Quando estudante na PUC-SP nos idos de 1980, praticamente não tinha contato com professores simpaticos ou membros do PCB. Havia, também, pouco alunos ligados a este partido. Lembro de um casal de militantes que aliou-se a extrema-direita e ganhou a eleição para o C.A.Leão XIII. Eram tempos difíceis, com incendio de bancas de jornais. Esse colega, em resposta a minha demanda sobre a inexistência de militantes do seu partido, argumentou que a pucsp nunca foi vermelha, mas sim cor de rosa. Se voce assumir vermelho como sendo PCB, ele tem razão. Já com o PC do B a historia é diferente: à epoca tinha muita influência no movimento estudantil. O PCB desapareceu e , curiosamente, deixou muitos(as) viuvos/as, que mantem-se fiéis a tradição deste partido de fazer trapalhadas. Já o PC do B...
Nunca nutri nenhuma simpatia por nenhum dos dois PCs. Não conseguia - e aindo não consigo- entender como alguem com um mínimo de seriedade intelectual poderia apoiar um Partido que idolatrava regimes que negavam o elemento fundamental da vida de quem se dedica ao trabalho intelectual: a liberdade. Era ainda mais incompreensivel, se lembrarmos, que a ditadura militar nos negava este mesmo direito. Como combate-la e substitui-la por uma outra que nos roubaria os mesmos direitos? Isto, contudo, nunca me colocou nos braços da direita, mas criou uma resistência, melhor dizendo: preconceito, em relação a produção dos intelectuais simpaticos ou membros dos dois PCs.
Leandro Konder, por ex, nunca fez parte da minha lista de leituras. Tão pouco Carlos Nelson Coutinho, ainda que tenha lido seu famoso trabalho sobre “a democracia como valor universal”. Leitor, à epoca, de Rosa Luxemburgo, não fiquei impressionado: apenas reforçou meu preconceito.
Este longo preâmbulo, para dizer que estou lendo e gostando do livro de memórias do Leandro Konder: “Memórias de um intelectual comunista”. Ele escreve bem. A descrição do mundo em que cresceu é, elegantemente, concisa. Adentramos um mundo, que ele chama de classe media, mas que acho mais adequado chamar de classe média alta, povoado por pessoas que se destacaram, na vida adulta, em diferentes atividades. É um mundo que, apesar das aparências, é provinciano e está de costas para o resto do país. A transferência da Capital para Brasilia deu o pontapé inicial no longo processo, ainda incompleto, de morte deste “mundinho’, que traduziu-se, ao longo dos anos, em perda de influência econômica, política e cultural da antiga capital, e traformação, paulatina, em grande balneario
O provincianismo é apenas um lado da moeda, há outro, também, muito interessante: o mundo do que poderiamos chamar, por falta de outro nome, de “ aristocracia de esquerda”, da qual Konder é um membro de destaque. É realmente um ótimo livro, aprendemos muito sobre a vida cultural brasileira e conhecemos, um pouco, sobre a vida do senhor Leandro Konder.