sexta-feira, 31 de maio de 2013
Alberto Carlos Almeida: O Bolsa Família e outras bolsas
Leitura obrigatória para os críticos do Bolsa Familia e apaixonados pela terra e a política social da Dama de Ferro.
O recente episódio dos boatos de extinção do Bolsa Família e o impacto coletivo que isso causou, quando milhares de pessoas em vários Estados correram para as agências da Caixa a fim de sacar o benefício, motivou falas de políticos e formadores de opinião, uns defendendo e outros criticando essa política social. A presidente Dilma veio a público em defesa do benefício e disse que não se tratava de pura e simples distribuição de recursos, como se fosse uma bolsa esmola, mas, sim, de uma política social muito bem pensada. Aécio Neves, futuro candidato do PSDB a presidente, disse que o Bolsa Família foi criado pelo seu partido. As palavras de Aécio foram muito claras: Se tivéssemos um jeito de tirar o Bolsa Família, pegar no berço e fazer o exame de DNA, veríamos que o pai dele é o PSDB.
Nas duas últimas campanhas eleitorais presidenciais, em 2006 e 2010, o Bolsa Família foi um tema importante do PT e do PSDB. Não há no Brasil, hoje, uma força política relevante que proponha acabar com o benefício. O máximo que se propõe é a criação de uma suposta porta de saída, isto é, algum tipo de política social paralela ao Bolsa Família, como medidas para gerar empregos para os beneficiários do programa, de tal maneira que as famílias, com o passar dos anos, deixem de precisar do benefício. A busca de uma porta de saída tem a ver com a crítica de que o Bolsa Família não passa de um programa assistencialista.
Recordar é viver. Em 2006, ninguém menos do que o presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, d. Geraldo Magela, criticou o caráter assistencialista do programa. O líder religioso afirmou que o Bolsa Família é assistencialismo, não é promoção humana. Em alguns casos, o programa estimula as pessoas a não fazerem nada, em troca de R$ 60, R$ 90 por mês. O que nós [a CNBB] queremos é trabalho e educação para todos. Será fácil encontrar os inúmeros críticos do Bolsa Família com base no argumento geral de que causaria acomodação nas famílias pobres; basta fazer uma pesquisa rápida na internet.
Há no Brasil a concepção predominante de que tudo que vem de fora é melhor do que o que é criado ou executado aqui. Trata-se do que Nelson Rodrigues batizou de complexo de vira-latas, que o dramaturgo definiu assim: Por complexo de vira-lata entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima. Para muitos, o Bolsa Família entra no leque de provas de que somos inferiores. O argumento, nesse caso, é simples: só mesmo no Brasil se adotaria uma política social que resultaria na acomodação dos pobres face ao trabalho e à educação.
O Brasil adotaria políticas sociais que resultariam na dependência, ao passo que, por exemplo, o Reino Unido pós-Thatcher seria o exemplo de dinamismo e de alocação eficiente de recursos. A maioria dos críticos do Bolsa Família também idealiza o que acontece em outros países. Nada mais distante da realidade do que achar que somente no Brasil os mais pobres recebem algum tio de auxilio do governo para sobreviver. Na verdade, o Brasil é um dos países que menos auxílio presta aos mais pobres. Mais uma vez, o exemplo do Reino Unido é paradigmático: lá existe até mesmo o bolsa funeral.
Isso mesmo. Chama-se, em inglês, funeral payments. O bolsa funeral britânico pode ser utilizado para cobrir despesas com velório, cremação, atestado de óbito, compra do caixão, flores e até mesmo viagem de parente para organizar o enterro. A quantia por funeral é de até 700 libras. Informações detalhadas sobre o benefício podem ser encontradas em www.gov.uk/funeral-pay ments/overview. O morto, um dos beneficiários do bolsa funeral, terá direito a um enterro digno e jamais poderá ser acusado de acomodação causada por uma política social.
No Reino Unido existe também o bolsa aquecimento no inverno. É como se no Brasil existisse um benefício do governo para que as pessoas pagassem o ar-condicionado no verão. Para que um britânico seja beneficiário do bolsa aquecimento no inverno (winter fuel payment) não é preciso ser pobre; basta ser idoso. Ou seja, todos os que têm mais de 80 anos, independentemente da renda, podem receber de 100 a 300 libras no inverno, mesmo se não morarem no Reino Unido. Há também o bolsa clima frio (www.gov.uk/cold-wea ther-payment), que cada britânico pode solicitar caso a temperatura da região onde mora fique igual ou menor que zero grau Celsius. Vale também a previsão do tempo. Se, por sete dias, a previsão for essa, a pessoa pode requisitar o bolsa clima frio. Parece piada que benefícios desse tipo existam no Reino Unido, mas quem quiser confirmar os encontrará na internet, na página que apresenta todos os benefícios sociais do governo (www.gov.uk/browse/benefits).
O Reino Unido também tem bolsa família, lá denominado child benefit. Trata-se de um benefício para famílias na qual a renda individual do chefe seja menor do que 50 mil libras por ano. Para cada criança ou jovem abaixo de 20 anos de idade, desde que matriculado na escola ou em algum tipo de treinamento, o governo paga 20 libras por semana. Isso é pago para a primeira criança. Para quem tem mais filhos são adicionadas 13 libras por semana, por criança.
O Reino Unido gasta muito mais do que nós, brasileiros, com numerosos benefícios sociais. Não há a menor dúvida de que a rede de proteção social deles é bem mais ampla do que a nossa. Sabe-se também que há correlação entre bem-estar social e, por exemplo, violência. As sociedades menos desiguais e com as mais amplas redes de proteção social tendem a ter índices menores de criminalidade. Não é possível ter tudo. Não dá para abolir o Bolsa Família e, ao mesmo tempo, não ter criminalidade elevada. As políticas repressivas são importantes, mas não resolvem sozinhas a criminalidade, em particular no longo prazo.
Alguns poderão afirmar: no Brasil nada funciona; temos Bolsa Família e a criminalidade ainda assim é alta. Cabem aqui duas ponderações. A primeira é mais do que óbvia: não fosse o Bolsa Família, a criminalidade provavelmente seria muito mais elevada. A outra ponderação tem a ver com a abrangência da rede de proteção social. Talvez fosse preciso, para diminuir a violência, adotar também o bolsa funeral, o bolsa ar-condicionado no verão e outros benefícios equivalentes aos britânicos.
Novamente, cumpre sublinhar que é impossível ter tudo. No Brasil de hoje, o combate à inflação por meio do aumento de juros pode resultar em desemprego mais elevado. Desemprego crescente ou alto resulta em mais violência. Blindar os automóveis, andar com seguranças e controlar horários e locais frequentados não resolve tudo sem falar que não é uma forma agradável de viver.
É fato que as duas principais forças políticas do Brasil, PT e PSDB, convergiram acerca de várias políticas, tanto econômicas quanto sociais. Há consenso acerca de que a inflação precisa ser combatida, de que não se pode dar trégua a ela. Há consenso de que são necessárias políticas sociais como o Bolsa Família. Aliás, o PSDB criou a Lei Orgânica de Assistência Social (Loas), que assegura uma renda mínima para os aposentados pobres. É também consenso que o seguro-desemprego deve ser mantido.
O Brasil, porém, é bem diferente da Europa. Nossa rede de proteção social jamais se assemelhará à existente nos países europeus. Duvido também que nossa criminalidade se torne um dia tão baixa quanto a deles. Nosso consenso é diferente do europeu. Em termos de políticas sociais, tudo indica que o Brasil já está e ficará entre Estados Unidos e Europa. Teremos mais benefícios do que nos Estados Unidos e menos do que na Europa. Essa é uma escolha social, resultado da interação entre a sociedade e seus representantes. É isso que faz do Brasil o Brasil.
Alberto Carlos Almeida, sociólogo, é diretor do Instituto Análise e autor de A Cabeça do Brasileiro.
Fonte: Valor
quarta-feira, 29 de maio de 2013
Mark Mazower: France’s struggle is against much more than gay marriage
Bom artigo sobre o mal estar francês.
As France celebrated its first gay marriage on Wednesday, the reverberations of Sunday night’s demonstration in central Paris could still be felt. In the biggest protest in a generation, about 200,000 marchers waving pink and blue banners protested against a bill that makes France the 14th country to legalise gay marriage. The city has vivid memories of protests – May 1968, for one – that toppled governments. These encourage the organisers of the anti-gay movement, who like to see it as a “French spring”; and worry the government, which has been toying with the idea of clamping down on them.
To an outsider, though, there is something mysterious about the whole business. It was courageous of the Socialists to drive the bill through the National Assembly, given that it was scarcely a vote winner and that the government has few other achievements to its name. But, when most opinion polls suggest this is an issue about which few voters care, it would not have expected such opposition.
The main driver is political. Rightwing party politics is in flux as rarely before; and, while the National Front waits in the wings, the centre-right UMP is transfixed by the succession struggle to replace former president Nicolas Sarkozy. The party is split, with Islam-bashing hardliners such as Mr Sarkozy’s protégé Jean-François Copé ranged against the centrists who support former prime minister François Fillon. Pushing for a move away from the middle ground, the former group has jumped on the opposition to gay marriage. Younger Sarkozyists have been supportive, too.
Meanwhile, Catholic activists dream of a France returned to the path of Christian virtue. For decades, they have been on the margins of political life or forced to compromise with mainstream conservatives. Their hope is that gay marriage will be the issue to alert the republic to the dangers of secularism.
Would this matter had the country not been plunged into one of its bouts of soul-searching? Almost certainly not. The restoration of democracy, supported by the creation of a governing elite to carry it out, was central to President Charles de Gaulle’s reshaping of the republic after the second world war. That elite’s achievements are in doubt as never before. Arguments over whether to increase English-language instruction in universities degenerate into shouting matches over how to preserve the global reach of la Francophonie, while the plight of the underperforming higher-education sector goes largely unremarked.
Then there is Europe. Since the 1950s, France’s role as co-driver of continental integration has served as the modernisers’ preferred route to grandeur. But the European crisis has sharply knocked popular support for the project, as a Pew Research Center survey this month confirmed.
Much the same is happening elsewhere on the continent: since the economic crisis, confidence in globalisation has collapsed and political sentiment is turning inward. The result is a new focus on the nation and its future. In France, few wish publicly to mark themselves as extremists by claiming inspiration from Vichy or from colonial days.
Instead, these activists of the right take the wartime language of collaboration and resistance and turn it against those who now lead the republic. It is the administration of François Hollande that must be resisted in the name of French values. To these historical allusions, they add what really counts for them: the language of existential moral danger and national demographic catastrophe that has been around as long as the republic itself. This now includes new threats – not Germany, not communism, but the kind of perspective that allows someone such as extreme rightwing historian Dominique Venner, who killed himself last week in Notre Dame cathedral, to see opposition to gay marriage and Islam as twin aspects of the same mortal battle.
The French remain as gloomy as any in Europe about the future of their country and their children. Legalising gay marriage will have little impact on either. But Sunday’s march was not about reality; it was about symbols and fears. Activists’ hopes for a national spiritual rebirth through this issue will, polls suggest, be disappointed. But the underlying anxieties will not go away. France’s long struggle to come to terms with its dwindling global stature goes on.
Mark Mazower is professor of history at Columbia University
Fonte: FT
terça-feira, 28 de maio de 2013
Delfim Netto: Crescimento mais difícil
Artigo interessante, mas muito pessimista quanto ao futuro da economia brasileira. A preocupação com o setor externo, com uma possível restrição externa que levaria a uma grande crise me parece exagerada. Alias, essa "neura"parece ser um problema da geração dele que a enfrentou durante toda a vida. Os tempos são outros...
É; cada vez mais evidente que para devolver à economia brasileira a capacidade de crescer robustamente temos de resolver um problema muito complicado que foi criado ao longo de vários anos. Agravou-se brutalmente depois da crise de 2008 que continua a dizimar a economia mundial. Trata-se da longa e tenaz sobrevalorização da moeda nacional produzida pelo controle da taxa de câmbio nominal através da taxa de juro real (até recentemente a mais elevada do mundo) e do estímulo ao aumento do salário nominal muito acima da produtividade do trabalho.
Não é sem razão, portanto, que a participação de nossas exportações no total mundial continua, há pelo menos 30 anos, em torno de 1,3%. Desde 1974, cada vez que o Brasil foi premiado com um ciclo de melhoria substancial da relação de troca, isto é, quando os preços da exportação crescem mais depressa do que os da importação (1977, 1997 e 2011), manipulamos a taxa de câmbio para reduzir a inflação. No fim de cada ciclo pagamos o preço e corremos ao Fundo Monetário Internacional! Agora parece que é diferente porque temos US$ 380 bilhões de reservas, mas há controvérsia! O último ciclo de melhoria da relação de troca parece ter terminado em 2011, como se vê no gráfico nº 1.
Hoje poucos economistas discutem o fato que em condições normais de pressão e temperatura (quando não há controle discricionário da taxa de câmbio nominal, os salários nominais são fixados pelo mercado de trabalho e há liberdade de movimento de capitais) a taxa de câmbio real em países dominados por exportações primárias (produtos agrícolas, energéticos e minerais) é determinada: 1º) pelo diferencial da taxa de juros real interna e externa; e 2º) pela relação de troca. Estudos empíricos bem conduzidos mostram que o primeiro fator é mais importante que o segundo.
O que nos espera no futuro próximo ainda envolto na névoa da incerteza, mas pressentido pela pesada pressão de suas pegadas? Talvez o seguinte:
1º) um ciclo de deterioração da relação de troca cuja profundidade dependerá da evolução da economia chinesa;
2º) uma elevação da taxa de juro real externa que alterará a direção do movimento dos capitais;
3º) um diferencial civilizado entre a taxa de juro real interna e a externa que tornará o país menos atrativo;
4º) uma valorização do dólar pelo aumento da taxa de juros e porque os EUA crescerão com a nova energia produzida internamente o que reduzirá seu déficit comercial. A valorização do dólar terá efeito sobre os preços das "commodities";
5º) um tratamento mais amigável do governo com relação ao setor privado, devido a compreensão que investidores não são instituições de caridade. Isso abrirá as portas para o financiamento externo de nosso setor de infraestrutura e, finalmente,
6º) a ressurreição do pré-sal que em cinco ou seis anos nos tornará menos vulnerável aos eventos externos, mas poderá também, se mal conduzido, levar ainda a maior precarização de nossas relações externas.
Não é possível prever o efeito "líquido" de tantas variáveis, mas é seguro que um crescimento econômico mais sadio e robusto exige a recuperação do nosso setor industrial, o que só poderá ocorrer com a desvalorização do real como, aliás, parecem indicar os fatos acima. É o que sugere, também, a rápida deterioração da nossa balança comercial e o saldo em conta corrente revelado na tabela 1.
Se essas considerações estão corretas, todos os dias vão continuar a acumular-se tensões que em algum momento (uma emergência indiscernível nos dados) produzirão ou uma inversão na crença da solidez infinita das reservas cambiais, ou nas expectativas dos agentes (empresas, bancos, fundos) que testarão o Banco Central. Isso pode gerar um ajuste instantâneo (como é a característica do mercado cambial) que seria um desastre acompanhado por uma crise bancária e a aceleração da taxa de inflação. É claro, portanto, que a política econômica deve antecipar-se e preparar as condições para a superação ordenada da sobrevalorização do real que foi produzida ao longo dos anos.
É preciso notar, também, que a piora da relação de troca torna mais difícil o bem-estar da sociedade. Quando ela está aumentando, o "poder de compra" das exportações em termos dos produtos importados cresce sem que haja mais utilização de fatores. Tudo se passa como se tivesse havido um aumento da "produtividade": uma tonelada de exportação comprava uma tonelada de importação. Se agora compra 1,1 tonelada ganhamos, sem aplicar mais fatores de produção, 100 quilos de produtos importados! O contrário acontece quando a relação de troca diminui, como agora está acontecendo e talvez prossiga nos próximos anos.
Antonio Delfim Netto
Fonte: Valor
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Laurence Ball: Desafio à ortodoxia do Banco Central
Entrevista bem oportuna com Laurence Ball, da Johns Hopkins University, que levanta questões que se tornaram tabus no debate sobre o sistema de metas de inflação no grande bananão. Temas que lá fora sempre foram discutidos e por essas bandas ignorados pelos papagaios com complexo de terceiro mundo e pela turma que se passa por economistas no circuito praia vermelha, barão geraldo e alhures.
Valor: Países emergentes, como o Brasil, também deveriam mudar seus regimes de metas de inflação?
Laurence Ball: Diria que sim. A política econômica deve ser mais sofisticada do que o simples regime ortodoxo de metas de inflação, em que você ajusta os juros com foco apenas numa inflação baixa. Talvez isso se aplique mais para economias emergentes do que para os Estados Unidos. Sabíamos muito antes da crise de 2008 que paradas súbitas nos fluxos de capitais podem ser devastadores, então há razões para as autoridades levarem esse fato em consideração. Já adotar uma meta de inflação de 4% em vez de 2% talvez não seja tão relevante para países como o Brasil, que já miram percentuais acima disso.
Valor: Muita gente no Brasil defende uma redução gradual da meta para chegar a 2%, percentual adotado por muitas economias desenvolvidas. Seria uma boa ideia?
Ball: Não, seria uma má ideia. Penso que países que estão em 2% deveriam aumentar a meta. Mas se você está em 4%, baixar a meta não seria uma boa ideia nem no longo prazo.
Valor: Qual seria o melhor percentual para a meta?
Ball: Não sei ao certo. Não está muito claro porque 2% se tornou a norma, nem porque 4% é uma espécie de alternativa. Para mim, uma referência importante é a experiência nos anos 1980. [O então presidente do Federal Reserve, o banco central americano] Paul Volcker estava determinado a domar a inflação, e isso significava baixar a alta de preços para 4%. E a economia parecia funcionar bem com inflação de 4%. Ou seja, até alguém como Paul Volcker, que é muito preocupado com os custos da inflação, pensava que uma inflação de 10% era danosa e que 4% era aceitável. É muito difícil imaginar que voltar para os patamares de inflação de Paul Volcker nos anos 1980 vá minar muito a eficiência da economia.
Valor: O Brasil ainda tem fresca na memória uma experiência negativa com inflação alta. Seria uma boa ideia também ter como meta níveis baixos de desemprego?
Ball: Sim, porque desemprego é muito importante. No Brasil, dado seu histórico, é importante fixar a ideia de que não irá voltar para patamares de inflação de 30% por mês. Mas também é tremendamente importante tentar minimizar desemprego. Desemprego impõe um grande sofrimento às pessoas. Ainda mais considerando que, em países emergentes, a rede de proteção social é menos generosa do que em economias avançadas. Perder o emprego é algo devastador em qualquer situação, mas acho que é ainda mais devastador num país como o Brasil. Às vezes as autoridades deixam de perceber isso, ao focar apenas com o pensamento único na inflação baixa.
Valor: Os Estados Unidos estariam numa situação melhor do que a Europa, por exemplo, ao ter um mandato duplo de inflação e desemprego baixos?
Ball: Da adoção do euro para cá, o desemprego tem sido mais baixo nos Estados Unidos do que na maior parte da Europa. Um fator importante é que o Federal Reserve está adotando uma estratégia mais equilibrada e se empenhando mais, ainda que na minha opinião não esteja trabalhando tão duro quanto deveria, para baixar o desemprego do que a Europa. Frankfurt, onde fica o Banco Central Europeu (BCE), é a Roma da Igreja Católica em termos de preocupação com a inflação. Parte disso é uma estratégia para construir uma credibilidade. O Fed administrado por Alan Greenspan foi bem sucedido em construir uma credibilidade, por isso poucos acham que a inflação vá sair de controle no longo prazo nos Estados Unidos porque os juros baixaram para lidar com uma desaceleração econômica.
Valor: O sr. defende que os políticos têm legitimidade para fazer pressão sobre os banqueiros centrais. A receita serviria para países com instituições mais fracas, como o Brasil, em que o BC não é formalmente independente?
Ball: Em geral penso que uma boa dose de independência legal é uma coisa boa. O Federal Reserve não está muito distante do sistema ótimo, com sua independência. O presidente não pode se aborrecer e demitir Ben Bernanke. Mesmo assim, há suficiente fiscalização, não muito pelo presidente, mas sim pelo Congresso. O presidente do Fed tem que depor no Congresso e ouvir seus pontos de vista, frequentemente críticos. Isso é saudável. Acredito que o Fed seja consciente de que sua independência é algo que o Congresso concedeu, não é algo que está na Constituição. Muito do pensamento ortodoxo é que, quanto maior a independência, melhor. Qualquer ação de políticos seria pouco saudável, com motivações políticas e excessivamente inflacionária.
Valor: Por que as intervenções dos políticos seriam desejáveis?
Ball: Nos Estados Unidos e em outros países, há frequentemente uma relação muito próxima entre o governo e setores da economia. Gente que deixa o Fed arruma empregos em Wall Street. Tem gente que tira conclusões cruéis e sinistras dessas relações, mas eu não acredito nisso. As pessoas do governo são como todas as outras. Interagem com pessoas do mercado financeiro que se preocupam muito com a inflação. E também com acadêmicos, que são pessoas muito inteligentes, mas nem sempre muito sensíveis ao que acontece no mundo real. Não se encontram com frequência com pessoas que perderam o emprego ou as suas casas. Os políticos estão mais em contato com essas pessoas.
Valor: Seria bom o BC ter metas explícitas para o câmbio?
Ball: Não tenho uma resposta nítida sobre isso porque há muito o que ser estudado no tema para determinar quais são as ferramentas ideais para cada objetivo. Certamente, os banqueiros centrais devem se preocupar com a taxa de câmbio, fluxos de capitais e competitividade da indústria. Talvez eles não queiram ter uma meta de câmbio porque é muito difícil mirar a inflação e o câmbio ao mesmo tempo quando há forças empurrando os dois para direções opostas. Também porque movimentos na taxa de câmbio refletem forças de mercado, e você deve deixar os mercado, em algum grau, determiná-la. Mas, ao mesmo tempo, não acho que todos os movimentos na taxa de câmbio sejam eficientes. Há volatilidade. Mercados financeiros, de forma geral, podem ter grandes flutuações, seja em preços de ativos ou câmbio.
Valor: O BC não teria prejuízos à sua credibilidade ao adotar várias metas?
Ball: Há um preço a pagar se o Banco Central passa a focar, além de inflação, também em desemprego, fluxos de capitais e outras coisas. Sempre é possível escrever um modelo econômico teórico no qual um instrumento vai controlar a inflação, outro vai focar na estabilidade financeira e assim por diante. Mas, se você passa a prestar atenção nesses outros objetivos, de certa forma pode comprometer seu objetivo de manter inflação estável dentro de sua banda de tolerância. Poderia significar maior incerteza sobre a inflação em ambientes como mercado financeiro. Mas não são efeitos horríveis, catastróficos. E, repito, desemprego é algo tão importante que vale a pena sacrificar um pouco de sua credibilidade, caso haja mais incerteza sobre a inflação, para estabilizar o desemprego.
Fonte: Valor
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Origin of Japan rout lies in Washington
Excelente artigo que ajuda a entender o comportamento do mercado no Japão nesta semana.
Japanese stocks have suddenly gone into reverse. Let us take a long view of a so far sharply short-term phenomenon.
Japanese stocks have been rallying for six months now, spurred by the radical new economic policies dubbed Abenomics. On Thursday the Nikkei 225, the main Japanese index, suffered a fall of 9.2 per cent in a matter of hours. This was its worst day since the dreadful earthquake and tsunami of 2011, and worse than any single day during the financial crisis of 2008. Amid great volatility on Friday, selling resumed, and at one point the Nikkei had fallen 12.3 per cent from its Thursday high, satisfying the usual definition for a correction – a 10 per cent sell-off. The Nikkei then recovered to end up for the day.
But the Japanese market had grown so far ahead of itself that this move probably should not count as a correction.
Even after Thursday’s fall, it still needed to drop another 7.2 per cent just to touch its 50-day moving average – the average of the previous 50 days’ closing prices, and a strong indicator of the short-term trend. For now, the trend remains emphatically upwards. When markets get so far ahead of themselves, it is no surprise that the first negative action can turn into a big sell-off.
But moves so sudden and drastic can have an impact on the animal spirits that move markets. On Thursday European stocks endured their worst sell-off since last July as they reacted to news from Tokyo. And while Japan may have been due a sell-off, the timing still begs an explanation.
That explanation lies partly within Japan itself. Yields on Japanese government bonds (JGBs) have been rising (as their prices fall). This implies that investors are gaining in confidence that Japan will shake itself out of deflation, but it also means that effective interest rates are rising. This could be a problem, especially when the Japanese are so used to cheap money.
In April 10-year JGB yields were only 0.33 per cent, betraying almost unfathomable confidence that inflation would never return. On Thursday, 10-year JGB yields very briefly ticked above 1 per cent. The stock market carnage ensued. But as the day wore on JGB yields and equity prices fell in tandem throughout the Tokyo day.
On Friday stocks fell sharply after Haruhiko Kuroda, the governor of the Bank of Japan, said it was “extremely desirable” for bond yields to move stably, and that the bank would try to head off volatility in the market. This raised fears that the bank will not press on with easy monetary policy if JGB yields rise fast.
The incident showed that bond markets have the ability, and often the will, to negate the hard work of central banks. But it may not be the best explanation for the Japanese sell-off. Rather, we need to explain why JGB yields leapt from less than 0.9 per cent at the opening of the Tokyo day.
And for that, we have to look to another central bank: the US Federal Reserve. Wednesday brought testimony to Congress by its chairman, Ben Bernanke. Then came a question-and-answer session, and then came the minutes to May’s meeting of the Fed’s interest rate-setting committee.
Only one question mattered: when will the Fed start removing the extraordinary stimulus it is administering to the US economy, with purchases of $85bn in bonds each month? This stimulus, known as quantitative easing, will continue indefinitely until it has sparked a recovery in employment.
There was nothing new in the printed testimony, which said that the job market remained “weak overall”. But in questions Mr Bernanke admitted that the Fed could start to taper back its bond purchases “within the next few months”, and the minutes then revealed that a “number” of Fed governors would be willing to start tapering as early as June. On the back of this, bond yields surged upwards on Wednesday, and stocks sold off.
It also weakened the dollar against the yen – and a weak yen has been key to Japanese recovery.
The market flap over the Fed was overdone. The minutes make clear that those wanting to remove stimulus now are in the minority, and even they require “evidence of sufficiently strong and sustained growth”. The majority view is that if the “weak” jobs market keeps recovering it may start to pull back from QE. But even that is not a promise. All of that is good for the stock market, for the time being.
What does all this imply? The vital question for markets is the Fed. At some point, it must start retreating from QE. It may well be able to do so smoothly. After all, it will not be doing so unless the US economy is improving.
But you do not have to be Cassandra to fear that the Fed exit could lead to a disorderly exit from treasury bonds. Such an accident could push up interest rates in a hurry and have ugly ripple effects throughout the real economy. It remains a real possibility, as this week’s events make clear.
John Authers
Fonte: FT
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Shinzo Abe will not revive Japan by rewriting history
Quinta-feira de turbulência no mercado torna ainda mais relevante a analise abaixo do Governo Abe. Vale a leitura.
The headlines shout that Japan is back. Shinzo Abe has returned the country to centre stage after more than a decade in the wings. This week’s turbulence aside, the stock market has boomed, consumers have been spending and growth looks like picking up. Abroad, Japan is commanding attention. There are three things to say about this reversal: two are mostly positive and the third seriously negative.
When the Japanese prime minister tips up at next month’s meeting of the Group of Eight advanced industrial nations, it is a fair bet his fellow summiteers will want to get to know him. The same could not have been said of his recent predecessors.
The prime minister’s office has had a fast revolving door. Between 2006 and Mr Abe’s election victory in 2012 there were as many occupants as years. Other world leaders would shake hands with their Japanese counterpart in the near certain knowledge that he would be gone before their next big gathering. America’s Barack Obama was said to be especially irritated by the time wasted in these fleeting encounters.
Mr Abe, of course, was one of those who passed through the revolving door – presiding over a failed administration between 2006 and 2007. His political prospects now, however, are better than any since Junichiro Koizumi’s premiership in the opening years of the century.
Mr Abe’s ruling Liberal Democratic party faces elections to the upper house in July, but if the polls are any guide it is heading for a comfortable majority. Barring any accidents, that would leave Mr Abe with a clear run until the next poll for the lower house in 2017.
The simple fact of having a prime minister likely to be around for some time promises Japan a presence in global affairs that has been sorely missing. Its return coincides with the tense recasting of relationships in east Asia spurred by an assertive China. If Mr Abe has a single message, it is that economic strength at home is vital to defend Japan’s interests abroad.
He intends to spend his political capital. In defiance of his party he wants Japan to join US-led trade talks to create the Trans-Pacific Partnership. The effort could yet falter in the face of the LDP’s fierce attachment to agricultural protectionism, but Mr Abe has understood that trade deals are as much about geopolitics as economics. He is the first Japanese leader in a long time to elevate strategic interest above domestic infighting.
His boldest step has been in the realm of domestic economics – the second of my two positives. Starting with a big fiscal stimulus and a leadership coup at the Bank of Japan, Mr Abe has launched a three-pronged plan to lift the country out of stagnation. If an unprecedented monetary boost, more government spending and promised structural reforms do not breathe life into the world’s third-largest economy, then nothing will.
There are plenty of risks. Thursday’s stock market slide showed that Abenomics is not immune to changing market sentiment. There is deep disquiet among Japan’s neighbours about the tumbling yen. There is a fine line between justified action to kick-start the domestic economy and beggar-thy-neighbour devaluation. These days all central bankers operate in unmapped territory but the BoJ’s Haruhiko Kuroda is out on his own.
After two lost decades, something had to be done to break the pattern of stagnation. There is a decent chance that a return of consumer confidence and spending will be followed by an upswing in exports and investment. Somewhere out there, there may even be a virtuous cycle to replace the vicious one in which Japan has been trapped.
Mr Abe, though, is about more than economics. His energy comes from a deeper determination to restore Japan as a player – and, more particularly, a power to be reckoned with in its own neighbourhood. This Japanese leader does not intend to be pushed around by China – and nor, for that matter, by its vital ally the US. Mr Abe has increased defence spending and intends to revise the constitution to create a military capable of participating in collective defence.
Here we get to the big negative. The prime minister’s appeal to patriotism and national spirit is tinged with a dangerous historical revisionism. He has obfuscated when asked about Japan’s atrocities in Korea and China during the first half of the last century; his senior ministers pay their respects at the Yasukuni shrine, which holds the remains of a dozen Class A war criminals; question marks have been put over Japan’s culpability for the wartime enslavement of Korean women as prostitutes for the occupying soldiers. All in all, the mood music has been of a Japan that has tired of apologising.
The immediate effect has been to derail relations with South Korea, alarm the US and offer ammunition to Beijing when it claims that regional tensions are being stoked by Japanese nationalism rather than Chinese expansionism. Amid a maritime stand-off in the East China Sea, Washington fears that Mr Abe is treating the US-Japan security treaty as a shield from behind which Tokyo can poke China in the eye.
Japan has reason to be frustrated. Chinese incursions have raised the temperature in the territorial dispute over the Japanese-administered Senkaku (in Chinese, Diaoyu) islands. The answer, though, is not the return of unabashed Japanese nationalism. Mr Abe is fanning the glowing embers of old rivalries and hatreds across east Asia. If he wants to restore Japan’s strength, the way to do it is by reviving the economy. There is nothing to be gained, and much to be lost, by the attempt to rewrite the past.
Philip Stephens
Fonte: FT
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Educação, Educação, Educação,
Os neo-desenvolvimentistas adoram mencionar a Coreia do Sul como exemplo a ser seguido pelo Brasil, no entanto, esquecem de mencionar o papel fundamental do investimento em educação para o sucesso do modelo coreano. Ferreira e Fragelli, no artigo, lembra este pequeno detalhe que fez toda a diferença e continuar fazer em outros paises da Asia.Enquanto isto, continuamos acreditando em cursos de engenharia noturno e coisas do tipo...
Em 1950, 63% da força de trabalho brasileira trabalhava na agricultura, 20% em serviços e 17% na indústria. Hoje, somente 15% dos trabalhadores estão na agricultura, os serviços empregam outros 65% e o restante está na indústria. A transformação estrutural da economia brasileira deu-se a uma velocidade relativamente alta e foi acompanhada de um também acelerado processo de urbanização.
Cidades são locais de maior interação entre agentes econômicos. Em vários estudos, importantes economistas como Robert Lucas e Edward Glaeser têm enfatizado o papel das cidades como lócus de educação, inovação e crescimento. Devido à frequente interação e contatos entre profissionais, nas cidades as ideias circulam mais intensamente, há mais trocas e, portanto, mais criatividade e inovação. Dada a elevada escala, aprende-se mais rápido e mais facilmente.
Há fortes externalidades positivas, pois todos se beneficiam de um ambiente criativo e dinâmico. A isto se contrapõe o isolamento do campo, onde os contatos são menos frequentes; a educação, de custoso acesso; o ambiente para inovação, adverso; o crescimento, mais lento e, consequentemente, a pobreza maior.
Em 1950, um trabalhador brasileiro do campo produzia entre um sexto e um sétimo do que produzia um trabalhador urbano do setor de serviços ou da indústria. Com a urbanização, o mesmo trabalhador antes pouco produtivo no campo tornou-se mais produtivo na cidade, ocorrendo aumento de renda. Para a economia brasileira agregadamente o efeito foi significativo. Fernando Veloso e Pedro Ferreira, em estudo publicado no livro "Desenvolvimento Econômico, Uma Perspectiva Brasileira", estimam que um terço do crescimento da economia brasileira entre 1950 e 1980 pode ser explicado por trabalhadores que trocaram seus empregos pouco produtivos na agricultura por empregos mais produtivos nas cidades.
A partir de 1980, diante de uma população já predominantemente urbana, não havia mais como se gerar ganhos de produtividade pela simples migração do campo para as cidades. A etapa seguinte exigia uma melhoria da qualificação dos trabalhadores que já haviam migrado para as cidades. Mas isso não ocorreu. A produtividade média do setor caiu, entre 1980 e 2000, ao ritmo de 1,8% ao ano. A crescente oferta de mão de obra pouco qualificada explica esse processo. Incapacitados de se empregarem na manufatura, ou em empregos especializados do setor de serviços, uma massa de trabalhadores sem qualificação acabou se empregando como domésticas, biscateiros, vendedores de rua, guardadores de automóvel, etc.
Ao mesmo tempo, a falta de planejamento urbano, a baixa renda dessas pessoas, e a inexistência de financiamento imobiliário - devido à elevada inflação -, levaram à crescente favelização das grandes cidades. Hoje 22% da população do Rio de Janeiro vive em favelas; em Belém, mais da metade da população. Ao contrário do que Lucas e Glaeser defendem, no Brasil, os ganhos da urbanização não foram tão grandes para aqueles malfadados trabalhadores. Para eles, os serviços públicos - escolas, saneamento, entre outros -são ruins, e a moradia, péssima. Nesse ambiente infértil, as interações criativas revelaram-se limitadas.
Não precisava ter sido assim. A Coreia do Sul passou por uma transformação estrutural e urbanização semelhante à brasileira. Em 1950, mais de 60% de sua força de trabalho estava na agricultura, mas hoje a cifra é de menos de 10%. Ao mesmo tempo, a proporção de trabalhadores no setor de serviços subiu de 28% para 63%.
Ao contrário do observado no Brasil, a produtividade desse setor nunca caiu, mas cresceu continuamente a quase 2% ao ano, taxa superior à dos Estados Unidos. A Coreia, mais pobre que o Brasil em 1950, é hoje duas vezes mais rica, em termos per capita.
A diferença principal entre os dois países foi a educação. As políticas desenvolvimentistas brasileiras virtualmente a ignoraram, ao passo que as coreanas - e de grande parte dos países asiáticos -, mantiveram a educação no centro do planejamento governamental. Entre 1950 e 1980, enquanto a escolaridade média coreana aumentou cerca de quatro anos, no Brasil mal passou de um ano a mais. Enquanto o Brasil implementava suas temporariamente bem-sucedidas políticas de crescimento inspiradas no nacional-desenvolvimentismo - e parte do sucesso se deveu meramente à já citada transformação estrutural -, a Coreia implantava as suas (também bem-sucedidas) políticas de desenvolvimento, com a diferença que estas vieram acompanhadas de investimentos pesados em educação e qualificação profissional. Assim, o crescimento do setor de serviços coreano beneficiou-se da incorporação de trabalhadores preparados para atuar nos subsetores mais dinâmicos e produtivos.
As lições do passado são claras. O Brasil bloqueou importações, estatizou serviços, perseguiu políticas intervencionistas que acabaram gerando as distorções que levaram o país à estagnação dos anos 1980 e 1990, e até tentou reinventar o computador! Enquanto isso, menosprezava a educação, a infraestrutura urbana e os serviços públicos. O que mais preocupa é que as lições parecem não terem sido aprendidas até hoje. Em escala mais limitada, mas com igual entusiasmo, continua-se a repetir muitas das políticas equivocadas do passado, como se a insistência no erro pudesse gerar um acerto. O equívoco de diagnóstico atrasará ainda mais o país, não só em termos de crescimento, mas também na solução de seus problemas urbanos.
Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli Cardoso são professores da Escola de Pós-graduação em Economia (EPGE-FGV).
Fonte: Valor
terça-feira, 21 de maio de 2013
Abenomics will only damage Japan’s neighbours
Avaliação critica da Abenomics que vai muito além das obviedades exageradamente otimistas publicadas recentemente, inclusive na The Economist.
Abenomics, the name given to Japan’s experiment with monetary and fiscal stimulus, is designed to end chronic deflation, according to Shinzo Abe, the country’s prime minister. But there is yet little evidence of inflation. The world has merely seen a sharp devaluation of the yen. This devaluation is both unfair on other countries and unsustainable.
Since December the yen has lost about 25 per cent of its value against the US dollar and even more against the Chinese renminbi and the South Korean won. As a result Japan’s exports have accelerated and were responsible for almost half of its annualised 3.5 per cent growth in gross domestic product in the last quarter. The faster rate of exports has driven up expected earnings of large companies and, accordingly, the index of the Japanese stock market by 50 per cent. But core consumer prices remain lower than they did a year ago. Rather than raise expectations of inflation, Abenomics has simply generated expectations of further devaluation.
This type of recovery is unfair since it comes at the expense of Japan’s trading partners. In South Korea, Hyun Oh-seok, finance minister, last month said the won’s appreciation against the yen is a larger issue than whether North Korea launches a nuclear missile.
China has become the de facto shock absorber for Abenomics. For the past three years China’s trade surplus has been steadily decreasing as a share of its GDP, from more than 5 per cent to about 2 per cent. In terms of absolute value, the surplus has come down from about $300bn to nearer $200bn. Meanwhile, the nominal exchange rate of the renminbi against the dollar has appreciated by about 20 per cent since July 2010. Chinese inflation has been about 2 per cent higher than the US over the period, so the real exchange rate is appreciating faster.
Chinese exporters do not need a devaluation of the yen. Many Chinese products are in strong competition with Japanese equivalents – think of cameras and televisions. The yen devaluation is hurting producers of these goods. This is at a time when Japanese exports to China are rising because of relative quiet in the dispute over islands in the East China Sea.
A Japanese recovery based on a devaluation cannot last. The most important reason for this is geopolitics. Against the backdrop of quantitative easing by several central banks including Japan’s, China, Taiwan and South Korea are all facing the problem of currency appreciation. The falling yen is salt rubbed into their wounds. Nationalistic sentiments against Mr Abe are high. Strong economic policy reactions from Japan’s neighbours are almost inevitable.
If the yen devaluation continues, China and South Korea may well have to interfere in the foreign exchange markets to stop the appreciation of their currencies. Trade disputes may emerge against certain Japanese exports. Finally, Japanese investments will be placed under increasing scrutiny.
Japan needs to return to the fundamental values of economics. Specifically, it should try to increase asset values through enhancing domestic economic activities. The most important element is higher capital expenditure by companies, which is missing despite the current boom in exports. This is an indication that Japan’s corporate executives do not believe that its currency appreciation is sustainable.
Most importantly, the Japanese government needs to implement its long overdue liberalisation of various regulations to allow businesses to invest freely. It needs to liberalise the labour market to allow companies to hire more workers; to enhance competition; and to encourage investment by small businesses via increased access to credit. Without this hard work, real economic activities cannot recover quickly and deflation will continue – despite the huge amount of money printed. This is a lesson the world has learnt through various financial crises and the ensuing hard-earned recovery. Japan must learn it too.
David Li, Mansfield Freeman professor of economics at Tsinghua University
Fonte: FT
segunda-feira, 20 de maio de 2013
Don’t expect emerging markets to be flooded in cheap money
Analise interessante do Sharma sobre a guerra cambial cantada em verso e prosa, mas que ainda não se materializou.
The easy money policies of the US and Japanese central banks are inspiring worried talk of “currency wars”. The fear is that newly printed dollars and yen will flood into fast-growing emerging markets, driving up their currency values, undermining their exports and creating local asset bubbles. In this analysis, emerging market leaders are fighting in vain to hold back a destructive tide.
It is true that capital chases growth, but the big emerging economies are slowing. Far from fighting off a deluge of foreign capital, leaders from India to South Africa are struggling to attract a greater share of global capital flows in order to fund widening current account deficits. Over the past decade, the foreign exchange reserves of the developing world grew at an average annual rate of 25 per cent, swelling from $570bn in 2000 to $7tn in 2011. But over the past year, the average rate slowed to a crawl of barely 5 per cent.
The idea that money is still flooding emerging markets misses the big picture, which is that global cross-border capital flows are down 60 per cent from their 2008 peak. The largest shares of cross-border capital flows are in bank loans, trade and foreign direct investment, which are slowing worldwide. This has not been obvious before because commentary tends to focus on the relatively small share of capital flows represented by portfolio investment, which drives stock prices and which continued to flow into emerging markets at a brisk pace last year. But those flows are slowing, too.
The shifts are clear in data from the International Institute of Finance. Between 2002 and 2007, net private capital inflows to emerging markets skyrocketed from $100bn to $970bn – peaking at about 6.6 per cent of their gross domestic product. After collapsing in 2008 and 2009, these flows have only partially recovered, to about $770bn – about 3.2 per cent of emerging market GDP. The decline is largely due to a decrease in loans from banks and other western creditors.
There is a parallel decline in trade flows, which has triggered talk of “deglobalisation”. Across the emerging world, export growth has slowed even as import growth has remained strong, pushing down the external balances as measured by the current account. The current account surpluses of the emerging world have fallen from 4 per cent of GDP in 2007 to below 2 per cent.
These trends reverse the conditions of the past decade, when foreign money rushed into the emerging economies, driving up the value of their currencies. That started to change in late 2010, which is also when the Brazilian finance minister Guido Mantega – in a classic case of fighting the last war – raised the alarm that US policies could trigger a “currency war”.
The currency war theme still haunts finance, even though emerging currencies have depreciated by an average of 10 per cent against the dollar since 2011, with the Brazilian real falling by about 20 per cent. The rebalancing of capital flows is reducing the supply of credit in emerging markets, dragging on their economic growth. This is the opposite of the past decade, when growing current and capital account surpluses fuelled record credit growth in the developing world.
As the printing presses continue to hum, however, the question remains: where will the money go? Policy makers cannot assume it will flow to the emerging markets, the way it did in the 2000s. That was an exceptional decade, when all emerging markets boomed, attracting huge new capital flows. Now the blind optimism about growth in many emerging markets has dimmed, as many face serious structural problems.
Brazil, Russia and South Africa may grow more slowly than the global average over the next few years. However, inflows remain high in some of the more reform-oriented emerging economies such as the Philippines, Thailand and Turkey. The reality is that excess American and Japanese central bank liquidity does not have to flow abroad. It will go wherever growth prospects are improving and beating expectations. So, for now, much of the money is going where confidence is growing – which means keeping it back home in the US and Japan. And this implies that, in the larger emerging markets where growth is slowing, there will be no tide to hold back.
Ruchir Sharma,head of emerging markets and global macro at Morgan Stanley Investment Management
Fonte: FT
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Paul Krugman: How the Case for Austerity Has Crumbled
Ótimo artigo resenha do Krugman no último número da NYRB.
The Alchemists: Three Central Bankers and a World on Fire
by Neil Irwin
Penguin, 430 pp., $29.95
Austerity: The History of a Dangerous Idea
by Mark Blyth
Oxford University Press, 288 pp., $24.95
The Great Deformation: The Corruption of Capitalism in America
by David A. Stockman
PublicAffairs, 742 pp., $35.00
In normal times, an arithmetic mistake in an economics paper would be a complete nonevent as far as the wider world was concerned. But in April 2013, the discovery of such a mistake—actually, a coding error in a spreadsheet, coupled with several other flaws in the analysis—not only became the talk of the economics profession, but made headlines. Looking back, we might even conclude that it changed the course of policy.
Why? Because the paper in question, “Growth in a Time of Debt,” by the Harvard economists Carmen Reinhart and Kenneth Rogoff, had acquired touchstone status in the debate over economic policy. Ever since the paper was first circulated, austerians—advocates of fiscal austerity, of immediate sharp cuts in government spending—had cited its alleged findings to defend their position and attack their critics. Again and again, suggestions that, as John Maynard Keynes once argued, “the boom, not the slump, is the right time for austerity”—that cuts should wait until economies were stronger—were met with declarations that Reinhart and Rogoff had shown that waiting would be disastrous, that economies fall off a cliff once government debt exceeds 90 percent of GDP.
Indeed, Reinhart-Rogoff may have had more immediate influence on public debate than any previous paper in the history of economics. The 90 percent claim was cited as the decisive argument for austerity by figures ranging from Paul Ryan, the former vice-presidential candidate who chairs the House budget committee, to Olli Rehn, the top economic official at the European Commission, to the editorial board of The Washington Post. So the revelation that the supposed 90 percent threshold was an artifact of programming mistakes, data omissions, and peculiar statistical techniques suddenly made a remarkable number of prominent people look foolish.
The real mystery, however, was why Reinhart-Rogoff was ever taken seriously, let alone canonized, in the first place. Right from the beginning, critics raised strong concerns about the paper’s methodology and conclusions, concerns that should have been enough to give everyone pause. Moreover, Reinhart-Rogoff was actually the second example of a paper seized on as decisive evidence in favor of austerity economics, only to fall apart on careful scrutiny. Much the same thing happened, albeit less spectacularly, after austerians became infatuated with a paper by Alberto Alesina and Silvia Ardagna purporting to show that slashing government spending would have little adverse impact on economic growth and might even be expansionary. Surely that experience should have inspired some caution.
So why wasn’t there more caution? The answer, as documented by some of the books reviewed here and unintentionally illustrated by others, lies in both politics and psychology: the case for austerity was and is one that many powerful people want to believe, leading them to seize on anything that looks like a justification. I’ll talk about that will to believe later in this article. First, however, it’s useful to trace the recent history of austerity both as a doctrine and as a policy experiment.
1.
In the beginning was the bubble. There have been many, many books about the excesses of the boom years—in fact, too many books. For as we’ll see, the urge to dwell on the lurid details of the boom, rather than trying to understand the dynamics of the slump, is a recurrent problem for economics and economic policy. For now, suffice it to say that by the beginning of 2008 both America and Europe were poised for a fall. They had become excessively dependent on an overheated housing market, their households were too deep in debt, their financial sectors were undercapitalized and overextended.
All that was needed to collapse these houses of cards was some kind of adverse shock, and in the end the implosion of US subprime-based securities did the deed. By the fall of 2008 the housing bubbles on both sides of the Atlantic had burst, and the whole North Atlantic economy was caught up in “deleveraging,” a process in which many debtors try—or are forced—to pay down their debts at the same time.
Why is this a problem? Because of interdependence: your spending is my income, and my spending is your income. If both of us try to reduce our debt by slashing spending, both of our incomes plunge—and plunging incomes can actually make our indebtedness worse even as they also produce mass unemployment.
Students of economic history watched the process unfolding in 2008 and 2009 with a cold shiver of recognition, because it was very obviously the same kind of process that brought on the Great Depression. Indeed, early in 2009 the economic historians Barry Eichengreen and Kevin O’Rourke produced shocking charts showing that the first year of the 2008–2009 slump in trade and industrial production was fully comparable to the first year of the great global slump from 1929 to 1933.
So was a second Great Depression about to unfold? The good news was that we had, or thought we had, several big advantages over our grandfathers, helping to limit the damage. Some of these advantages were, you might say, structural, built into the way modern economies operate, and requiring no special action on the part of policymakers. Others were intellectual: surely we had learned something since the 1930s, and would not repeat our grandfathers’ policy mistakes.
On the structural side, probably the biggest advantage over the 1930s was the way taxes and social insurance programs—both much bigger than they were in 1929—acted as “automatic stabilizers.” Wages might fall, but overall income didn’t fall in proportion, both because tax collections plunged and because government checks continued to flow for Social Security, Medicare, unemployment benefits, and more. In effect, the existence of the modern welfare state put a floor on total spending, and therefore prevented the economy’s downward spiral from going too far.
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quinta-feira, 16 de maio de 2013
Eleições na Alemanha...
Interessante analise das eleições na Alemanha no segundo semestre do corrente ano. É,como mencionamos em vários posts, fundamental para sabermos como serão encaminhados temas espinhosos na zona do euro, entre os quais a política de austeridade que tanto sofrimento tem causado a sua população.Por enquanto Merkel é a favorita, mas como argumenta Peel, esta longe de ser um jogo jogado.
It is still early days in the German election campaign, but the political temperature is rising four months before polling day.
The gap between Angela Merkel’s centre-right Christian Democratic Union and the centre-left Social Democratic party has started to shrink for the first time in months.
A scandal over tax evasion involving Uli Hoeness, president of Bayern Munich football club and close to the ruling CDU and its Bavarian sister-party, the Christian Social Union, is one factor. The rise of a new eurosceptic party seeking to woo dissident conservatives is another. The CDU/CSU bloc has seen its support slip to 37 per cent in one recent poll and the SPD has picked up to 27 per cent.
In spite of her personal popularity, the chance of a shock defeat for Germany’s chancellor has unsettled the mood among her supporters and revived the hopes of an opposition that has been trailing in the polls.
So what would it take to unseat Ms Merkel, the most powerful politician in Europe?
For a start, it may not depend on the big issues – managing the eurozone financial crisis or tackling social injustice – debated by the big parties. It may be decided by the marginal mathematics of the smallest parties, including the unpredictable intervention of the Alternative for Germany (AfD), a eurosceptic alliance led by an economics professor.
Even if they do not win any seats in the parliament, they could affect the distribution of votes and the precise numbers needed to win a majority.
Much depends on whether Ms Merkel’s partner in power, the liberal Free Democratic party, can win the 5 per cent needed to get into the Bundestag. A vociferous minority in the FDP is unhappy with Ms Merkel’s eurozone crisis management. Some could switch to the AfD. The same goes for CDU dissidents.
Three local state leaders of the CDU – from Hesse, a traditional conservative heartland, as well as Saxony and Thuringia in the east – have drafted a paper calling on Ms Merkel to attack the AfD more openly. But she thinks that would simply encourage them. She is inclined to ignore the challenge.
The chancellor’s own popularity is much higher than that of her government. Her rating is more than 60 per cent, but only 25 per cent say they want to see her conservative-liberal coalition back in office. What voters want most is a “grand coalition” of CDU and SPD, headed by Ms Merkel.
On the other hand, Peer Steinbrück, the SPD challenger, has had a rotten start to his campaign and his rating is barely 30 per cent.
Ms Merkel’s pragmatic conservatism and aversion to risk-taking seem to suit the electorate. She combines a firmly pro-European attitude with a stubborn determination to defend Germany’s interests in the eurozone financial crisis: that is what the voters want. Mr Steinbrück, who is campaigning for a coalition with the Greens, comes across as equally intelligent, but more abrasive.
But German elections are not traditionally presidential. “In the end it is not the reputation of the chancellor that will be decisive because in Germany it is always parties that are elected,” says Thomas Oppermann, the SPD chief whip just appointed to the Steinbrück election team.
The CDU has lost all the most recent state elections, as well as a string of mayoral elections in Germany’s big cities, in spite of the chancellor’s high standing.
The SPD calculation is that the threshold for a majority with the Greens – polling at about 15 per cent – would be in reach if several small parties fail to reach 5 per cent. It would require the FDP and AfD each to win about 4.5 per cent, the internet libertarian Pirate party to get 3 per cent, and others (such as the neo-Nazi NPD) to get an odd percentage point. That would see the Bundestag elected by about 86 per cent of voters and a majority possible with just 43 per cent support.
Ms Merkel’s best allies, on the other hand, are the far-left Linke party, including former East German communists. Every vote for the Linke is a lost vote for the SPD. And the Social Democrats are adamant they will not co-operate with them in any coalition because they are anti-European and anti-Nato.
“It means the election is wide open,” says Mr Oppermann. “At this point in 2009, Angela Merkel had 40 per cent. She ended up with 33.8 per cent. Things will only come to a head in late August or early September, so everything is still to play for.”
Quentin Peel
Fonte: FT
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Iceland’s election is a signal to the rest of Europe
Um bom quebra cabeça para os amigos que ainda acreditam na infalibilidade do chamado ciclo político.
Iceland’s response to the financial crisis has been taken as a model for how a country should react to a dramatic economic shock. However, international observers should also take note of our country’s recent election result. Despite guiding the country through a difficult but impressive recovery, the governing parties were ousted. The parties that were blamed for the financial crisis won a slim majority. This raises a fundamental question: in our age of austerity and slower growth, can politicians maintain popularity without the proceeds of a bubble economy? Put differently: can any politician meet the unrealistic expectations of Europe’s voters?
After Iceland’s 2008 collapse, nearly the whole financial system went bust, inflation hit 18 per cent and the currency plunged. Unemployment spiked from 1 per cent to 9 per cent. Debt rocketed and commentators asked when we would default.
I was part of the ousted centre-left coalition that stopped the slide. At the time of last month’s election, the deficit was turning into a surplus, the currency had stabilised, inflation had dropped to less than 4 per cent and unemployment had halved.
The Icelandic recovery was not based on the sort of austerity measures seen elsewhere in Europe. Low-income groups and the unemployed were protected. Debt on homes with negative equity was written down. The International Monetary Fund rather unexpectedly lauded Iceland for retaining our Nordic welfare system.
Politicians caught in economic crisis south of Iceland would give a lot for our metrics. Presumably, however, they would not care for the coalition parties’ election result, as together their vote fell by 27.7 per cent from the last election – the biggest swing in the country’s history.
There is no simple answer as to why. Some say the government did not boast enough about its success. Disunity within the coalition on the implementation of difficult measures was also a factor. Others say that the government tried to implement too many changes, too quickly – and there is a time lag for the impact of policies to be felt by Iceland’s households. However, the truth is that we were beaten by the enormity of the task and the importance of public expectations.
The two centre-right parties that implemented the policies that led to Iceland’s crash have emerged victorious. It is a stunning result. Their election manifestos feature familiar jargon of boosting the economy through low taxes and deregulation. Extravagant measures have been promised to improve consumption in an economy that needs to focus on minimising government debt after the personal spending binge in the pre-crash years. The vote went for short-term consumption instead of long-term and stable foundations.
Policy makers across Europe face the difficult question of how to survive a crisis. Taking tough but necessary measures to save a country’s economy does not always win votes. Voters want immediate returns, so government leaders are pressurised to pursue policies that facilitate consumption. There is little understanding that growth has to be sustainable. That paves the way for opportunistic promises by opposition parties that everything will prosper if voters choose based on short-term needs or desires. These are the materialistic ideologies of the day – and the pre-crisis era – making it impossible for a democratic system to be long-sighted.
It is important to ask whether governments implementing recovery measures can maintain power long enough to emerge from a crisis, if they cannot immediately deliver the same standards of living as citizens enjoyed during a bubble economy. Iceland has come a long way but it still faces huge tasks, such as the lifting of capital controls.
The result from Iceland should prompt introspection not just from politicians, but from voters as well. Are our expectations realistic? Is the only way to meet the insatiable demand for growth to build economies based on quicksand? For that is a recipe for an ever more destructive boom-and-bust cycle.
Steingrímur Sigfússon ( ex-Ministro da Fazenda/Finanças)
Fonte: FT
terça-feira, 14 de maio de 2013
Nakano, Câmbio: o longo prazo já começou
Cotado para ficar no lugar do Barbosa, o que seria estranho, já que neste caso seria na pratica o Ministro da Fazenda, Nakano volta com seu conhecido samba de uma nota só: o câmbio. Ele não menciona o valor que considera adequado, mas não ficaria surpreso se fosse em torno de 3 reais.
A taxa real de câmbio é sem dúvida o preço relativo macroeconômico vital e estratégico, particularmente para as economias emergentes. Veja a solidez da economia alemã e a recuperação da economia americana, entre os desenvolvidos, fatos que têm muito a ver com a prática de taxa real de câmbio competitiva. Entre os emergentes, também são exemplos a China e India que, nos últimos anos, dirigiram suas políticas cambiais para o desenvolvimento.
O cenário futuro destes países contrasta com o do sul da Europa e do Brasil, que descuidaram da taxa real de câmbio.
A taxa nominal de câmbio pode ser convertida num instrumento de política de crescimento, como agora no Japão, seguindo os Estados Unidos e a Europa, que acaba de fazê-lo. Nestes casos, em vez de intervir no mercado de câmbio, foi utilizada uma política monetária ultraexpansionista para depreciar a taxa. Todavia, é importante salientar que a taxa real de câmbio é resultado de um conjunto de medidas e depende de outras variáveis. É a gestão desse conjunto que pode tornar o país competitivo e, portanto, colocá-lo em uma trajetória de crescimento.
Destoando do conjunto de países mencionados acima, o Brasil se destaca por fazer o inverso. Permite enorme instabilidade cambial, portanto, dos preços relativos de "tradables" versus "non tradables" e da relação câmbio versus salário (margem de lucro dos "tradables"), de forma que gerou duas fortes ondas de desindustrialização e cristalizou uma nova estrutura produtiva, favorecendo o setor de serviços, cuja expansão não tem grande impacto no crescimento, mas influencia a inflação.
Trata-se do futuro, que parece não preocupar ninguém a não ser o autor destas linhas que, no entanto, tem a obrigação de alertar para o fato. O problema é muito mais grave no longo prazo. Basta ver a tendência de déficit crescente de transações correntes que os longos anos de câmbio apreciado já gerou. Isso está ocorrendo com a economia em semiestagnação, imagine se estivéssemos crescendo.
Portanto, inevitavelmente, em algum momento no futuro, a taxa de câmbio terá que se ajustar para equilibrar as transações correntes do país. Num cálculo muito conservador, o "Observatório de Taxa de Câmbio da FGV/EESP" estimou que a taxa real efetiva de câmbio de longo prazo de equilíbrio, em 2012, deveria ser 22% mais depreciada que a vigente naquele período. Observe-se que essa taxa seria aquela que teoricamente traria o equilibrio externo, no longo prazo, determinado pelos fundamentos da economia, considerando, inclusive os efeitos dos termos de troca. Nada diz sobre o ajuste temporal do câmbio.
Sabemos pelas experiências anteriores que as exportações levam pelo menos dois anos para começar a responder à mudança na taxa de câmbio, portanto, um período muito maior, tudo mais constante, para equilibrar as transações correntes do país. Mas lembre-se que a taxa de câmbio tem que ser estável e sustentável no longo prazo para o empresário responder com esforço exportador e novos investimentos.
Neste ano, o déficit em transações correntes piorou, bem como os termos de troca. Portanto, conservadoramente, a taxa de câmbio deveria ser depreciada em pelos menos 20% hoje e os exportadores convencidos de que o novo patamar vai se sustentar para que eles comecem a reagir. Se tudo isso ocorrer, em quatro ou cinco anos será invertida a tendência atual e, eventualmente, reequilibrada as transações correntes.
Sabemos que nada disso acontecerá pois a economia brasileira está presa ao curto prazo. Para neutralizar os seus impactos inflacionários, a desvalorização do real teria um custo de ajuste fiscal que certamente a elite política e os partidos de sustentação não estão dispostos a arcar neste momento.
Dessa forma, em algum momento no futuro, o "mercado" se encarregará de ajustar o câmbio, como aconteceu com a crise do balanço de pagamentos de janeiro de 1999. É verdade que temos hoje mais de US$ 370 bilhões em reservas cambiais que postergarão eventual crise. Mas não a evitarão. A duração dessas reservas e seu impacto sobre a taxa de câmbio dependerão do montante de ativos líquidos à disposição dos agentes econômicos. Se somarmos aos depósitos à vista e outras aplicações líquidas nos bancos as aplicações no mercado aberto, facilmente ultrapassaremos o valor das reservas cambiais. Uma vez criada a desconfiança de que uma depreciação se tornou necessária, ela se tornará inevitável. Todo agente racional para se defender terá que correr para o dólar para defender seu patrimônio.
É bom lembrar também que nesse tipo de desvalorização cambial sempre ocorre um "overshooting" - talvez necessário para rapidamente reduzir as importações e dar o empurrão inicial às exportações. Há aparentemente uma certa racionalidade nesse 'overshooting", a de cobrir o chamado "custo Brasil". Tomando apenas o diferencial que as empresas localizadas no Brasil pagam a mais em comparação com nossos principais parceiros comerciais só em impostos, capital de giro e tarifa de energia, chegamos a 20% do preço, sem considerar o custo direto e indireto da infraestrutura precária. Sei que ninguém se preocupa com o longo prazo, mas não custa alertar que ele já começou.
Yoshiaki Nakano
Fonte: Valor
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Dani Rodrik: Para que servem os economistas?
Rodrik tem razão: "infelizmente, economistas raramente são humildes, especialmente, em público."
Quando as apostas são altas, não é surpresa que oponentes políticos se aproveitem de qualquer apoio que possam arregimentar entre economistas e outros pesquisadores. Foi o que ocorreu quando políticos conservadores dos Estados Unidos e autoridades da União Europeia valeram-se do trabalho de dois professores de Harvard - Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff1 - para justificar sua defesa de uma maior austeridade fiscal.
Reinhart e Rogoff publicaram um estudo2 que parecia mostrar uma obstrução significativa ao crescimento econômico quando os níveis de dívida pública estavam acima de 90% do Produto Interno Bruto (PIB). Então, três economistas da University of Massachusetts, em Amherst, fizeram o que os acadêmicos supostamente deveriam fazer de forma rotineira: replicar o trabalho de seus colegas e submetê-lo a críticas.
Além de um erro relativamente menor de cálculo na planilha eletrônica do estudo, eles identificaram algumas escolhas metodológicas no trabalho original de Reinhart/Rogoff que colocaram em dúvida a solidez dos resultados. Ainda mais importante, as evidências de que haveria tal limite de 90% mostraram-se bastante fracas. E, como muitos argumentaram, a própria correlação poderia ser resultado de baixo crescimento provocando alto endividamento, em vez de uma correlação na direção contrária.
Reinhart e Rogoff contestaram com firmeza as acusações3 feitas por muitos comentaristas de que foram participantes dispostos - se não de forma intencional - a entrar no jogo de enganação política. Eles defenderam seus métodos empíricos e insistiram em não ser "falcões do déficit" - defensores de uma linha dura contra as contas públicas negativas -, como seus críticos os retrataram.
A tempestade resultante acabou por deixar em segundo plano o que foi um processo salutar de escrutínio e refinamento da pesquisa econômica. Reinhart e Rogoff rapidamente admitiram o erro que cometeram no Excel. As análises duelistas esclareceram a natureza dos dados, suas limitações e a diferença que métodos alternativos de processá-los tiveram para os resultados. No fim das contas, Reinhart e Rogoff não estavam tão longe de seus críticos, tanto em termos do que as evidências mostraram como em termos das implicações para as políticas econômicas.
O ponto positivo, então, nesse ruidoso embate foi o fato de ter mostrado que as ciências econômicas podem ter progressos valendo-se das regras da ciência. Não importa a distância dos pontos de vista políticos, os dois lados compartilharam uma linguagem comum sobre o que constitui uma evidência e - em grande parte - uma abordagem comum para resolver as diferenças.
O problema é outro. É a forma como economistas e suas pesquisas são usados em debates públicos. O caso Reinhart/Rogoff não foi apenas uma discussão de minúcias acadêmicas. Como o marco de 90% tornou-se uma bandeira política, sua posterior desconstrução também ganhou significado político mais amplo. Reinhart e Rogoff, apesar de seus protestos, foram acusados de proporcionar uma justificativa acadêmica para um conjunto de políticas para as quais havia, na verdade, evidências limitadas de suporte.
Uma solução que não daria certo seria que os economistas tentassem adivinhar como suas ideias serão usadas no debate público e com base nisso passem a moldar seus comentários públicos. Por exemplo, Reihart e Rogoff poderiam ter minimizado a importância de seus resultados para evitar que fossem usados de forma inadequada. Poucos economistas, contudo, têm a sintonia fina suficiente para ter uma ideia clara dos desdobramentos políticos futuros. Além disso, quando economistas ajustam suas mensagens para adaptá-las ao público o resultado é o oposto do pretendido: rapidamente perdem credibilidade.
Vejamos o que ocorre no comércio exterior, campo em que essas pesquisas adaptadas ao público são prática estabelecida. Por receio de fortalecer os "bárbaros protecionistas", economistas especializados em comércio exterior têm propensão a exagerar os benefícios do comércio e minimizar as questões de distribuição e outros custos. Na prática, isso faz seus argumentos serem aproveitados por grupos de interesse na outra ponta - conglomerados internacionais que buscam manipular as regras de comércio em benefício próprio. Como resultado, economistas raramente são vistos como agentes honestos no debate público sobre a globalização.
Economistas, entretanto, deveriam combinar honestidade quanto ao que suas pesquisas dizem com honestidade quanto à natureza inerentemente condicional do que se transmite como sendo evidência em sua profissão. As ciências econômicas, diferentemente das ciências naturais, raramente geram resultados definitivos. Em primeiro lugar, todo raciocínio econômico é contextual; existem tantas conclusões quanto existem circunstâncias possíveis no mundo real. Todas as proposições econômicas são proposições condicionais. De forma correspondente, descobrir qual solução funciona melhor em determinado cenário é mais uma arte do que uma ciência.
Nas palavras4, memoráveis, do economista-chefe do Banco Mundial, Kaushik Basu, "algo que os especialistas sabem, e que os não especialistas não sabem, é que sabem menos do que os não especialistas pensam que eles sabem". As implicações vão além de meramente não alardear demais qualquer resultado em particular de uma pesquisa. Jornalistas, políticos e o público em geral têm tendência a atribuir ao que os economistas dizem uma autoridade e precisão maiores do que os próprios economistas deveriam realmente aceitar. Infelizmente, economistas raramente são humildes, especialmente, em público.
Há outro ponto que o público deveria saber sobre economistas: é sua esperteza, e não sabedoria, que faz carreiras avançarem. Professores nas principais universidades não se distinguem por estar certos sobre o mundo real, mas por desenvolver evidências originais ou elaborar reviravoltas teóricas imaginativas. Se essas habilidades também os tornam observadores perspicazes da sociedade real e lhes conferem um bom poder de discernimento, provavelmente é por mero acaso.
Dani Rodrik, professor de Economia Política Internacional na Universidade de Harvard
Fonte: Valor
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Bacha: Economia brasileira 2.0
A nova agenda econômica do Brasil na visão de um dos melhores economistas do grande bananão.
A economia brasileira está enferma. É isso que nos dizem os pibinhos, a inflação alta e a desindustrialização. São sintomas da baixa produtividade do país que tem a ver, entre outros fatores, com o atraso tecnológico, a escala reduzida e a falta de especialização que caracterizam nossas empresas de um modo geral. É o resultado do isolamento econômico a que o país se impôs em relação ao comércio internacional, com exportações que representam apenas 1,4% do total mundial. Agora que um brasileiro vai dirigir a Organização Mundial do Comércio, é boa hora de reavaliar essa política de isolamento e promover a integração competitiva do país à economia internacional.
Minha sugestão para essa integração é um programa pré-anunciado, sustentado em três pilares: reforma fiscal, substituição de tarifas por câmbio e acordos comerciais, a serem implantados de forma integrada e progressiva ao longo de um número de anos.
O objetivo do primeiro pilar, a reforma fiscal, seria permitir uma redução substantiva da carga tributária sobre as empresas, sem que isso implique um aumento da já elevada dívida pública. É atrativa uma fórmula adotada por Israel em 2010: fixar um limite superior para o crescimento dos gastos públicos igual à metade do crescimento potencial do PIB, estimado como sendo aquele observado nos últimos dez anos. No caso brasileiro, isso quer dizer um crescimento dos gastos públicos em termos reais entre 1,5% e 2% ao ano. Para reduzir o espaço de manobra para contabilidades criativas que subestimem os aumentos dos gastos (por meio de orçamentos paralelos, por exemplo), essa meta seria suplementada por limites também para o crescimento da dívida pública bruta. O detalhamento desse pilar seria feito a partir de estudo sobre os diversos componentes do gasto público e sobre as reformas necessárias para manter sua expansão sob controle. O primeiro pilar contribuiria para diminuir o "custo Brasil", que é o principal problema com que se defrontam as empresas para enfrentar a concorrência internacional.
O segundo maior problema é o câmbio. Esse é o tema do segundo pilar da proposta, a saber, a substituição da proteção tarifária contra as importações por uma "proteção cambial". Brevemente, trata-se de anunciar uma redução substancial, a ser implantada de forma progressiva, das tarifas às importações, dos requisitos de conteúdo nacional, das preferências para compras governamentais, das amarras aduaneiras e portuárias e das especificações técnicas de produtos distintas daquelas adotadas internacionalmente. O anúncio dessas medidas antiprotecionistas presumivelmente será feito por um(a) presidente convicto(a) de sua necessidade e com apoio no Congresso para sua implantação, ou seja, será um anúncio crível. Nesse caso, sob um regime de câmbio flutuante esse anúncio terá o efeito de desvalorizar o câmbio, pois os agentes financeiros passarão a comprar dólares e a vender reais, para lucrar com o aumento da demanda de dólares que ocorrerá para efetuar as importações adicionais que serão facilitadas.
Esse é o pilar central do plano, pois, dando acesso a insumos modernos, ele possibilitará a integração da indústria brasileira ao comércio internacional, à semelhança do que hoje ocorre com a Embraer. Haverá ganhos tecnológicos, de escala e de especialização.
Todavia, é também o pilar mais controverso. Pois, de um lado, estão economistas, mais confiantes na racionalidade dos mercados e descrentes da eficácia de controles de capitais, para quem, desde que haja flutuação livre, o câmbio saberá encontrar seu nível de equilíbrio. Bastaria, portanto, reduzir a proteção tarifária que o câmbio se ajustaria automaticamente. De outro lado, estão economistas descrentes da racionalidade dos mercados financeiros e mais preocupados com os efeitos nocivos de uma flutuação excessiva do câmbio sobre as decisões empresariais quanto a investimentos de longo prazo. Esses economistas defenderiam a adoção de uma taxa de câmbio fixa mais desvalorizada, associada a controles severos sobre os movimentos de capitais.
Minha preferência é por um meio termo entre essas duas posições, envolvendo, em primeiro lugar, um estudo sobre qual seria a taxa de câmbio que equilibraria a balança comercial na ausência das medidas protecionistas que vão ser eliminadas. Essa seria a taxa de câmbio de referência para a definição de uma banda de variação cambial. Nos primeiros tempos, a banda seria mais estreita, mas ela seria progressivamente ampliada ao longo do tempo. Os limites dessa banda orientariam o Banco Central (BC) em suas intervenções no mercado, comprando ou vendendo reservas internacionais. Tais intervenções seriam acompanhadas por medidas macroprudenciais que parecerem pertinentes ao BC, para compensar os exageros, seja de otimismo ou pessimismo no mercado de câmbio. Dadas as incertezas envolvidas numa mudança estrutural da magnitude daquela aqui proposta, tanto a taxa de referência como a banda em torno dela seriam informação privilegiada do BC que delas daria notícia somente pelo padrão de intervenções no câmbio.
O terceiro pilar são os acordos comerciais internacionais. Dado o amplo mercado interno que abrirá às exportações dos demais países do mundo, o Brasil estará em condições de fazer negociações vantajosas para a abertura compensatória dos mercados de seus parceiros comerciais. O leque de possibilidades é amplo, envolvendo acordos multilaterais, regionais e bilaterais. O certo é que o país necessitará de liberdade de movimentos e, portanto, se não conseguir agregar a Argentina a esse projeto, seria o caso de transformar o Mercosul numa área de livre-comércio, preservados os entendimentos estratégicos em vigor na área da defesa. Outra questão a ser analisada é o sequenciamento entre a abertura unilateral e aquela negociada nos acordos. Na definição dessa sequência, não se poderá perder de vista que a troca das tarifas pelo câmbio é uma vantagem em si para o país. Os ganhos comerciais que vierem dos acordos serão adicionais àqueles propiciados por essa política de alocação mais eficiente dos recursos na economia brasileira.
Edmar Bacha
Fonte: Valor
quinta-feira, 9 de maio de 2013
Do not blame democracy for the rise of the populists
Ótimo artigo sobre a democracia e a economia nos tempos sombrios da atual conjuntura econômica mundial. Vale a leitura.
Democracy is in trouble. Barack Obama has become an “if only” president – he would love to fix America’s finances, tighten controls on gun ownership and close Guantánamo, but disobliging Republicans keep saying No. On the other side of the Atlantic, Europe’s leaders are enfeebled by economic failure. A populist insurgency has exposed deep flaws in the democratic system. What’s needed is a bracing dose of authoritarian efficiency.
I hear this story almost everywhere. It is told by Chinese officials eager to contrast decisive decision-making in autocratic Beijing with debilitating drift in liberal democracies. Elsewhere, the sorry condition of rich nations gives the lie to neocolonialist claims for the universality of western values.
The narrative is more than misleading. It classifies the pressures faced by states everywhere as a challenge unique to democracies. Even so, echoing notes of despair have crept into the discourse of elected politicians. Leaders lament their powerlessness. They are living, they complain, in an age of anti-politics. Doing the “right thing” is an invitation to voters to turn them out. Whether it is Beppe Grillo’s Five Star Movement in Italy or the UK Independence party in Britain, the wind is behind populists dressed up as patriots.
Nigel Farage’s Ukip is the latest to jump on the bandwagon. A party once derided by David Cameron, as “loonies, fruitcakes and closet racists” picked up more than 20 per cent of the vote in local elections through its anti-immigrant, anti-Europe populism. The British prime minister now feels obliged to legislate to shut out more foreigners.
Elsewhere, the Five Star Movement has all but paralysed Italian politics – oxymoronic though that idea may sound. In Greece and Hungary, there is a thin line between rightwing populism and fascism. France’s anti-Islamic National Front is thriving. Finland has its True Finns. Viktor Orbán, Hungary’s prime minister, tilts towards the xenophobic extremism of that country’s Jobbik party with an agenda uncomfortably reminiscent of the 1930s.
Beyond tapping into grievances stirred by falling living standards, what unites these movements is deep hostility to “the world outside” – to the EU, to the forces of globalisation and/or to immigration. The British don’t want to be bossed about by “Brussels”; the French don’t want to surrender a civilised social model to low-wage competition from China. Immigrants, always a scapegoat during times of stress, are accused of stealing jobs and undermining social and cultural cohesion.
Democracy sometimes does demand short-term trade-offs between legitimacy and efficiency. Constituency gerrymandering, as in the US, and the geographical fragmentation of party allegiances, as in the UK, have also taken a toll on effective government. The Republican leadership runs scared of Tea Party populism, while Mr Cameron fears Ukip’s appeal to an ageing and shrinking Conservative base.
Watching events in Europe these past few years, it is also not hard to imagine that a benign autocrat might have done a better job than 27 elected governments to end the protracted agony of the eurozone. We should not be surprised. The oft-heard description of democracy as the worst form of government except for all the alternatives has it about right. Not many Europeans would exchange the right to vote for a quick fix in the eurozone.
The mistake is to conclude that because democracies are troubled by nationalism, the fault lies with the democratic system. There are more prosaic explanations. Some would start with the original design flaws in the euro; others would put the blame on a lemming-like faith in the economics of austerity, which has turned a post-crash recession into prolonged depression.
Anyone with a passing interest in history might look to the quality, or otherwise, of leadership. Those with grey hairs should be careful about lamenting the passing of the big beasts of yesteryear. Yet comparing today’s leaders with Europe’s postwar giants provides more than half an explanation for the mess.
In one respect, the populists are on to something. The anxiety and anger of Europe’s electorates does reflect a failure of governments. Presidents and prime ministers are discovering that the old levers of power no longer work. Promises are broken not through malign intent but because the capacity of individual nations to act has been constrained.
The connection here is not with the weakness of democracy; nor with the EU or immigrants. The culprit, if you can call it that, is globalisation. The political mega-trend of recent decades has been the diffusion of power – from states to other actors and from old elites to citizens.
Economic interdependence and borderless communications leave governments to compete with multinationals, with a proliferation of non-state organisations, and with religious and ethnic identities that have no respect for national borders. Closer to home, the digital revolution gives a louder voice to those once shut out of political debate.
This is fertile ground for the politics of grievance. It explains the paradox of the rise of nationalism in a world where nations are weaker. The appeal of the populists lies in their dishonest promise to stop the world and jump off.
The pressures, economic and political, are not only felt by democracies – ask the Chinese about the upsurge of street demonstrations, or the Middle East despots praying they will escape the Arab uprisings. As for the future of democracy, I do not see Russians clamouring for Vladimir Putin to tighten further his repression, or Egyptians demanding the return of Hosni Mubarak.
Philip Stephens
Fonte: FT
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Willem Buiter: Eurozone crisis demands swift debt restructuring
Pessimista, chegou a fixar data para a implosão da zona do euro. Apesar disso, continua sendo um dos melhores macroeconomistas da atualidade. Vale a leitura.
Balance sheet obstacles to sustained demand growth mean the European Union faces two or three more years of recession and tepid cyclical recovery, even if EU policy makers enact the right measures as fast as their glacial decision-making process allows.
The balance sheet recession is caused by excessive leverage: zombie banks throughout the EU, excessive sovereign debt and deficits in the periphery, and excessive household indebtedness in many countries.
Unfortunately we cannot be sure that, even when the deleveraging process is complete and domestic demand expands again, there will be more than a cyclical recovery. For the growth rate of potential output to rise, deep structural supply-side reforms are needed.
The deleveraging will not come through growth, as growth will not return until deleveraging is completed. It will not come through inflation because the European Central Bank will not inflate. The debate between Spendarians and Austerians has little relevance as only Germany is in a position to provide a significant discretionary fiscal stimulus.
If countries under pressure to reduce their deficits wish to spread the pain of austerity over a longer period, they will either have to convince the markets to fund them or ask the troika of international lenders for additional concessional funding. For most countries, the level of austerity will be higher this year than last, but less than it would have been without the retreat by the European Commission and International Monetary Fund from their past support of excessively pro-cyclical austerity.
Another positive development is the elimination of Cyprus as a tax haven and the contribution this is making to the rapid elimination of bank secrecy in tax havens in or near the EU and in UK overseas territories. This creates new, less demand-destroying revenue opportunities through wealth levies, including tax amnesties that may prove valuable to countries like Italy.
The main instruments of deleveraging will be debt mutualisation and restructuring. Euro bonds will not be used, either to deal with the problem of legacy excessive sovereign debt or with the flow problem of funding future deficits in the periphery. This would require significant additional fiscal union, and there is little political support for this. Instead, there will be some limited ex-post mutualisation, as the outstanding debt of troika programme countries to their sovereign creditors is gradually converted into a zero-coupon perpetuity, promising to pay nothing forever.
There will also be some more mutualisation of sovereign debt and of bank losses when the ECB takes losses on its exposure to likely insolvent sovereigns and to likely insolvent banks that have offered substandard collateral. But this will not suffice to deleverage quickly.
In line with the agreement reached to manage the Cyprus crisis, the new template for bank resolution bails in the existing shareholders followed by all unsecured creditors, including if necessary the non-insured depositors. Domestic taxpayers are no longer subordinated to senior unsecured bank creditors. Once the single supervisory mechanism for eurozone banks comes into force, the European Stability Mechanism will be able to directly recapitalise banks. German proposals to delay this and to forbid it recapitalising banks with “legacy” capital needs are likely to be shelved after the German elections.
A directive for national bank recovery and resolution mechanisms for EU member states could be transposed into national laws by the time of the German elections. Although this falls short of a single European bank resolution regime, it will accelerate the recovery or resolution of EU zombie banks.
The ECB will soon start a euro-area Asset Quality Review that is likely to be conducted by independent experts, without excessive interference by captured national supervisors. By the end of this year, the informational and institutional toolkit to dezombify the euro area banking system could be in place.
Sovereign debt restructuring by bailing in private creditors will not remain confined to Greece. Cyprus, Portugal and Spain are also at risk. Even Italy’s sovereign creditors are threatened because of the seeming inability of its political institutions to deliver growth-enhancing structural reforms.
Early resolution is preferable to economically costly and politically unsustainable additional austerity and pointless concessional funding. The inherent disruption is minimised through early, co-ordinated and simultaneous debt restructuring of banks, households and sovereigns, of sufficient size to convince markets there will not be an early repeat of the exercise. Losses would be less than those created by further delay. Easy, really.
Willem Buiter is chief economist at Citigroup
Fonte: FT
terça-feira, 7 de maio de 2013
The German model is not for export
É sempre muito difícil exportar um modelo econômico, mas ele pode servir como inspiração para implementação de medidas adaptadas as condições de cada país. Este me parece ser o caso da relação de alguns países da zona do euro com o modelo alemão. Há mais virtude do que vicios no modelo alemão, o problema é que Wolf está mais focado nos últimos. Seu pessimismo em relação ao projeto da zona de euro é,em parte, justificado, mas, por outro lado, o levou a fazer previsões equivocadas sob o fim eminente deste importante experimento em política e economia.
Germany is reshaping the European economy in its own image. It is using its position as the largest economy and dominant creditor country to turn members of the eurozone into small replicas of itself – and the eurozone as a whole into a bigger one. This strategy will fail.
The Berlin consensus is in favour of stability-oriented policies: monetary policy should aim at price stability in the medium term; fiscal policy should aim at a balanced budget and low public debt. No whiff of Keynesian macroeconomic stabilisation should be admitted: that is the way to perdition.
To make this approach work, Germany has used shifts in its external balance to stabilise the economy: a rising surplus when domestic demand is weak, and the reverse. Germany’s economy may seem too big to rely on a mechanism characteristic of small and open economies. It has managed to do so, however, by relying upon its superb export-oriented manufacturing and ability to curb real wages. In the 2000s, this combination allowed the country to regenerate the current account surplus lost during the post-unification boom of the 1990s. This, in turn, helped bring modest growth, despite feeble domestic demand.
For this approach to stabilisation to work well, a large export-oriented economy also needs buoyant external markets. The financial bubbles of the 2000s helped deliver this. Between 2000 and 2007, Germany’s current account balance moved from a deficit of 1.7 per cent of gross domestic product to a surplus of 7.5 per cent. Meanwhile, offsetting deficits emerged elsewhere in the eurozone. By 2007, the current account deficit was 15 per cent of GDP in Greece, 10 per cent in Portugal and Spain, and 5 per cent in Ireland.
The domestic-demand counterparts of the huge external deficits run in these countries were mostly credit-fuelled private spending. Then came the global financial crisis. Capital inflows halted and private spending collapsed, creating huge fiscal deficits. Harvard’s Carmen Reinhart and Kenneth Rogoff have shown that this was predictable. Between 2007 and 2009, the fiscal balance shifted from a surplus of 1.9 per cent of GDP to a deficit of 11.2 per cent in Spain, from a surplus of 0.1 per cent to a deficit of 13.9 per cent in Ireland, from a deficit of 3.2 per cent to one of 10.2 per cent in Portugal and from a deficit of 6.8 per cent to one of 15.6 per cent in Greece.
The mistaken consensus swiftly emerged, notably in Berlin, that this was a fiscal crisis. But that was to confuse symptoms with causes, except in the case of Greece. Yet, being deprived of access to the bond market or close to that plight, crisis-hit countries had to tighten, despite their deep recessions. Tighten they did. Between 2009 and 2012, according to the International Monetary Fund, the structural fiscal deficit shifted by 15.4 per cent of potential GDP in Greece, 5.1 per cent in Portugal, 4.4 per cent in Ireland, 3.8 per cent in Spain and 2.8 per cent in Italy. This combination of financial crises with fiscal tightening caused deep slumps: between the first quarter of 2008 and the fourth quarter of 2012, GDP fell 8.2 per cent in Portugal, 8.1 per cent in Italy, 6.5 per cent in Spain and 6.2 per cent in Ireland. So far, so grim.
Unfortunately, the eurozone’s healthier countries also hew tightly to the stability mantra. So they, too, tightened fiscal positions. The IMF forecasts that the eurozone’s cyclically adjusted fiscal deficit will shrink by 3.2 per cent of potential GDP between 2009 and 2013, to end up at just 1.1 per cent of GDP. The European Central Bank also continues to show next to no interest in spurring demand. Unsurprisingly, the eurozone economy is becalmed, with GDP at the same level in the fourth quarter of 2012 as it was in the third quarter of 2010.
Meanwhile, consumer price inflation is falling below the ECB’s 2 per cent target. Last week’s cut of a quarter of a percentage point in the intervention rate will make next to no difference. A big adverse shock risks turning low inflation into deflation. That would aggravate the pressure on countries in crisis. Even if deflation is avoided, the hope that they will grow their way out of their difficulties, via eurozone demand and internal rebalancing, is a fantasy, in the current macroeconomic context.
That leaves external adjustment. According to the IMF, France will be the only large eurozone member country to run a current account deficit this year. It forecasts that,
by 2018, every current eurozone member, except Finland, will be a net capital exporter. The eurozone as a whole is forecast to run a current account surplus of 2.5 per cent of GDP. Such reliance on balancing via external demand is what one would expect of a Germanic eurozone.
If one wants to understand how far the folly goes, one must study the European Commission’s work on macroeconomic imbalances. Its features are revealing. Thus, it takes a current account deficit of 4 per cent of GDP as a sign of imbalance. Yet, for surpluses, the criterion is 6 per cent. Is it an accident that this happens to be Germany’s? Above all, no account is taken of a country’s size in assessing its contribution to imbalances. In this way, Germany’s role is brushed out. Yet its surplus savings create huge difficulties when interest rates are close to zero. Its omission makes this analysis of “imbalances” close to indefensible.
The implications of the attempt to force the eurozone to mimic the path to adjustment taken by Germany in the 2000s are profound. For the eurozone it makes prolonged stagnation, particularly in the crisis-hit countries, highly likely. Moreover, if it starts to work, the euro is likely to move upwards, so increasing risks of deflation. Not least, the shift of the eurozone into surplus is a contractionary shock for the world economy. Who will be both able and willing to offset it?
The eurozone is not a small and open economy, but the second-largest in the world. It is too big and the external competitiveness of its weaker countries too frail to make big shifts in the external accounts a workable post-crisis strategy for economic adjustment and growth. The eurozone cannot hope to build a solid recovery on this, as Germany did in the buoyant 2000s. Once this is understood, the internal political pressures for a change in approach will surely become overwhelming.
Europe will not become a bigger Germany. It is foolish to believe it ever could. The eurozone will either achieve a better-balanced resolution of its difficulties or break up. Which of the two will it be? That remains the big unanswered question.
Martin Wolf
Fonte: FT
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