segunda-feira, 25 de julho de 2011

Dilma e o controle da inflação

Dando vazão ao meu lado masoquista li a entrevista com o avvocato no valor desta segunda-feira. Continua sendo a cassandra de sempre o que explica ser ele, ainda, o lider inconteste da escola da teoria do relógio quebrado e "darling"na terra das jabuticabas exóticas. Felizmente na mesma pagina há um bom andidoto: o relato da conversa da Presidente com um pequeno número de jornalistas. Ela, aparentemente, saiu ilesa da sua temporada de estudos na conhecida escola de sociologia do interior paulista.



Ao determinar, no início do governo, que a economia teria que ter um "pouso suave", com desaceleração paulatina do crescimento e manutenção de uma "razoável" oferta de emprego, a presidente Dilma Rousseff delimitou o raio de ação do Banco Central para o controle da inflação.

"Desde o início fizemos uma pauta clara: controlar a inflação e, para isso, fazer um ajuste na nossa política de gastos com custeio e investimentos e, também, cumprir o superávit primário que nós nos comprometemos a fazer", disse a presidente, em conversa com um pequeno grupo de jornalistas.

"Fazer a convergência da inflação para a meta de 4,5% no curtíssimo prazo seria danoso. Derrubaria o crescimento econômico para zero e não resolveria a inflação", argumentou a presidente, explicando que uma contração da atividade econômica para derrubar os preços acabaria por comprometer o aumento da oferta, necessário para que o país cresça sem pressões inflacionárias.

Ela chamou a atenção para o desempenho fiscal dos primeiros cinco meses do ano, quando o governo central produziu superávit primário de R$ 45,5 bilhões, mais da metade do compromisso para o ano -R$ 81,7 bilhões.

"Estamos com sobra e não vamos gastar essa sobra, porque tenho compromisso com o controle da inflação", garantiu. "Estamos usando todos os instrumentos que todos concordam que têm ser usados para conter a inflação. E estamos tentando isso com algum sucesso."

A partir do diagnóstico de que a inflação, cuja aceleração já vinha do segundo semestre de 2010, era resultado do descasamento entre a oferta e a demanda, caberia ao BC, através do arsenal de política monetária, conter a expansão do consumo sem "derrubar" o crescimento nem provocar desemprego.

Frente a esse quadro, o Banco Central teve que optar por uma política de aumento gradual da taxa de juros e pelo uso de instrumentos macroprudenciais para controlar a expansão do crédito em setores pré-determinados. "Acho que o BC tem tomado as medidas de forma correta, usando a taxa de juros como principal mecanismo, mas sem deixar de usar instrumentos macroprudenciais", afirmou Dilma. Sem se comprometer com prazo nem garantir que fará a convergência da inflação para a meta em 2012 a qualquer preço, ela disse: "Espero que a convergência se dê no menor prazo possível".

Outra informação importante dada pela presidente na entrevista refere-se à taxa de câmbio. Apesar das recorrentes declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o governo usará um arsenal de medidas para conter a apreciação do real sobre o dólar, Dilma foi clara ao descartar, no momento, medidas mais ousadas nessa direção. "Você acha que a gente pode fazer alguma coisa num momento em que não se sabe se o pessoal está brincando na beira do abismo ou se, de fato, está criando uma rede de proteção para não cair no abismo?", indagou a presidente.

Embora a situação dos EUA, hoje, seja dramática, diante da resistência do Congresso em aumentar o teto da dívida pública, Dilma não acredita na possibilidade de um default americano. "É uma coisa tão absurda, mas nunca se sabe da irracionalidade da política." Na Europa, o último pacote de socorro iniciou um processo - "foi um Plano Brady para eles" -, mas tudo indica que não será suficiente. "De qualquer forma, o mundo está andando de lado. Deixa ele andar para frente ou para trás que a gente faz...", indicou a presidente.

Ela vai anunciar, nos próximos dias, medidas que podem ajudar a indústria nacional a conviver com o câmbio apreciado por mais um tempo. São incentivos fiscais para a produção de manufaturados exportáveis, aumento da exigência de conteúdo nacional para a produção, compras governamentais direcionadas para estimular o índice de nacionalização e novos instrumentos de defesa comercial.

A presidente não detalhou as medidas, que serão anunciadas dia 2 de agosto, "porque ainda não há decisão", mas adiantou que a desoneração da folha de salários das empresas - iniciativa prometida há cinco anos por Mantega - não fará parte desse novo programa de inovação. "A desoneração virá na sequência", disse. Não se espera que esses estímulos compensem, mesmo que parcialmente, a sobrevalorização brutal da taxa de câmbio para a indústria, mas, de qualquer forma, são medidas que podem reduzir um pouco o custo de produção no país.

Há outras providências que o governo espera poder anunciar em breve, segundo a presidente. Uma delas, que está sendo estudada pelo Ministério da Educação, é aproveitar a crise nos EUA e Europa para atrair "cérebros" de fora para o país. O MEC avalia a possibilidade de criar uma carreira temporária para professores estrangeiros nas universidades brasileiras. Seria um contrato por cinco anos, renováveis por mais cinco.

Segundo Dilma, fala-se que a Nasa, a agência espacial americana, por exemplo, demitiu 4 mil engenheiros desde a crise de 2008. Esse programa seria a contraface externa para o Brasil sem fronteiras, que pretende enviar para as 30 melhores universidades do mundo 75 mil estudantes do país. Eles serão escolhidos entre os melhores do Enem, do ProUni e das faculdades privadas. O governo estima gasto de R$ 3 bilhões com a concessão de bolsas para manter esses estudantes no exterior.

Fonte: Valor