sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Mendonça de Barros e a recuperação econômica

Ótimo artigo do Luiz Carlos Mendonça de Barros sobre a recuperação da economia mundial. Concordo com a avaliação geral apresentada, exceto em relação aos Estados Unidos. A recuperação lá esta sendo melhor que o esperado, contudo, ainda é cedo para fazer um julgamento tão otimista. O período pós medidas emergencias e a própria duração delas ainda é uma grande incognita e sujeito a chuvas e trovoadas. Não resta dúvida que a economia de mercado - em suas várias e diferentes formas - mostrou se mais robusta que o espantalho criado pelos seus críticos, porém, e há sempre um porem, ainda é cedo para abrir um bom espumante para comemorar a robustez do modelo americano.


O ano de 2009 2009 vai mostrar um quadro econômico bastante diverso do previsto pela maioria dos analistas no calor da crise econômica. Estados Unidos e Europa devem crescer, respectivamente, 3,5% e 2,5% ao ano no segundo semestre, deixando para trás um período de quatro trimestres de recessão. Embora essa recuperação não seja suficiente para compensar as perdas anteriores, hoje é razoável dizer que a volta sustentada do crescimento econômico é a hipótese mais provável.
No mundo emergente, a recuperação é ainda mais clara. O que tem surpreendido é a rapidez da volta dos indicadores aos níveis anteriores a setembro do ano passado. Na China, as vendas ao varejo e a produção industrial ultrapassaram com larga margem os valores anteriores à quebra do Lehman Brothers.
O mesmo comportamento ocorreu em outros países como a Coreia e a Índia. Mas o Brasil é o que mais chama a atenção. A volta do emprego aos índices pré-crise é uma jabuticaba brasileira.
Mais importante do que os números em si é o fato de que alguns fantasmas que andaram assombrando nos últimos meses estão sendo exorcizados. Os mais marcantes foram a volta da funcionalidade do mercado de crédito, a normalização dos estoques em setores importantes como o de bens de consumo e imóveis residenciais e o comportamento menos histérico do consumidor, principalmente o norte-americano, na redução de seus níveis de consumo.
A recuperação dos mercados de bônus corporativos privados compensou o corte brutal da oferta de crédito bancário, de maneira que nos primeiros nove meses deste ano a oferta total de crédito (a soma dos dois) é 4% superior à do mesmo período de 2008. Não há falta de financiamento para as empresas de maior porte, que estão com um nível de caixa em valores recordes.
São as empresas médias e pequenas que sofrem com a retração dos bancos, pois não têm acesso ao mercado de títulos de crédito. Mas essa é uma dinâmica clássica das economias de mercado que só será alterada com a estabilização do sistema bancário ao longo do próximo ano.
Já a normalização dos estoques, em um momento em que o consumo privado começa a crescer novamente, está levando as empresas a aumentar sua produção. Dentro da dinâmica normal, teremos pouco mais à frente uma normalização do mercado de trabalho, embora com índices de desemprego ainda elevados. Da mesma forma, a paralisação da atividade da construção imobiliária ao longo de 2009 criou as condições para a desova dos estoques acumulados devido ao pânico. Com isso, nota-se em alguns mercados importantes a estabilização dos preços e uma volta, ainda que tímida, da atividade da construção.
Finalmente, o consumidor está voltando às compras, movimento- -chave para a redução dos estoques acima citados e a volta da atividade econômica. No segundo trimestre deste ano, as vendas ao varejo nos Estados Unidos caíram a uma taxa anual de 4,1%, ficaram praticamente estáveis no terceiro e devem crescer neste quarto trimestre.
Talvez o maior potencial de surpresa positiva nos próximos meses -a despeito dos obstáculos estruturais ainda existentes- seja a sustentação de um ritmo acelerado de crescimento nos Estados Unidos e na Europa.