Polêmico, como sempre, meu orientador no doutorado, é, por isto mesmo, sempre uma leitura obrigatória. Discordo da avaliação em relação ao euro e da macroeconomia das expectativas racionais: ela seguramente não é uma fraude. Difícil discordar da sua opinião sobre os economistas ortodoxos e keynesianos vulgares.
CARTA MAIOR: O Brasil consegue sair dessa crise sem se machucar demais? Em que hipótese e fazendo quais opções?
LUIZ CARLOS BRESSER PEREIRA: A crise internacional não está resolvida. Devido à gravidade da crise de 2008, a recuperação é muito lenta e a isso somou-se outra crise, a do euro, que tem uma origem parcialmente independente – o fato é que o euro foi um equívoco, porque criou uma moeda comum e fez com que os países deixassem de ter suas próprias moedas e seus próprios bancos centrais. Eles ficaram impossibilitados de fazer duas coisas que, por exemplo, Estados Unidos e Inglaterra estão fazendo: desvalorizar moeda ou imprimir moeda para enfrentar a crise. A Europa, como um conjunto, poderia até fazer isso, mas com grande dificuldade. Grécia e Espanha não podem.
CARTA MAIOR: Isso é a falência do modelo de união monetária?
BRESSER: O modelo do euro foi um equívoco. Eu fui um grande defensor dele, mas, para que desse certo, era preciso que houvesse um poder central muito mais forte e um Banco Cental Europeu perfeitamente integrado à lógica do Estado europeu. A Europa teria que ser um Estado. Na prática, não é. Os líderes europeus estão se apercebendo disso. Alguma coisa eles vão ter que fazer, mas está muito complicado.
CARTA MAIOR: Como se consegue desamarrar uma crise que foi toda montada em torno da ideia de livre mercado e tem elementos de regulação muito reduzidos? Como reverter um sistema mundial montado na especulação?
BRESSER: Isso nós fizemos nos anos 30 e, ainda que lentamente, estamos fazendo nesses anos. Houve uma regulação bancária, embora ainda insuficiente. Foram estabelecidos prazos para aumento do capital dos bancos – longos, mas o fato concreto é que se aumentaram os requerimentos de capital dos bancos e a regulamentação está acontecendo. Os EUA aprovaram uma lei que não é nenhuma maravilha, mas caminha nessa direção. Num artigo recente bastante interessante, no Economic Prospects, John Key diz que a crise foi desperdiçada, no sentido de que parece que não se aprendeu nada. Não é verdade. O que é verdade é que não se aprende com a rapidez que a gente gostaria e os resultados não surgem também com a rapidez que se espera. Mas o fato é que o neoliberalismo, mesmo desmoralizado, ainda tem seguidores.
E a teoria econômica neoclássica, que ao meu ver está igualmente desmoralizada porque era o “fundamento científico” das políticas neoliberais, levou o Prêmio Nobel deste ano com dois economistas desse tipo, os norte-americanos Thomas Sargent e Christopher Sims. É verdade que o Nobel não premiou o liberalismo radical do Sargent, mas suas técnicas de pesquisa econométrica (e eu sou favorável a técnicas sofisticadas que os econometristas desenvolvem), mas a teoria macroeconômica liberal que ele abraça é uma fraude. As pessoas não compreendem as diferenças e dão o Nobel para uma pessoa que está associada à visão de mercados autônomos e autorregulados, o que é um escândalo total.
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