segunda-feira, 30 de março de 2009

Tempo e paciência

Bresser tem razão em relação a importância do mercado, mas dificilmente se pode chamar de mercado o que esta sendo proposto no plano Obama. Dai ser no mínimo curioso a afirmação dele que "essa é uma bela ideia que usa do mercado para corrigir o próprio mercado". É hora de reler os conhecidos artigos do Hayek "Economics and Knowledge"(Economica, 1937) e "The Use of Knowledge in Society"( AER, 1945).

Tão pouco é relevante saber se as idéias são novas ou velhas: importa saber se oferecem respostas aos graves problemas da economia americana.

Bresser é um eterno otimista e isto não deixa de ser uma grande virtude, mas neste caso acho que é um otimismo sem fundamento, vazio. Este plano não vai dar certo porque parte de um diagnóstico errado e não em razão da competencia e ou incompetencia na sua gestão. Este é um detalhe importante, mas sempre esquecido pelos formuladores de planos econômicos, principalmente os do tipo salvadores da pátria.

O tempo da política nem sempre é compativel com o tempo da política econômica e apesar dos problemas políticos mencionados por Bresser e comentados em post antigo, o fato é que Obama tem cada vez menos tempo e seu capital politico por maior que seja, não é a prova de chuvas e trovoadas. Lembrai-vos do Bush do 11 de setembro.




"A medida para a compra de títulos podres nos EUA é inovadora e abre espaço para o próprio mercado atuar.

O programa anunciado na última semana pelo Tesouro americano, de subsídios aos investidores privados para que comprem títulos podres, está recebendo críticas fortes porque não resolveria o problema fundamental dos grandes bancos americanos, que é o da subcapitalização. Em vez de elogiarem o governo porque é uma ideia nova e bem estruturada do ponto de vista financeiro, representantes tanto da direita inteligente quanto da esquerda preocupada com a socialização das perdas protestaram.

Os primeiros reagiram negativamente porque, com essa medida, adiou-se a estatização dos bancos mais atingidos que julgam inevitável os segundos, porque é mais um subsídio ao setor financeiro.

Estou de acordo com Alan Greenspan e a "The Economist", segundo os quais a estatização provisória dos principais bancos provavelmente será, afinal, a solução. A experiência de longa depressão do Japão por não haver adotado essa política quando estourou a bolha financeira, em 1990, é bem conhecida. Compreendo a indignação do cidadão comum americano ao ver o governo aplicar bilhões de dólares no salvamento dos bancos. Mas compreendo também a prudência de Obama em não decidir imediatamente pela estatização.

Ainda que a direita inteligente seja a principal apoiadora da política, a direita comum, que é muito grande nos EUA, vê nela o fantasma do "socialismo". Com a política de compra de ativos por fundos privados, um ativo valorizado por 100 (número-índice representando dólares) pelo mercado por meio do leilão será comprado pelo fundo que ganhar o leilão. Este investirá 7 de seu próprio dinheiro e receberá 86 como empréstimo do setor privado garantido pelo Tesouro, o qual, por sua vez, investirá os 7 complementares, tornando-se sócio da operação. Usando o velho provérbio italiano, "si non è vero, è bene trovato".

Em um momento em que precisamos urgentemente de novas ideias -não porque as velhas ideias como a da expansão da liquidez ou a da política fiscal expansiva não sejam boas, mas porque se demonstram insuficientes ou muito caras-, essa é uma bela ideia que usa do mercado para corrigir o próprio mercado.

Clóvis Rossi transcreveu em sua coluna (25/3) crítica do correspondente do "El País" nos Estados Unidos de que, "de algum modo, a cobiça (dos potenciais investidores) e a alavancagem (desta vez com fundos públicos), demonizados como culpados da crise financeira, convertem-se em receita para o resgate". O texto é bom, e a indignação, compreensível, mas não é apenas com indignação que resolveremos a crise. Havia um problema fundamental de precificar os ativos podres dos bancos, e a ideia do leilão resolve com propriedade esse problema.

O Estado é a garantia maior com a qual pode contar uma sociedade, mas, sempre que seu governo consegue contar com o mercado para resolver problemas, principalmente de precificação, é muito bom, porque, nesse caso, o mercado é a instância competente e porque, dessa forma, ele se reanima e se fortalece -algo de que está muito precisado.

É possível que essa nova medida não seja suficiente para resolver o problema da subcapitalização dos grandes bancos americanos e que a nacionalização de alguns deles se revele afinal inevitável, mas é uma medida inovadora que abre espaço para o próprio mercado atuar e, se não resolver todos, resolverá uma parte dos problemas. O presidente Obama está pedindo "tempo e paciência" das pessoas diante da crise. Esperemos fazendo figa para que dê certo."