o setor privado, como mencionado em outro post, ainda é o melhor provedor de alguns bens e uma política sua amiga ainda é o melhor meio de se conseguir uma sociedade mais justa.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Keynesianism on the right and the left
Ótimo resumo do debate entre os keynesianos americanos sobre a questão fiscal.
MARTIN WOLF had a very harshly-worded piece in the Financial Times on Monday warning of the long-term consequences of the GOP's continuing de facto embrace of supply-side economics. While we don't often hear explicit arguments anymore that we could increase revenues by cutting taxes, Mr Wolf thinks the inherited belief in supply-side economics is at the root of the GOP's current fiscal policy trilemma: the belief that large budget deficits are ruinous; a continued eagerness to cut taxes; and an utter lack of interest in spending cuts on the scale that would be required to make a noticeable dent in the deficit. To illustrate, he cites a recent pronouncement by Jon Kyl, the senator from Arizona, that while spending hikes need to be paid for, tax cuts don't:
You do need to offset the cost of increased spending, and that's what Republicans object to. But you should never have to offset cost of a deliberate decision to reduce tax rates on Americans.
Mr Wolf thinks the Republicans' "de facto Keynesianism" puts the Democrats at a historic disadvantage, as it's almost impossible to run against a party that constantly promises everyone a free lunch and blames the other guys when the check arrives. He thinks the situation could become disastrous if a Republican win leads to long-term policies so fiscally irresponsible as to flirt with the possibility of a federal default.
Bruce Bartlett, whom we interviewed over the weekend, agrees with Mr Wolf's prognosis, and adopts a tone that is if anything more dire. Andrew Sullivan agrees as well. Derek Thompson holds out the hope that over the long term, the GOP will produce more leaders like George H.W. Bush, who saw the need to raise taxes in 1990 (and paid the, shall we say, penultimate price in 1992). Paul Krugman wishes he could disagree with Mr Wolf, but can't.
What I find really interesting here arises in a quick reference Mr Krugman makes to a discussion he had last week with Jamie Galbraith. Mr Galbraith is one of a few economists who hold the view that deficits don't matter, from the left. (Or, to be fair, that they can matter, but only in circumstances so different from those of the contemporary American economy as to be irrelevant.) In a comment responding to Mr Krugman, Mr Galbraith writes:
In the actual world we live in, government does not have to “persuade the private sector to release real resources.” In the actual world, the private sector has already released those resources by the tens of millions of people.
All the government has to do, in the actual world, is mobilize those resources, which it does by issuing checks, preferably to pay people to do useful things.
There is no reason why this should be considered “costly.” Done correctly, in economic terms it amounts simply to the reduction of the waste that is associated with unemployment.
Mr Krugman thinks Mr Galbraith is wrong because, while the Fed can issue money today without risk of inflation because we're in a liquidity trap, the extra money issued will ultimately start to fuel inflation once the economy recovers, and that could prompt some nasty after-effects. But what interests me is that this is a way of thinking about money that not just the vast majority of Republicans, but the vast majority of citizens find completely incomprehensible. Most people have a naive view of money based on the model of the household budget. They're not used to thinking about money as an artificial token of exchange backed by the totality of productive capacity in the economy, whose purpose is to allow people to incentivise others to do useful things for them, such that if an accounting imbalance makes it difficult to pay people to do the useful things they're capable of doing, one way to get them working again might be simply to create more money. I obviously can't describe this view of the economy as well as Paul Krugman or Jamie Galbraith can, so you should read them on this question, not me. But I'm struck by the immense gap in vocabulary between the discussion Mr Krugman and Mr Galbraith are having, and the discussions going on in our political sphere. It's not just that Messrs Galbraith and Krugman believe in fiscal stimulus, while Republicans don't. It's that the two don't seem to agree on the definition of the word "money".
Fonte: The Economist
terça-feira, 27 de julho de 2010
Economia social de mercado
Ser de esquerda não implica apoiar a "hacienda" da familia castro, as bobagens do napoleão do outro lado do equador e tão pouco ser contra a economia de mercado. Ela ainda é o melhor sistema para criar riqueza, mas pessimo quanto se trata de distrubui-la, isto não decorre, contudo, de uma lógica inerente ao sistema, como afirma o marxismo talebã, mas de questões que extrapolam a esfera econômica strictu sensu. É perfeitamente possível uma vibrante economia de mercado com justiça social. Alias a melhor defesa da economia de mercado e da propriedade privada é o respeito a sua função social. Algo tão simples, mas que está longe de ser a regra no grande bananão e no resto da america latina. A saída à direita defendida pelo candidato da Nova Direita, não é uma solução ao problema, mas uma proposta de manutenção do sistema de injustiça social e privilégios que tanto nos envergonham.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Direita, volver
É no minino curioso o artigo da Fernanda Torres na edição de domingo do jornal da Ditabranda: a disputa seria entre a esquerda USP e esquerda ABC? Como interpretar esta leitura? Para a talentosa atriz não haveria nenhum candidato de centro-direita, apenas de Centro-Esquerda? Será que ela esqueceu que isto é uma impossibilidade lógica? Infelizmente ela não é a única com esta leitura criativa da realidade. As viuvas/viuvos do candidato da Nova Direita em um exercício fantástico de auto-engano insistem na mesma tecla: ele é de esquerda, ainda que a coalizão possa ser de centro. Naturalmente de centro-esquerda. Como isto seria possível com a participação de luminares da ditatura somente o marxismo da ex- turma do ouro de moscou pode explicar. Ah!, para os jovens e aqueles de memória seletiva, estou falando do PCB a escola de quadros da Nova Direita e dos corruptos infiltrados no PT. Sim, eu sei que toda generalização é perigosa e que há de fato gente boa que pertenceu a este partido. Conheço alguns, mas coincidência ou não, a descrição acima está longe de ser injusta.
Ah! e o Maluf, já posso ouvir o contra-argumento. Direita é claro, mas figura menor na coalizão e dificilmente pode ser comparado com o Dem, que ficou com o vice.
Ah! e o Maluf, já posso ouvir o contra-argumento. Direita é claro, mas figura menor na coalizão e dificilmente pode ser comparado com o Dem, que ficou com o vice.
domingo, 25 de julho de 2010
sábado, 24 de julho de 2010
Dream Song 76: Henry's Confession, John Berryman
Nothin very bad happen to me lately.
How you explain that? —I explain that, Mr Bones,
terms o' your bafflin odd sobriety.
Sober as man can get, no girls, no telephones,
what could happen bad to Mr Bones?
—If life is a handkerchief sandwich,
in a modesty of death I join my father
who dared so long agone leave me.
A bullet on a concrete stoop
close by a smothering southern sea
spreadeagled on an island, by my knee.
—You is from hunger, Mr Bones,
I offers you this handkerchief, now set
your left foot by my right foot,
shoulder to shoulder, all that jazz,
arm in arm, by the beautiful sea,
hum a little, Mr Bones.
—I saw nobody coming, so I went instead.
How you explain that? —I explain that, Mr Bones,
terms o' your bafflin odd sobriety.
Sober as man can get, no girls, no telephones,
what could happen bad to Mr Bones?
—If life is a handkerchief sandwich,
in a modesty of death I join my father
who dared so long agone leave me.
A bullet on a concrete stoop
close by a smothering southern sea
spreadeagled on an island, by my knee.
—You is from hunger, Mr Bones,
I offers you this handkerchief, now set
your left foot by my right foot,
shoulder to shoulder, all that jazz,
arm in arm, by the beautiful sea,
hum a little, Mr Bones.
—I saw nobody coming, so I went instead.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Caiu a mascara...
Supra sumo do supra sumo segundo seus seguidores o candidato da Nova Direita, finalmente, perdeu sua mascara - ou seria fantasia - e deixa uma legião de viuvas/viuvos lamentando pelos corredores das universidades do grande bananão a perda do idolo de pano. Messianismo em política é sempre um perigo, mas a lição básica nunca se aprende e o resultado, inevitável, é a busca pelo salvador da pátria. Triste sina dos tristes trópicos.
Ser de direita ou não, eis a questão, observa um velho amigo entristecido, mas resignado com o comportamento do seu candidato. O fato, já mencionado neste post, é que no mercado eleitoral o segmento de centro-esquerda já está ocupado e resta somente o de centro direita. Logo posicionar-se à direita da candidata da atual administração não é uma escolha, mas uma necessidade ditada pela lógica do mercado eleitoral. Alias, esta mesma lógica demonstra ser um grande equivoco mover-se para o extremo, ou moldar o discurso para agradar este eleitorado que, por definição, dificilmente votaria no candidato de centro-esquerda. Extremos não ganham eleições, muito pelo contrário... esta é mais uma lição que a soberba do candidato da Nova Direita o impede de ver. Lamentável, já que uma direita moderna, democrática faz muito falta no mercado eleitoral brasileiro. Este é o papel histórico do PSDB, mas o atual candidato não é, seguramente, o mais adequado para cumprir este papel e esta fadado a desaparecer no lixo da história. Se vitorioso, ai de mim, será o mais forte líder desta Nova Direita.
Ser de direita ou não, eis a questão, observa um velho amigo entristecido, mas resignado com o comportamento do seu candidato. O fato, já mencionado neste post, é que no mercado eleitoral o segmento de centro-esquerda já está ocupado e resta somente o de centro direita. Logo posicionar-se à direita da candidata da atual administração não é uma escolha, mas uma necessidade ditada pela lógica do mercado eleitoral. Alias, esta mesma lógica demonstra ser um grande equivoco mover-se para o extremo, ou moldar o discurso para agradar este eleitorado que, por definição, dificilmente votaria no candidato de centro-esquerda. Extremos não ganham eleições, muito pelo contrário... esta é mais uma lição que a soberba do candidato da Nova Direita o impede de ver. Lamentável, já que uma direita moderna, democrática faz muito falta no mercado eleitoral brasileiro. Este é o papel histórico do PSDB, mas o atual candidato não é, seguramente, o mais adequado para cumprir este papel e esta fadado a desaparecer no lixo da história. Se vitorioso, ai de mim, será o mais forte líder desta Nova Direita.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Ainda a questão fiscal....
Ótimo artigo do Martin Wolf do TF sobre a delicada questão fiscal. Ele apresenta os argumentos dos dois lados do debate.
Uma "década perdida" à la Japão ameaça o mundo desenvolvido. Isso é provável se todos fizerem um ajuste fiscal ao mesmo tempo.
Ajustar ou não ajustar - eis a questão. E é uma questão para a qual as autoridades de política econômica começaram a alterar suas respostas. Elas estão certas em fazê-lo? Esse é o assunto em questão nesta semana em artigos no "Financial Times", ecoando os ferozes debates dos anos 30. Se os argumentos a favor do ajuste fiscal estiverem corretos, deixar de promovê-lo traria choques financeiros e fiscais em alguns dos países mais importantes do mundo. Se os argumentos a favor do aperto forem falsos, a decisão de promovê-lo coloca em risco a recuperação econômica e pode desencadear mais choques financeiros.
Qual a posição das autoridades? A declaração divulgada após a reunião de cúpula do G-20 asseverou: "Há o risco de que ajustes fiscais sincronizados em várias economias importantes possam impactar adversamente a recuperação. Também há o risco de que falhar em adotar a consolidação (fiscal) onde for necessário corroa a confiança e obstrua o crescimento. Refletindo esse equilíbrio, as economias avançadas se comprometeram a planos fiscais que reduzirão os déficits pelo menos em 50% até 2013 e estabilizarão ou reduzirão as proporções entre dívidas e Produto Interno Bruto até 2016".
A linguagem é notavelmente mais cautelosa que a do encontro de cúpula de Pittsburgh, em setembro de 2009, onde ousadamente declarou-se: "Nos comprometemos hoje a sustentar nossa forte resposta de política econômica até que se assegure uma recuperação durável. Agiremos para assegurar que quando o crescimento voltar, o mesmo ocorra com os empregos. Evitaremos qualquer retirada prematura dos estímulos. Ao mesmo tempo, prepararemos nossas estratégias de saída e, quando o momento for oportuno, retiraremos nosso apoio de políticas extraordinárias de apoio de uma forma cooperativa e coordenada, mantendo nosso compromisso com a responsabilidade fiscal".
O que foi que mudou, então?
A primeira resposta é que a economia mundial se recupera com mais força do que se imaginava. Em abril de 2009, época da reunião de cúpula do G-20 em Londres, a previsão consensual era de crescimento econômico mundial de 1,9% em 2010. Em setembro passado, a taxa de expansão havia chegado a 2,6%. Em junho deste ano, a 3,5%. Nos EUA, o consenso das previsões para este ano era de 1,8%, em abril de 2009; 2,4%, em setembro passado; e 3,3%, em junho deste ano. Até para a região do euro, as previsões subiram um pouco, de 0,3%, em abril de 2009; para 1%, em setembro passado; e 1,1%, em junho de 2010.
A segunda resposta está na crise fiscal grega e de outros países periféricos da região do euro, reforçada pela eleição da coalizão de governo do Reino Unido. A fuga dos investimentos de risco foi drástica: em maio, o rendimento dos bônus governamentais gregos de dez anos chegou a um pico superior a 12%. Isso levou a um pacote de resgate do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de outros países da região do euro, assim como à formação de uma nova linha de crédito de estabilização conjunta do FMI e da região do euro, de € 750 bilhões.
Os "cortadores" argumentam que déficits fiscais imensos desse tipo - nunca vistos antes em tempos de paz em grandes países desenvolvidos, mais notavelmente nos EUA - ameaçam a credibilidade fiscal de longo prazo, além de deprimir os gastos e a confiança privada. Embora agregar estímulos fiscais aos estabilizadores inerentes do sistema fazia sentido durante o pânico em 2008 e início de 2009, chegou o momento de uma rápida consolidação fiscal. De outra forma, nos aproximamos de uma disparada nos custos dos empréstimos, o que teria resultados desastrosos. A perda permanente de produção e receita deixada pela crise, somada ao envelhecimento das populações, torna inevitável e premente agir.
Os "postergadores" concordam que deve haver uma desaceleração decisiva do crescimento nos gastos de longo prazo. Enfatizam, no entanto, a fragilidade da recuperação e, em particular, os imensos superávits financeiros do setor privado. Essa frugalidade privada provocou os déficits fiscais, insistem, e não o contrário. A sequência de eventos torna isso evidente.
Além disso, acrescentam os postergadores, vivenciamos uma ampla fuga em direção à segurança: para os que têm mais pânico, não há alternativa a não ser os bônus de governos com altas classificações de crédito, particularmente o dos EUA, emissor da moeda mundial de segurança. Desde a crise da região do euro, esse papel do país fortaleceu-se. Além disso, as taxas de juros de longo prazo dos principais países estão em baixa, não em alta: nos EUA, as taxas dos títulos de dez anos do Tesouro estão em 3%. Onde está, então, a ameaça à confiança?
Os postergadores, ademais, poderiam acrescentar que, com taxas de juros próximas a zero, a política monetária é ineficiente, a não ser na medida em que sustenta o afrouxamento fiscal. Por sorte, os países com bancos centrais próprios podem financiar diretamente déficits fiscais. Isso não vale para os países da região do euro, que estão, na prática, operando com uma moeda estrangeira. Enquanto o excesso de capacidade continuar tão grande e os empréstimos bancários normais tão enfraquecidos, tal dependência em relação à "gráfica" do banco central não cria perigos inflacionários. Ao contrário, o perigo maior é que um aperto fiscal prematuro possa desencadear uma desaceleração econômica acentuada, como no Japão na década de 90, arremessando dessa forma economias importantes em uma deflação.
A interação de alto endividamento e deflação poderia, argumentam, criar uma espiral descendente. Uma "década perdida" à japonesa ameaça o mundo desenvolvido. Isso é particularmente provável se todos promoverem um ajuste fiscal ao mesmo tempo. Na verdade, precisa-se de mais afrouxamento: no primeiro trimestre de 2010, o PIB de todos os membros do grupo das sete principais economias ainda estava abaixo de seus níveis pré-crise.
Os leitores podem decidir-se sobre os méritos dos argumentos nesta semana. Minha forma de ver está fortemente ao lado dos postergadores. Em um ponto, entretanto, todos concordam: o debate é importante. Não podemos ter certeza sobre quem está certo. Mas podemos estar certos de que, se os responsáveis por formular as políticas agirem de forma errada, os resultados podem muito bem ser desastrosos. Os médicos precisam preparar-se para reagir com rapidez a reações adversas ao tipo de tratamento escolhido
terça-feira, 20 de julho de 2010
Dez princípios conservadores, Russell Kirk
Texto clássico do Russel Kirk, grande pensador conservador americano. Leitura obrigatória no momento em que a velha e a nova direita mostram suas garras e a midia, como sempre, as coloca como sinonimo de conservador. Como diria meu pai, nem tudo que reluz é ouro.
Não sendo nem uma religião nem uma ideologia, o conjunto de opiniões designado por conservadorismo, não possui nenhuma “escritura sagrada” e nenhum “O Capital” para fornecer um dogma. Por mais que se possa estabelecer em que os conservadores acreditam, os princípios primordiais do convencimento conservador foram derivados a partir do que escritores renomados e homens públicos conservadores professaram durante os dois séculos passados. Após algumas observações introdutórias neste tema geral, eu listarei dez destes princípios conservadores.
Talvez seja mais apropriado, na maior parte das vezes, usarmos a palavra “conservador” como um adjetivo. Isto porque não existe nenhum “Modelo Conservador”, e o conservadorismo é a negação da ideologia: é um estado da mente, um tipo de caráter, uma maneira de olhar a ordem social civil.
A atitude que nós chamamos de “conservadorismo” é mantida por um conjunto de sentimentos ao invés de um sistema de dogmas ideológico. É quase completamente verdadeiro que um conservador pode ser definido como uma pessoa que se pensa como tal. O movimento ou o conjunto de opiniões conservadoras pode acomodar uma diversidade considerável de pontos de vista em muitos temas, não havendo nenhum “Test Act” ou “Thirty-Nine Articles” do credo conservador.
Em essência, o conservador é simplesmente alguém que considera as coisas permanentes mais agradáveis do que o “Chaos” e a “Old Night”. (Contudo os conservadores sabem, com Burke, que saudáveis “mudanças são os meios de nossa preservação.”) Uma experiência de continuidade histórica das pessoas, diz o conservador, oferece uma guia para a política muito melhor do que os projetos abstratos de filósofos de botequim. Mas naturalmente há mais a motivar o conservador do que esta atitude geral.
Não é possível redigir um catálogo completo das convicções conservadoras; não obstante, eu ofereço-lhe, resumidamente, dez princípios gerais. Parece seguro dizer que a maioria dos conservadores subscreveria a maior parte destas máximas. Em várias edições de meu livro The Conservative Mind, eu listei determinados cânones do pensamento conservador — a lista difere um tanto de edição em edição; na minha antologia The Portable Conservative Reader eu ofereço variações sobre este tema. Agora eu lhes apresento um sumário das suposições conservadoras que diferem um tanto de meus cânones destes dois livros. Específicamente, a diversidade de maneiras em que as visões conservadoras podem encontrar expressão é por si só uma prova de que o conservadorismo não é nenhuma ideologia fixa. Que princípios particulares os conservadores enfatizam em uma época específica, variarão com as circunstâncias e as necessidades dessa era. Os seguintes dez artigos de crença refletem as ênfases dos conservadores na América de hoje em dia.
Primeiramente, o conservador acredita que existe uma ordem moral duradoura. Que a ordem está feita para o homem, e o homem é feito para ela: a natureza humana é uma constante, e as verdades morais são permanentes.
A palavra ordem significa harmonia. Há dois aspectos ou tipos de ordem: a ordem interna da alma, e a ordem exterior da comunidade. Há vinte e cinco séculos, Platão ensinou esta doutrina, mas mesmo os letrados de hoje em dia encontram dificuldades em compreender. O problema da ordem tem sido uma preocupação central dos conservadores desde que o termo conservador passou a fazer parte da política.
Nosso mundo do século vinte experimentou as conseqüências hediondas do colapso da crença em uma ordem moral. Como as atrocidades e os desastres da Grécia no quinto século antes de Cristo, a ruína de grandes nações em nosso século mostra-nos o poço em que caem as sociedades que se enredam em ardilosos interesses próprios, ou engenhosos controles sociais, como alternativas mais palatáveis a uma antiquada ordem moral.
Foi dito pelos intelectuais de esquerda (“liberals”) que o conservador acredita, com o coração, que todas as questões sociais são questões da moralidade privada. Compreendida corretamente, esta indicação é bastante verdadeira. Uma sociedade em que os homens e as mulheres são governados pela opinião em uma ordem moral perene, por um sentido forte de certo e errado, por convicções pessoais sobre a justiça e a honra, será uma boa sociedade — não importa a maquinaria política que utilize; quando uma sociedade em que os homens e as mulheres estão moralmente a deriva, ignorantes das normas, e movidos primariamente pela satisfação dos apetites, será uma má sociedade — não importando quantas pessoas votem ou quão liberal seja sua constituição.
Segundo, o conservador adere ao costume, à convenção, e à continuidade. São os princípios antigos que permitem que as pessoas vivam juntas pacificamente. Os demolidores dos costumes destroem mais do que sabem ou desejam. É através da convenção, palavra tão abusada nos nossos tempos, que conseguimos evitar disputas perpétuas sobre direitos e deveres: as leis, em sua essência, são um conjunto de convenções. Continuidade é o agregado dos meios de se ligar uma geração à outra, e ela importa tanto para a sociedade quanto para o indivíduo. Sem ela, a vida é sem sentido. Quando revolucionários bem sucedidos apagaram velhos costumes, ridicularizaram antigas convenções e quebraram a continuidade das instituições sociais, neste mesmo instante descobriram a necessidade de repô-los por novos, mas este processo é lento e penoso, e a nova ordem social que eventualmente emerge nestas circunstâncias pode ser muito inferior à velha ordem que os radicais superaram em sua ardorosa busca pelo “Paraíso Terreno”.
Conservadores são campeões dos costumes, convenção e continuidade, porque eles preferem o diabo que conhecem do que áquele que não. Ordem, justiça e liberdade, eles acreditam, são produtos artificiais de uma longa experiência social, o resultado de séculos de tentativas, reflexão e sacrifício. Desta forma, o corpo social é um tipo de corporação espiritual, comparável à Igreja, podendo mesmo ser chamada de comunidade de almas. A sociedade humana não é nenhuma máquina para ser tratada mecanicamente. A continuidade, o sangue da vida de uma sociedade, não pode ser interrompida. O lembrete de Burke sobre a necessidade de mudanças prudentes está nas mentes dos conservadores. Mas a mudança necessária, argumentam os conservadores, deve ser gradual e discriminatória, nunca removendo antigos interesses de uma vez.
Para ler o texto completo clique aqui
Não sendo nem uma religião nem uma ideologia, o conjunto de opiniões designado por conservadorismo, não possui nenhuma “escritura sagrada” e nenhum “O Capital” para fornecer um dogma. Por mais que se possa estabelecer em que os conservadores acreditam, os princípios primordiais do convencimento conservador foram derivados a partir do que escritores renomados e homens públicos conservadores professaram durante os dois séculos passados. Após algumas observações introdutórias neste tema geral, eu listarei dez destes princípios conservadores.
Talvez seja mais apropriado, na maior parte das vezes, usarmos a palavra “conservador” como um adjetivo. Isto porque não existe nenhum “Modelo Conservador”, e o conservadorismo é a negação da ideologia: é um estado da mente, um tipo de caráter, uma maneira de olhar a ordem social civil.
A atitude que nós chamamos de “conservadorismo” é mantida por um conjunto de sentimentos ao invés de um sistema de dogmas ideológico. É quase completamente verdadeiro que um conservador pode ser definido como uma pessoa que se pensa como tal. O movimento ou o conjunto de opiniões conservadoras pode acomodar uma diversidade considerável de pontos de vista em muitos temas, não havendo nenhum “Test Act” ou “Thirty-Nine Articles” do credo conservador.
Em essência, o conservador é simplesmente alguém que considera as coisas permanentes mais agradáveis do que o “Chaos” e a “Old Night”. (Contudo os conservadores sabem, com Burke, que saudáveis “mudanças são os meios de nossa preservação.”) Uma experiência de continuidade histórica das pessoas, diz o conservador, oferece uma guia para a política muito melhor do que os projetos abstratos de filósofos de botequim. Mas naturalmente há mais a motivar o conservador do que esta atitude geral.
Não é possível redigir um catálogo completo das convicções conservadoras; não obstante, eu ofereço-lhe, resumidamente, dez princípios gerais. Parece seguro dizer que a maioria dos conservadores subscreveria a maior parte destas máximas. Em várias edições de meu livro The Conservative Mind, eu listei determinados cânones do pensamento conservador — a lista difere um tanto de edição em edição; na minha antologia The Portable Conservative Reader eu ofereço variações sobre este tema. Agora eu lhes apresento um sumário das suposições conservadoras que diferem um tanto de meus cânones destes dois livros. Específicamente, a diversidade de maneiras em que as visões conservadoras podem encontrar expressão é por si só uma prova de que o conservadorismo não é nenhuma ideologia fixa. Que princípios particulares os conservadores enfatizam em uma época específica, variarão com as circunstâncias e as necessidades dessa era. Os seguintes dez artigos de crença refletem as ênfases dos conservadores na América de hoje em dia.
Primeiramente, o conservador acredita que existe uma ordem moral duradoura. Que a ordem está feita para o homem, e o homem é feito para ela: a natureza humana é uma constante, e as verdades morais são permanentes.
A palavra ordem significa harmonia. Há dois aspectos ou tipos de ordem: a ordem interna da alma, e a ordem exterior da comunidade. Há vinte e cinco séculos, Platão ensinou esta doutrina, mas mesmo os letrados de hoje em dia encontram dificuldades em compreender. O problema da ordem tem sido uma preocupação central dos conservadores desde que o termo conservador passou a fazer parte da política.
Nosso mundo do século vinte experimentou as conseqüências hediondas do colapso da crença em uma ordem moral. Como as atrocidades e os desastres da Grécia no quinto século antes de Cristo, a ruína de grandes nações em nosso século mostra-nos o poço em que caem as sociedades que se enredam em ardilosos interesses próprios, ou engenhosos controles sociais, como alternativas mais palatáveis a uma antiquada ordem moral.
Foi dito pelos intelectuais de esquerda (“liberals”) que o conservador acredita, com o coração, que todas as questões sociais são questões da moralidade privada. Compreendida corretamente, esta indicação é bastante verdadeira. Uma sociedade em que os homens e as mulheres são governados pela opinião em uma ordem moral perene, por um sentido forte de certo e errado, por convicções pessoais sobre a justiça e a honra, será uma boa sociedade — não importa a maquinaria política que utilize; quando uma sociedade em que os homens e as mulheres estão moralmente a deriva, ignorantes das normas, e movidos primariamente pela satisfação dos apetites, será uma má sociedade — não importando quantas pessoas votem ou quão liberal seja sua constituição.
Segundo, o conservador adere ao costume, à convenção, e à continuidade. São os princípios antigos que permitem que as pessoas vivam juntas pacificamente. Os demolidores dos costumes destroem mais do que sabem ou desejam. É através da convenção, palavra tão abusada nos nossos tempos, que conseguimos evitar disputas perpétuas sobre direitos e deveres: as leis, em sua essência, são um conjunto de convenções. Continuidade é o agregado dos meios de se ligar uma geração à outra, e ela importa tanto para a sociedade quanto para o indivíduo. Sem ela, a vida é sem sentido. Quando revolucionários bem sucedidos apagaram velhos costumes, ridicularizaram antigas convenções e quebraram a continuidade das instituições sociais, neste mesmo instante descobriram a necessidade de repô-los por novos, mas este processo é lento e penoso, e a nova ordem social que eventualmente emerge nestas circunstâncias pode ser muito inferior à velha ordem que os radicais superaram em sua ardorosa busca pelo “Paraíso Terreno”.
Conservadores são campeões dos costumes, convenção e continuidade, porque eles preferem o diabo que conhecem do que áquele que não. Ordem, justiça e liberdade, eles acreditam, são produtos artificiais de uma longa experiência social, o resultado de séculos de tentativas, reflexão e sacrifício. Desta forma, o corpo social é um tipo de corporação espiritual, comparável à Igreja, podendo mesmo ser chamada de comunidade de almas. A sociedade humana não é nenhuma máquina para ser tratada mecanicamente. A continuidade, o sangue da vida de uma sociedade, não pode ser interrompida. O lembrete de Burke sobre a necessidade de mudanças prudentes está nas mentes dos conservadores. Mas a mudança necessária, argumentam os conservadores, deve ser gradual e discriminatória, nunca removendo antigos interesses de uma vez.
Para ler o texto completo clique aqui
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Vergonha
Lamentável o comportamento do Vice do candidato da Nova Direita. Ele comporta-se como aquele famoso ex. de triste memória e é mais um exemplo da falta de seriedade e compromisso com o futuro do país do núcleo duro da velha direita e daquele que resolveu destruir o pouco que ainda lhe resta da reputação e respeito devido ao seu passado. Onde ele estava com a cabeça quando resolver escolher uma figura menor e insignificante para um cargo tão importante? Será que ele se considera eterno? Na hipótese - cade vez menos provável - de vitória o país correria o risco, no caso de uma tragédia, de ser governado por alguem sem as qualificações necessárias para ocupar o cargo de Presidente da Republica.
O silêncio em relação aos comentários é vergonhoso.
O silêncio em relação aos comentários é vergonhoso.
domingo, 18 de julho de 2010
sábado, 17 de julho de 2010
The fish, Marianne Moore
wade
through black jade.
Of the crow-blue mussel-shells, one keeps
adjusting the ash-heaps;
opening and shutting itself like
an
injured fan.
The barnacles which encrust the side
of the wave, cannot hide
there for the submerged shafts of the
sun,
split like spun
glass, move themselves with spotlight swiftness
into the crevices—
in and out, illuminating
the
turquoise sea
of bodies. The water drives a wedge
of iron through the iron edge
of the cliff; whereupon the stars,
pink
rice-grains, ink-
bespattered jelly fish, crabs like green
lilies, and submarine
toadstools, slide each on the other.
All
external
marks of abuse are present on this
defiant edifice—
all the physical features of
ac-
cident—lack
of cornice, dynamite grooves, burns, and
hatchet strokes, these things stand
out on it; the chasm-side is
dead.
Repeated
evidence has proved that it can live
on what can not revive
its youth. The sea grows old in it.
through black jade.
Of the crow-blue mussel-shells, one keeps
adjusting the ash-heaps;
opening and shutting itself like
an
injured fan.
The barnacles which encrust the side
of the wave, cannot hide
there for the submerged shafts of the
sun,
split like spun
glass, move themselves with spotlight swiftness
into the crevices—
in and out, illuminating
the
turquoise sea
of bodies. The water drives a wedge
of iron through the iron edge
of the cliff; whereupon the stars,
pink
rice-grains, ink-
bespattered jelly fish, crabs like green
lilies, and submarine
toadstools, slide each on the other.
All
external
marks of abuse are present on this
defiant edifice—
all the physical features of
ac-
cident—lack
of cornice, dynamite grooves, burns, and
hatchet strokes, these things stand
out on it; the chasm-side is
dead.
Repeated
evidence has proved that it can live
on what can not revive
its youth. The sea grows old in it.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
À direita da velha direita
Como já haviamos adiantado, o candidato da Nova Direita cada vez mais adota um discurso tipicamente de direita, como é o caso da expressão "Republica Sindicalista", usada no passado pelo grande lider da direita brasileira( e ex-lider da juventude comunista) Lacerda e, na eleição presidencial de 1989, pelo Edmar Bacha. Para aqueles de memória curta ou seletiva, em entrevista ao JT, o famoso economista alertava para o risco de uma República Sindicalista" no caso da vitoria do Lula. A velha e a nova direita nunca foram conhecidas pela criatividade.
Este posicionamento do candidato à Presidente da República da Nova Direita era totalmente previsível, já que o único espaço não ocupado no mercado eleitoral é justamente o da direita. Dado o seu passado na esquerda( católica) ele seguramente não é um quadro histórico da direita brasileira, mas uma espécie de "cristão novo" o que o leva a ser mais realista que o rei: assumir posições à direita dos quadros históricos da direita brasileira. Ironias da vida no grande bananão.
No caso de derrota, ele dificilmente será o grande lider da Nova Direita, mas seu partido, deverá ser o ponto de partida para construção de um partido de direita competitivo. Será que sua ala esquerda finalmente vai assumir ou mudar de partido? E os economistas do Bixiga?
Estou curioso para conhecer a reação do marxismo talebã do conhecido aparelho que tanto o admira.
Este posicionamento do candidato à Presidente da República da Nova Direita era totalmente previsível, já que o único espaço não ocupado no mercado eleitoral é justamente o da direita. Dado o seu passado na esquerda( católica) ele seguramente não é um quadro histórico da direita brasileira, mas uma espécie de "cristão novo" o que o leva a ser mais realista que o rei: assumir posições à direita dos quadros históricos da direita brasileira. Ironias da vida no grande bananão.
No caso de derrota, ele dificilmente será o grande lider da Nova Direita, mas seu partido, deverá ser o ponto de partida para construção de um partido de direita competitivo. Será que sua ala esquerda finalmente vai assumir ou mudar de partido? E os economistas do Bixiga?
Estou curioso para conhecer a reação do marxismo talebã do conhecido aparelho que tanto o admira.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Desindustrialização
O Valor publicou na edição desta quinta-feira uma longa reportagem sobre a desindustrialização. É um debate interessante e a matéria do jornal é uma boa introdução . Meu amigo Marconi- mencionado na reportagem - esta entre aqueles que defendem a tese da desindustrialização. Os argumentos dele são interessantes, mas ainda não me convenceram. Concordo com os argumentos apresentados pelo Bonelli e, principalmente, Antonio Barros de Castro. Sinto, no entanto, a falta de argumentos teóricos mais robustos e uma certa adesão a uma visão limitada do processo histórico em marcha. Esta na hora de reler o classico do Castro, "O capitalismo ainda é aquele" e os trabalhos do Pasinetti.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
terça-feira, 13 de julho de 2010
O fantasma da confiança do mercado
Ótimo artigo do Dani Rodrik sobre a zona do Euro publicado no valor desta terça feira. Outro artigo que vale a pena ser lido é o do Nakano. Alias, recomendo ler os dois e compara-los. O do Rodrik é muito melhor. Nakano continua equivocado em relação a política econômica a ser seguida em países como Espanha, por ex.
Mesmo em retrospecto, algumas vezes não fica claro porque os mercados se movem numa direção e não em outra
Um espectro assombra a Europa - o espectro da "confiança do mercado".
Pode ter sido o medo do comunismo o que agitou governos quando Karl Marx escreveu as linhas de abertura do seu famoso manifesto em 1848, mas hoje é o pavor de que o sentimento do mercado se volte contra eles e eleve os spreads sobre os bônus dos seus governos. Dirigentes em todas as partes estão sendo obrigados a adotar uma política de retração fiscal prematura, ainda que a taxa de desemprego continue elevada e a demanda privada demonstre poucos sinais de vida. Muitos são levados a adotar reformas estruturais nas quais não acreditam realmente - só porque não fazê-lo passaria uma má impressão aos mercados.
O terror movido a sentimento de mercado já foi a ruína exclusiva dos países pobres. Durante a crise da dívida latino-americana da década de 1980 ou a crise financeira asiática de 1997, por exemplo, os países em desenvolvimento pesadamente endividados acreditaram não ter muitas opções além de engolir um remédio amargo - ou enfrentar uma avalanche de saídas de capital. Agora é a vez de Espanha, França, Reino Unido e, avaliam muitos analistas, até dos Estados Unidos.
Se queremos tomar dinheiro emprestado, precisamos convencer a nossa instituição de crédito de que podemos devolver os recursos. Até aí está claro. Em tempos de crise, porém, a confiança do mercado assume vida própria. Ela se torna um conceito sublime desprovido de qualquer conteúdo econômico real. Ele se transforma naquilo que filósofos chamam "construção social" - algo que só é real porque assim acreditamos. Isso porque, se a lógica econômica fosse bem definida, os governos não precisariam justificar o que fazem com base na confiança do mercado. Ficaria evidente qual política funciona ou não, e a busca das políticas "certas" seria a forma mais segura de restaurar a confiança. A perseguição da confiança do mercado seria supérflua.
Assim sendo, se a confiança de mercado tem um significado, deve ser algo que não é determinado simplesmente pelos fundamentos econômicos. Mas o que seria isso?
No seu Manifesto Comunista, Marx afirmou que "chegou a hora de os comunistas poderem publicar, abertamente, diante de todo o mundo, suas opiniões, seus objetivos e tendências e confrontar esse conto do espectro do comunismo com um manifesto do próprio partido". Igualmente, seria interessante se os mercados esclarecessem o que eles querem dizer com "confiança", de forma a que saibamos todos com o que estamos lidando.
Certamente, é improvável que os "mercados" façam algo desse naipe. Isso não só porque os mercados são constituídos por uma profusão de investidores e especuladores que muito provavelmente jamais se reunirão para publicar um "programa do partido", mas, mais fundamentalmente, porque os próprios mercados têm pouca noção do que seja.
A capacidade e a disposição de um governo de servir a sua dívida dependem de um número quase infinito de contingências atuais e futuras. Elas dependem não só dos seus planos fiscais e de gastos, mas também do estado da economia, da conjuntura externa e do contexto político. Todas são extremamente incertas e exigem muitas premissas para chegar a algum tipo de critério sobre capacidade creditícia.
Hoje, os mercados parecem pensar que vastos déficits fiscais são a maior ameaça à solvência de um governo. Amanhã eles poderão pensar que o problema real é baixa taxa de crescimento e deplorarão as severas políticas fiscais que ajudaram a produzi-la.
Atualmente, eles se preocupam com governos brandos, incapazes de tomar as duras medidas necessárias para lidar com a crise. Talvez amanhã eles percam horas de sono com as manifestações em massa e os conflitos sociais provocados pelas duras políticas econômicas.
Poucos sabem prever em qual direção o sentimento de mercado se moverá, quanto mais os próprios participantes do mercado. Mesmo em retrospecto, algumas vezes não fica claro porque os mercados se movem numa direção e não em outra. Políticas semelhantes produzirão reações de mercado distintas, dependendo do conto predominante ou da coqueluche do momento. Isso explica por que conduzir a economia com base nos ditames da confiança de mercado é uma perda de tempo.
O raio de esperança em tudo isso é que, ao contrário dos economistas e políticos, mercados não têm ideologia. Enquanto ganharem dinheiro, não se importarão se tiverem de engolir as suas próprias palavras. Eles simplesmente querem o que quer que "funcione" - o que quer que produza um ambiente econômico vigoroso propício ao pagamento da dívida. Quando as circunstâncias se tornarem horríveis demais, eles até tolerarão a reestruturação da dívida - se a alternativa for caos e a perspectiva de prejuízo maior.
Isso abre algum espaço para os governos manobrarem. Permite que políticos seguros de si assumam o controle do seu próprio futuro. Isso os autoriza a moldar a história que dá sustentação à confiança de mercado, em vez de ficar brincando de pega-pega.
Mas para fazer bom uso desse espaço de manobra, os formuladores de política precisam articular um relato coerente, sólido e confiável do que estão fazendo, baseado tanto nos princípios econômicos como nas boas práticas políticas. Eles devem dizer: "Estamos fazendo isso não porque os mercados exigem isso, mas porque é bom para nós e pronto".
O argumento deles precisa convencer os seus eleitorados, assim como os mercados. Se lograrem êxito, poderão ir atrás dos seus próprios princípios e manter a confiança dos mercados ao mesmo tempo.
Foi nesse ponto que os europeus (junto com os seus assessores econômicos) dormiram no ponto. Em vez de enfrentarem o desafio, os líderes primeiro empurraram com a barriga e depois se renderam à pressão. Eles acabaram cultuando os pronunciamentos dos analistas de mercado. Ao fazê-lo, negaram a si mesmos políticas economicamente desejáveis que têm maior probabilidade de arregimentar apoio popular.
Se a crise atual se agravar, os líderes políticos serão aqueles que arcarão com a responsabilidade principal - não por terem ignorado os mercados, mas por os terem levado demasiado a sério.
Fonte: Valor
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Serra e o marxismo talebã
Sempre achei estranho a admiração do marxismo talebã pelo Serra. Vários já se declararam de boca cheia - como diria meu pai - serem seu eleitor. Não conseguia encontrar nenhum denominador comum: Serra não somente aparenta gostar, mas conhece economia que sabemos não ser o caso do marxismo talebã. As demissões/perseguições na tv cultura - um triste exemplo de stalinismo e macartismo ao estilo grande bananão - finalmente me ajudaram a entender as razões da grande admiração pelo Serra. Sei, por experiência própria, que assassinato de personalidade, perseguição e recusa em aceitar qualquer forma de pensamento independente é pratica corriqueira deste triste aparelho e agora descubro, com alguma surpresa, que aparentemente está também é a pratica do candidato a Presidente da Republica. Triste sina a nossa: um bom economista, cria da esquerda católica, comportando-se como a fina flor do stalinismo. O Mundo realmente está perdido.
domingo, 11 de julho de 2010
sábado, 10 de julho de 2010
Sobre a violência, Bertolt Brecht
A corrente impetuosa é chamada de violenta
Mas o leito do rio que a contem
Ninguem chama de violento.
A tempestade que faz dobrar as betulas
E tida como violenta
E a tempetasde que faz dobrar
Os dorsos dos operarios na rua?
Mas o leito do rio que a contem
Ninguem chama de violento.
A tempestade que faz dobrar as betulas
E tida como violenta
E a tempetasde que faz dobrar
Os dorsos dos operarios na rua?
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Soros e o euro
Interessante artigo do Soro sobre a crise e a zona do euro.
I believe that misconceptions play a large role in shaping history, and the euro crisis is a case in point.
Let me start my analysis with the previous crisis, the bankruptcy of Lehman Brothers. In the week following September 15, 2008, global financial markets actually broke down and by the end of the week they had to be put on artificial life support. The life support consisted of substituting sovereign credit—backed by the financial resources of the state—for the credit of financial institutions that had ceased to be acceptable to counterparties.
As Mervyn King of the Bank of England explained, the authorities had to do in the short term the exact opposite of what was needed in the long term: they had to pump in a lot of credit, to replace the credit that had disappeared, and thereby reinforce the excess credit and leverage that had caused the crisis in the first place. Only in the longer term, when the crisis had subsided, could they drain the credit and reestablish macroeconomic balance.
This required a delicate two-phase maneuver—just as when a car is skidding, first you have to turn it in the direction of the skid and only when you have regained control can you correct course. The first phase of the maneuver was successfully accomplished—a collapse has been averted. But the underlying causes have not been removed and they surfaced again when the financial markets started questioning the creditworthiness of sovereign debt. That is when the euro took center stage because of a structural weakness in its constitution. But we are dealing with a worldwide phenomenon, so the current situation is a direct consequence of the crash of 2008. The second phase of the maneuver—getting the economy on a new, better course—is running into difficulties.
The situation is eerily reminiscent of the 1930s. Doubts about sovereign credit are forcing reductions in budget deficits at a time when the banking system and the economy may not be strong enough to do without fiscal and monetary stimulus. Keynes taught us that budget deficits are essential for countercyclical policies in times of deflation, yet governments everywhere feel compelled to reduce them under pressure from the financial markets. Coming at a time when the Chinese authorities have also put on the brakes, this is liable to push the global economy into a slowdown or possibly a double dip. Europe, which weathered the first phase of the financial crisis relatively well, is now in the forefront of causing the downward pressure because of the problems connected with the common currency.
Para ler o resto do artigo clique aqui
I believe that misconceptions play a large role in shaping history, and the euro crisis is a case in point.
Let me start my analysis with the previous crisis, the bankruptcy of Lehman Brothers. In the week following September 15, 2008, global financial markets actually broke down and by the end of the week they had to be put on artificial life support. The life support consisted of substituting sovereign credit—backed by the financial resources of the state—for the credit of financial institutions that had ceased to be acceptable to counterparties.
As Mervyn King of the Bank of England explained, the authorities had to do in the short term the exact opposite of what was needed in the long term: they had to pump in a lot of credit, to replace the credit that had disappeared, and thereby reinforce the excess credit and leverage that had caused the crisis in the first place. Only in the longer term, when the crisis had subsided, could they drain the credit and reestablish macroeconomic balance.
This required a delicate two-phase maneuver—just as when a car is skidding, first you have to turn it in the direction of the skid and only when you have regained control can you correct course. The first phase of the maneuver was successfully accomplished—a collapse has been averted. But the underlying causes have not been removed and they surfaced again when the financial markets started questioning the creditworthiness of sovereign debt. That is when the euro took center stage because of a structural weakness in its constitution. But we are dealing with a worldwide phenomenon, so the current situation is a direct consequence of the crash of 2008. The second phase of the maneuver—getting the economy on a new, better course—is running into difficulties.
The situation is eerily reminiscent of the 1930s. Doubts about sovereign credit are forcing reductions in budget deficits at a time when the banking system and the economy may not be strong enough to do without fiscal and monetary stimulus. Keynes taught us that budget deficits are essential for countercyclical policies in times of deflation, yet governments everywhere feel compelled to reduce them under pressure from the financial markets. Coming at a time when the Chinese authorities have also put on the brakes, this is liable to push the global economy into a slowdown or possibly a double dip. Europe, which weathered the first phase of the financial crisis relatively well, is now in the forefront of causing the downward pressure because of the problems connected with the common currency.
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quinta-feira, 8 de julho de 2010
O velho racismo versão grande bananão
"a Copa na África do Sul coroa, por assim dizer, o claro talento dos africanos e seus descendentes para o jogo - e a presença crescente deles nas equipes vencedoras, mesmo as europeias."(Fabio Wanderley Reis, Valor, 8.07.2010). Não sei de qual Copa o famoso sociologo mineiro está falando, seguramente não é da Africa do Sul, já que os raros talentos não são africanos. Tão pouco me parece relevante a menção a origem étnica do jogador. Esta menção é muito curiosa e procura identificar africanos e descendentes com talento inato para o esporte, como se esta fosse a única habilidade dos africanos e seus descendentes. Jeito muito brasileiro de reafirmar estereotipos e preconceitos. Fico imaginando qual deve ser a reação deste grande sabio ao encontrar um africano ou seu descendente medico, engenheiro ou exercendo uma das profissionais nobres do grande bananão. Definitivamente o comentário é o velho e conhecido racismo cordial das elites do grande bananão. Realmente lamentável....
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Ainda a proposta de contração fiscal
Ótimo artigo do Martin Wolf, do FT, sobre a proposta de contração fiscal na zona do euro. Recomendo ler, também, a leitura, equivocada, apresentada pelo esforçado economista da ditadura, na sua coluna no jornal da ditabranda. É por estas e outras que realmente é difícil se auto-definir keynesiano. Marxista, obviamente, não sou...Como naquela velha canção: eu prefiro ser esta metamorfose ambulante...
Os países avançados continuam carentes de demanda. Nesse ambiente, cortes rápidos no apoio fiscal fazem sentido se a política monetária puder ser eficaz
O default fiscal é iminente, insistem as cassandras: arrependei-vos e cortai gastos antes que seja tarde demais. Mas tenho uma pergunta: será que acreditamos que os mercados são incapazes de estimar corretamente o preço das coisas, até mesmo da dívida pública nos maiores países avançados do mundo, que são os ativos mais bem compreendidos e mais líquidos no mundo? Sugiro que não. Os mercados estão dizendo algo importante.
Na segunda-feira, o rendimento dos títulos do governo do Tesouro com maturação em 10 anos estava em 1,1% no Japão, 2,6% na Alemanha, 3% nos EUA e 3,3% no Reino Unido. Com base nos rendimentos de títulos vinculados a índices, as taxas de juros reais sobre empréstimos contraídos por esses governos estão muito baixas (1,2% ou menos nos EUA, Alemanha e Reino Unido). Os investidores estão dizendo que veem o risco de depressão e deflação como maior do que o de inadimplência e inflação.
Por que deveria ser tão fácil financiar déficits fiscais tão enormes, mesmo depois de os bancos centrais terem cessado suas compras de títulos governamentais? Em resposta, apresento aqui um cálculo que pode ser deduzido dos valores das balanças em conta corrente e fiscal publicados no mais recente Panorama Econômico da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): prevê-se que o setor privado - famílias e empresas - nos países avançados, deverão registrar um excesso de rendas em relação aos gastos, neste ano, de 7% do PIB. Em números redondos, serão US$ 3 trilhões. Nos EUA e na zona euro, o excedente privado pressuposto será de aproximadamente US$ 1 trilhão, em cada caso. No Japão, são aproximadamente US$ 500 bilhões. No Reino Unido, US$ 200 bilhões.
Concentremo-nos nos US$ 3 trilhões: esse é o montante previsto para o incremento dos créditos líquidos do setor privado nos países avançados, resultantes de sua exposição a governos e a estrangeiros em 2010.
Aonde poderia ir esse dinheiro? Uma possibilidade poderia ser: para os países emergentes. Poderíamos imaginar, por exemplo, que os países avançados eliminassem seus déficits fiscais, porém mantivessem esses superávits privados. Isso significaria um superávit agregado em conta corrente de US$ 3 trilhões (ou 7% do PIB). A região da OCDE se tornaria um mega-Alemanha. Os países ricos estariam despejando capital nos mais pobres.
Na prática, porém, isso não acontecerá. Longe de incorrer num déficit em conta corrente de US$ 3 trilhões, as previsões são de que os países emergentes incorrerão em superávits: a estimativa mais recente, do Institute for International Finance (IIF), em Washington, é de um superávit agregado de aproximadamente US$ 300 bilhões, dois terços dos quais serão gerados pela China. Esse montante é menor do que dois anos antes. Mas isso ainda significa que o mundo emergente será um provedor líquido de capital para os países avançados, e não o contrário.
Isso não é tudo. Segundo o IIF, o fluxo líquido de fundos privados dos países desenvolvidos para os países emergentes ficará em torno de US$ 700 bilhões neste ano. Mas isso será quase inteiramente compensado por uma saída oficial, mobilizando reservas em moeda estrangeira, próximas de US$ 600 bilhões. Essas enormes intervenções oficiais impedem o surgimento de de grandes afluxos líquidos de capital para os países emergentes. Em vez disso, os setores privados dos países avançados acumularão créditos líquidos junto ao setor privado de países emergentes, ao passo que os governos de países emergentes, em compensação, acumularão créditos junto aos governos dos países avançados.
A conclusão é clara: não existe, atualmente, um gigantesco fluxo líquido de fundos focado em passivos dos governos dos países avançados. Naturalmente, alguns países ainda podem entrar em dificuldades. Mas é completamente errôneo afirmar que as dificuldades de uma Grécia ou de uma Espanha implicam dificuldades mais à frente para os EUA ou mesmo para o Reino Unido. O contrário é mais provável: fugir de riscos implica fugir para algo menos arriscado. Qual é o ativo menos arriscado para o investimento de gigantescos superávits financeiros privados? A única resposta é: a dívida pública dos grandes países avançados.
Esses fluxos de fundos consistem apenas de identidades. Então, quais são os fatores causais? Talvez o colapso nos gastos privados na esteira da crise financeira tenha sido causado pelo terror em face do déficit fiscal por vir. Ou talvez a lua seja feita de queijo verde. Também não há praticamente nenhum sinal de que o déficit público esteja ocupando o espaço dos mercados de capital. A hipótese plausível, então, é que os déficits fiscais foram uma reação ao colapso do desejo de gastar do setor privado impactado pela crise. A política fiscal poderia ter sido mais apertada. Mas o resultado teria sido uma depressão.
Qual é, então, o futuro? Suponha que não haja nenhuma mudança significativa de política econômico-financeira nas economias emergentes. Então, para que uma contração fiscal nos países avançados não provoque um desaquecimento, ou até mesmo uma segunda recessão, ela precisa vir acompanhada de uma escalada nos gastos privados.
O argumento tem de ser o de que maior confiança na sustentabilidade das finanças públicas no longo prazo resultaria em maior consumo privado e em gastos com investimentos agora, mesmo se não houver efeitos significativos sobre os juros ou sobre o câmbio. Sou extremamente cético em relação a esse argumento . Mas admitamos que isso seja verdadeiro. Então, a melhor política é desacelerar o crescimento de longo prazo dos gastos com foco etário. Essa conclusão fica bem clara como resultado da discussão das tendências fiscais de longo prazo no excelente novo relatório anual do Banco para Compensações Internacionais (BIS).
Os argumentos em defesa de uma enorme contração fiscal em curto prazo, porém, são frágeis. Sim, estamos desfrutando de uma recuperação. Mas as economias ainda estão muito abaixo dos níveis de pico de atividade e também abaixo de quase qualquer estimativa plausível para a tendência de longo prazo. Isso é particularmente verdadeiro nos EUA, onde as taxas de desemprego dispararam bem mais do que em outros países avançados. A menos que os EUA tenham repentinamente se convertido em Europa continental, por que deveria o desemprego de equilíbrio ter subido tanto assim?
Minha conclusão, portanto, é que os países avançados continuam extremamente carentes de demanda. Nesse ambiente, cortes rápidos no apoio fiscal faz sentido se, e somente se, a política monetária puder, ela mesma, ser eficaz e se expandir as partes da economia elásticas em relação aos juros for a melhor maneira de sair do buraco. Há razão para duvidar de ambas as ideias. Na cúpula do G-20, no Canadá, os líderes comprometeram-se a "reduzir à metade o déficit fiscal até 2013 e estabilizar ou reduzir a dívida pública como percentual do PIB até 2016". Faria muito mais sentido, para os governos, concentrarem seus esforços em alterar a trajetória dos gastos no longo prazo. Os governos podem torcer para que os cortes de gastos agora impulsionarão os gastos privados. Mas qual é o plano deles caso isso não aconteça?
Fonte: Valor
Os países avançados continuam carentes de demanda. Nesse ambiente, cortes rápidos no apoio fiscal fazem sentido se a política monetária puder ser eficaz
O default fiscal é iminente, insistem as cassandras: arrependei-vos e cortai gastos antes que seja tarde demais. Mas tenho uma pergunta: será que acreditamos que os mercados são incapazes de estimar corretamente o preço das coisas, até mesmo da dívida pública nos maiores países avançados do mundo, que são os ativos mais bem compreendidos e mais líquidos no mundo? Sugiro que não. Os mercados estão dizendo algo importante.
Na segunda-feira, o rendimento dos títulos do governo do Tesouro com maturação em 10 anos estava em 1,1% no Japão, 2,6% na Alemanha, 3% nos EUA e 3,3% no Reino Unido. Com base nos rendimentos de títulos vinculados a índices, as taxas de juros reais sobre empréstimos contraídos por esses governos estão muito baixas (1,2% ou menos nos EUA, Alemanha e Reino Unido). Os investidores estão dizendo que veem o risco de depressão e deflação como maior do que o de inadimplência e inflação.
Por que deveria ser tão fácil financiar déficits fiscais tão enormes, mesmo depois de os bancos centrais terem cessado suas compras de títulos governamentais? Em resposta, apresento aqui um cálculo que pode ser deduzido dos valores das balanças em conta corrente e fiscal publicados no mais recente Panorama Econômico da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): prevê-se que o setor privado - famílias e empresas - nos países avançados, deverão registrar um excesso de rendas em relação aos gastos, neste ano, de 7% do PIB. Em números redondos, serão US$ 3 trilhões. Nos EUA e na zona euro, o excedente privado pressuposto será de aproximadamente US$ 1 trilhão, em cada caso. No Japão, são aproximadamente US$ 500 bilhões. No Reino Unido, US$ 200 bilhões.
Concentremo-nos nos US$ 3 trilhões: esse é o montante previsto para o incremento dos créditos líquidos do setor privado nos países avançados, resultantes de sua exposição a governos e a estrangeiros em 2010.
Aonde poderia ir esse dinheiro? Uma possibilidade poderia ser: para os países emergentes. Poderíamos imaginar, por exemplo, que os países avançados eliminassem seus déficits fiscais, porém mantivessem esses superávits privados. Isso significaria um superávit agregado em conta corrente de US$ 3 trilhões (ou 7% do PIB). A região da OCDE se tornaria um mega-Alemanha. Os países ricos estariam despejando capital nos mais pobres.
Na prática, porém, isso não acontecerá. Longe de incorrer num déficit em conta corrente de US$ 3 trilhões, as previsões são de que os países emergentes incorrerão em superávits: a estimativa mais recente, do Institute for International Finance (IIF), em Washington, é de um superávit agregado de aproximadamente US$ 300 bilhões, dois terços dos quais serão gerados pela China. Esse montante é menor do que dois anos antes. Mas isso ainda significa que o mundo emergente será um provedor líquido de capital para os países avançados, e não o contrário.
Isso não é tudo. Segundo o IIF, o fluxo líquido de fundos privados dos países desenvolvidos para os países emergentes ficará em torno de US$ 700 bilhões neste ano. Mas isso será quase inteiramente compensado por uma saída oficial, mobilizando reservas em moeda estrangeira, próximas de US$ 600 bilhões. Essas enormes intervenções oficiais impedem o surgimento de de grandes afluxos líquidos de capital para os países emergentes. Em vez disso, os setores privados dos países avançados acumularão créditos líquidos junto ao setor privado de países emergentes, ao passo que os governos de países emergentes, em compensação, acumularão créditos junto aos governos dos países avançados.
A conclusão é clara: não existe, atualmente, um gigantesco fluxo líquido de fundos focado em passivos dos governos dos países avançados. Naturalmente, alguns países ainda podem entrar em dificuldades. Mas é completamente errôneo afirmar que as dificuldades de uma Grécia ou de uma Espanha implicam dificuldades mais à frente para os EUA ou mesmo para o Reino Unido. O contrário é mais provável: fugir de riscos implica fugir para algo menos arriscado. Qual é o ativo menos arriscado para o investimento de gigantescos superávits financeiros privados? A única resposta é: a dívida pública dos grandes países avançados.
Esses fluxos de fundos consistem apenas de identidades. Então, quais são os fatores causais? Talvez o colapso nos gastos privados na esteira da crise financeira tenha sido causado pelo terror em face do déficit fiscal por vir. Ou talvez a lua seja feita de queijo verde. Também não há praticamente nenhum sinal de que o déficit público esteja ocupando o espaço dos mercados de capital. A hipótese plausível, então, é que os déficits fiscais foram uma reação ao colapso do desejo de gastar do setor privado impactado pela crise. A política fiscal poderia ter sido mais apertada. Mas o resultado teria sido uma depressão.
Qual é, então, o futuro? Suponha que não haja nenhuma mudança significativa de política econômico-financeira nas economias emergentes. Então, para que uma contração fiscal nos países avançados não provoque um desaquecimento, ou até mesmo uma segunda recessão, ela precisa vir acompanhada de uma escalada nos gastos privados.
O argumento tem de ser o de que maior confiança na sustentabilidade das finanças públicas no longo prazo resultaria em maior consumo privado e em gastos com investimentos agora, mesmo se não houver efeitos significativos sobre os juros ou sobre o câmbio. Sou extremamente cético em relação a esse argumento . Mas admitamos que isso seja verdadeiro. Então, a melhor política é desacelerar o crescimento de longo prazo dos gastos com foco etário. Essa conclusão fica bem clara como resultado da discussão das tendências fiscais de longo prazo no excelente novo relatório anual do Banco para Compensações Internacionais (BIS).
Os argumentos em defesa de uma enorme contração fiscal em curto prazo, porém, são frágeis. Sim, estamos desfrutando de uma recuperação. Mas as economias ainda estão muito abaixo dos níveis de pico de atividade e também abaixo de quase qualquer estimativa plausível para a tendência de longo prazo. Isso é particularmente verdadeiro nos EUA, onde as taxas de desemprego dispararam bem mais do que em outros países avançados. A menos que os EUA tenham repentinamente se convertido em Europa continental, por que deveria o desemprego de equilíbrio ter subido tanto assim?
Minha conclusão, portanto, é que os países avançados continuam extremamente carentes de demanda. Nesse ambiente, cortes rápidos no apoio fiscal faz sentido se, e somente se, a política monetária puder, ela mesma, ser eficaz e se expandir as partes da economia elásticas em relação aos juros for a melhor maneira de sair do buraco. Há razão para duvidar de ambas as ideias. Na cúpula do G-20, no Canadá, os líderes comprometeram-se a "reduzir à metade o déficit fiscal até 2013 e estabilizar ou reduzir a dívida pública como percentual do PIB até 2016". Faria muito mais sentido, para os governos, concentrarem seus esforços em alterar a trajetória dos gastos no longo prazo. Os governos podem torcer para que os cortes de gastos agora impulsionarão os gastos privados. Mas qual é o plano deles caso isso não aconteça?
Fonte: Valor
terça-feira, 6 de julho de 2010
Ele deu uma dentro....
Não, não é delirio: acho que o Belluzzo tem razão, mas isto não implica negar qualquer relevância à idéia de reversão de expectativas- que funcionou tão bem em alguns países- como parece ser a opinião do incompetente Presidente do Palmeiras. Simplesmente acho que ela não se aplica ao caso da zona do euro, mas pode ser útil em outros países. Alias, este é o grande problema da conhecida escola de sociologia econômica da grande sp: fundamentalismo keynesiano-kaleckiano-marxista com uma equivocada pitada schumpeteriana a leva a desprezar boa parte da moderna teoria econômica. Não por acaso é tão admirada pelo marxismo talebã.
Lá pelos idos de março, os mercados mostraram os dentes e jogaram às nuvens os spreads das dívidas soberanas dos periféricos europeus. Depois de um período de subterfúgios ideológicos e negaceios políticos, as lideranças europeias cederam às imposições da realidade.
Como é sabido, o programa da Eurolândia contou com a ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) e envolveu compras de títulos públicos e privados pelo Banco Central Europeu (BCE), além de provimento de liquidez e interposição de garantias nos mercados interbancários, cujas conexões estavam obstruídas pelo chamado risco de contraparte. Esse risco se manifesta sob a forma da recusa dos bancos emprestarem uns aos outros, desconfiados que o vizinho possa estar carregado de papéis ilíquidos ou encontra-se na iminência de passar para a insolvência.
Os frugais alemães aceitaram o inevitável, ainda que se recusem a admitir que a temperança de seus assalariados e pensionistas aliou-se aos destempero de seus bancos pródigos para vender bem e emprestar ainda melhor aos malditos gastadores gregos, espanhóis e portugueses.
Mais uma vez, tão logo resgatados pela vigorosa intervenção das agências do Estado encarregadas da gestão da moeda, do crédito e das finanças públicas, os senhores da banca cuidaram de transmutar a garantia pública em poder privado. Argúem, como sempre, as razões indisputáveis da ciência econômica (e quiçá os princípios universais da moral e dos bons costumes) para exigir um ajuste fiscal sem precedentes na economia da Eurolândia. A novidade das últimas semanas, dizem os economistas Laurent Jennaud e Gillaume Duval, é a adoção de políticas fiscais restritivas nos países que ficaram à margem dos processos de endividamento excessivo - privado ou público.
A Alemanha pretende reduzir o déficit público de 5% para 3% até 2013, a Holanda projeta um déficit zero em 2015 e a França pretende alcançar 3% em 2013, escapando dos atuais 8%. A palavra de ordem é aplacar a desconfiança dos gestores privados da riqueza coletiva, atingindo indiscriminadamente virtuosos e pecadores.
Nos próximos meses, os rumos da economia europeia continuarão a depender das avaliações dos bancos e quejandos a respeito do "ajustamento fiscal" e da evolução do endividamento público nos países submergentes. Na visão dos pregadores da austeridade generalizada, o setor privado não reage aos estímulos fiscais, porquanto as expectativas de longo prazo estão insensíveis aos sinais emitidos pelo governo. Sendo assim, dizem eles, as projeções do setor privado - empresas e famílias - a respeito da evolução do déficit fiscal e do crescimento da dívida pública acentuam as antecipações pessimistas e não conseguem promover o crescimento da produção e do emprego. Trata-se da hipótese sobre os "efeitos não keynesianos da política fiscal" que sustentam a irrelevância dos multiplicadores de renda e emprego gerados pela elevação do déficit do governo.
Os advogados da austeridade generalizada, diz o economista Roberto Tamborini, acreditam que, mesmo em uma situação recessiva, ocorre o fenômeno da expulsão do gasto privado pelo dispêndio público, chamado no jargão dos economistas de "crowding out". Assim, o reequilíbrio das contas públicas, ainda em uma conjuntura recessiva, libera recursos e, ao mesmo tempo, infunde "confiança" ao setor privado. Creiam, infiéis gastadores!
Na contramão do pensamento purificador, os keynesianos temem a possibilidades de um duplo mergulho recessivo na Eurolândia, com efeitos desagradáveis na economia global. Ainda que essa trajetória indesejável não se realize, as perspectivas mais otimistas são de baixo crescimento para os próximos anos. Não é difícil imaginar, argumentam, que as políticas de redução do dispêndio e aumento de impostos resultem, ironicamente, na ampliação dos déficits, caso o gasto privado em consumo e investimento não responda à hipótese heroica e improvável dos economistas conservadores a respeito do "crowding out". Numa situação de desemprego elevado e capacidade ociosa idem, essa turma não acredita nas relações virtuosas entre austeridade fiscal e "recuperação da confiança".
Isso para não falar das agruras do povaréu - submetido aos rigores do ajustamento, depois de um período de euforia promovida pelo crédito fácil. Gregos, espanhóis e portugueses sofrerão as dores do cinto apertado: redução de salários, corte dos benefícios sociais, aumento de impostos, desemprego em alta. Aplicada numa economia balbuciante, essa receita poderá deprimir ainda mais o consumo e o investimento privados, contrariando a "reversão de expectativas" almejada pelos que advogam os programas de austeridade fiscal generalizada.
Sendo assim, os investidores, surpreendidos pelos efeitos adversos de seus clamores, elevam o prêmio exigido para absorver os papéis de dívida, sejam eles soberanos ou privados. Uma nova rodada de contração do crédito que não só reduz a capacidade de gasto das famílias e das empresas, como também compromete a própria capacidade dos Estados de emitir dívida nova e de administrar o estoque de endividamento existente.
Fonte: Valor
Lá pelos idos de março, os mercados mostraram os dentes e jogaram às nuvens os spreads das dívidas soberanas dos periféricos europeus. Depois de um período de subterfúgios ideológicos e negaceios políticos, as lideranças europeias cederam às imposições da realidade.
Como é sabido, o programa da Eurolândia contou com a ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) e envolveu compras de títulos públicos e privados pelo Banco Central Europeu (BCE), além de provimento de liquidez e interposição de garantias nos mercados interbancários, cujas conexões estavam obstruídas pelo chamado risco de contraparte. Esse risco se manifesta sob a forma da recusa dos bancos emprestarem uns aos outros, desconfiados que o vizinho possa estar carregado de papéis ilíquidos ou encontra-se na iminência de passar para a insolvência.
Os frugais alemães aceitaram o inevitável, ainda que se recusem a admitir que a temperança de seus assalariados e pensionistas aliou-se aos destempero de seus bancos pródigos para vender bem e emprestar ainda melhor aos malditos gastadores gregos, espanhóis e portugueses.
Mais uma vez, tão logo resgatados pela vigorosa intervenção das agências do Estado encarregadas da gestão da moeda, do crédito e das finanças públicas, os senhores da banca cuidaram de transmutar a garantia pública em poder privado. Argúem, como sempre, as razões indisputáveis da ciência econômica (e quiçá os princípios universais da moral e dos bons costumes) para exigir um ajuste fiscal sem precedentes na economia da Eurolândia. A novidade das últimas semanas, dizem os economistas Laurent Jennaud e Gillaume Duval, é a adoção de políticas fiscais restritivas nos países que ficaram à margem dos processos de endividamento excessivo - privado ou público.
A Alemanha pretende reduzir o déficit público de 5% para 3% até 2013, a Holanda projeta um déficit zero em 2015 e a França pretende alcançar 3% em 2013, escapando dos atuais 8%. A palavra de ordem é aplacar a desconfiança dos gestores privados da riqueza coletiva, atingindo indiscriminadamente virtuosos e pecadores.
Nos próximos meses, os rumos da economia europeia continuarão a depender das avaliações dos bancos e quejandos a respeito do "ajustamento fiscal" e da evolução do endividamento público nos países submergentes. Na visão dos pregadores da austeridade generalizada, o setor privado não reage aos estímulos fiscais, porquanto as expectativas de longo prazo estão insensíveis aos sinais emitidos pelo governo. Sendo assim, dizem eles, as projeções do setor privado - empresas e famílias - a respeito da evolução do déficit fiscal e do crescimento da dívida pública acentuam as antecipações pessimistas e não conseguem promover o crescimento da produção e do emprego. Trata-se da hipótese sobre os "efeitos não keynesianos da política fiscal" que sustentam a irrelevância dos multiplicadores de renda e emprego gerados pela elevação do déficit do governo.
Os advogados da austeridade generalizada, diz o economista Roberto Tamborini, acreditam que, mesmo em uma situação recessiva, ocorre o fenômeno da expulsão do gasto privado pelo dispêndio público, chamado no jargão dos economistas de "crowding out". Assim, o reequilíbrio das contas públicas, ainda em uma conjuntura recessiva, libera recursos e, ao mesmo tempo, infunde "confiança" ao setor privado. Creiam, infiéis gastadores!
Na contramão do pensamento purificador, os keynesianos temem a possibilidades de um duplo mergulho recessivo na Eurolândia, com efeitos desagradáveis na economia global. Ainda que essa trajetória indesejável não se realize, as perspectivas mais otimistas são de baixo crescimento para os próximos anos. Não é difícil imaginar, argumentam, que as políticas de redução do dispêndio e aumento de impostos resultem, ironicamente, na ampliação dos déficits, caso o gasto privado em consumo e investimento não responda à hipótese heroica e improvável dos economistas conservadores a respeito do "crowding out". Numa situação de desemprego elevado e capacidade ociosa idem, essa turma não acredita nas relações virtuosas entre austeridade fiscal e "recuperação da confiança".
Isso para não falar das agruras do povaréu - submetido aos rigores do ajustamento, depois de um período de euforia promovida pelo crédito fácil. Gregos, espanhóis e portugueses sofrerão as dores do cinto apertado: redução de salários, corte dos benefícios sociais, aumento de impostos, desemprego em alta. Aplicada numa economia balbuciante, essa receita poderá deprimir ainda mais o consumo e o investimento privados, contrariando a "reversão de expectativas" almejada pelos que advogam os programas de austeridade fiscal generalizada.
Sendo assim, os investidores, surpreendidos pelos efeitos adversos de seus clamores, elevam o prêmio exigido para absorver os papéis de dívida, sejam eles soberanos ou privados. Uma nova rodada de contração do crédito que não só reduz a capacidade de gasto das famílias e das empresas, como também compromete a própria capacidade dos Estados de emitir dívida nova e de administrar o estoque de endividamento existente.
Fonte: Valor
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Bresser Pereira e a zona do Euro
Naturalmente, discordo do Bresser Pereira, mas sempre vale a pena ler seus artigos. Não sei se sou Keynesiano, mas seguramente não considero o ajuste fiscal a rota para o sucesso na zona do euro. Lembrando que a problema fiscal na região é resultado da crise nascida no coração do sistema financeiro e que no caso da Grecia alguma forma de moratória negociada me parece inevitável.
O G20 deixou em aberto a questão central que dividia seus membros ricos. A Europa defendia o ajuste fiscal, enquanto os Estados Unidos afirmavam que a crise de demanda não foi ainda resolvida e, portanto, que é necessário continuar a política de expansão fiscal ou de deficit público.
Além disso, os Estados Unidos propunham que a Alemanha adotasse uma política expansiva e, assim, passasse a exportar mais, enquanto esta reafirmava sua decisão de aprofundar seu ajuste fiscal.
Quem estará com a razão neste debate? Sugiro que os europeus, com exceção da Alemanha, precisam promover o ajuste fiscal. A tese de alguns companheiros keynesianos de que é muito cedo para iniciar o ajuste faz sentido para os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a Alemanha; não para o resto da Europa.
Em relação a este último país, o motivo desta distinção é claro. Desde que os problemas da sua unificação foram resolvidos, a Alemanha adotou uma política de redução de salários para enfrentar a concorrência externa.
Assim, enquanto a produtividade aumentava, os salários permaneciam estagnados. Grandes superavit comerciais inclusive em relação aos demais países europeus resultaram dessa política - o que levou a Grécia à crise e vários outros países europeus à situação de alta fragilidade financeira.
Logo, os alemães podem e devem mais. Os seus grandes superavit comerciais não têm lógica econômica para a própria Alemanha.
Os demais países europeus estão obrigados a promover forte ajuste fiscal. Seus credores externos promovem ataques especulativos contra seus títulos públicos. Para garanti-los não basta a decisão de apoio da União Europeia.
É necessário, adicionalmente, que reduzam seu deficit público e principalmente sua dívida pública que está acima de 100% do PIB. Esse ajuste não contribuirá para uma retomada forte do crescimento europeu, mas é inevitável.
Já os Estados Unidos e a Grã-Bretanha não estão obrigados à mesma austeridade. Não porque tenham grande superavit, mas porque dispõem de sua própria moeda nacional, o que lhes permite fazer duas coisas: primeiro, desvalorizá-la -o que já aconteceu com o dólar e a libra-; segundo, imprimi-la através do financiamento do tesouro de cada país pelo seu banco central (o chamado "quantitative easing").
Como diz a "Economist" (26.jun), os países que fazem parte da zona do euro "renunciaram às desvalorizações e à impressão de dinheiro". Algo que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha não fizeram.
Em uma conjuntura de demanda insuficiente, o seu tesouro pode se endividar junto ao respectivo banco central para financiar a expansão dos seus gastos sem que isto implique aumento de sua dívida pública líquida e sem pagar o preço da inflação porque a demanda está desaquecida.
Além de criarem liquidez para salvar seus bancos (algo que os europeus também fizeram), esses dois países, discretamente, têm praticado moderadamente a política de emitir moeda para financiar seus gastos. Os países europeus não podem fazer a mesma coisa, e são obrigados à austeridade fiscal. Contam com o euro mas pagam dois preços: não podem desvalorizar e não podem emitir dinheiro.
Fonte: FSP
O G20 deixou em aberto a questão central que dividia seus membros ricos. A Europa defendia o ajuste fiscal, enquanto os Estados Unidos afirmavam que a crise de demanda não foi ainda resolvida e, portanto, que é necessário continuar a política de expansão fiscal ou de deficit público.
Além disso, os Estados Unidos propunham que a Alemanha adotasse uma política expansiva e, assim, passasse a exportar mais, enquanto esta reafirmava sua decisão de aprofundar seu ajuste fiscal.
Quem estará com a razão neste debate? Sugiro que os europeus, com exceção da Alemanha, precisam promover o ajuste fiscal. A tese de alguns companheiros keynesianos de que é muito cedo para iniciar o ajuste faz sentido para os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a Alemanha; não para o resto da Europa.
Em relação a este último país, o motivo desta distinção é claro. Desde que os problemas da sua unificação foram resolvidos, a Alemanha adotou uma política de redução de salários para enfrentar a concorrência externa.
Assim, enquanto a produtividade aumentava, os salários permaneciam estagnados. Grandes superavit comerciais inclusive em relação aos demais países europeus resultaram dessa política - o que levou a Grécia à crise e vários outros países europeus à situação de alta fragilidade financeira.
Logo, os alemães podem e devem mais. Os seus grandes superavit comerciais não têm lógica econômica para a própria Alemanha.
Os demais países europeus estão obrigados a promover forte ajuste fiscal. Seus credores externos promovem ataques especulativos contra seus títulos públicos. Para garanti-los não basta a decisão de apoio da União Europeia.
É necessário, adicionalmente, que reduzam seu deficit público e principalmente sua dívida pública que está acima de 100% do PIB. Esse ajuste não contribuirá para uma retomada forte do crescimento europeu, mas é inevitável.
Já os Estados Unidos e a Grã-Bretanha não estão obrigados à mesma austeridade. Não porque tenham grande superavit, mas porque dispõem de sua própria moeda nacional, o que lhes permite fazer duas coisas: primeiro, desvalorizá-la -o que já aconteceu com o dólar e a libra-; segundo, imprimi-la através do financiamento do tesouro de cada país pelo seu banco central (o chamado "quantitative easing").
Como diz a "Economist" (26.jun), os países que fazem parte da zona do euro "renunciaram às desvalorizações e à impressão de dinheiro". Algo que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha não fizeram.
Em uma conjuntura de demanda insuficiente, o seu tesouro pode se endividar junto ao respectivo banco central para financiar a expansão dos seus gastos sem que isto implique aumento de sua dívida pública líquida e sem pagar o preço da inflação porque a demanda está desaquecida.
Além de criarem liquidez para salvar seus bancos (algo que os europeus também fizeram), esses dois países, discretamente, têm praticado moderadamente a política de emitir moeda para financiar seus gastos. Os países europeus não podem fazer a mesma coisa, e são obrigados à austeridade fiscal. Contam com o euro mas pagam dois preços: não podem desvalorizar e não podem emitir dinheiro.
Fonte: FSP
domingo, 4 de julho de 2010
sábado, 3 de julho de 2010
O relógio, João Cabral de Melo Neto
1.
Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.
Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quadradiço de forma.
Uma vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.
Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;
e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade
que continua cantando
se deixa de ouvi-lo a gente:
como a gente às vezes canta
para sentir-se existente.
2.
O que eles cantam, se pássaros,
é diferente de todos:
cantam numa linha baixa,
com voz de pássaro rouco;
desconhecem as variantes
e o estilo numeroso
dos pássaros que sabemos,
estejam presos ou soltos;
têm sempre o mesmo compasso
horizontal e monótono,
e nunca, em nenhum momento,
variam de repertório:
dir-se-ia que não importa
a nenhum ser escutado.
Assim, que não são artistas
nem artesãos, mas operários
para quem tudo o que cantam
é simplesmente trabalho,
trabalho rotina, em série,
impessoal, não assinado,
de operário que executa
seu martelo regular
proibido (ou sem querer)
do mínimo variar.
3.
A mão daquele martelo
nunca muda de compasso.
Mas tão igual sem fadiga,
mal deve ser de operário;
ela é por demais precisa
para não ser mão de máquina,
a máquina independente
de operação operária.
De máquina, mas movida
por uma força qualquer
que a move passando nela,
regular, sem decrescer:
quem sabe se algum monjolo
ou antiga roda de água
que vai rodando, passiva,
graçar a um fluido que a passa;
que fluido é ninguém vê:
da água não mostra os senões:
além de igual, é contínuo,
sem marés, sem estações.
E porque tampouco cabe,
por isso, pensar que é o vento,
há de ser um outro fluido
que a move: quem sabe, o tempo.
4.
Quando por algum motivo
a roda de água se rompe,
outra máquina se escuta:
agora, de dentro do homem;
outra máquina de dentro,
imediata, a reveza,
soando nas veias, no fundo
de poça no corpo, imersa.
Então se sente que o som
da máquina, ora interior,
nada possui de passivo,
de roda de água: é motor;
se descobre nele o afogo
de quem, ao fazer, se esforça,
e que êle, dentro, afinal,
revela vontade própria,
incapaz, agora, dentro,
de ainda disfarçar que nasce
daquela bomba motor
(coração, noutra linguagem)
que, sem nenhum coração,
vive a esgotar, gôta a gôta,
o que o homem, de reserva,
possa ter na íntima poça.
Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.
Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quadradiço de forma.
Uma vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.
Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;
e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade
que continua cantando
se deixa de ouvi-lo a gente:
como a gente às vezes canta
para sentir-se existente.
2.
O que eles cantam, se pássaros,
é diferente de todos:
cantam numa linha baixa,
com voz de pássaro rouco;
desconhecem as variantes
e o estilo numeroso
dos pássaros que sabemos,
estejam presos ou soltos;
têm sempre o mesmo compasso
horizontal e monótono,
e nunca, em nenhum momento,
variam de repertório:
dir-se-ia que não importa
a nenhum ser escutado.
Assim, que não são artistas
nem artesãos, mas operários
para quem tudo o que cantam
é simplesmente trabalho,
trabalho rotina, em série,
impessoal, não assinado,
de operário que executa
seu martelo regular
proibido (ou sem querer)
do mínimo variar.
3.
A mão daquele martelo
nunca muda de compasso.
Mas tão igual sem fadiga,
mal deve ser de operário;
ela é por demais precisa
para não ser mão de máquina,
a máquina independente
de operação operária.
De máquina, mas movida
por uma força qualquer
que a move passando nela,
regular, sem decrescer:
quem sabe se algum monjolo
ou antiga roda de água
que vai rodando, passiva,
graçar a um fluido que a passa;
que fluido é ninguém vê:
da água não mostra os senões:
além de igual, é contínuo,
sem marés, sem estações.
E porque tampouco cabe,
por isso, pensar que é o vento,
há de ser um outro fluido
que a move: quem sabe, o tempo.
4.
Quando por algum motivo
a roda de água se rompe,
outra máquina se escuta:
agora, de dentro do homem;
outra máquina de dentro,
imediata, a reveza,
soando nas veias, no fundo
de poça no corpo, imersa.
Então se sente que o som
da máquina, ora interior,
nada possui de passivo,
de roda de água: é motor;
se descobre nele o afogo
de quem, ao fazer, se esforça,
e que êle, dentro, afinal,
revela vontade própria,
incapaz, agora, dentro,
de ainda disfarçar que nasce
daquela bomba motor
(coração, noutra linguagem)
que, sem nenhum coração,
vive a esgotar, gôta a gôta,
o que o homem, de reserva,
possa ter na íntima poça.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Esta é a nossa casa
Dia de derrota da seleção não inspira ninguem e não sou diferente. Ainda mais depois de receber a noticia que um velho amigo e ótimo economista esta de mudança para outra instituição de ensino, USP-Leste. Minha solidão que já não era pequena, ganha a dimensão de um oceano. Porque ficar e insistir em dar murro em ponta de faca é uma pergunta recorrente, assim como a resposta: porque sou católico e esta deveria ser a casa de todos aqueles que acreditam em trabalho árduo e seriedade acadêmica Tivesse retornado de Oxford o mesmo homem sem fé que deixou o Brasil em 1993, partiria, sem problemas, mas o meu reencontro com a minha formação e fé católica me da forças para resistir e continuar. Por sorte encontrei outros católicos com quem tenho aprendido muito. Contudo, no campo profissional, nos conselhos, na defesa e solidariedade em tantos momentos neste ambiente tão hostil e intolerante sentirei muito sua falta. Desejo toda a sorte do mundo velho amigo.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Menosprezo pela nação
Em um passado distante ele era uma das minhas janelas para o mundo. Se não me engano ele era correspondente na Espanha.
Gostei do artigo e concordo com o argumento defendido, mas, naturalmente, acho tolice a menção, no paragrafo final, aos políticos paulistas. Bairrismo tolo aceitável em outros, mas não em Santayana.
Os candidatos à Presidência da República e seus partidos têm o dever de respeitar as instituições e, com elas, a nação. Cabe-lhes meditar a República, refletir em sua história, respeitar o seu povo. Não se apresentam ao país para uma experiência mas, sim, para reivindicar a mais alta missão a que pode aspirar um homem público. Ao apresentar-se, tendo em vista que a vida de cada um de nós é mera concessão do acaso, é do mandamento constitucional que seu nome seja acompanhado de um eventual substituto, o candidato à Vice-Presidência. O candidato à Vice-Presidência terá que ser uma pessoa preparada para, em caso de vacância, ocupar o cargo com a mesma respeitabilidade e competência do titular.
Memento mori, é a advertência dos velhos sábios. Todos nós iremos morrer, e a morte chegará quando não saberemos. Em um segundo, estamos vivos; no segundo seguinte já nada somos.
A Constituição de 1946 estabeleceu, sabiamente, que os vice-presidentes da República seriam eleitos isoladamente. Partia-se da razão lógica de que sua escolha era tão grave quanto a do presidente. Em qualquer momento, no caso de vacância do titular, o vice assumiria ungido da mesma legitimidade popular do presidente. Foi assim que, nas eleições de 1960, o povo escolheu entre Milton Campos, o candidato oficial da UDN, que tinha como postulante ao Planalto o instável Jânio Quadros, e João Goulart, o candidato da coligação PSD–PTB. Os eleitores elegeram Jânio e João Goulart, preferindo o jovem herdeiro de Vargas ao político mineiro. “A que o senhor atribui a derrota?” – um repórter de Belo Horizonte perguntou a Milton. E ele, em seu ceticismo montanhês, respondeu com a voz resignada: “Ao fato de que tive menos votos do que o outro”.
Entre as alterações absurdas do período militar houve a da eleição do presidente e seu vice em uma só votação, sob o pretexto de que assim ocorre nos Estados Unidos. Mesmo ali, esse costume não é o melhor. Uma das razões (e não a principal) da recente derrota republicana foi a escolha da desconhecida governadora do Alasca, Sarah Palin, para companheira de chapa de McCain. O candidato a vice-presidente só ocupará a Presidência, efemeramente, no caso de viagem do titular ao exterior. Mas passará a ser plenamente o chefe de Estado, no caso de impeachment ou no caso indesejável, mas sempre possível, da morte do titular. Ao eleger, com o titular, o vice-presidente, os eleitores estão escolhendo um presidente. Os candidatos à Presidência da República ofendem a nação ao se pressuporem invulneráveis à morte durante o mandato a que aspiram.
A situação escolheu o paulista Michel Temer seu candidato a vice. Se Temer fosse candidato à Presidência, dificilmente chegaria aos votos que obterá Marina Silva. A própria Marina Silva encontrou seu companheiro de chapa, em financiador de sua campanha, um industrial, também paulista, pessoa só conhecida entre seus amigos empresários. Agora, o PSDB, depois de não conseguir administrar o desentendimento com os conservadores, a eles se submete e aceita o nome do carioca Índio da Costa, deputado federal de 40 anos, indicado pelo ex-prefeito Cesar Maia.
Mais uma vez – e estamos pensando, sim, no nó górdio de 1930 – os políticos de São Paulo, a fim de conservarem a hegemonia sobre o país, perdem o bom-senso e, ao perdê-lo, desprezam a nação. É preciso que a cidadania exija, nas ruas, se for necessário, reforma constitucional que devolva ao povo o direito de escolher diretamente os vice-presidentes, e, entre outras medidas, acabe com a esdrúxula figura dos suplentes de senadores.
Mauro Santayana
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