Alexandre "eram os deuses os astronautas", me parece, mais uma ver, apresentar o melhor argumento.
Há quem imagine que estejamos revertendo à situação de um país exportador de produtos primários, já que, nos primeiros oito meses deste ano, a exportação desses bens superou a de manufaturados, fenômeno que deve perdurar no restante de 2009 e, se confirmado, ocorrerá pela primeira vez desde 1979. Como de hábito, porém, o anúncio da nossa reversão à exportação de matérias-primas é prematuro, fruto da observação superficial dos dados.
O entendimento desse fato requer breve exame do perfil das exportações nacionais. Tomemos dois grupos relevantes: as GEs (grandes economias) -EUA, União Europeia, China e Japão- e a AL (América Latina). O primeiro grupo (38% do comércio global) responde por quase metade de nossas exportações, enquanto o segundo representa fração menor, em torno de 22%.
Dito isso, há distinções radicais de composição nas exportações para cada grupo. No caso das GEs, metade das exportações consiste em produtos primários, enquanto manufaturados são cerca de 35%. Essa média, entretanto, encobre grandes diferenças: as exportações para a China são essencialmente de primários (80%); para os EUA, porém, exportamos majoritariamente manufaturados (61%). Já no caso da AL, nada menos do que 85% das exportações são de bens manufaturados, proporção que pouco se altera para cada país da região. Assim, ainda que as exportações para a AL sejam menos da metade das vendas para as GEs, no que tange aos manufaturados sua relevância é praticamente igual. Cada grupo representa pouco menos de 40% dessas exportações.
Como se sabe, no entanto, o desempenho das importações desses grupos é bastante distinto. No caso das GEs, apesar da forte queda desde o terceiro trimestre de 2008, já se observa modesto aumento na margem, resultado que deriva essencialmente do crescimento chinês, cujas importações sobem desde o começo do ano. Na AL, todavia, os sintomas de crescimento ainda não apareceram, embora haja sinais muito incipientes no terceiro trimestre.
Dado que as exportações brasileiras seguem as importações de seus parceiros (a rigor uma aproximação, pois a participação do Brasil tem, na verdade, crescido), a mudança do perfil não chega a surpreender. As exportações de primários têm um desempenho melhor que as de manufaturados porque as importações chinesas crescem, ao contrário do que ocorre com as importações de nossos principais clientes de manufaturados, a AL e os EUA. Há, contudo, um dado alentador.
Preços de commodities, fortemente correlacionados com preços de exportação (e termos de troca) latino- -americanos têm subido, fenômeno que leva à recuperação das exportações e, portanto, a importações da região com defasagem ao redor de um trimestre. É razoável, pois, esperar que nossos vizinhos sigam, em grau e velocidade variados, trajetória de recuperação similar à nossa, com implicações positivas para as exportações de manufaturados.
Quem não entender essa dinâmica continuará crendo tanto em Papai Noel como na doença holandesa