segunda-feira, 19 de abril de 2010

A retorica vazia do bixiga

Em seu último artigo no jornal da Ditabranda ( reproduzido abaixo)Nakano afirma que há "duas ameaças que podem interromper a aceleração sustentada do crescimento: inflação e deficit em transações correntes.". Concordo, em parte com o primeiro, mas não com o segundo. Conforme argumento do post da semana passada, há uma grande diferença entre uma inflação fora da meta e a perda de controle sobre a inflação. Ele parece assumir que o primeiro, inevitavelmente, leva ao segundo e isto, me parece, ser um grande equivoco. Já em relação a segunda ameaça, acho que ele e outros que compartilham sua analise estão errados e prisioneiros de um período em que a fragilidade externa era uma caracteristica estrutural da economia do grande bananão. Este não parece ser mais o caso.

Tão pouco me parece realista defender redução de "despesas com pessoal e custeio" em ano eleitoral. Ele está ciente desta impossibilidade política, mas prefere jogar para a plateia. Essa não seria uma opção problematica em uma ditadura, mas sabemos não ser este o caso do grande bananão.




"O Brasil vem passando por grandes transformações nos últimos anos. De economia dominada pela especulação financeira, estamos caminhando para uma economia orientada para o crescimento, com deslocamento das expectativas para investimento produtivo e ampliação do horizonte temporal dos agentes econômicos. Estamos redescobrindo o nosso potencial de crescimento e reativando o ânimo empresarial. O que demarcará a transição para economia voltada para o crescimento será a constituição de uma massa crítica de empresários tomando decisões de ampliar os investimentos produtivos.
Infelizmente, esse processo foi abortado no último trimestre de 2008, com pânico financeiro e abrupta contração de crédito pelos bancos privados. Agora que iniciamos a recuperação, corremos o risco de novamente abortarmos a ampliação da taxa de investimento com a elevação do juro anunciada pelo BC.
Existem hoje duas ameaças que podem interromper a aceleração sustentada do crescimento: inflação e deficit em transações correntes. De fato, a taxa de inflação subiu neste ano e vamos superar a meta, mas não há indicações de que essa aceleração será persistente. Mas vamos admitir que seja preciso controlar a demanda agregada para evitar que essa inflação temporária se transforme em aceleração persistente.
Mas a elevação da taxa de juros é a medida correta no atual contexto brasileiro? Não. O que garantirá a transitoriedade da aceleração da inflação e seu controle no futuro será a ampliação da capacidade produtiva. E a elevação da taxa de juros afetará negativamente a recuperação da taxa de investimento, em andamento.
A taxa de juros afetará a demanda agregada, mas transitoriamente, já que a dinâmica de expansão do consumo tem como causas fatores reais além de juros e crédito. Estamos apenas transferindo o problema para o futuro, com menor crescimento hoje. O que precisamos é de uma política fiscal que diminua as despesas de pessoal e custeio, pois reduziria não só o nível de demanda, mas também a sua composição, uma mudança estrutural, abrindo espaço não inflacionário para ampliação da taxa de investimento e redução do deficit em transações correntes.
A elevação do juros é errada porque agravará o nosso segundo problema, que é o forte aumento no deficit em transações correntes, pois aumentará o influxo de capitais do exterior e provocará a apreciação adicional da taxa de câmbio. Isso terá duas consequências perversas: elevará o crédito do exterior quando se pretende contê-lo internamente com a alta dos juros; e a apreciação do câmbio provocará maior consumo, particularmente de bens importados, quando deveríamos contê-lo.
Em suma, vamos continuar cometendo os mesmos erros do passado com os dois preços fundamentais da economia fora do lugar e acionando instrumentos errados de política econômica. O atual "mix" de política, que já completou uma década, vem provocando especialização regressiva da estrutura produtiva do país, com repetição cíclica de períodos prolongados de apreciação cambial seguidos de forte e súbita depreciação, com reprodução sistemática de surtos inflacionários."

Fonte: FSP