Ótimo artigo do Vinicius Torres Freira, colunista no jornal da Ditabranda, sobre o bem estar das crianças. O destaque é para o pouco conhecido, mas importante, Programa de Saúde da Família (PSF). E ainda há aqueles que acreditam que a única solução para os problemas do grande bananão é a tal da revolução anti-capitalista marxista leninista e outros istas. Enquanto esse dia não chega, ficam sentados bebericando e comendo do bom e do melhor e pregando o niilismo de catedra para jovens sonhadores.
A cada ano, cerca de 100 mil crianças morrem no Brasil antes do quinto aniversário; 70 mil delas antes do primeiro ano.
Ainda é um massacre silencioso: de cada mil crianças, 24 morrem antes dos cinco anos. Mas já foi muito pior, não faz muito tempo. Em meados dos anos 1990, essa taxa de mortalidade era quase três vezes maior.
Um estudo de uma equipe de nove pesquisadores do Ipea mostra como caíram as taxas de mortes infantis, entre outros indicadores. Tão importante quanto, revela que diminui também a desigualdade social na expectativa de vida das crianças.
Em 1996, a mortalidade na infância (a dos menores de cinco anos) era de 141 por mil entre as crianças classificadas como "extremamente vulneráveis". Esses meninos vivem em famílias chefiadas por homens de cor negra, mães que não foram à escola e ausentes da casa, moradores da zona rural do Nordeste, com renda per capita menor que a da metade da linha de pobreza (R$ 24,90). Na média nacional, a mortalidade era de 64 por mil.
Em 2006, a mortalidade na infância na média brasileira caíra para 24 por mil; a dos meninos "extremamente vulneráveis", para 39 por mil.
A mortalidade infantil -mortes antes do primeiro ano- ainda é cerca de cinco vezes maior que a dos países desenvolvidos. Em 1996, era de 55 por mil, na média. Em 2006, de 21 por mil. Entre as crianças vulneráveis, a taxa caiu de 115 para 33.
A porcentagem de crianças com baixo peso ao nascer caiu a um nível similar à de países desenvolvidos.
O que aconteceu? Segundo os pesquisadores do Ipea: 1) Redução rápida da pobreza extrema; 2) Expansão do acesso aos serviços básicos de saúde e saneamento, em especial entre os mais pobres; 3) Maior utilização dos serviços devido ao aumento da escolaridade dos pais e às campanhas de atenção básica à infância.
Grande parte da melhoria no acesso a serviços básicos de saúde pode ser atribuída ao Programa de Saúde da Família (PSF), dizem os pesquisadores. O PSF foi criado em 1994 e expandido desde então -o atendimento é feito em unidades básicas de saúde (o posto de saúde renovado), por equipes de saúde que vão à casa das famílias.
Em 2003, o PSF cobria 36% da população. Em 2007, 47%. Mulheres passaram a fazer mais exames pré e pós-natais, preveniram-se infecções, diarreias e desidratações mortíferas, vacinaram-se mais crianças, as famílias foram instruídas.
Trata-se de medidas simples, que demandam organização, persistência, continuidade administrativa. O sucesso demonstra que um serviço de atendimento universal à saúde pode funcionar, assim como um programa de universalização do saneamento daria cabo de traços ainda muito selvagens da vida nacional.
O assunto é quase ausente do debate público. Não é sensacional, não envolve grandes disputas políticas ou econômico-empresariais, demanda atenção ao detalhe, boa administração e metas, temas que em geral causam tédio. Mas resultam em progressos silenciosos. Será tão difícil elaborar um projeto similar para a educação?
O estudo "Determinantes do Desenvolvimento da Primeira Infância no Brasil" pode ser lido, grátis, no site www.ipea.gov.br.
Fonte: FSP