sábado, 17 de outubro de 2009

Noite de São João, Pedro Nava

São João São João



o sol quebrando em mil pedaços
caiu na terra



mil fogueiras pondo na noite
chios
e chispas
fiáus
e rechinos



Noite de São Joões-balões
noite cheia de fogueiras
e vem-cá-bitus



Noite lanhada de fogo
noite cristã
como sacis unhando panças pretas
cachimbando na barriga dos balões
saltitando no fogo vivo dos tições



Noite de buscapé
(do buscapé-pé-PÉ
que corre tanto
e como tonto
volta
e vira
em viravoltas rentes raspando o chão)



e o vento agudo



e uma navalha zás-trás
recortando bandeiras em tiras
em faixas finas
serpentes serpentinas



(um novelo assanhado de serpentes
acorda nas fogueiras
e elas se espicham tesas
e suas línguas acesas
lambem as folhas frescas
largas langues das bananeiras)



São João São João



e o frio tão frio
que a própria lua nua tem frio
e devagar a vagarosa
escorrega pelos cipós
e se esgueira
na pontinha dos pés
— Psiu!
pra quentar na minha fogueira