quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A hipoteca social,

Cony, lembra a todos, inclusive o Presidente Lula, que a Igreja tem sua própria reflexão sobre temas econômicos e sociais. Se ela é atual, se tem aplicabilidade é uma outra questão. O fato é que esta reflexão existe e, naturalmente, é ignorada onde deveria ser conhecida. Desnecessário mencionar onde; quem perde, naturalmente, são os alunos que são privados de uma outra visão sobre estes problemas.

O estranho é que aqueles que criticam, com toda razão( ainda que com a já conhecida elegância e profundidade), o tal pensamento único neo-liberal, não conseguem resistir à tentação e ,onde são hegemônicos, seguem a mesma prática. O outro é sempre um problema para o neo-liberal ou para a turma do QG-Anti Católico de Perdizes. O justo está se tornando um ser raro.


"No recente encontro de Lula com Bento 16, no Vaticano, o presidente brasileiro sugeriu que o papa, em suas mensagens públicas, fizesse algum comentário referente à crise econômica e financeira que o mundo atravessa. Ignoro o que Bento 16 respondeu. É possível que tenha agradecido a sugestão, dado o caráter cordial e protocolar da visita.
Até certo ponto, o conselho não deixa de ser ocioso. A Igreja Católica romana tem uma tradição formada há séculos, explicitada sobretudo nas encíclicas "Rerum novarum" (1891) e "Populorum progressio" (1967). Para ser claro: sua estrutura temporal sempre foi capitalista, em alguns momentos chegou a ser imperialista, desde que, de certa forma, substituiu o Império Romano na esfera ocidental.
Mas, em seu conteúdo pastoral, sua mensagem foi bem sintetizada por João Paulo 2º, que, no início de seu pontificado, em Puebla, disse que "o capital tem uma hipoteca social". Está dito tudo neste simples enunciado. O papa não condenou o capitalismo em si, mas lembrou que o capital existe, se forma e sobrevive à custa da sociedade que trabalha e nem sempre é recompensada pelos lucros que gera.
Não se trata de pregar a caridade, o assistencialismo que muitas vezes integra o programa dos governantes. A idéia da hipoteca social é um preço proporcional que o capital tem de pagar ao trabalho, como um dos fatores do próprio capital, sendo mesmo o principal elemento da concentração da riqueza em mãos do Estado ou das empresas.
A crise que agora preocupa o mundo é a manifestação do capital mal-organizado e mal-operado. Erguido à categoria de arco e flecha do desenvolvimento humano, é um ídolo sem consistência desde que não pague a hipoteca que deu início a seu processo dentro da sociedade."

Fonte: Carlos Heitor Cony, FSP, 18.11.08