L.C.Mendonça de Barros, um dos melhores analistas da economia brasileira, apresentou, recentemente na Folha novos ( ou velhos?) argumentos em defesa da política industrial, no formato de três lições.
Ele inicia o artigo afirmando que “em primeiro lugar, quero dizer que acredito na necessidade de um país como o Brasil ter uma política industrial. Não concordo com os que negam que a articulação entre o setor privado e o governo seja um caminho eficiente para desenvolver o tecido industrial de um país em desenvolvimento.”
A história econômica brasileira e de outros países esta longe de comprovar a tese da eficiência. Mendonça de Barros menciona apenas um exemplo de fracasso, o da Cobra, e elogia, como era de se esperar, o sucesso da Embraer. Contudo, se levarmos em consideração o montante de recursos públicos investidos nesta empresa, a avaliação não será tão rósea quanto a do Mendonça. Ele esquece, também, de mencionar a Engesa e outros exemplos de eficiência da política industrial. Mesmo aceitando a tese dele, ela não se aplicaria ao Brasil, que esta longe de ser um país em desenvolvimento. Neste quesito, a avaliação do FHC ne parece correta.
“A primeira, e talvez a mais importante, é a de que nenhuma política industrial tem viabilidade se não respeitar o mercado. Em outras palavras, ela precisa ter as forças de mercado a seu favor e nunca andar na mão oposta”. É no mínimo curiosa. Qual seria, então sua razão de ser? Ela somente poderá respeitar o mercado e contar com o favor do mercado, se não assumirmos assimetria de informações. Sabemos que as informações do gestor e do mercado são diferentes e o que o grande erro da política industrial é achar que ela pode antecipar-se ao mercado.
“A segunda lição que a história nos ensina é que a política industrial deve acompanhar a evolução do capitalismo brasileiro.” O contrário é que não poderia ser. Mas, ele tem razão, no Brasil algumas obviedades, ainda são novidades.
“A terceira lição nos ensina que a política industrial deve responder às necessidades do setor privado, eliminando ou reduzindo os principais obstáculos estruturais ao seu desenvolvimento.” É correto, somente se aceitarmos que as necessidade deste setor, são as mesmas da sociedade como um todo. Convenhamos que é uma tese no mínimo heróica e, não raro, justificativa para a defesa de interesses de classe em nome do interesse nacional. Não estou negando a existência do interesse nacional, muito pelo contrário: ele existe e é importante, mas não pode ser confundido com o interesse de classe. Uma indicação da miséria intelectual brasileira é ausência de debates sobre o interesse nacional: presente em Universidades de elite mundo afora, por aqui ainda engatinha.