quinta-feira, 14 de maio de 2009

Estudo do BC desvenda canais de transmissão da política de juros

O "paper" parece interessante e promissor, mas ainda não consegui uma cópia.


O Banco Central revela, pela primeira vez, como os movimentos na taxa básica de juros afetam a atividade econômica e a inflação. Um estudo, a ser apresentado hoje no seminário anual de metas de inflação, que marca dos dez anos desse regime no Brasil, explicita pela primeira vez como agem os chamados canais de transmissão da política monetária. O principal deles é o juro cobrado nos empréstimos a pessoas físicas. Quando o BC aperta a política monetária, esse canal responde por 62% da retração da atividade econômica.


Os bancos centrais em geral, incluindo o BC brasileiro, sabem pouco sobre como a política monetária se transmite para a economia. Quando o BC sobe os juros, é como se apertasse um botão de uma máquina que, mais para frente, vai provocar contração na atividade econômica e queda da inflação. O que acontece exatamente dentro da máquina é bastante incerto e muda ao longo do tempo. Um canal de política monetária que, em um momento, parece mais poderoso pode perder força em um contexto diferente.


Dois pesquisadores do BC, André Minella e Nelson F. Souza-Sobrinho, construíram um modelo matemático e estatístico que procura reproduzir o funcionamento da economia. A revelação é que os juros do crédito a pessoas físicas respondem pelo maior efeito sobre a atividade econômica. Não é de se estranhar, já que, nos últimos anos, o crédito ganhou importância como um dos motores do consumo. Do início de 1999, ano da adoção do sistema de metas de inflação, até agora, o crédito subiu de 26% para 42,5% do Produto Interno Bruto. A importância do canal juros ao consumidor sobre a atividade é também compatível com o peso, de cerca de dois terços, do consumo na demanda agregada.


O segundo fator mais importante é o juro do crédito a empresas, que responde por 24% da contração da atividade econômica. Não estranha o efeito ser relativamente reduzido na comparação com o crédito aos consumidores, dizem os pesquisadores, já que a taxa de investimento é de cerca de 20%. Além disso, argumentam, uma boa parte do financiamento às empresas é feita por meio de crédito direcionado e por por bancos oficiais e, por isso, estão menos sujeitos aos efeitos das variações da Selic. O terceiro canal mais importante é o da demanda externa, que responde por 14% do declínio na atividade econômica.

Os pesquisadores fizeram dois exercícios econométricos para avaliar o efeito dos juros sobre a inflação. Num deles, que não inclui o chamado canal das expectativas, descobriram que 40% da redução da inflação ocorre por meio dos juros cobrados de pessoas físicas. O canal câmbio também responde por cerca de 40% da redução da inflação. Na teoria, altas de juros levam à apreciação cambial, que, por sua vez, levam a inflação menor. Esse resultado pode sugerir que o câmbio tem papel central no processo de desinflação. Mas essas conclusões devem ser vistas com cuidado. Na série estatística com a qual os pesquisadores trabalharam, houve intensos movimentos de câmbio, e isso tem influência nos resultados. Mais recentemente, os movimentos de câmbio não tem sido acompanhados, tão de perto, por oscilações na taxa de inflação.


O terceiro fator mais importante na redução da inflação é o canal dos juros para as empresas, com uma contribuição de 16%. Um dos problemas do exercício acima é que ele não leva em conta o canal das expectativas, algo central em um regime de metas de inflação. Quando esse fator é incluído nas contas, descobre-se que esse é o fator mais importante. Cerca de 80% da redução da inflação, segundo os pesquisadores, ocorre pelo canal das expectativas. O cambio responde por 12%; os juros às pessoas físicas, por 6,4%; e os juros às empresas, por 1,7%. Esse é um resultado da credibilidade da política monetária. Quanto mais crível a política monetária, menos a atividade econômica precisa se retrair para baixar a inflação.


Com esse estudo, é possível saber com precisão como a recente baixa de juros vai atingir a atividade e a inflação? É provável que não. A crise internacional provocou, aparentemente, uma quebra estrutural.



Fonte: Valor Econômico/Alex Ribeiro -14/05/09