quarta-feira, 23 de março de 2011
A fritura do Mantega
Ótimo artigo do Vinicius Torres Freire no jornal da Ditabranda sobre a fritura do Mantega por parte daquele que não deveria ter sido convidado a fazer parte do governo. Alias, o Ministro da Fazenda não parece ser o único alvo: o outro seria o Ministro da Educação. O jornalista exagera a importância deste aprendiz de cozinheiro pela credibilidade da política econômica no inicio do governo Lula. Se ele fosse, de fato, o fiador, ela teria desaparecido com a sua demissão e isto não ocorreu. O odio de classe ainda não permite reconhecer que o merito é todo do Presidente Lula que, como Itamar Franco, vai ter que esperar algum tempo para receber o merito devido pelo sucesso da política econômica do seu governo. Coisas do bananão..
Pelo menos quatro pessoas com posições relevantes no mercado financeiro foram "tranquilizadas" pelo ministro Antonio Palocci, da Casa Civil, acerca de possíveis descaminhos heterodoxos da política econômica do Ministério da Fazenda, chefiado por Guido Mantega.
As conversas aconteceram entre fevereiro e este mês. Palocci tratava então de "acalmar" gente influente da praça financeira a respeito das "resistências" e "falhas de comunicação" da equipe econômica de Dilma Rousseff no que diz respeito à contenção de despesas e sua importância no combate à inflação.
Naquelas semanas pré-Carnaval, notava-se de vez que a inflação estava para ultrapassar o teto de tolerância da meta, e o governo se embananava com a apresentação do plano de cortes no Orçamento.
Palocci sugeriu que "equívocos" e "lapsos" de Mantega não refletiam a linha do governo. Mais uma vez, apresentava-se como o tutor da "política econômica responsável", nicho de mercado político que o ministro encontrou em 2002, ao final da campanha de Lula a presidente, e lhe rendeu o cargo de ministro, além de sucesso de público e crítica no setor privado, na finança em especial.
A bem da verdade, a política econômica de Palocci tirou da lama um país quase quebrado e deu crédito à gestão luliana da economia, motivo de histeria na praça ainda em 2003.
Um dos interlocutores do ministro não deu muita bola à "mensagem de tranquilidade". Embora "insatisfeito" com a falta de clareza do governo, não estava "preocupado", pois se importava mais com "os resultados que o governo vai entregar" do que com discursos; por fim, achava "intriga perda de tempo".
Dois outros ficaram em dúvida sobre o teor da "mensagem de tranquilidade": o governo estava avisando que iria mudar de equipe e política? Um quarto, mais jovem, interpretou a mensagem como "fritura mesmo". Fritura de Mantega.
No mesmo período, apareciam em jornais notas que sugeriam o desprestígio de Mantega no governo, tratavam de atritos com Palocci e do sucesso de Nelson Barbosa (um eventual novo ministro) com Dilma. Barbosa é secretário-executivo, o "formulador" do ministério e, claro, muito próximo de Mantega.
No dia 16 deste mês, o colunista Elio Gaspari escreveu nesta Folha que Mantega era vítima de fritura no governo. No dia seguinte, Dilma disse à coluna "Painel" da Folha que tinha "absoluta confiança no Mantega... Não vou aceitar nenhuma tentativa de diminuir a importância dele no meu governo". No mesmo dia, em entrevista ao jornal "Valor", explicitava que a política de Mantega era a política dela, ressaltando em particular os aspectos mais controversos (ao menos no "mercado") de seu programa econômico.
Todo mundo entendeu o recado, que, no entorno de Dilma, diz-se ser o seguinte: 1) Dilma não bulia com o Banco Central. A última "intervenção" da presidente no BC fora indicar o nome mais adequado para conduzir o BC (Alexandre Tombini) e ponto; 2) A política econômica é diferente mesmo, um desenvolvimento da política de Lula 2; que Mantega fora o responsável por dar início a essa política que, goste o mercado ou não, é essa mesmo anunciada pelo ministro da Fazenda; 3) Que sentira, sim, o cheiro da fritura de Mantega no próprio governo, e que não gostou nada disso.
Fonte: UOL