sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Deja vu


Negociações do orçamento europeu para o período de sete anos, o chamado orçamento longo, é sempre um processo dificil com varias rodadas de negociação. O do periodo 2006-2013 levou seis meses pra ser fechado e por isto não é nenhuma surpresa o fracasso da reunião desta semana. A Alemanha já havia, inclusive, alertado que este resultado não seria o fim do mundo. A preocupação da Merkel é, como sempre, com o impacto que isto poderá ter sobre as eleições que enfrenta no próximo ano. Já Cameron esta jogando para o público interno, para a ala anti-europeia do seu próprio partido. A aliança entre os dois é momentanea e não coloca em risco a velha parceria entre a Alemanha e a França.
Apesar de esperado, não deixa, no entanto, de ser lamentável, já que o cenário economico é bem diferente daquele de 2005 e exigia menos indecisão por parte dos lideres da União Europeia. É desapontador, também, a insistência em cortes draconianos que atingem, principalmente, os países menos desenvolvidos do clube europeu, inclusive aqueles que já adotaram medidas de austeridade. Demonstra que a solidariedade a eles, já não é mais a pedra angular do projeto de integração europeia. Alias, é bom lembrar que ela tem sua origem na experiência tragica das duas guerras mundiais e na proposta de lideres ainda imbuidos de valores caros a doutrina social crista.

A semana não foi, felizmente, somente recheada de más noticias: o leilão de divida soberana espanhola realizado na quinta-feira foi um sucesso, com alta procura pelos títulos e queda nos yeilds, inclusive do benchmark, o título de 10 anos. Este último foi negociado a 5.5%, ainda longe do ideal, mas se lembramos que em julho ele havia rompido a barreira dos 7%, acaba sendo um excelente resultado. Com o leilão o Tesouro espanhol deu inicio ao processo de busca de "funding" para o próximo ano, já que os valores necessários para fechar 2012 já foram alcançados. O resultado deverá fortalecer a disposição do Rajoy de não solicitar, no momento, ajuda ao fundo de resgate, apesar de estar ciente que se fizer o pedido não será obrigado a adotar novas medidas de austeridade. Este temor, plenamente justificado, era o argumento que ele usava para adiar a decisão que se excluirmos a humilhação política, ainda é a melhor opção para a Espanha.