sexta-feira, 30 de abril de 2010

Krugman e o euro

Bom artigo do Krugman sobre os problemas do Euro. Não comportilho, contudo o seu pessimismo e tão pouco o seu economicismo. Como mencionado em outro post o projeto europeu não pode ser reduzido apenas ao seu aspecto econômico e a dificuldade pelo qual ele passa não é a primeira e seguramente não será a última. Alias, se a variável econômica fosse a única determinante no projeto, ele dificilmente teria avançado tanto. O preço a pagar é alto, mas a experiência americana mostra que, no longo prazo, o retorno compensa os percalços do curto prazo.



Not that long ago, European economists used to mock their American counterparts for having questioned the wisdom of Europe’s march to monetary union. “On the whole,” declared an article published just this past January, “the euro has, thus far, gone much better than many U.S. economists had predicted.”

Oops. The article summarized the euro-skeptics’ views as having been: “It can’t happen, it’s a bad idea, it won’t last.” Well, it did happen, but right now it does seem to have been a bad idea for exactly the reasons the skeptics cited. And as for whether it will last — suddenly, that’s looking like an open question.

To understand the euro-mess — and its lessons for the rest of us — you need to see past the headlines. Right now everyone is focused on public debt, which can make it seem as if this is a simple story of governments that couldn’t control their spending. But that’s only part of the story for Greece, much less for Portugal, and not at all the story for Spain.

The fact is that three years ago none of the countries now in or near crisis seemed to be in deep fiscal trouble. Even Greece’s 2007 budget deficit was no higher, as a share of G.D.P., than the deficits the United States ran in the mid-1980s (morning in America!), while Spain actually ran a surplus. And all of the countries were attracting large inflows of foreign capital, largely because markets believed that membership in the euro zone made Greek, Portuguese and Spanish bonds safe investments.

Then came the global financial crisis. Those inflows of capital dried up; revenues plunged and deficits soared; and membership in the euro, which had encouraged markets to love the crisis countries not wisely but too well, turned into a trap.

What’s the nature of the trap? During the years of easy money, wages and prices in the crisis countries rose much faster than in the rest of Europe. Now that the money is no longer rolling in, those countries need to get costs back in line.

But that’s a much harder thing to do now than it was when each European nation had its own currency. Back then, costs could be brought in line by adjusting exchange rates — e.g., Greece could cut its wages relative to German wages simply by reducing the value of the drachma in terms of Deutsche marks. Now that Greece and Germany share the same currency, however, the only way to reduce Greek relative costs is through some combination of German inflation and Greek deflation. And since Germany won’t accept inflation, deflation it is.

The problem is that deflation — falling wages and prices — is always and everywhere a deeply painful process. It invariably involves a prolonged slump with high unemployment. And it also aggravates debt problems, both public and private, because incomes fall while the debt burden doesn’t.

Hence the crisis. Greece’s fiscal woes would be serious but probably manageable if the Greek economy’s prospects for the next few years looked even moderately favorable. But they don’t. Earlier this week, when it downgraded Greek debt, Standard & Poor’s suggested that the euro value of Greek G.D.P. may not return to its 2008 level until 2017, meaning that Greece has no hope of growing out of its troubles.

All this is exactly what the euro-skeptics feared. Giving up the ability to adjust exchange rates, they warned, would invite future crises. And it has.

So what will happen to the euro? Until recently, most analysts, myself included, considered a euro breakup basically impossible, since any government that even hinted that it was considering leaving the euro would be inviting a catastrophic run on its banks. But if the crisis countries are forced into default, they’ll probably face severe bank runs anyway, forcing them into emergency measures like temporary restrictions on bank withdrawals. This would open the door to euro exit.

So is the euro itself in danger? In a word, yes. If European leaders don’t start acting much more forcefully, providing Greece with enough help to avoid the worst, a chain reaction that starts with a Greek default and ends up wreaking much wider havoc looks all too possible.

Meanwhile, what are the lessons for the rest of us?

The deficit hawks are already trying to appropriate the European crisis, presenting it as an object lesson in the evils of government red ink. What the crisis really demonstrates, however, is the dangers of putting yourself in a policy straitjacket. When they joined the euro, the governments of Greece, Portugal and Spain denied themselves the ability to do some bad things, like printing too much money; but they also denied themselves the ability to respond flexibly to events.

And when crisis strikes, governments need to be able to act. That’s what the architects of the euro forgot — and the rest of us need to remember.

Fonte: NYTimes

quinta-feira, 29 de abril de 2010

O Bacen está certo....

E o inevitavel aconteceu: o Bacen elevou a taxa de juros. Nem todos estão felizes,os criticos de sempre devem voltar com os argumentos falsos e já bem conhecidos, ..., o fato é que não havia motivos para postergar ainda mais a decisão. É ano eleitoral e política econômica não se faz no abstrato, sei disto, porem, pensando no bem comum é melhor correr o risco de perder a eleição que repetir a farsa encenada pela administração anterior. Ao aceitar correr esse risco, a atual administração demonstra, mais uma vez, que seu compromisso é com o bem estar do país.

Resta saber qual será o comportamento do candidato da Nova Direita. Ele já havia errado feio em sua análise do Plano Real e insistiu neste mesmo erro em boa parte da antiga administração. O risco dele fazer cia a esquerda jurassica no lixo da historia é cada vez mais forte ...

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A nova direita e o mercosul

O candidato da Nova Direita resolveu recuperar teses equivocadas de membros do seu partido e partiu para o ataque ao Mercosul. O argumento central desconhece o papel fundamental da política no projeto de união econômica europeia e pretende restringir o tema unicamente à esfera econômica.No caso do mercosul e de outros projetos a política sempre esta(ve) presente e ao exclui-la, fica dificil entender a razão de ser dos mesmos: seguramente não é e nunca foi exclusivamente econômica.

Isto não implica negar os problemas - bastante conhecidos - do projeto mercosul, que exigem uma solução adequada. Sem o mercosul a opção, naturalmente, é o retorno a area de livre de comércio das americas - sonho dourado de alguns - ou ficar sem política alguma. Para um agrupamento que se orgulha em ser uma universidade - com poucos alunos, é verdade - o candidato da Nova Direita carece de conselheiros com algum conhecimento do que vem a ser o interesse nacional na esfera internacional. Ou será que o passado na esquerda e seu peculiar marxismo o impede de ver alem do economicismo infantil da turma que adora se passar como economista, mas nunca tem tempo para estudar economia? Este nunca me pareceu ser o caso do candidato da Nova Direita, mas pelo jeito estava errado.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ibre e o os dois mitos das contas públicas

Ótimo artigo(carta) do Ibre sobre dois temas fundamentais do debate macroeconômico no grande bananão. Gostei do artigo, afinal é sempre muito agradável estar em boa cia.


A evolução das contas públicas é um tema quase que permanente do debate econômico no Brasil. Uma das razões para isso é que, ao longo de sucessivos governos, de forças políticas diversas, manteve-se a tendência de crescimento das despesas públicas acima do produto nacional e de ajustes fiscais baseados mais em aumento de receita do que na redução dos gastos. Em consequência, houve um aumento quase contínuo da carga tributária. Essa aparente indisciplina fiscal permanece como um ponto de fragilidade no marco de um desempenho macroeconômico que, em linhas gerais, é bastante positivo. Por isso, parece compreensível que as contas públicas estejam sempre na pauta de discussão.

O debate, porém, tornou-se um pouco repetitivo, talvez até, em parte, pela poderosa inércia política que condiciona a gestão do setor público no Brasil. Como não há reação às demandas de reformulação da política fiscal oriundas dos especialistas em contas públicas, estes passaram, algumas vezes, a assumir o papel de arautos de uma mensagem só, enunciando e reenunciando, de forma um pouco automática, sempre os mesmos diagnósticos e críticas. O efeito disso, por sua vez, foi o de anestesiar a sociedade para a importância da questão, já que a sensação geral é a de que nada muda — nem o comportamento do governo, tampouco as críticas.

De uns tempos para cá, contudo, têm surgido novas abordagens da questão fiscal que, de certa forma, avançam em relação aos diagnósticos tradicionais. São ideias que podem contribuir para, provocativamente, recolocar para a sociedade a crucial questão das características do Estado que os brasileiros desejam ter. Esta Carta apresenta duas dessas abordagens que, na verdade, são críticas a dois grandes mitos do debate sobre as contas públicas no Brasil. O primeiro diz respeito à possibilidade de melhora do desempenho fiscal com um “choque de gestão” que ataque as ineficiências do Estado brasileiro, e venha a gerar uma substancial economia das despesas de custeio da máquina pública. O segundo mito é apontar, como único motivo do baixo investimento do governo federal, os recursos limitados liberados para esse fim, uma vez que o grosso da receita pública seria direcionado para os gastos correntes.

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segunda-feira, 26 de abril de 2010

Our giant banking crisis—what to expect

Bom artigo- resenha do Paul Krugman e Robin Wells na última edição do The New York Review of Books. Leitura obrigatória, principalmente, para a nova direita e seus aliados da extrema esquerda.


Lately, the big concern roiling financial markets has been fear of Greek default. The risks seem obvious: Greek government debt is at levels that have historically signaled deep trouble for middle-income nations, and debt is still rising rapidly thanks to a large deficit. Meanwhile, Greece is suffering a severe recession in large part because costs have gotten far out of line with the rest of Europe. And one more thing: Greece has a long history of default—in fact, the nation has been in arrears on its debt for half its modern history.

Yet as recently as last September, nobody seemed worried. Credit default swaps on Greek debt—insurance against a possible default—were fairly cheap; Greece was able to borrow at only modestly higher interest rates than that paragon of fiscal rectitude, Germany. Why were investors so complacent? The answer was that almost everyone believed that historical precedents were irrelevant. Greece was now part of Europe, and even more important, since 2001 part of the eurozone—sharing a currency with its more affluent neighbors. And that changed everything. Except that it didn’t.

The Greek crisis came after the publication of This Time Is Different: Eight Centuries of Financial Folly, by Harvard’s Kenneth Rogoff and the University of Maryland’s Carmen Reinhart, but it was a dramatic illustration of the point they make with their sarcastic title: the more things change in the financial world, the more they stay the same. The Greek debt crisis of 2010 bears a strong resemblance to the Mexican debt crisis of 1827; inflation in Zimbabwe is just the latest episode in a history of currency debasement that goes back to ancient Greek city-states; and last but not least, the US subprime crisis of 2008 followed the script of scores of banking crises past, going back at least as far as eighteenth-century Scotland.

1.
From an economist’s point of view, there are two striking aspects of This Time Is Different. The first is the sheer range of evidence brought to bear. Reading Reinhart and Rogoff is a reminder of how often economists take the easy road—how much they tend to focus their efforts on times and places for which numbers are readily available, which basically means the recent history of the United States and a few other wealthy nations. When it comes to crises, that means acting like the proverbial drunk who searches for his keys under the lamppost, even though that’s not where he dropped them, because the light is better there: the quarter-century or so preceding the current crisis was an era of relative calm, at least among advanced economies, so to understand what’s happening to us one must reach further back and farther afield. This Time Is Different ventures into the back alleys of economic data, accepting imperfect or fragmentary numbers as the price of looking at a wide range of experience.

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domingo, 25 de abril de 2010

sábado, 24 de abril de 2010

La Vierge à midi, Paul Claudel

Il est midi. Je vois l’église ouverte. Il faut entrer.
Mère de Jésus-Christ, je ne viens pas prier.

Je n’ai rien à offrir et rien à demander.
Je viens seulement, Mère, pour vous regarder.

Vous regarder, pleurer de bonheur, savoir cela
Que je suis votre fils et que vous êtes là.

Rien que pour un moment pendant que tout s’arrête
Midi !
Être avec vous, Marie, en ce lieu où vous êtes.

Ne rien dire, regarder votre visage,
Laisser le coeur chanter dans son propre langage,

Ne rien dire, mais seulement chanter parce qu’on a le coeur trop plein,

Comme le merle qui suit son idée en ces espèces de couplets soudains.

Parce que vous êtes belle, parce que vous êtes immaculée,
La femme dans la Grâce enfin restituée,

La créature dans son honneur premier et dans son épanouissement final,
Telle qu’elle est sortie de Dieu au matin de sa splendeur originale.

Intacte ineffablement parce que vous êtes la Mère de Jésus-Christ,
Qui est la vérité entre vos bras, et la seule espérance et le seul fruit.

Parce que vous êtes la femme, l’Éden de l’ancienne tendresse oubliée,
Dont le regard trouve le coeur tout– à-coup et fait jaillir les larmes accumulées,

Parce que vous m’avez sauvé, parce que vous avez sauvé la France,
Parce qu’elle aussi, comme moi, pour vous fut cette chose à laquelle on pense,

Parce qu’à l’heure où tout craquait, c’est alors que vous êtes intervenue,
Parce que vous avez sauvé la France une fois de plus,

Parce qu’il est midi, parce que nous sommes en ce jour d’aujourd’hui,

Parce que vous êtes là pour toujours, simplement parce que vous êtes Marie, simplement parce que vous existez,

Mère de Jésus-Christ, soyez remerciée !

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Mendonça de Barros e a dinamica do setor externo

Gostei muito do artigo do Luiz Carlos Mendonça de Barros, publicado hoje no jornal da Ditabranda. Concordo, também, com o final do artigo, apenas acrescentaria que mais exposto, não, implica, necessariamente, retorno da restrição externa e muito menos crises recorrentes causadas pela mesma restrição.

Ao longo dos últimos anos tenho acompanhado com muito entusiasmo a evolução da economia brasileira.
Afinal, depois de muito tempo podia sentir que caminhávamos finalmente na direção de uma economia de mercado eficiente e moderna. Acordei para essa nova realidade -ou como gosto de chamar, para esse novo metabolismo econômico- em 2005, ao incorporar os elevados saldos comerciais dos anos anteriores à minha análise dos anos que viriam. Com uma nova dinâmica de preços e quantidades -devido principalmente ao crescimento da economia chinesa-, as exportações de produtos primários criavam condições para que o Brasil pudesse superar três décadas de fragilidade em suas contas externas.
Convencido de que o fenômeno China poderia ser projetado pelo menos para a década seguinte, passei a trabalhar com um cenário mais agressivo de abertura da economia brasileira. Minha vivência com empresas e empresários tinha me ensinado que a razão mais forte para o baixo coeficiente de importações no Brasil era o medo do futuro da taxa de câmbio.
Presenciei em várias ocasiões -dentro e fora do governo- os prejuízos daqueles que, acreditando na estabilidade da moeda brasileira, haviam incorporado produtos importados às suas cadeias produtivas e de distribuição. Sempre surpreendidos por uma desvalorização de grandes proporções, os que usavam fornecedores externos acabavam voltando atrás a cada frustração e depois de grandes perdas.
A partir de 2005, portanto, não tive mais dúvidas de que em um cenário de moeda nacional forte e com baixa volatilidade o movimento de integração produtiva com o exterior iria crescer de forma continuada.
As estatísticas do comércio exterior brasileiro nos primeiros três meses de 2010 mostram que eu tinha razão nas minhas projeções. Cinco anos depois do início dessa nova fase do real, as importações de componentes e de bens finais estão literalmente explodindo.
Uma das medidas usadas para quantificar a abertura da economia é a diferença física entre o valor das exportações e das importações. Até 2005, essa diferença era positiva, ou seja, o comércio exterior do Brasil representava uma fonte de demanda para a economia. A partir de 2005, de maneira ainda muito tímida, a quantidade importada passou a crescer mais rápido que a exportada. Em outras palavras, o comércio exterior brasileiro passava a ser uma fonte de oferta interna de bens e não de demanda, em termos líquidos.
Esse número veio crescendo de forma gradual, porém contínua, ao longo do tempo. Pouco antes da crise do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, as importações líquidas chegaram a subtrair três pontos percentuais do PIB, o que é um número muito grande. Com a crise bancária americana, a tendência foi temporariamente estancada, mas já em meados de 2009 as importações voltaram a crescer rapidamente.
Agora, conhecidos os números do primeiro trimestre, podemos ver que o processo de abertura continua com vigor. A diferença entre compras e vendas ao exterior já é de quatro pontos do PIB, e deve continuar a crescer. O próximo governo vai ter de olhar para esse movimento com atenção. Como tudo em economia, o aumento do coeficiente de importações tem aspectos bons e ruins. Do lado positivo há o aumento do consumo com menor pressão inflacionária. Mas o crescente deficit em conta-corrente deixará o país mais exposto aos humores do capital financeiro.

Fonte: FSP

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Uma ótima noticia...

Ótimo artigo do Vinicius Torres Freira, colunista no jornal da Ditabranda, sobre o bem estar das crianças. O destaque é para o pouco conhecido, mas importante, Programa de Saúde da Família (PSF). E ainda há aqueles que acreditam que a única solução para os problemas do grande bananão é a tal da revolução anti-capitalista marxista leninista e outros istas. Enquanto esse dia não chega, ficam sentados bebericando e comendo do bom e do melhor e pregando o niilismo de catedra para jovens sonhadores.


A cada ano, cerca de 100 mil crianças morrem no Brasil antes do quinto aniversário; 70 mil delas antes do primeiro ano.
Ainda é um massacre silencioso: de cada mil crianças, 24 morrem antes dos cinco anos. Mas já foi muito pior, não faz muito tempo. Em meados dos anos 1990, essa taxa de mortalidade era quase três vezes maior.
Um estudo de uma equipe de nove pesquisadores do Ipea mostra como caíram as taxas de mortes infantis, entre outros indicadores. Tão importante quanto, revela que diminui também a desigualdade social na expectativa de vida das crianças.
Em 1996, a mortalidade na infância (a dos menores de cinco anos) era de 141 por mil entre as crianças classificadas como "extremamente vulneráveis". Esses meninos vivem em famílias chefiadas por homens de cor negra, mães que não foram à escola e ausentes da casa, moradores da zona rural do Nordeste, com renda per capita menor que a da metade da linha de pobreza (R$ 24,90). Na média nacional, a mortalidade era de 64 por mil.
Em 2006, a mortalidade na infância na média brasileira caíra para 24 por mil; a dos meninos "extremamente vulneráveis", para 39 por mil.
A mortalidade infantil -mortes antes do primeiro ano- ainda é cerca de cinco vezes maior que a dos países desenvolvidos. Em 1996, era de 55 por mil, na média. Em 2006, de 21 por mil. Entre as crianças vulneráveis, a taxa caiu de 115 para 33.
A porcentagem de crianças com baixo peso ao nascer caiu a um nível similar à de países desenvolvidos.
O que aconteceu? Segundo os pesquisadores do Ipea: 1) Redução rápida da pobreza extrema; 2) Expansão do acesso aos serviços básicos de saúde e saneamento, em especial entre os mais pobres; 3) Maior utilização dos serviços devido ao aumento da escolaridade dos pais e às campanhas de atenção básica à infância.
Grande parte da melhoria no acesso a serviços básicos de saúde pode ser atribuída ao Programa de Saúde da Família (PSF), dizem os pesquisadores. O PSF foi criado em 1994 e expandido desde então -o atendimento é feito em unidades básicas de saúde (o posto de saúde renovado), por equipes de saúde que vão à casa das famílias.
Em 2003, o PSF cobria 36% da população. Em 2007, 47%. Mulheres passaram a fazer mais exames pré e pós-natais, preveniram-se infecções, diarreias e desidratações mortíferas, vacinaram-se mais crianças, as famílias foram instruídas.
Trata-se de medidas simples, que demandam organização, persistência, continuidade administrativa. O sucesso demonstra que um serviço de atendimento universal à saúde pode funcionar, assim como um programa de universalização do saneamento daria cabo de traços ainda muito selvagens da vida nacional.
O assunto é quase ausente do debate público. Não é sensacional, não envolve grandes disputas políticas ou econômico-empresariais, demanda atenção ao detalhe, boa administração e metas, temas que em geral causam tédio. Mas resultam em progressos silenciosos. Será tão difícil elaborar um projeto similar para a educação?
O estudo "Determinantes do Desenvolvimento da Primeira Infância no Brasil" pode ser lido, grátis, no site www.ipea.gov.br.

Fonte: FSP

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Um grande equivoco arquitetonico

Brasilia deve ter lá seu charme e encanto, mas confesso que continuo imune a ambos. Estive na cidade somente uma única vez para um encontro da anpec e não gostei de nada, exceto do local do encontro, a academia de tenis. Longas distâncias, qualidade pessima do restaurante vizinho ao hotel, o fato é que não via a hora de voltar para a civilização.

A longa viagem de onibus - ainda era um mestrando vivendo de bolsa - foi educativa e muito desconfortável, apesar da cia agradável. Lembro apenas da estranha sensação de ver uma cidade aparecer do nada no meio de lugar nenhum. Experiência somente comparável a que teria anos depois quando conheci Las Vegas. Desta vez a estrada era ótima, o carro tinha ar condicionado e a cia, coincidentemente, era a mesma da viagem de onibus a Brasilia.

Para a infelicidade de uma amiga brasiliense de coração e apaixonada pela cidade, acho que a solução para este grande equivoco histórico e arquitetonico seria o retorno ao Rio e convidar o pessoal de Las Vegas pra administrar Brasilia. Essa, alias, parece ser sua real vocação, não encontro motivos para impedir que ela se realize.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A nova direita..

"Mas ele seguramente não é de direita, muito menos nova direita. Um absurdo, afinal todo o passado dele é na esquerda." Pois é, mas esquecem que Lacerda, quando jovem foi da Juventude Comunista, ou que outros, nesta idade, namoravam o integralismo e depois, mudaram de lado. Alias, para um lado bem melhor. Contudo, meu ponto nunca foi este: trabalho com o modelo de mercado eleitoral com esquerda, direita e o centro. Nele não é possível dois candidatos ocuparem o mesmo segmento do mercado, se um candidato se posiciona na esquerda o outro por definição fica alocada na direita e ambos disputam o eleitorado do centro, já que os eleitores dos extremos dificilmente mudariam de lado, ou seja a extrema esquerda votando em um candidato a direita ou a extrema direita votanto em candidato a esquerda. Esta é a minha primeira observação, a segunda refere-se a base social e eleitoral dos candidatos. Um deles, pertence a um partido que tem um eleitorado tipicamente de direita, ilustrado é verdade, mas de direita, quem sabe, envergonhada. Esta é uma avaliação que ouvi de membros desse partido que, apesar de esquerda, nunca confundiram desejo com a realidade. Se alguem ainda tem dúvidas é so estudar as pesquisas sobre as eleições brasileiras.

O fato é que temos um bloco de centro-esquerda e um outro de centro-direita e apesar de algumas alterações internas a cada bloco, a liderança continua sendo a mesma em cada um deles. Não por acaso para o FT o governo FHC era um governo de centro direita. O resto , com diria um velho amigo, é papo pra boi dormir...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A retorica vazia do bixiga

Em seu último artigo no jornal da Ditabranda ( reproduzido abaixo)Nakano afirma que há "duas ameaças que podem interromper a aceleração sustentada do crescimento: inflação e deficit em transações correntes.". Concordo, em parte com o primeiro, mas não com o segundo. Conforme argumento do post da semana passada, há uma grande diferença entre uma inflação fora da meta e a perda de controle sobre a inflação. Ele parece assumir que o primeiro, inevitavelmente, leva ao segundo e isto, me parece, ser um grande equivoco. Já em relação a segunda ameaça, acho que ele e outros que compartilham sua analise estão errados e prisioneiros de um período em que a fragilidade externa era uma caracteristica estrutural da economia do grande bananão. Este não parece ser mais o caso.

Tão pouco me parece realista defender redução de "despesas com pessoal e custeio" em ano eleitoral. Ele está ciente desta impossibilidade política, mas prefere jogar para a plateia. Essa não seria uma opção problematica em uma ditadura, mas sabemos não ser este o caso do grande bananão.




"O Brasil vem passando por grandes transformações nos últimos anos. De economia dominada pela especulação financeira, estamos caminhando para uma economia orientada para o crescimento, com deslocamento das expectativas para investimento produtivo e ampliação do horizonte temporal dos agentes econômicos. Estamos redescobrindo o nosso potencial de crescimento e reativando o ânimo empresarial. O que demarcará a transição para economia voltada para o crescimento será a constituição de uma massa crítica de empresários tomando decisões de ampliar os investimentos produtivos.
Infelizmente, esse processo foi abortado no último trimestre de 2008, com pânico financeiro e abrupta contração de crédito pelos bancos privados. Agora que iniciamos a recuperação, corremos o risco de novamente abortarmos a ampliação da taxa de investimento com a elevação do juro anunciada pelo BC.
Existem hoje duas ameaças que podem interromper a aceleração sustentada do crescimento: inflação e deficit em transações correntes. De fato, a taxa de inflação subiu neste ano e vamos superar a meta, mas não há indicações de que essa aceleração será persistente. Mas vamos admitir que seja preciso controlar a demanda agregada para evitar que essa inflação temporária se transforme em aceleração persistente.
Mas a elevação da taxa de juros é a medida correta no atual contexto brasileiro? Não. O que garantirá a transitoriedade da aceleração da inflação e seu controle no futuro será a ampliação da capacidade produtiva. E a elevação da taxa de juros afetará negativamente a recuperação da taxa de investimento, em andamento.
A taxa de juros afetará a demanda agregada, mas transitoriamente, já que a dinâmica de expansão do consumo tem como causas fatores reais além de juros e crédito. Estamos apenas transferindo o problema para o futuro, com menor crescimento hoje. O que precisamos é de uma política fiscal que diminua as despesas de pessoal e custeio, pois reduziria não só o nível de demanda, mas também a sua composição, uma mudança estrutural, abrindo espaço não inflacionário para ampliação da taxa de investimento e redução do deficit em transações correntes.
A elevação do juros é errada porque agravará o nosso segundo problema, que é o forte aumento no deficit em transações correntes, pois aumentará o influxo de capitais do exterior e provocará a apreciação adicional da taxa de câmbio. Isso terá duas consequências perversas: elevará o crédito do exterior quando se pretende contê-lo internamente com a alta dos juros; e a apreciação do câmbio provocará maior consumo, particularmente de bens importados, quando deveríamos contê-lo.
Em suma, vamos continuar cometendo os mesmos erros do passado com os dois preços fundamentais da economia fora do lugar e acionando instrumentos errados de política econômica. O atual "mix" de política, que já completou uma década, vem provocando especialização regressiva da estrutura produtiva do país, com repetição cíclica de períodos prolongados de apreciação cambial seguidos de forte e súbita depreciação, com reprodução sistemática de surtos inflacionários."

Fonte: FSP

domingo, 18 de abril de 2010

sábado, 17 de abril de 2010

Le mot et la chose, Abbé de l'Attaignant

Madame, quel est votre mot,
Et sur le mot et sur la chose ?
On vous a dit souvent le mot,
On vous a fait souvent la chose.
Ainsi, de la chose et du mot
Vous pouvez dire quelque chose.
Et je gagerais que le mot
Vous plaît beaucoup moins que la chose.
Pour moi, voici quel est mon mot,
Et sur le mot, et sur la chose :
J'avouerai que j'aime le mot,
J'avouerai que j'aime la chose.
Mais, c'est la chose avec le mot,
Mais, c'est le mot avec la chose,
Autrement, la chose et le mot
A mes yeux, seraient peu de chose.
Je crois même, en faveur du mot,
Pouvoir ajouter quelque chose ;
Une chose qui donne au mot
Tout l'avantage sur la chose :
C'est qu'on peut dire encore le mot,
Alors qu'on ne fait plus la chose.
Et pour peu que vaille le mot,
Mon Dieu, c'est toujours quelque chose !
De là, je conclus que le mot
Doit être mis avant la chose.
Qu'il ne faut ajouter au mot
Qu'autant que l'on peut quelque chose.
Et pour quelque jour où le mot
Viendra seul, hélas, sans la chose,
Il faut se réserver le mot
Pour se consoler de la chose.
Pour vous, je crois qu'avec le mot,
Vous voyez toujours autre chose.
Vous dites si gaiement le mot,
Vous méritez si bien la chose,
Que pour vous, la chose et le mot
Doivent être la même chose.
Et vous n'avez pas dit le mot
Qu'on est déjà prêt à la chose,
Mais quand je dis que le mot
Doit être mis avant la chose,
Vous devez me croire à ce mot,
Bien peu connaisseur en la chose.
Eh bien, voici mon dernier mot,
Et sur le mot et sur la chose :
Madame, passez-moi le mot
Et je vous passerai. la chose.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A Nova Direita e a retomada do crescimento econômico

Um dos melhores economistas da Nova Direita, Luiz Carlos Mendonça de Barros, esta assustado com o crescimento da economia do grande bananão. Curioso: ele sempre criticou - nem sempre com razão - o crescimento anemico do passado recente e agora repete a dose diante da perspectiva de um crescimento no mínimo de 7%. Há é claro o risco de inflação, mas seria um equivoco confundi-lo com perda de controle sobre a inflação. A equipe econômica - como ele próprio reconhece - se saiu muito bem na crise econômica e não há motivos para acreditar que este comportamento, virtuoso, não se repetira no caso de uma inflação mais elevada.



"A aceleração do crescimento econômico no Brasil começa a me assustar. Com base nos dados do primeiro trimestre deste ano, um grupo de analistas já fala em crescimento do PIB de mais de 7% em 2010. Nós, na Quest Investimentos, ainda não chegamos a tal, talvez porque meus colegas sejam mais cautelosos do que eu...
O crescimento da demanda interna pode ficar próximo a 10% em 2010. As importações respondem por essa diferença entre PIB e a chamada absorção interna. Mas elas acomodam a demanda aquecida apenas no grupo dos chamados bens "tradables", isto é, aqueles que podem ser comprados em outros países. A maior parte da oferta na economia brasileira é constituída por bens e serviços que não podem ser importados. O mais importante deles é o mercado de trabalho e nele é que está a componente mais ameaçadora que vejo para a frente. Também a infraestrutura econômica não está preparada para acomodar tal crescimento econômico. Afinal, são quase oito anos sem investimentos federais relevantes.
Poderemos chegar ao fim deste ano com uma taxa de desemprego da ordem de 6%, mantido o crescimento atual da geração de postos de trabalho. Em março, o número de empregos formais aumentou em 266 mil, número muito forte para o mês. O ministro do Trabalho, encantado com o próprio sucesso, disse ontem que esse número deve se repetir neste mês. Dada a composição da oferta de mão de obra no país, a desocupação ainda elevada esconde uma situação de escassez nas faixas profissionais mais qualificadas.
A pressão sobre os salários desse segmento dos trabalhadores já está ocorrendo e deve se acelerar. Na construção civil, um dos pontos mais aquecidos da economia, os salários já estão crescendo a mais de 10% ao ano. Mas outros sinais também alertam o analista mais cuidadoso. São evidências de instabilidade grave. Dou um exemplo: a produção de caminhões da Mercedes-Benz brasileira em março foi o dobro da matriz na Alemanha. Mesmo com a crise na Alemanha esse número é um aleijão para mim.
Minha experiência profissional diz que estamos entrando em um daqueles momentos em que a euforia do brasileiro -aqui incluído trabalhadores, empresários e governo- vai nos levar a bater no muro das restrições econômicas. E a inflação é o problema mais grave que vamos enfrentar. Não me surpreenderia se, em poucos meses, estivermos falando de uma taxa de inflação, 12 meses à frente, superior a 6% ao ano.
O governo -que teve atuação exemplar durante a curta crise que vivemos- entrou agora na defesa de uma macroeconomia keynesiana utópica e muito perigosa. Segundo a equipe econômica, os investimentos privados estão acontecendo e devem assegurar o equilíbrio entre oferta e demanda. São os eternos canarinhos que voam no universo dos economistas brasileiros. Já vi esse filme no passado e posso assegurar ao leitor que o final será triste.
Por outro lado, a dinâmica eleitoral esta criando uma onda de benesses que apenas agrava o quadro de superaquecimento. Contabilizem os aumentos de gastos que estão saindo do Congresso nesses últimos meses e façam as contas. Isso joga mais lenha na fogueira da demanda privada.
Para tentar esfriar o entusiasmo de todos, parece restar apenas a atuação do Banco Central. Mas trazer de volta o senso do real nesta altura do campeonato apenas com juros mais elevados será uma tarefa difícil e com prazo longo de maturação."

Fonte: FSP

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Sete na cabeça...

Não gosto do número sete. Por razões que desconheço, sempre tive receio deste número. Explicado, quem sabe, por coincidências do período escolar quando tinha desempenho inferior nos anos em que meu número na chamada era o sete. É irracional, eu sei, porem... O fato é que não é meu número predileto. Confesso, que não gosto de nenhum numero impar, mas o sete recebe uma parte maior deste meu estranhamento...

Descontado a irracionalidade o fato é que concordo com a posição do JPMorgam em relação ao crescimento da economia: 7%. Mencionei este número em uma palestra no mês de março e a reação foi de incredulidade. Como sou apenas um pobre e desconhecido professor de economia é bom estar na companhia de uma instituição secular... Mas este número nâo deveria causar espanto, já que foi o crescimento no período 1940-1980, para não mencionar os 11% do milagre econômico. Acostumamos com os números mediocres e esquecemos que eles não constituem a regra na historia econômica do grande bananão. É claro que eles são perfeitamente justificaveis, porem não devem ser vistos como regra, mas como resultados de contingências históricas. Detalhe que a extrema esquerda e a nova direita sempre esquecem... Mais um caso de amnésia seletiva da segunda e prova de desconhecimento da teoria econômica do primeiro grupo.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

FMI recomenda restrição a capital externo

É uma noticia que vai deixar a heterodoxia do grande bananão muito feliz e obriga-la, muito a contragosto, a elogiar a sua besta fera favorita: o FMI. Naturalmente, discordo da sugestão do Fundo - não é a primeira e seguramente não será a última vez que ele comete um grande equivoco. Concordo com a avaliação do Nehme: é uma defesa dos interesses dos países desenvolvidos.


O FMI (Fundo Monetário Internacional) recomendou aos países que se tornaram alvo de fortes ingressos de dólares, como o Brasil, que considerem adotar medidas para restringir essa entrada de capitais.
A defesa aberta do Fundo a esse tipo de medida é inédita, contraria a opinião de muitos economistas ortodoxos e foi feita na apresentação de parte do "Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global".
Para o FMI, o ingresso "excessivo" de dólares em alguns países pode gerar "bolhas" nos preços de alguns ativos (como ações e imóveis) e apreciar além da conta a moeda local, afetando os exportadores.
O diagnóstico é que a enxurrada de dinheiro público e dos BCs direcionada aos mercados do mundo desenvolvido a partir da crise de 2008 "vaza" com força para os emergentes, potencializando distorções.
Nos países avançados, além de os BCs terem elevado muito a oferta de dinheiro no mercado, a taxa de juro por eles praticada é hoje em muitos casos negativa (menor que a inflação).
O investidor que tem acesso a esse dinheiro barato dos BCs procura alternativas de ganhos fora de seus países. Nos EUA, pode captar dólares a custo perto de zero e receber remuneração próxima a 8% ao ano em um país como o Brasil.
"O grande risco é ocorrer uma reversão abrupta desses fluxos de capital especulativos", diz Effie Psalida, uma das autoras do relatório do Fundo.
Normalmente, o controle de capital é uma medida que onera a entrada de dólares em um país com impostos ou que impõe um prazo mínimo para que o dinheiro fique aplicado, reduzindo o risco de saídas violentas de capital estrangeiro.
Outra sugestão do FMI para tentar neutralizar o efeito de ingresso exagerado de dólares é acumular reservas. O expediente vem sendo adotado pelo BC brasileiro, mas ainda assim o dólar tem se desvalorizado.
As Bolsas dos mercados emergentes, em especial a do Brasil, têm subido nos últimos meses impulsionadas por essa entrada de dólares.
A contrapartida é que a cotação da moeda continua pressionada para baixo por conta dessa oferta de dólares, o que reduz o ganho dos exportadores.
Com a inflação em alta nas últimas semanas, a expectativa é que o BC brasileiro comece a aumentar a taxa de juros para conter a atividade econômica.
Isso deve estimular ainda mais investidores internacionais a investir em papéis do Tesouro brasileiro (que oferecem remuneração maior que a dos títulos norte-americanos).
A especialista em economia internacional Alessandra Ribeiro, da Tendências, discorda da sugestão do Fundo. "A maior parte dos dólares que entra no Brasil hoje é de investimentos produtivos ou para financiamento de empresas. São capitais de longo prazo", diz.
Para Sidnei Nehme, diretor-executivo da corretora de câmbio NGO, a recomendação do FMI pode conter uma "espécie de armadilha".
"Parece haver um interesse dos países desenvolvidos [que controlam na prática o FMI] em querer segurar esse capital em seus próprios mercados."

Fonte: FSP

terça-feira, 13 de abril de 2010

Pragmatism’s Gift

Esta longe de ser a minha "escola", mas reconheço que ela é importante e, infelizmente, influente em alguns circulos no grande bananão. Há uma versão que inclui "pitadas" analiticas, mas não altera o essencial e tão pouco considero convincente. Amigos discordam. O artigo abaixo do Fish é uma introdução bastante didatica desta linha de pensamento genuinamente americana.



“Pragmatic” is a compliment sometimes paid to politicians (Barack Obama’s supporters describe him that way), and it is often used as an honorific indicating a person of common sense who knows how to get things done. “Pragmatic” is also related (at least etymologically) to pragmatism, the name of a distinctively American philosophy that emerged in the early decades of the 20th century in the work of William James, John Dewey and C.S. Peirce. Pragmatism may or may not be an ethical program depending on whose version you are reading, but it always emphasizes the resources of historically given institutions and practices and de-emphasizes the role played in our lives by supra-historical essentialisms (God, faith, truth, reason, brute fact, overarching theory) even to the extent sometimes of denying their existence.

Like any philosophy pragmatism offers answers to the questions the tradition of philosophical inquiry has been asking since its beginning. What is truth? What is real? How are we to act? What is the source of moral and/or epistemological authority? Pragmatism’s basic move is to declare that the answers to these questions will not be found by identifying some transcendental universal and then conforming ourselves to its normative demands (like “Be ye perfect”). Rather, we must, and can, make do with the “ordinary aptitudes of human beings (ourselves) viewed within a generously Darwinized ecology, without transcendental, revelatory, or privileged presumptions of any kind.” Pragmatism “completely undermines any assurances, empirical or transcendental, that exceed the provisionality of what we may consensually construct (in our own time) as a workable conjecture about the way the world is.” I quote from Joseph Margolis’s new book “Pragmatism’s Advantage,” which is, he says, that it is among the “very small number of Western philosophical movements … that … never exceed the natural competence and limitations of mere human being.”


Why is that an advantage? Because, Margolis asserts, it avoids having to choose between “the alleged necessity of some ineliminable invariance in thought and/or reality” and some wholesale subjectivism or idealism that claims “that the natural world is itself constituted or constructed by the cognizing mind.” On the one hand, no “transcendental faculty” of reason or some other quasi-deity that will guide us infallibly if only we attach ourselves to it (not that there haven’t been any candidates for this honored position; there have in fact been many, too many). On the other hand, no surrender to the “preposterous doctrine” that we just make it all up as we go along. Instead pragmatism, Margolis explains, “favors a constructive (or constructivist) realism … freed from every form of cognitive, rational, and practical privilege … [and] committed to the continuities of animal nature and human culture, confined to the existential and historical contingencies of the human condition, and open in principle to plural, partial, perspectived, provisional, even nonconverging ways of understanding.”

Quite a mouthful, but we can make it manageable by asking just what is a “constructive realism”? In the vocabulary pragmatism rejects, “realism” is (among other things) the thesis that (a) the world is independent of us and our thoughts, and (b) therefore our thoughts (or interpretations or calculations) should always be checked against, and evaluated as adequate or inadequate by, that independent and prior world. Pragmatists by and large accept (a), but not (b). They believe with Richard Rorty (a key figure in the revival of pragmatism in the last quarter of the 20th century) that “things in space and time are the effects of causes which do not include mental states” — the world, in short, is “out there” — but they also believe that the knowledge we have (or think we have) of the world is given not by it, but by men and women who are hazarding descriptions within the vocabularies and paradigms (Thomas Kuhn’s word) that are in place and in force in their cultures. Those descriptions are judged to be true or false, accurate or inaccurate, according to measures and procedures that currently have epistemic authority, and not according to their fit with the world as it exists independently of any description.


While there surely is such a world, our only access to it, Rorty and Margolis say, is through our own efforts to apprehend it. Margolis: “The real world … is not a construction of mind or Mind … but the paradigm of knowledge or science is certainly confined to the discursive powers of the human.” Thus the content of realism — of what the best up-to-date accounts of the world tell us — is constructively determined by the workings of a culture-bound process of hypothesis, experiment, test and calculation that is itself a constructed artifact and as such can change even as it guides and assesses research. In the absence of the alternative pragmatism rejects — something called Mind equipped with something called reason which enables it to describe accurately something called the World (Bacon’s dream) — “realism cannot fail to be constructivist, though reality is not itself … constructed” (Margolis).

A constructive realism will still make use of words like “true” and “better,” but these are judgments that a proposition is or is not warranted — has sufficient evidence backing it up — within the prevailing paradigms. (What higher judgment could here be? Kuhn asks.) In the event of a paradigm change — not an event that can be predicted or planned; it takes the form of conversion not demonstration — there will be new canons of evidence and new measures of warrant. Notice how far this is from saying that “anything goes.” At any moment the protocols and procedures in place will enforce a rigor of method and interpretation; it is just that the rigor lives and has its shape entirely within “the existential and historical contingencies of the human situation” and not in a realm of extra-human verification and validation, whether that realm be theological, philosophical or empirical.

The implications of the pragmatist argument are at once far reaching and unthreatening. They are far reaching because, as Margolis points out, “If realism takes a constructivist turn, then all the normative features of the sciences (say truth and validity) must be constructivist as well — as … our moral and political norms would be.” These implications are unthreatening because if the pragmatist account is right it is describing what has always been the case. When Margolis announces that there are “no privileged faculties, no preestablished harmony, no exceptionless universals, no assured natural necessities … no escape from the contingencies of whatever we report as ‘given’ within human experience,” he is not ushering in a new age, but describing the necessary condition of all the old ones. It has ever been thus (again, if pragmatism is right), and yet the world’s business has always been done.

Often, however, it has been done badly and that explains what Margolis calls “our remarkable appetite for the dictates of reason,” for something that would, if we could specify it and hold to it, enable us to avoid error and reduce contingency and provisionality to the point where our actions, both physical and mental, would be truly and firmly grounded. Pragmatism takes that hope away and tells us that all we can do is muddle through, that we have been muddling through for a long time, and that, with luck, we will continue to muddle through, and in the process, perhaps, develop new forms of the “cultural artifact” we are and develop too new forms of knowledge to serve our artefactual purposes. The story so far has been an amazing one, full of wonder and full of horror. It is a story, says Margolis (following Kuhn) driven from behind and not by a teleological end awaiting us in the form either of a union with deity or an ascent to the realm of pure Reason. It is, Margolis tells us, “an extraordinary form of bootstrapping.”

Does knowing that we are bootstrapping rather than marching to the tune of some “ineliminable invariance” help us to do it better? Is pragmatism’s advantage more than philosophical, in the academic sense? Does it enable those who are persuaded by it to live improved lives? Rorty thought so, thought that pragmatists would be less cruel, more open, more tolerant and inclusive than those who were bound to an essence that called them to acts of exclusionary judgment.

Margolis flirts with the idea that pragmatism confers such benefits of character in a single sentence when he says of our “deep longing” for invariance that is “has siphoned off our energies from the better prospects of what to believe and do under the conditions of practical life.” But we hear no more in that line and that’s a good thing because the last thing pragmatism should want to do on its way to jettisoning every supra-historical assurance in sight is to offer itself as a superior one.

But if pragmatism doesn’t have a real world payoff, if it is of no help when the next crisis comes your way, what’s the use of it? Why should anyone be interested in it? Behind these questions is a larger one: why should anyone be interested in philosophy in any of its versions? The usual answer is that philosophy, by identifying first principles, can serve both to guide and justify our actions. When pragmatism tells us that there are no first principles, it not only disqualifies itself as the source of guidance and justification; it disqualifies the whole enterprise, at least in its more ambitious forms. What it leaves are the pleasures of doing philosophy, the pleasures of thinking about thinking freed from the burdensome expectation that we will finally get somewhere. Now there’s an advantage and a gift to boot.

Stanley Fish

Fonte: NYTimes

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Mais piadas sobre economia e economistas

Sete razões para estudar Economia:
1. Economistas são armados e perigosos: "Cuidado com nossas mãos invisíveis !"
2. Economistas podem ofertar quando são demandados.
3. Você pode falar de dinheiro sem sempre ter de fazer dinheiro em alguma coisa.
4. Mick Jagger e Arnold Schwarzenegger estudaram economia e veja no que se tornaram.
5. Quando você está na fila de desempregados, ao menos você sabe porque você está lá.
6.Embora a Ética ensine que a virtude tem sua própria recompensa, na Economia nós aprendemos que a recompensa tem sua própria virtude.
7. Quando você está bêbado você pode falar para todo mundo que você está apenas pesquisando a lei da utilidade marginal decrescente.
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Economistas só fazem sexo com modelos.
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Um economista é um profissional pago para adivinhar coisas erradas sobre a economia. Um econometricista é um profissional pago para usar computadores para adivinhar coisas erradas sobre economia.
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Falar é fácil. A oferta é sempre maior que a demanda.

domingo, 11 de abril de 2010

sábado, 10 de abril de 2010

Friday´s child, W.H.Auden

(In memory of Dietrich Bonhoeffer,
martyred at Flossenbürg, April 9, 1945)


He told us we were free to choose
But, children as we were, we thought---
"Paternal Love will only use
Force in the last resort

On those too bumptious to repent."
Accustomed to religious dread,
It never crossed our minds He meant
Exactly what He said.

Perhaps He frowns, perhaps He grieves,
But it seems idle to discuss
If anger or compassion leaves
The bigger bangs to us.

What reverence is rightly paid
To a Divinity so odd
He lets the Adam whom He made
Perform the Acts of God?

It might be jolly if we felt
Awe at this Universal Man
(When kings were local, people knelt);
Some try to, but who can?

The self-observed observing Mind
We meet when we observe at all
Is not alariming or unkind
But utterly banal.

Though instruments at Its command
Make wish and counterwish come true,
It clearly cannot understand
What It can clearly do.

Since the analogies are rot
Our senses based belief upon,
We have no means of learning what
Is really going on,

And must put up with having learned
All proofs or disproofs that we tender
Of His existence are returned
Unopened to the sender.

Now, did He really break the seal
And rise again? We dare not say;
But conscious unbelievers feel
Quite sure of Judgement Day.

Meanwhile, a silence on the cross,
As dead as we shall ever be,
Speaks of some total gain or loss,
And you and I are free

To guess from the insulted face
Just what Appearances He saves
By suffering in a public place
A death reserved for slaves.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A nova direita e os direitos dos trabalhadores

Artigo interessante do Vinicius Torres Freire(VTF) no jornal da Ditabranda. Boa analise, mas com uma conclusão pessimista: existe sempre o risco de passar mal de tanto comer melado, mas não isto não implica em determinismo, já que depende das escolhas dos agentes econômicos e principalmente do responsável pela política econômica. Gostei, também, do artigo do Luiz Carlos Mendonça de Barros(LCMB) sobre a China e achei curioso esses dois paragrafos:
"
Outro motivo de espanto, em reunião com o dirigente de uma enorme fábrica de motores, foi saber que os operários trabalhavam oito horas por dia, 28 dias por mês. Lembrei-me de que, no Brasil, os sindicatos estão tentando aprovar no Congresso uma lei que limita em 40 horas a semana do trabalhador.

Ainda bem que a economia brasileira está ligada de forma muito forte ao desenvolvimento chinês. Essa vai ser uma das fontes mais importantes para nosso crescimento econômico na próxima década. É só ter juízo."

Será que ele considera falta de juizo aprovar a jornada de 40hs e estaria sugerindo o sistema chines de 8 horas por dia, 28 dia por mes? Mais uma estrela no firmamento da Nova Direita do grande bananão?


Artigo do VTF:

" A Bolsa de Valores brasileira continua a resistir às insinuações de que vive uma bolhinha, de que já está cara demais. Investidores não residentes ("estrangeiros") voltaram a não se intimidar e ajudam a soprar a suposta esferinha de água e sabão.
A Bovespa voltou ao nível mais alto desde meados de 2008. Ou seja, antes da explosão da crise econômica, quando havia inflação de commodities, os preços de nossas exportações de produtos básicos iam à Lua e crescíamos a 7%.
Os bancos brasileiros jamais tomaram tantos empréstimos em dólar como no primeiro trimestre deste ano. Ontem, o Itaú captou US$ 1 bilhão a 6,2% ao ano, dizem, o que dá menos de 2,4 pontos percentuais acima dos títulos americanos. Faz um mês, ouvia-se de executivos de bancos brasileiros que eles estavam com muito dinheiro queimando na mão, faltando mesmo é cliente seguro para emprestar.
As taxas médias de juros para empréstimos privados de países emergentes são as menores desde o final de 2007. Estão mais ou menos três pontos percentuais acima das dos títulos do governo americano de prazo de dez anos, em tese o negócio mais seguro do mundo. Economistas de bancões americanos e europeus não param de revisar para cima suas estimativas do volume de empréstimos para países emergentes.
Em breve, o governo brasileiro deve ir ao mercado internacional "testar" a receptividade para os títulos da dívida brasileira. Na verdade, o Tesouro brasileiro vai ser bem recebido. O objetivo do governo será estabelecer um novo "piso" para os tomadores nacionais de empréstimos no exterior, firmar uma nova taxa de referência.
Em dezembro de 2009, o Tesouro brasileiro tomou US$ 500 milhões emprestados por dez anos, a uma taxa (rendimento) de 4,75% para os investidores. A menor da história para títulos de dívida pública externa em dólar. Em maio, a taxa fora de 5,3%.
Um relatório do Institute of International Finance (IIF), do final de janeiro, cantava as óbvias condições favoráveis para a dinheirama. O IIF é a associação mundial dos bancos.
Dizia o texto que o crescimento dos emergentes será maior do que o do mundo rico, bidu. Deficit e dívidas públicas do mundo euroamericano são vergonhosamente altos em relação até aos do Brasil. O custo da dívida pública (juros) em termos de PIB se aproxima dos nossos.
Dado tal estado das finanças de governos e do setor privado de países ricos, ficou pois um tanto abalada a ideia de que os mercados emergentes eram muito rentáveis, mas muito mais arriscados.
De resto, as taxas de juros no mundo rico, dado o estado lastimável de suas economias, vão ficar baixas por um longo período. As do mundo emergente, Brasil inclusive, vão subir, pois as economias estão bem aquecidas. O diferencial de juros (maiores aqui, menores lá fora) deve atrair mais dinheiro para cá.
Esse pode ser um jeito de financiarmos nosso crescente deficit externo. Pode ser também um jeito de nos iludirmos que esse fluxo é estável e dirigido para os investimentos de que precisamos (e não para consumo). E podemos passar mal de comer tanto melado."

Fonte: FSP

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Falando sério...

Enquanto no resto do mundo a teoria econômica avança sobre outras áreas do conhecimento, na terra das jabuticabas exóticas ainda causa espanto o seu uso em estudos sobre esportes, religião,educação, familias,artes, finanças para ficar em alguns exemplos. Não é uma surpresa , portanto, o estado de inanição dos cursos de graduação em economia, que nas maõs do baixo clero, transformaram-se em uma versão piorada de um curso de ciências sociais com uma pitada de história. Uma demonstração, sem dúvida, da força do historicismo, na maioria das instituições e ,em algumas, do seu primo pobre, o marxismo vulgar.

Uma reação recente a esse cenário trágico é a aposta na formação exclusivamente técnica, cujo resultado concreto é a produção de pilotos de HP e especialistas em análises econômicas hidraulicas -problema bem conhecido de alguns cursos de mestrado e doutorado em economia. No atual estado de indigência intelectual em que vivemos, esta opção recebe elógios e absurdo dos adsurdos seria o modelo a ser seguido.

Criou-se uma falsa incompatibilidade entre o conhecimento técnico-profissional do economista com a formação universitária que deveria ser o rigor em qualquer instituição de ensino superior. É preciso recuperar o bom senso e apostar em uma boa formação tecnica e universitária que ainda é a norma nas melhores instituições de ensino mundo afora e passar do discurso pluralista para uma pratica pluralista mas com formação compravada em economia- graduação e/ou mestrado e doutorado em economia - para as disciplinas técnicas, ai incluindo economia brasileira e história econômica, e profissionais com formação em outras áreas para as disciplinas da formação universitária. É claro que esta regra permite exceções, mas convenhamos que profissionais como o premio Nobel de Economia A.Sen, por ex. são raros.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Céu de brigadeiro

Ao contrário do que a quinta coluna afirmava a estratégia brasileira de retaliação levou o primo rico do norte a mesa de negociaçãoes com propostas melhores do que se esperava. O governo brasileiro agiu corretamente ao adiar as retaliações. Contudo, ainda é cedo para cantar vitoria: nos USA o poder efetivo esta no Congresso.

Ate mesmo a nova direita reconhece a sua importância, aproveitando, como era de se esperar, para apresentar a tese de continuidade entre a política da atual administração com aquela da que a precedeu. Tese, naturalmente, sem fundamento, fruto da dor de cotovelo da nova direita e da sua dificuldade em reconhecer qualquer merito na política do presente governo. É um comportamento que vai muito alem do tradicional complexo de viralata ou, como diria meu velho mestre, de terceiro mundo que ainda domina o pensamento de alguns notáveis do antigo governo.

Ainda no setor externo, a expectativa de juros baixos, nos USA, por um longo período, somado a evolução dos preços das commodities,somente confirmam ser um grande equivoco a preocupação exagerada da nova direita com o déficit externo. Acostumados à restrição externa esta geração de economistas tem dificuldades imensas em reconhecer a nova fase da economia brasileira. É bem verdade que é necessário certa cautela neste setor, mas ela não deve ser confundida com o discurso histerico da nova direita e de seus aliados da extrema esquerda.Alias, por falar nestes últimos, é notável a insistência no diagnóstico equivocado sobre a conjuntura econômca nacional e internacional. No caso da nova direita, como mencionado em outro post, a explicação é o agir político, já no caso da extrema esquerda é a incapacidade de somar dois mais dois...

terça-feira, 6 de abril de 2010

por que os alemães não podem ser um modelo para a zona do euro

O tom do artigo do Wolf do FT pode parecer a primeira vista pessimista, mas me parece ser uma boa descrição dos dilemas da Zona do Euro.

“O esforço para unir estados pode levar, em vez disso, a um enorme aumento dos atritos entre eles. Se isso acontecer, o evento atenderia a definição clássica de tragédia: excesso de confianças (arrogância); Até (insensatez); Nêmesis (destruição).” Foi assim, em dezembro de 1991, que concluí um artigo sobre a corrida à união monetária. Eu estou ciente do compromisso da elite europeia com o sucesso do projeto europeu. Mas a crise é profunda –para a zona do euro, para a União Europeia e para o mundo. Como Wolfgang Münchau apontou, o Conselho Europeu na semana passada não foi uma solução, mas um embuste.

O desafio imediato é a Grécia. Sobre isso, os chefes de governo decidiram que “como parte de um pacote envolvendo um financiamento substancial do Fundo Monetário Internacional (FMI) e um financiamento europeu majoritário, os países membros da zona do euro estão prontos para contribuir com empréstimos bilaterais coordenados”. Mas, eles prosseguiram: “Qualquer desembolso (...) será decidido pelos países membros do euro por unanimidade, de forma sujeita a uma forte condicionalidade e com base em uma avaliação da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu (BCE). (...) O objetivo deste mecanismo não será fornecer um financiamento a taxas de juros médias da zona do euro, mas criar incentivos para o retorno ao financiamento pelo mercado o mais breve possível...”

A Alemanha, o membro mais poderoso da zona do euro, teve sua vontade satisfeita. Mas o resultado foi impopular em todos os demais lugares, principalmente na França, e no BCE, que não deseja uma interferência do FMI na política monetária. Nicolas Sarkozy, o presidente francês, deve estar olhando com horror para uma intervenção de uma instituição com sede em Washington e comandada por Dominique Strauss-Kahn, um rival peso pesado potencial ao seu cargo.

Mas seria um erro concluir que esta é uma grande vitória para o FMI ou mesmo para a Alemanha. O resultado parece inviável.

Primeiro, este seria um programa do FMI ou da UE? O que acontece se o FMI discordar da Comissão? Um desacordo parece provável. O arrocho fiscal aceito pela Grécia, de 10% do produto interno bruto ao longo de três anos, parece impossível, dada a ausência de uma política monetária ou de flexibilidade na taxa de câmbio. Talvez nenhum programa tenha sucesso dadas as condições iniciais desfavoráveis.

Segundo, quais são as chances de que a zona do euro atue de forma unânime em apoio a um programa do FMI?


Finalmente, por que a “ajuda” contemplada seria de ajuda? O problema imediato da Grécia são as taxas de juros elevadas que está pagando. Oferecer liquidez a uma taxa penal, quando a Grécia não tem nenhum acesso ao mercado, agravaria seu problema de solvência. Além disso, quando essa assistência fosse oferecida, já seria tarde demais.

Até aqui, muito ruim. Mas é quando alguém olha para os grandes desafios que as coisas realmente ficam assustadoras. Uma preocupação é a não disposição de aceitar o calote. Mais importante, as posições da Alemanha sobre como a zona do euro deve funcionar estão erradas.

Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, declarou após a reunião que “nós esperamos que isto tranquilize todos os detentores de títulos gregos de que a zona do euro nunca deixará a Grécia falir”. Há apenas duas formas de cumprir esse compromisso: ou os membros oferecem cheques em branco em prol uns dos outros ou assumem as finanças públicas –e o governo– dos membros errantes. A Alemanha nunca permitiria a primeira; mas a política nunca permitiria a segunda, particularmente nos países grandes. Logo, a declaração de Van Rompuy parece absurda.

Agora vamos ao ponto mais importante. A declaração da semana passada também argumentou que “a atual situação demonstra a necessidade de fortalecer e complementar a estrutura de trabalho existente para assegurar a sustentabilidade fiscal na zona do euro e ampliar sua capacidade de agir em tempos de crise. Para o futuro, a vigilância dos riscos econômicos e orçamentários, e instrumentos para sua prevenção, incluindo o procedimento de déficit excessivo, devem ser fortalecidos”.

A ideia dominante aqui é a de que o enfraquecimento das posições fiscais nos países periféricos reflete uma falta de disciplina fiscal. Isso vale para a Grécia e, em menor grau, para Portugal. Mas a Irlanda e a Espanha tinham o que pareciam posições fiscais sólidas. A fraqueza delas está nos déficits financeiros do setor privado. Foi apenas quando o setor privado passou por uma correção após a crise é que o déficit fiscal explodiu. Como o problema era no setor privado, não no setor público, o monitoramento também deve se concentrar no setor privado, não apenas no público.

Mas as bolhas de ativos e expansões de crédito no setor privado na periferia também espelhavam a ausência de um crescimento na demanda real no centro. Foi assim que a política monetária do BCE produziu uma taxa de expansão mais ou menos adequada para a zona do euro em geral. Assim, tão logo nos perguntamos qual foi a causa por trás das catástrofes fiscais atuais, nós temos que perceber que foram, no final, o resultado da confiança em uma política monetária acomodatícia, empregada para compensar o crescimento débil da demanda no centro da zona do euro e, acima de tudo, na Alemanha.

Essa discussão da demanda interna na zona do euro e dos desequilíbrios não é uma que os autores de políticas alemães querem ter. Enquanto for assim, a perspectiva de “melhor coordenação econômica” mencionada na declaração do Conselho é nula. Pior, a Alemanha deseja ver um forte adoção por seus parceiros de déficits fiscais menores. A zona do euro, a segunda maior economia do mundo, estaria a caminho de se transformar em uma grande Alemanha, com demanda interna cronicamente fraca. A Alemanha e outras economias semelhantes devem encontrar uma saída por meio de maiores exportações para os países emergentes. Para seus parceiros estruturalmente mais fracos –especialmente aqueles sobrecarregados por custos não competitivos– o resultado seria anos de estagnação, na melhor das hipóteses. Seria esta a exaltada “estabilidade”?

O projeto da união monetária enfrenta um enorme desafio. Ela não tem uma forma fácil de resolver a crise grega. Mas a questão maior é que a zona do euro não funcionará como a Alemanha deseja. Como eu já argumentei, a zona do euro só pode se tornar germânica exportando um excesso imenso de oferta ou empurrando grande parte da economia da zona do euro em uma recessão prolongada, ou, mais provavelmente, ambos. A Alemanha só pôde ser a Alemanha porque os outros não eram. Se a zona do euro se tornar como a Alemanha, eu não consigo ver como ela funcionaria.

Evidentemente, a Alemanha pode ter sua vontade atendida a curto prazo, mas ela não poderá fazer a zona do euro ser bem-sucedida como ela deseja. Enormes déficits fiscais são um sintoma da crise, não uma causa. Há uma forma satisfatória de sair do dilema? Não até onde eu consiga ver. Isso é o que é realmente assustador.

Fonte: FSP

segunda-feira, 5 de abril de 2010

domingo, 4 de abril de 2010

sábado, 3 de abril de 2010

The first rain, Yehuda Amichai

The first rain reminds me
Of the rising summer dust.
The rain doesn't remember the rain of yesteryear.
A year is a trained beast with no memories.
Soon you will again wear your harnesses,
Beautiful and embroidered, to hold
Sheer stockings: you
Mare and harnesser in one body.

The white panic of soft flesh
In the panic of a sudden vision
Of ancient saints

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Meirelles

Ele não é perfeito, mas tem o perfil que se espera de um bom Presidente do Bacen: conservador na gestão da política monetária. Esta é uma área em que a heterodoxia raramente é a melhor opção. Os candidatos sempre ventilados para ocupar seu lugar estão longe de serem uma Brastemp, muito pelo contrário... para nossa sorte ele vai continuar na presidência do Bacen.

Esta é uma noticia que muito entristece a nova direita e seus aliados da extrema esquerda. O primeiro grupo tem bom conhecimento da teoria econômica, mas seu agir é dominado pela lógica política e por isto os erros frequentes de análise da realidade econômica atual. Já o segundo - exceto por alguns gatos pingados- é um deserto intelectual, ai incluindo a teoria econômica. Um caso perdido que ainda tem espaço e plateia apenas em seus aparelhos.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Are there secular reasons?

É um artigo antigo do Fish, mas muito interessante, principalmente para aqueles sem familiariedade com os textos de filosofia.

In the always-ongoing debate about the role of religion in public life, the argument most often made on the liberal side (by which I mean the side of Classical Liberalism, not the side of left politics) is that policy decisions should be made on the basis of secular reasons, reasons that, because they do not reflect the commitments or agendas of any religion, morality or ideology, can be accepted as reasons by all citizens no matter what their individual beliefs and affiliations. So it’s O.K. to argue that a proposed piece of legislation will benefit the economy, or improve the nation’s health, or strengthen national security; but it’s not O.K. to argue that a proposed piece of legislation should be passed because it comports with a verse from the book of Genesis or corresponds to the will of God.

A somewhat less stringent version of the argument permits religious reasons to be voiced in contexts of public decision-making so long as they have a secular counterpart: thus, citing the prohibition against stealing in the Ten Commandments is all right because there is a secular version of the prohibition rooted in the law of property rights rather than in a biblical command. In a more severe version of the argument, on the other hand, you are not supposed even to have religious thoughts when reflecting on the wisdom or folly of a piece of policy. Not only should you act secularly when you enter the public sphere; you should also think secularly.

Whether the argument appears in its softer or harder versions, behind it is a form of intellectual/political apartheid known as the private/public distinction: matters that pertain to the spirit and to salvation are the province of religion and are to be settled by religious reasons; matters that pertain to the good order and prosperity of civil society are the province of democratically elected representatives and are to be settled by secular reasons. As John Locke put it in 1689 (“A Letter Concerning Toleration”), the “care of men’s souls” is the responsibility of the church while to the civil magistrate belongs the care of “outward things such as money, land, houses, furniture and the like”; it is his responsibility to secure for everyone, of whatever denomination or belief, “the just possession of these things belonging to this life.”

A neat division, to be sure, which has the effect (not, I think, intended by Locke) of honoring religion by kicking it upstairs and out of sight. If the business of everyday life — commerce, science, medicine, law, agriculture, education, foreign policy, etc. — can be assigned to secular institutions employing secular reasons to justify actions, what is left to religious institutions and religious reasons is a private area of contemplation and worship, an area that can be safely and properly ignored when there are “real” decisions to be made. Let those who remain captives of ancient superstitions and fairy tales have their churches, chapels, synagogues, mosques, rituals and liturgical mumbo-jumbo; just don’t confuse the (pseudo)knowledge they traffic in with the knowledge needed to solve the world’s problems.

This picture is routinely challenged by those who contend that secular reasons and secular discourse in general don’t tell the whole story; they leave out too much of what we know to be important to human life.

No they don’t, is the reply; everything said to be left out can be accounted for by the vocabularies of science, empiricism and naturalism; secular reasons can do the whole job. And so the debate goes, as polemicists on both sides hurl accusations in an exchange that has become as predictable as it is over-heated.

But the debate takes another turn if one argues, as the professor of law Steven Smith does in his new book, “The Disenchantment of Secular Discourse,” that there are no secular reasons, at least not reasons of the kind that could justify a decision to take one course of action rather than another.

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