O tema é importante e controverso e Celso Ming , em seu coluna, apresenta duas visões da questão. É um ponto de partida para uma análise mais minuciosa do tema.
"A coluna de domingo (Espetinho de lagartixa) ajudou a puxar uma boa polêmica em torno de duas perguntas conjugadas: (1) As reservas externas, que terminaram fevereiro nos US$ 192,9 bilhões, já não foram longe demais? (2) Por que continuar amealhando ativos em moeda estrangeira se essa operação, cujo custo é alto e tende a crescer, já não atende a nenhum objetivo importante da economia?
Ontem, dois especialistas sustentaram posições opostas. O economista Marcelo Carvalho, do Morgan Stanley, enviou documento (Reserves - Noah’s Ark for a Rainy Day) em que expõe o ponto de vista de que não há mais razão para expandir reservas. O ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central Alexandre Schwartsman pensa o contrário. Hoje, a coluna expõe o pensamento de Carvalho.
Ele mostra que o nível das reservas já ultrapassa todos os critérios conhecidos pelos quais um país deva juntar reservas.
O primeiro desses critérios é garantir o equivalente a três meses de importação. Para isso, bastariam US$ 30 bilhões. Pelo critério seguinte, o da chamada regra Guidotti-Greenspan, as reservas devem dar cobertura à dívida externa com vencimento em até um ano. Isso exigiria reservas de US$ 60 bilhões.
Outra forma de medir o tamanho adequado das reservas foi estabelecido por um estudo dos economistas Jeanne Olivier e Romain Ranciere, do Fundo Monetário Internacional (The optimal level of international reserves for emerging market economies). Corresponde a 10% do PIB, ou US$ 130 bilhões.
O estudo de Carvalho menciona ainda o texto dos economistas Marco Antonio Cavalcanti e Christian Vonbun, do Ipea (Reservas Internacionais ótimas para o Brasil: uma análise de custo-benefício para o período 1999-2007), que prevê reservas de US$ 40 bilhões a US$ 90 bilhões.
Faltou nessa análise do Morgan apenas a incorporação da posição de Schwartsman, para quem as reservas ainda deveriam crescer até alguma coisa entre US$ 227 bilhões e US$ 232 bilhões. O argumento fica para ser aqui desenvolvido amanhã.
Carvalho adverte que o Banco Central pode estar amontoando reservas também para cumprir novo objetivo: o de apressar o reconhecimento do grau de investimento para a dívida brasileira.
Ele argumenta que o custo fiscal do carregamento das reservas está subindo. Essa operação implica trocar dívida externa a um custo mais baixo por dívida interna por um custo maior. Hoje, a diferença entre os juros internos e externos está aumentando (veja gráfico). Do ano passado para este, o custo aumentou de 0,7% do PIB (US$ 9 bilhões) para 1,2% do PIB (US$ 15 bilhões). E tende a crescer porque o banco central americano está derrubando agressivamente os juros.
Daí, conclui ele, no balanço dos custos e benefícios, já não compensa mais a ampliação em reservas. Se o Banco Central parar suas compras de dólares, haverá dois efeitos colaterais interligados: o real se valorizará ainda mais ante o dólar (queda da cotação do dólar no câmbio interno) porque cairá a demanda por moeda estrangeira; e será mais fácil combater a inflação porque o produto importado ficará mais barato em reais."
Celso Ming