quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Roubini e a zona do euro

Nouriel Roubini tem fama de ser um pessimista exagerado, mas este não é o caso da sua analise sobre a zona do euro. Os cenários me parecerem corretos e bem realistas.



DEPOIS DAS crises grega e irlandesa e da expansão do contágio financeiro a Portugal, Espanha e possivelmente à Itália, a zona do euro agora enfrenta séria crise. Existem três possíveis cenários: seguir aos trancos e barrancos, mantendo a atual abordagem de esperar e rezar; dissolução, com uma reestruturação ordenada de dívidas e a possível saída dos membros mais fracos; e maior integração, o que implicaria alguma forma de união fiscal.
O cenário que envolve deixar as coisas como estão, com financiamento aos países em crise (condicionado a ajustes fiscais e a reformas estruturais), na esperança de que estejam solventes, ainda que desprovidos de liquidez, representa um desequilíbrio instável.
O fato é que a situação atual pode conduzir a uma situação de dissolução desordenada, se reformas institucionais e outras políticas integradoras de crescimento na periferia da zona do euro não forem implementadas em breve.
Ninguém vai resgatar os países europeus de maior porte caso se provem insolventes. Assim, a estratégia de empurrar o problema para a frente em breve atingirá seus limites, e um plano diferente será necessário para salvar a zona do euro.
A primeira reforma institucional tomará a forma de uma maior disponibilidade de recursos oficiais, o que significaria uma quase união fiscal. Os recursos oficiais no momento bastam para resgatar Grécia, Irlanda e Portugal, mas não para prevenir uma corrida aos títulos soberanos de curto prazo e aos passivos financeiros espanhóis e de outros membros da zona do euro potencialmente sujeitos a crises; com isso, o medo de uma crise na verdade será causa de crise.
Caso não seja promovida uma unificação fiscal plena -ou uma variante dessa ideia, na forma de títulos de dívida emitidos coletivamente pela zona do euro-, a elevação dos recursos oficiais poderia ocorrer por meio de um programa de estabilidade financeira bastante expandido e de um compromisso maior do Banco Central Europeu quanto à aquisição de títulos de longo prazo e operações de liquidez em apoio aos bancos.
Como uma união fiscal parcial implica que as economias centrais da zona do euro poderiam terminar envolvidas em resgate sistemático das economias periféricas, apenas uma perda formal de soberania fiscal seria capaz de superar a atual resistência política na Alemanha e em outros países. Mas nem uma maior disponibilidade de recursos oficiais bastaria para resolver os problemas de Grécia, Irlanda e possivelmente Portugal e Espanha.
Assim, um segundo conjunto de políticas e reformas institucionais requereria que todos os credores não garantidos de bancos e outras instituições financeiras aceitassem prejuízos em suas dívidas a receber.
Isso é necessário para impedir a transferência de montantes ainda maiores de dívidas privadas para os balanços dos governos, o que causaria um colapso fiscal.
De forma semelhante, os países de maior porte não podem continuar saindo em resgate dos países menores que estejam sofrendo de insolvência, e não de crises de liquidez. Assim, a Europa também precisa implementar reestruturações ordeiras e antecipadas de títulos de dívida pública sujeitos a calote.
Esperar até 2013 para implementar essa reestruturação, como propõe a chanceler alemã, Angela Merkel, destruirá a confiança. Reestruturações ordenadas e baseadas em princípios de mercado, conduzidas por meio de conversão de títulos, precisam estar disponíveis em 2011.
Por fim, a Europa precisa de políticas que restaurem a competitividade e o crescimento na periferia da zona do euro, onde o PIB continua a se contrair (Grécia, Espanha e Irlanda) ou cresce pouco (Portugal e Itália). O BCE deveria adotar uma política monetária muito mais frouxa para fazer com que o crescimento pegue no tranco, e um euro mais barato ajudaria a estimular a competitividade da periferia.
Nos próximos meses, ficará claro se as autoridades econômicas europeias são capazes de chegar a um acordo e implementar reformas que reduzam a ameaça de uma dissolução da zona do euro.

Fonte: FSP