Ótimo artigo do Rome Hartman, Produtor Executivo da BBC World News America, sobre o Brasil. A BBC apresentou durante toda a semana passada uma serie de reportagens com o título "Brazil Rising". É mais uma demonstração de reconhecimento de uma mudança importante: o grande bananão deixou de ser o país do futuro e tornou-se o país do presente. Todos estão comemorando, exceto a esquerda(Nova Direita) de Higienopolis que ainda não se recuperou do choque de ver a sua empregada(o) fazendo compras na sua loja/supermercado/shopping center predileto. ah!!!, ela(e) suspira e sonha com um tempo, muito recente, em que fazia pose de revolucionária(o) enquanto a criadagem sabia muito bem o seu devido lugar. Mas, ai elegeram um Presidente... Oh!!! horror, dos horrores, um sindicalista, que como o Lenin já havia alertado é sempre um sinal de atraso, sem consciência de classe, como explica com maestria o Lukacs. Mais champanhe por favor...
Much of the world's attention will soon be focused on South Africa, where 32 teams will carry the hopes of their countries into a very big contest for a very small (it's only 14 inches high) trophy: The World Cup. I'll watch the games in South Africa, of course, but I find myself thinking much more about the nation that is set to host the NEXT World Cup tournament, in 2014: Brazil.
No nation has had greater success in the World Cup...Brazil has won it a record five times. But come 2014, sixty-four years will have passed since the last - and only - time the tournament was held there. That's a very long time, and since 1950 Brazil has changed and developed in ways that are hard to imagine. All this week, we've been broadcasting our BBC World News America programs from Brazil, with our anchor Matt Frei and a crack team reporting a series we've called Brazil Rising. And rising it is, both as an economic power and a player on the world stage.
Brazil's economic potential has long been apparent; vast natural resources and an incredibly ambitious population. That promise has now exploded into a reality that has the rest of the world on notice. Take the aviation sector as just one of many representative examples: Brazil boasts the third-largest manufacturer of commercial aircraft, Embraer. And now, with more and more of its own people prosperous enough to board those planes as passengers, Brazil is drawing investment from airline entrepreneurs like David Neeleman. Born in Brazil, Neeleman founded discount U.S. airline JetBlue, and is now applying that model in his native land...and showing his confidence that it will work with an order for nearly 200 Embraer jets.
On the political front, Brazilian President Luiz Inácio Lula da Silva has long asserted a position for himself and his nation on the global stage. On issue after issue, he has made Brazil a player; his most recent foray was into the confrontation between Iran and the rest of the world over its nuclear ambitions. His attempt at compromise drew an immediate, sharp rebuke from the Obama administration, but Lula is unapologetic. And after he leaves office later this year (term-limited out of the presidency), Lula is reportedly interested in the job of U.N. General Secretary.
Short-term, Brazil's football team intends - perhaps 'expects' is a more accurate word - to win the 2010 World Cup. And judging from what our teams have seen and shown this week, that would be just the beginning.
Fonte: The Huffington Post
segunda-feira, 31 de maio de 2010
domingo, 30 de maio de 2010
sábado, 29 de maio de 2010
Late autumn in Venice, Delmore Schwartz
(After Rilke)
The city floats no longer like a bait
To hook the nimble darting summer days.
The glazed and brittle palaces pulsate and radiate
And glitter. Summer's garden sways,
A heap of marionettes hanging down and dangled,
Leaves tired, torn, turned upside down and strangled:
Until from forest depths, from bony leafless trees
A will wakens: the admiral, lolling long at ease,
Has been commanded, overnight -- suddenly --:
In the first dawn, all galleys put to sea!
Waking then in autumn chill, amid the harbor medley,
The fragrance of pitch, pennants aloft, the butt
Of oars, all sails unfurled, the fleet
Awaits the great wind, radiant and deadly.
The city floats no longer like a bait
To hook the nimble darting summer days.
The glazed and brittle palaces pulsate and radiate
And glitter. Summer's garden sways,
A heap of marionettes hanging down and dangled,
Leaves tired, torn, turned upside down and strangled:
Until from forest depths, from bony leafless trees
A will wakens: the admiral, lolling long at ease,
Has been commanded, overnight -- suddenly --:
In the first dawn, all galleys put to sea!
Waking then in autumn chill, amid the harbor medley,
The fragrance of pitch, pennants aloft, the butt
Of oars, all sails unfurled, the fleet
Awaits the great wind, radiant and deadly.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Paciência...
Paciência, é preciso sempre ter paciência. Mas,..., lembrando de um velho samba e mudando apenas algumas palavras: não sou candidato a nada, meu negócio é ensinar, mas meu coração não se conforma, e por isto mete bronca, neste blog plataforma.
Contudo, hoje é sexta, dia ensolarado no agradável campus de Barueri,..., melhor deixar pra lá. Afinal os numéros da economia brasileira é a melhor prova da fragilidade dos argumentos daqueles que insistem em apostar sempre no pior. Solavancos na Europa, cada vez mais fortes, quando impactarem por aqui, será em intensidade bem menor que o previsto e desejado pelas conhecidas aves de agouro.
Já em outras bandas bem conhecidas e nunca ensolaradas o muro continua firme e a vida das jabuticabas exóticas no seu ritmo de sempre. O aparelho resiste e o inverno continua sendo deles, mas será ,também, o verão?
Contudo, hoje é sexta, dia ensolarado no agradável campus de Barueri,..., melhor deixar pra lá. Afinal os numéros da economia brasileira é a melhor prova da fragilidade dos argumentos daqueles que insistem em apostar sempre no pior. Solavancos na Europa, cada vez mais fortes, quando impactarem por aqui, será em intensidade bem menor que o previsto e desejado pelas conhecidas aves de agouro.
Já em outras bandas bem conhecidas e nunca ensolaradas o muro continua firme e a vida das jabuticabas exóticas no seu ritmo de sempre. O aparelho resiste e o inverno continua sendo deles, mas será ,também, o verão?
quinta-feira, 27 de maio de 2010
FEBEAPA do candidato da Nova Direita
Ate parece nome de filme pastelão ou seria programa de televisão? O fato é que o candidato da Nova Direita resolveu recriar a famosa expressão do Stanislaw, o FEBEAPA(festival de besteira que assola o país), direcionando-o para a política externa. Primeiro foram os comentários infelizes sobre o Mercosul. Seguido pelas críticas a viagem/acordo com o Irã, uma clara demonstração de falta de conhecimento elementar de relações internacionais e do famoso complexo viralata. O mais recente é acusar a Bolivia de conivência com o trafico de drogas.
No cenário, caso vez menos provável de vitória, este tipo de comentário o colocaria em posição desconfortável em relação aos vizinhos da nuestra america, com sérias consequenciais para a política externa brasileira.
Espera-se de um candidato a um cargo importante, como é ser Presidente do Brasil, um comportamento a uma altura do cargo e, principalmente, saber separar política de Estado de política de governo. Política externa em uma qualquer país com tradição e ou pretensão de ser um "international player" na política internacional é, invariavelmente, política de Estado sujeita, naturalmente, a pequenos ajustes nas trocas de governo sem alterar, contudo, o essencial: a defesa do interesse nacional.
No cenário, caso vez menos provável de vitória, este tipo de comentário o colocaria em posição desconfortável em relação aos vizinhos da nuestra america, com sérias consequenciais para a política externa brasileira.
Espera-se de um candidato a um cargo importante, como é ser Presidente do Brasil, um comportamento a uma altura do cargo e, principalmente, saber separar política de Estado de política de governo. Política externa em uma qualquer país com tradição e ou pretensão de ser um "international player" na política internacional é, invariavelmente, política de Estado sujeita, naturalmente, a pequenos ajustes nas trocas de governo sem alterar, contudo, o essencial: a defesa do interesse nacional.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Destruição da indústria brasileira
Divertido, mas bem fundamentado, artigo do Alexandre "eras os deuses astronautas" sobre a destriuição da indústria brasileira. Sempre considerei esta tese frágil e sem fundamento empirico. Um ótimo exemplo de pobreza teórica e indigência empirica, mas nem por isto considero todos os seus defensores "keynesianos de quermesse". Não se aplica, por ex, a turma do Bixiga. Curiosamente, foi a turma dele por um longo período. Realmente é um caso para um psicanalista...
A persistência dos nossos keynesianos de quermesse em tentar demonstrar a inexorável destruição da indústria brasileira merece um estudo sociológico.
Eu, mero economista, não consigo entender como ainda exista quem defenda tenazmente uma tese que os dados insistem em refutar, mas talvez algum colega da área de humanas (um psicólogo, quem sabe?) obtenha êxito onde os treinados sob o pressuposto da racionalidade enfrentam dificuldades.
Não se trata apenas de notar, por exemplo, que nos últimos 15 anos a participação da indústria de transformação no valor adicionado tem oscilado ao redor de 16,5%*, mesmo porque, em prazos mais longos, seria de esperar que tal participação caísse, refletindo o fenômeno universal do aumento da demanda por serviços quando a renda per capita se eleva.
Apontar que a indústria perdeu participação no PIB (Produto Interno Bruto) ao longo de 40 anos como prova de "desindustrialização" implicaria concluir que potências industriais como a Alemanha também teriam se "desindustrializado".
Uma outra forma de abordar o problema pode lançar, contudo, nova luz sobre o assunto. Haveria evidência mostrando que a fração brasileira na produção industrial global tem caído de forma sistemática? A resposta, adianto, é negativa.
De fato, o Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis (CBP**) divulga mensalmente séries da produção industrial global baseadas numa amostra de países desenvolvidos e emergentes que representam cerca de 97% do comércio internacional. Com base nesses números, é possível conferir se o país tem mesmo ficado para trás na corrida industrial.
Antes, porém, há uma questão técnica. Para chegar a um índice de produção global, é necessário ponderar os índices de cada país da amostra e, para tanto, o CBP utiliza dois conjuntos de pesos: um fundamentado na participação de cada país na produção industrial mundial e outro que se baseia na participação sobre as importações globais. O primeiro é teoricamente melhor, mas mais sujeito a erros de estimação, enquanto o segundo, embora não exatamente correto, produz estimativas menos ambíguas.
Como ambos apresentam vantagens e problemas, os cálculos foram feitos com as duas medidas, mas as histórias que ambas contam são semelhantes.
Caso o Brasil estivesse perdendo participação na indústria global, a relação entre a produção brasileira e a mundial deveria estar se reduzindo ao longo do tempo, mas não é isso que observamos (os dados estão disponíveis no meu blog). Pelo contrário, a razão construída a partir da estimativa baseada nas importações sugere um ganho modesto, isto é, a indústria local teria crescido mais do que o resto do mundo.
Já se utilizarmos a medida baseada nos pesos da produção de cada país, a relação Brasil-mundo mostra estabilidade, ou seja, a produção local teria crescido em linha com a global. Como os 17 leitores já devem ter concluído, é muito difícil reconciliar essa evidência com a noção de decadência industrial.
Indo mais fundo, descobrimos também que o Brasil tem uma atuação muito superior à dos países desenvolvidos, mas fica atrás dos chamados emergentes. No entanto, dentro desse grupo, o país só perde mesmo para os asiáticos, tendo crescido mais rápido que latino-americanos e países do Oriente Médio e África, suplantando também, nos últimos anos, o desempenho do Leste Europeu.
Na pior das hipóteses, portanto, o Brasil tem mantido seu peso na produção global e, exceção feita à Ásia, apresentado um crescimento mais forte que o de diferentes grupos de países, a despeito de flutuações de curto prazo, evidência que se soma ao conjunto de dados negando a "desindustrialização".
Caso dados holandeses fossem páreo para as demais substâncias liberadas naquele país, seria o fim da polêmica; infelizmente, porém, não parece ser o caso. Há um psicanalista na plateia?
--------------------------------------------------------------------------------
* http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=t&o=1&i=P&c=1846
** http://www.cpb.nl/eng/research/sector2/data/trademonitor.html
Fonte: FSP
A persistência dos nossos keynesianos de quermesse em tentar demonstrar a inexorável destruição da indústria brasileira merece um estudo sociológico.
Eu, mero economista, não consigo entender como ainda exista quem defenda tenazmente uma tese que os dados insistem em refutar, mas talvez algum colega da área de humanas (um psicólogo, quem sabe?) obtenha êxito onde os treinados sob o pressuposto da racionalidade enfrentam dificuldades.
Não se trata apenas de notar, por exemplo, que nos últimos 15 anos a participação da indústria de transformação no valor adicionado tem oscilado ao redor de 16,5%*, mesmo porque, em prazos mais longos, seria de esperar que tal participação caísse, refletindo o fenômeno universal do aumento da demanda por serviços quando a renda per capita se eleva.
Apontar que a indústria perdeu participação no PIB (Produto Interno Bruto) ao longo de 40 anos como prova de "desindustrialização" implicaria concluir que potências industriais como a Alemanha também teriam se "desindustrializado".
Uma outra forma de abordar o problema pode lançar, contudo, nova luz sobre o assunto. Haveria evidência mostrando que a fração brasileira na produção industrial global tem caído de forma sistemática? A resposta, adianto, é negativa.
De fato, o Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis (CBP**) divulga mensalmente séries da produção industrial global baseadas numa amostra de países desenvolvidos e emergentes que representam cerca de 97% do comércio internacional. Com base nesses números, é possível conferir se o país tem mesmo ficado para trás na corrida industrial.
Antes, porém, há uma questão técnica. Para chegar a um índice de produção global, é necessário ponderar os índices de cada país da amostra e, para tanto, o CBP utiliza dois conjuntos de pesos: um fundamentado na participação de cada país na produção industrial mundial e outro que se baseia na participação sobre as importações globais. O primeiro é teoricamente melhor, mas mais sujeito a erros de estimação, enquanto o segundo, embora não exatamente correto, produz estimativas menos ambíguas.
Como ambos apresentam vantagens e problemas, os cálculos foram feitos com as duas medidas, mas as histórias que ambas contam são semelhantes.
Caso o Brasil estivesse perdendo participação na indústria global, a relação entre a produção brasileira e a mundial deveria estar se reduzindo ao longo do tempo, mas não é isso que observamos (os dados estão disponíveis no meu blog). Pelo contrário, a razão construída a partir da estimativa baseada nas importações sugere um ganho modesto, isto é, a indústria local teria crescido mais do que o resto do mundo.
Já se utilizarmos a medida baseada nos pesos da produção de cada país, a relação Brasil-mundo mostra estabilidade, ou seja, a produção local teria crescido em linha com a global. Como os 17 leitores já devem ter concluído, é muito difícil reconciliar essa evidência com a noção de decadência industrial.
Indo mais fundo, descobrimos também que o Brasil tem uma atuação muito superior à dos países desenvolvidos, mas fica atrás dos chamados emergentes. No entanto, dentro desse grupo, o país só perde mesmo para os asiáticos, tendo crescido mais rápido que latino-americanos e países do Oriente Médio e África, suplantando também, nos últimos anos, o desempenho do Leste Europeu.
Na pior das hipóteses, portanto, o Brasil tem mantido seu peso na produção global e, exceção feita à Ásia, apresentado um crescimento mais forte que o de diferentes grupos de países, a despeito de flutuações de curto prazo, evidência que se soma ao conjunto de dados negando a "desindustrialização".
Caso dados holandeses fossem páreo para as demais substâncias liberadas naquele país, seria o fim da polêmica; infelizmente, porém, não parece ser o caso. Há um psicanalista na plateia?
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* http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=t&o=1&i=P&c=1846
** http://www.cpb.nl/eng/research/sector2/data/trademonitor.html
Fonte: FSP
terça-feira, 25 de maio de 2010
Editorial do Le Monde: Le Brésil de Lula sur tous les fronts
Enquanto a quinta coluna continua a sua campanha contra a política externa e outras políticas da atual administração, lá fora a avaliação tem sido, via de regra, positiva. A mais recente foi o editorial do jornal predileto da "esquerda" Higienopolis: o Le Monde. Não é dificil imaginar a reação do principe dos sociologos e da sua corte nos dois lados do Rio Pinheiros. Com os dentes na parede, diria uma velha amiga.
Lula par-ci, Brésil par-là ! Le monde bruisse des déclarations du président brésilien et des hauts faits pas seulement footballistisques de ses concitoyens.
On a entendu Luiz Inacio Lula da Silva tancer l'Allemagne pour ses réticences à sauver la Grèce, et proposer sa médiation dans le conflit israélo-palestinien.
On l'a vu essayer de désamorcer avec les Turcs le dossier nucléaire iranien, et soutenir les Argentins dans leur conflit contre les Britanniques à propos des Malouines et de leur pétrole.
Mais "l'homme le plus populaire du monde", selon Barack Obama, ne s'appuie pas seulement sur son charisme pour parler haut et fort. Il incarne un Brésil en pleine forme qui, après un passage à vide dû à la crise, talonne la Chine et l'Inde en termes de croissance.
Petrobras, le groupe pétrolier qui est l'entreprise la plus lucrative d'Amérique latine, Vale, leader mondial du fer, l'avionneur Embraer qui pourrait bien damer le pion à Boeing et Airbus avant longtemps, ne sont que les fleurons d'une économie industrielle de premier ordre.
Côté agricole, la montée en puissance est comparable, et a valu au Brésil le titre de "grenier du monde". Soja, sucre, éthanol, café, fruits, coton, poulets, etc. en font un concurrent redoutable pour les éleveurs européens.
C'est en 2008 que le Brésil a pris conscience de ses capacités économiques. Jusque-là, il négociait à l'Organisation mondiale du commerce, mais de façon un peu frileuse. La crise partie des Etats-Unis et l'effondrement de la production industrielle des pays dits avancés l'ont persuadé que l'heure était à l'offensive.
Désormais, c'est le Brésil, brillamment représenté par son ministre des affaires étrangères, Celso Amorim, qui pousse le plus fort pour une conclusion des négociations du cycle de Doha. En comparaison, les Etats-Unis semblent englués dans un protectionnisme d'un autre temps.
Moins redouté que la Chine ou l'Inde, milliardaires en population, mieux considéré qu'une Russie rentière de ses matières premières, le Brésil est le véritable porte-parole de ces économies émergentes qui tirent la croissance mondiale. L'axe économique du monde se déplaçant vers le Sud, il peut réclamer à bon droit que ceux qui se substituent ainsi aux pays du Nord en panne de vitalité soient mieux représentés dans les instances internationales, à commencer par la Banque mondiale et le Fonds monétaire international (FMI). Sans oublier le Conseil de sécurité de l'ONU, au sein duquel le Brésil souhaite détenir un siège de membre permanent.
Parce que "le XXIe siècle sera le siècle des pays qui n'ont pas eu leur chance", et parce qu'il s'estime personnellement "à la moitié de [son] parcours politique", Lula (65 ans) pourrait présenter sa candidature au secrétariat général de l'ONU en 2012. Il devrait aussi militer pour améliorer le G20, dont il juge l'influence "très faible".
On n'a pas fini d'entendre l'ancien métallo, ami des favelas et des investisseurs. On n'a pas fini d'entendre parler d'un Brésil à l'aube de ses "trente glorieuses".
Fonte: Le Monde
Lula par-ci, Brésil par-là ! Le monde bruisse des déclarations du président brésilien et des hauts faits pas seulement footballistisques de ses concitoyens.
On a entendu Luiz Inacio Lula da Silva tancer l'Allemagne pour ses réticences à sauver la Grèce, et proposer sa médiation dans le conflit israélo-palestinien.
On l'a vu essayer de désamorcer avec les Turcs le dossier nucléaire iranien, et soutenir les Argentins dans leur conflit contre les Britanniques à propos des Malouines et de leur pétrole.
Mais "l'homme le plus populaire du monde", selon Barack Obama, ne s'appuie pas seulement sur son charisme pour parler haut et fort. Il incarne un Brésil en pleine forme qui, après un passage à vide dû à la crise, talonne la Chine et l'Inde en termes de croissance.
Petrobras, le groupe pétrolier qui est l'entreprise la plus lucrative d'Amérique latine, Vale, leader mondial du fer, l'avionneur Embraer qui pourrait bien damer le pion à Boeing et Airbus avant longtemps, ne sont que les fleurons d'une économie industrielle de premier ordre.
Côté agricole, la montée en puissance est comparable, et a valu au Brésil le titre de "grenier du monde". Soja, sucre, éthanol, café, fruits, coton, poulets, etc. en font un concurrent redoutable pour les éleveurs européens.
C'est en 2008 que le Brésil a pris conscience de ses capacités économiques. Jusque-là, il négociait à l'Organisation mondiale du commerce, mais de façon un peu frileuse. La crise partie des Etats-Unis et l'effondrement de la production industrielle des pays dits avancés l'ont persuadé que l'heure était à l'offensive.
Désormais, c'est le Brésil, brillamment représenté par son ministre des affaires étrangères, Celso Amorim, qui pousse le plus fort pour une conclusion des négociations du cycle de Doha. En comparaison, les Etats-Unis semblent englués dans un protectionnisme d'un autre temps.
Moins redouté que la Chine ou l'Inde, milliardaires en population, mieux considéré qu'une Russie rentière de ses matières premières, le Brésil est le véritable porte-parole de ces économies émergentes qui tirent la croissance mondiale. L'axe économique du monde se déplaçant vers le Sud, il peut réclamer à bon droit que ceux qui se substituent ainsi aux pays du Nord en panne de vitalité soient mieux représentés dans les instances internationales, à commencer par la Banque mondiale et le Fonds monétaire international (FMI). Sans oublier le Conseil de sécurité de l'ONU, au sein duquel le Brésil souhaite détenir un siège de membre permanent.
Parce que "le XXIe siècle sera le siècle des pays qui n'ont pas eu leur chance", et parce qu'il s'estime personnellement "à la moitié de [son] parcours politique", Lula (65 ans) pourrait présenter sa candidature au secrétariat général de l'ONU en 2012. Il devrait aussi militer pour améliorer le G20, dont il juge l'influence "très faible".
On n'a pas fini d'entendre l'ancien métallo, ami des favelas et des investisseurs. On n'a pas fini d'entendre parler d'un Brésil à l'aube de ses "trente glorieuses".
Fonte: Le Monde
segunda-feira, 24 de maio de 2010
domingo, 23 de maio de 2010
sábado, 22 de maio de 2010
Hope, Randall Jarrell
The spirit killeth, but the letter giveth life.
The week is dealt out like a hand
That children pick up card by card.
One keeps getting the same hand.
One keeps getting the same card.
But twice a day -- except on Saturday --
The wheel stops, there is a crack in Time:
With a hiss of soles, a rattle of tin,
My own gray Daemon pauses on the stair,
My own bald Fortune lifts me by the hair.
Woe's me! woe's me! In Folly's mailbox
Still laughs the postcard, Hope:
Your uncle in Australia
Has died and you are Pope,
For many a soul has entertained
A Mailman unawares --
And as you cry, Impossible,
A step is on the stairs.
One keeps getting the same dream
Delayed, marked "Payment Due,"
The bill that one has paid
Delayed, marked "Payment Due" --
Twice a day, in rotting mailbox,
The white grubs are new:
And Faith, once more, is mine
Faithfully, but Charity
Writes hopefully about a new
Asylum -- but Hope is as good as new.
Woe's me! woe's me! In Folly's mailbox
Still laughs the postcard, Hope:
Your uncle in Australia
Has died and you are Pope,
For many a soul has entertained
A mailman unawares --
And as you cry, Impossible,
A step is on the stairs.
The week is dealt out like a hand
That children pick up card by card.
One keeps getting the same hand.
One keeps getting the same card.
But twice a day -- except on Saturday --
The wheel stops, there is a crack in Time:
With a hiss of soles, a rattle of tin,
My own gray Daemon pauses on the stair,
My own bald Fortune lifts me by the hair.
Woe's me! woe's me! In Folly's mailbox
Still laughs the postcard, Hope:
Your uncle in Australia
Has died and you are Pope,
For many a soul has entertained
A Mailman unawares --
And as you cry, Impossible,
A step is on the stairs.
One keeps getting the same dream
Delayed, marked "Payment Due,"
The bill that one has paid
Delayed, marked "Payment Due" --
Twice a day, in rotting mailbox,
The white grubs are new:
And Faith, once more, is mine
Faithfully, but Charity
Writes hopefully about a new
Asylum -- but Hope is as good as new.
Woe's me! woe's me! In Folly's mailbox
Still laughs the postcard, Hope:
Your uncle in Australia
Has died and you are Pope,
For many a soul has entertained
A mailman unawares --
And as you cry, Impossible,
A step is on the stairs.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Mendonça de Barros e a crise na zona do euro
Ótimo artigo do L.C.Mendonça de Barros, no jornal da Ditabranda, sobre a crise econômica na zona do euro. Não compartilho o pessimismo em relação ao Brasil e tão pouco considero o projeto da união monetária um doente em estágio terminal. A situação é grave, porem, ainda administrável. O problema, como muito bem observa Mendonça é a ausência de lideres a altura na zona do euro. Ai mora o grande perigo.
Algum sábio esquecido pelo tempo dizia que as crises financeiras, quando não enfrentadas com eficiência na sua origem, acabam por ganhar pernas próprias. Nada mais verdade para o analista que acompanha o desenrolar dos acontecimentos na Europa.
A crise começou como um animal de poucas pernas -a medíocre e pequena economia grega- e hoje se transformou em um monstro assustador de muitas pernas. Entender sua complexidade é um exercício muito difícil para o analista, principalmente porque estamos entrando na fase do pânico entre os investidores.
O que mais me assusta é a falta de um diagnóstico profundo da crise e de uma agenda de ações para enfrentá-la. Nesse vazio de líderes do escopo daqueles que criaram a Europa Unida -Adenauer, De Gaulle, Mitterrand e Kohl-, as dificuldades ficam ainda maiores. Os mercados assistem -já há mais de dois meses- a um incrível e ridículo espetáculo de divergências e ameaças entre aqueles que deveriam estar liderando o processo de enfrentamento da crise.
No início, quando o monstro a ser enfrentado não inspirava medo a ninguém, os líderes de direita conservadora da Alemanha, da Holanda e de outros países do norte europeu se posicionaram contra qualquer ajuda aos gregos. Tiveram a mesma reação estúpida do governo Bush, em setembro de 2008, quando o banco Lehman Brothers entrou em dificuldades. Com isso, deixaram o pânico dos investidores chegar a Irlanda, Portugal e Espanha e acabaram por criar uma crise de confiança em quase toda a dívida pública europeia. Em outras palavras, passamos de uma crise conjuntural para uma sistêmica.
Talvez naquele momento inicial uma ajuda de poucas dezenas de bilhões de euros fosse suficiente para lidar com os fantasmas da Europa.
Mas questões ideológicas e políticas paralisaram as ações dos líderes das nações mais poderosas por várias semanas, com declarações contraditórias e infantis entre os principais atores desse drama que ameaça virar uma ópera-bufa. Quando acordaram para a gravidade do descrédito no arranjo europeu que havia tomado conta dos mercados, a crise tinha vários pares de pernas assustadoras.
Como sempre acontece, foi ao longo de um fim de semana tenso que os governos europeus resolveram agir, e o pacote de US$ 1 trilhão para apoiar os países em dificuldades foi aprovado. Mas nesse momento as dúvidas e os medos dos investidores já eram muito maiores e nem mesmo essa montanha de dinheiro público conseguiu trazer de volta a confiança no euro.
Quando escrevo esta coluna, os mercados financeiros no mundo todo estão em queda vertiginosa, com os investidores fugindo de qualquer ativo financeiro que tenha algum risco. Nem mesmo as moedas de países com forte crescimento -cito o Brasil, a Austrália e a Coreia- escapam da "débâcle". A ordem é vender tudo e aplicar em títulos de crédito nas duas únicas moedas -dólar e iene- vistas como seguras. E isso é o que mais me preocupa.
Esse comportamento ultraconservador dos investidores pode provocar um efeito dominó em todo o mundo e abortar a retomada do crescimento econômico em áreas que não sofrem da doença europeia.
Aprendi com meus médicos pessoais que a recidiva de uma doença é sempre uma situação mais delicada do que a original. E poderemos ter em poucos meses uma recidiva de crise deflacionária de pouco tempo atrás.
Fonte: FSP
Algum sábio esquecido pelo tempo dizia que as crises financeiras, quando não enfrentadas com eficiência na sua origem, acabam por ganhar pernas próprias. Nada mais verdade para o analista que acompanha o desenrolar dos acontecimentos na Europa.
A crise começou como um animal de poucas pernas -a medíocre e pequena economia grega- e hoje se transformou em um monstro assustador de muitas pernas. Entender sua complexidade é um exercício muito difícil para o analista, principalmente porque estamos entrando na fase do pânico entre os investidores.
O que mais me assusta é a falta de um diagnóstico profundo da crise e de uma agenda de ações para enfrentá-la. Nesse vazio de líderes do escopo daqueles que criaram a Europa Unida -Adenauer, De Gaulle, Mitterrand e Kohl-, as dificuldades ficam ainda maiores. Os mercados assistem -já há mais de dois meses- a um incrível e ridículo espetáculo de divergências e ameaças entre aqueles que deveriam estar liderando o processo de enfrentamento da crise.
No início, quando o monstro a ser enfrentado não inspirava medo a ninguém, os líderes de direita conservadora da Alemanha, da Holanda e de outros países do norte europeu se posicionaram contra qualquer ajuda aos gregos. Tiveram a mesma reação estúpida do governo Bush, em setembro de 2008, quando o banco Lehman Brothers entrou em dificuldades. Com isso, deixaram o pânico dos investidores chegar a Irlanda, Portugal e Espanha e acabaram por criar uma crise de confiança em quase toda a dívida pública europeia. Em outras palavras, passamos de uma crise conjuntural para uma sistêmica.
Talvez naquele momento inicial uma ajuda de poucas dezenas de bilhões de euros fosse suficiente para lidar com os fantasmas da Europa.
Mas questões ideológicas e políticas paralisaram as ações dos líderes das nações mais poderosas por várias semanas, com declarações contraditórias e infantis entre os principais atores desse drama que ameaça virar uma ópera-bufa. Quando acordaram para a gravidade do descrédito no arranjo europeu que havia tomado conta dos mercados, a crise tinha vários pares de pernas assustadoras.
Como sempre acontece, foi ao longo de um fim de semana tenso que os governos europeus resolveram agir, e o pacote de US$ 1 trilhão para apoiar os países em dificuldades foi aprovado. Mas nesse momento as dúvidas e os medos dos investidores já eram muito maiores e nem mesmo essa montanha de dinheiro público conseguiu trazer de volta a confiança no euro.
Quando escrevo esta coluna, os mercados financeiros no mundo todo estão em queda vertiginosa, com os investidores fugindo de qualquer ativo financeiro que tenha algum risco. Nem mesmo as moedas de países com forte crescimento -cito o Brasil, a Austrália e a Coreia- escapam da "débâcle". A ordem é vender tudo e aplicar em títulos de crédito nas duas únicas moedas -dólar e iene- vistas como seguras. E isso é o que mais me preocupa.
Esse comportamento ultraconservador dos investidores pode provocar um efeito dominó em todo o mundo e abortar a retomada do crescimento econômico em áreas que não sofrem da doença europeia.
Aprendi com meus médicos pessoais que a recidiva de uma doença é sempre uma situação mais delicada do que a original. E poderemos ter em poucos meses uma recidiva de crise deflacionária de pouco tempo atrás.
Fonte: FSP
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Charlatões....
Gostar de economia, não transforma ninguem em economista, não é muito diferente de gostar de piano e achar que por isto é um pianista. Lembro de uma cena em uma sitcom americana em que um personagem era lembrado por sua mãe que quando jovem ele gostava da idéia de ser pianista, mas nunca demonstrou a disposição necessária para passar horas praticando e estudando teoria musical. Esta cena sempre me vem a mente, quando ouço comentários bem intencionados, porem superficiais, sobre econômia, indicativos de pouco conhecimento e dominio da literatura econômica. Em parte, resultado, da falsa idéia que conhecer a literatura marxista é suficiente para transformar alguem em economista. O mesmo, alias, vale para o seu oposto no campo ideológico. A literatura econômica é vasta e muito rica e dela sempre se aprende muito.
A história economica no bananão, principalmente a longa batalha contra a inflação, levou a um comportamento curioso: todos se consideram expert em economia. Do ponto de vista da cidadania esse interesse é louvavel, porem, as vezes, leva à situações estranhas, como por ex, convidar um ex-ministro da Fazenda para escrever artigos sobre economia, quando sabidamente ele nada conhece da área, em que pese o fato de ter sido um ministro razoavel devido a sua competência na area política e inteligência na hora de escolher bons assessores e quadros qualificados para posições chaves no ministerio.
Dificilmente alguem convidaria um ex-ministro da Saúde - com boa performance no cargo - para escrever sobre medicina: diagnosticos, tratamentos, etc. Ele naturalmente, seria qualificado, para falar sobre economia e administração da saúde.
Triste sina a do economista no grande bananão, conviver com charlatões que se passam por economistas ...
A história economica no bananão, principalmente a longa batalha contra a inflação, levou a um comportamento curioso: todos se consideram expert em economia. Do ponto de vista da cidadania esse interesse é louvavel, porem, as vezes, leva à situações estranhas, como por ex, convidar um ex-ministro da Fazenda para escrever artigos sobre economia, quando sabidamente ele nada conhece da área, em que pese o fato de ter sido um ministro razoavel devido a sua competência na area política e inteligência na hora de escolher bons assessores e quadros qualificados para posições chaves no ministerio.
Dificilmente alguem convidaria um ex-ministro da Saúde - com boa performance no cargo - para escrever sobre medicina: diagnosticos, tratamentos, etc. Ele naturalmente, seria qualificado, para falar sobre economia e administração da saúde.
Triste sina a do economista no grande bananão, conviver com charlatões que se passam por economistas ...
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Vitoria diplomatica e a quinta coluna
Como era de se esperar a quinta coluna demorou para reagir ao sucesso diplomatico obtido pelo Brasil na complicada questão nuclear iraniana. A boa repercussão na midia internacional - NY Times, FT, por ex - levou a paralisia momentanea e, quem sabe, a um momento de dúvida: o sapo barbudo poderia estar certo e eles errados?
Os norte-americanos - sempre eles - ajudaram a resolver o dilema com sua oposição energica ao acordo, por eles defendidos seis meses atras. A quinta coluna sentiu-se realizada: foi desperdicio de tempo e mais uma aposta errada da diplomacia lulista.
So mesmo tolos e ingenuos poderiam esperar uma reação diferente da aguia ferida, mas ainda com muito poder e única potência em um mundo que ainda é - apesar das aparências - mais unipolar que multipolar. Seguramente nosso setor diplomatico não se encontra neste grupo, o mesmo não se pode afirmar em relação a quinta coluna.
Foi sem dúvida uma grande vitoria da diplomacia brasileira e a reação americana e ,principalmente, a mudança de opinião no caso da Russia e da China, uma comprovação da tese que não será nada fácil ser aceito no restrito clube de países com influência real nas relações internacionais. Este fato, contudo, não é motivo para ficar cabisbaixo e deixar de tentar... Afinal nenhum Imperio é eterno ...
Mudando de assunto. Artigo, no Valor, de dois professores de conhecida escola de sociologia da grande são paulo é um bom exemplo do atual estado da miseria teorica e retorica vazia da turma que insiste em destruir a reputação da venerável escola de Cambridge(UK).
Os norte-americanos - sempre eles - ajudaram a resolver o dilema com sua oposição energica ao acordo, por eles defendidos seis meses atras. A quinta coluna sentiu-se realizada: foi desperdicio de tempo e mais uma aposta errada da diplomacia lulista.
So mesmo tolos e ingenuos poderiam esperar uma reação diferente da aguia ferida, mas ainda com muito poder e única potência em um mundo que ainda é - apesar das aparências - mais unipolar que multipolar. Seguramente nosso setor diplomatico não se encontra neste grupo, o mesmo não se pode afirmar em relação a quinta coluna.
Foi sem dúvida uma grande vitoria da diplomacia brasileira e a reação americana e ,principalmente, a mudança de opinião no caso da Russia e da China, uma comprovação da tese que não será nada fácil ser aceito no restrito clube de países com influência real nas relações internacionais. Este fato, contudo, não é motivo para ficar cabisbaixo e deixar de tentar... Afinal nenhum Imperio é eterno ...
Mudando de assunto. Artigo, no Valor, de dois professores de conhecida escola de sociologia da grande são paulo é um bom exemplo do atual estado da miseria teorica e retorica vazia da turma que insiste em destruir a reputação da venerável escola de Cambridge(UK).
terça-feira, 18 de maio de 2010
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Europa e o grande bananão
A crise econômica na Europa continua e análises/propostas de solução são apresentadas por nomes importantes da comunidade de economistas brasileiros. Bresser Pereira, no jornal da Ditabranda, defende uma versão europeia da lei de responsabilidade fiscal brasileira. É uma boa idéia e com menos problemas políticos que a proposta defendida pelo autor dessas mal traçadas: divida pública da zona do europa e troca dos títulos dos países da zona do euro por titulos emitidos por esta nova autoridade europeia. É uma forma de default administrado e contrariamente ao que ele afirma, isto não implica ser um detrator da zona do euro - muito pelo contrário...
Mendonça de Barros, no Valor, comenta o impacto da mudança de posição do Bacen da zona do euro em relação a compra de títulos emitidos pelos países com problemas. Seria, para alguns, uma mudança drastica, perigosa e desnecessaria no mandato desta autoridade de defesa da moeda. Concordo com o Mendonça: esta é uma posição equivocada, já que a autonomia operacional do Bacen, não implica em suicidio da nação em momento de grave crise econômica para defender uma leitura equivocada de uma regra de política econômica. Dilema semelhante aconteceu durante a unificação alemã e nem por isto o seu Bacen perdeu a reputação de defensor da moeda.
É preciso, no entanto, não confundir alhos com bugalhos e usar a defesa da posição, correta, adotada pelo Bacen da zona do euro, com o argumento para defender a posição expressa pelo candidato da Nova Direita sobre a independência do Bacen. São argumentos totalmente diferentes.
Mendonça de Barros, no Valor, comenta o impacto da mudança de posição do Bacen da zona do euro em relação a compra de títulos emitidos pelos países com problemas. Seria, para alguns, uma mudança drastica, perigosa e desnecessaria no mandato desta autoridade de defesa da moeda. Concordo com o Mendonça: esta é uma posição equivocada, já que a autonomia operacional do Bacen, não implica em suicidio da nação em momento de grave crise econômica para defender uma leitura equivocada de uma regra de política econômica. Dilema semelhante aconteceu durante a unificação alemã e nem por isto o seu Bacen perdeu a reputação de defensor da moeda.
É preciso, no entanto, não confundir alhos com bugalhos e usar a defesa da posição, correta, adotada pelo Bacen da zona do euro, com o argumento para defender a posição expressa pelo candidato da Nova Direita sobre a independência do Bacen. São argumentos totalmente diferentes.
domingo, 16 de maio de 2010
sábado, 15 de maio de 2010
Na morte de um combatente da paz, Bertolt Brecht
Á memória de Carl von Ossietzky
Aquele que não cedeu
Foi abatido
O que foi abatido
Não cedeu.
A boca do que preveniu
Está cheia de terra.
A aventura sangrenta
Começa.
O túmulo do amigo da paz
É pisoteado por batalhões.
Então a luta foi em vão?
Quando é abatido o que não lutou só
O inimigo
Ainda não venceu.
Aquele que não cedeu
Foi abatido
O que foi abatido
Não cedeu.
A boca do que preveniu
Está cheia de terra.
A aventura sangrenta
Começa.
O túmulo do amigo da paz
É pisoteado por batalhões.
Então a luta foi em vão?
Quando é abatido o que não lutou só
O inimigo
Ainda não venceu.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Economia e economistas...
Nâo há nada de errado em ser "economista" marxista, inclusive talebã, mas tem que ter formação em economia. O ideal é graduação, mestrado e doutorado; se não for possível - afinal aos 17/18 anos não é nada fácil escolher um curso/profissão - o minimo aceitável é graduação ou mestrado e doutorado em um dos programas da Anpec. Diletantes de qualidade são raros e, via de regra, pertencem a geração pre-Anpec.
Ah! já sei: este é um argumento corporativista. Seria se estivesse defendendo os direitos assegurados pela legislação que regulamenta a profissão de economista: sem graduação não se é economista. Mas, não é o caso. Engenheiro, medico, advogado, desde que com mestrado e doutorado em economia por um dos programas da Anpec.
Excluindo os cursos da área de saúde, não encontro justificativa para o corporativismo ainda reinante na maioria das profíssões. Em direito, por ex, sempre defendi que qualquer um que consiga ser aprovado no exame da OAB deveria ter o direito de exercer a profissão de advogado. Ah!,..., é diferente da economia, da administração,... Será mesmo? Como diria meu saudoso pai: pimenta nos olhos dos outros não arde.
Ah! já sei: este é um argumento corporativista. Seria se estivesse defendendo os direitos assegurados pela legislação que regulamenta a profissão de economista: sem graduação não se é economista. Mas, não é o caso. Engenheiro, medico, advogado, desde que com mestrado e doutorado em economia por um dos programas da Anpec.
Excluindo os cursos da área de saúde, não encontro justificativa para o corporativismo ainda reinante na maioria das profíssões. Em direito, por ex, sempre defendi que qualquer um que consiga ser aprovado no exame da OAB deveria ter o direito de exercer a profissão de advogado. Ah!,..., é diferente da economia, da administração,... Será mesmo? Como diria meu saudoso pai: pimenta nos olhos dos outros não arde.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Sete na cabeça...
Os numeros e as previsões sobre o PIB não poderiam ser melhores e a reação do governo é, como era de se esperar, previsivel. Afinal se corretos justificariam a elevação recente da taxa de juros e movimento no mesmo sentido esperado ao longo do ano. A opinião desse Blog sobre o tema, assim como a previsão em relação ao PIB de 2010, já foi aqui expressa em post de 15 de abril, e felizmente, ganhou a companhia do Itau Unibanco e em breve - ao que se comenta - do Bradesco.
Há motivos para preocupação? Acredito que não,já que o Bacen tem demonstrado um comprometimento admirável com a defesa da moeda.
Confesso minha curiosidade em relação a reação do candidato da nova direita e, também, dos seus admiradores, os marxistas talebãs.
Há motivos para preocupação? Acredito que não,já que o Bacen tem demonstrado um comprometimento admirável com a defesa da moeda.
Confesso minha curiosidade em relação a reação do candidato da nova direita e, também, dos seus admiradores, os marxistas talebãs.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Tolices do candidato da nova direita
O candidato da Nova Direita resolveu honrar o grande público com suas idéias sobre o Banco Central. A escolhe do meio não poderia ser melhor, mas desta vez ele errou feio. O que deveria ser simplesmente uma fala do trono, transformou-se em uma demonstração da sua já famosa falta de delicadeza no trato com pobres mortais que por acidente se colocam em seu caminho. Na maior parte dos casos, trata-se de jornalistas sem grande influência, mas sua arrogância o levou a atacar um peixe grande. Não que ela tenha grandes conhecimentos de economia, mas seu público cativo tem uma opinião diferente.
Já as idéias dele são bem conhecidas e mostraram serem um grande equivoco, que, para felicidade geral da nação nunca foram levadas ao serio na admistração passada. Elas, é verdade, ainda encantam setores do empresariado saudosos daquilo que o esforçado economista da ditadura chamava de "tetas do Estado". Eles é claro concordam com o fim da autonomia do Bacen e mal podem esperar pelo retorno ao mundo maravilhoso das taxas de juros reais negativas do passado. É claro que isto é impossível com um Bacen comprometido com a defesa da moeda nacional, atuando firmemente contra o retorno do maior inimigo do pobre do assalariado- a inflação.
É verdade que o Bacen as vezes exagera na dose, mas isto não é justificativa para retornar ao passado e retirar-lhe a autonomia operacional.
Já as idéias dele são bem conhecidas e mostraram serem um grande equivoco, que, para felicidade geral da nação nunca foram levadas ao serio na admistração passada. Elas, é verdade, ainda encantam setores do empresariado saudosos daquilo que o esforçado economista da ditadura chamava de "tetas do Estado". Eles é claro concordam com o fim da autonomia do Bacen e mal podem esperar pelo retorno ao mundo maravilhoso das taxas de juros reais negativas do passado. É claro que isto é impossível com um Bacen comprometido com a defesa da moeda nacional, atuando firmemente contra o retorno do maior inimigo do pobre do assalariado- a inflação.
É verdade que o Bacen as vezes exagera na dose, mas isto não é justificativa para retornar ao passado e retirar-lhe a autonomia operacional.
terça-feira, 11 de maio de 2010
UE ganha tempo, mas verdadeiro teste está por vir
É bom estar em boa companhia. Munchau, no FT, apresenta argumento semelhante ao que apresentamos em outro post sobre a Grecia e a zona do euro.
"Não havia escolha. Diante de uma ameaça existencial, a União Europeia demonstrou que é capaz de agir com rapidez, se necessário. Os líderes europeus merecem respeito por enfim terem conseguido se adiantar à situação.
Isso posto, deveríamos também compreender que, ao tentar combater o problema simplesmente por meio de dinheiro, a maior parte do qual na forma de garantias, a UE simplesmente ganhou tempo para resolver a confusa situação de governança da zona do euro. O verdadeiro teste está por vir.
Há importantes paralelos com as garantias da UE ao setor financeiro em outubro de 2008, após o colapso do Lehman Brothers. Aquela decisão resolveu um problema de liquidez imediato no setor europeu, que estava à beira de uma catástrofe. Mas a decisão não resolveu as questões subjacentes de solvência do setor, que continuam a ser problema.
O mesmo se aplica a esse caso. Sabemos agora que Grécia, Portugal e Espanha sempre serão capazes de refinanciar suas dívidas públicas, mas a solvência em longo prazo do Estado espanhol continua não resolvida. O setor privado tem imensas dívidas. Os preços dos ativos que servem como caução continuam a cair.
O governo espanhol, como fiador do setor bancário, ficará sobrecarregado com dívidas crescentes em um período de estagnação da expansão econômica. Deveríamos ter em mente que solvência não se relaciona primordialmente à disposição de emprestar dos mercados. Isso se aplica à liquidez.
Você está solvente se consegue estabilizar sua dívida como proporção de sua renda. A posição de solvência do sul da Europa, portanto, não é afetada pela injeções de bilhões de euros.
Por isso, o atual acordo só será efetivo no curto prazo, a menos que seja seguido por reformas substantivas -a introdução de título de dívida europeu unificado, uma agenda de coordenação de reformas econômicas, políticas que reduzam os desequilíbrios econômicos, fiscalização mais estreita de políticas fiscais.
Em resumo, coisas sobre as quais a UE vivia -e continua vivendo- em negação.
Meu parecer é o de que quase nada disso acontecerá. Portanto, continuo cético quanto às perspectivas em longo prazo da zona do euro. Vai chegar um momento em que usar o dinheiro para resolver problemas, sem mudanças estruturais, deixará de fazer efeito ou mesmo de impressionar."
Wolfgang Munchau
Fonte: FSP
"Não havia escolha. Diante de uma ameaça existencial, a União Europeia demonstrou que é capaz de agir com rapidez, se necessário. Os líderes europeus merecem respeito por enfim terem conseguido se adiantar à situação.
Isso posto, deveríamos também compreender que, ao tentar combater o problema simplesmente por meio de dinheiro, a maior parte do qual na forma de garantias, a UE simplesmente ganhou tempo para resolver a confusa situação de governança da zona do euro. O verdadeiro teste está por vir.
Há importantes paralelos com as garantias da UE ao setor financeiro em outubro de 2008, após o colapso do Lehman Brothers. Aquela decisão resolveu um problema de liquidez imediato no setor europeu, que estava à beira de uma catástrofe. Mas a decisão não resolveu as questões subjacentes de solvência do setor, que continuam a ser problema.
O mesmo se aplica a esse caso. Sabemos agora que Grécia, Portugal e Espanha sempre serão capazes de refinanciar suas dívidas públicas, mas a solvência em longo prazo do Estado espanhol continua não resolvida. O setor privado tem imensas dívidas. Os preços dos ativos que servem como caução continuam a cair.
O governo espanhol, como fiador do setor bancário, ficará sobrecarregado com dívidas crescentes em um período de estagnação da expansão econômica. Deveríamos ter em mente que solvência não se relaciona primordialmente à disposição de emprestar dos mercados. Isso se aplica à liquidez.
Você está solvente se consegue estabilizar sua dívida como proporção de sua renda. A posição de solvência do sul da Europa, portanto, não é afetada pela injeções de bilhões de euros.
Por isso, o atual acordo só será efetivo no curto prazo, a menos que seja seguido por reformas substantivas -a introdução de título de dívida europeu unificado, uma agenda de coordenação de reformas econômicas, políticas que reduzam os desequilíbrios econômicos, fiscalização mais estreita de políticas fiscais.
Em resumo, coisas sobre as quais a UE vivia -e continua vivendo- em negação.
Meu parecer é o de que quase nada disso acontecerá. Portanto, continuo cético quanto às perspectivas em longo prazo da zona do euro. Vai chegar um momento em que usar o dinheiro para resolver problemas, sem mudanças estruturais, deixará de fazer efeito ou mesmo de impressionar."
Wolfgang Munchau
Fonte: FSP
segunda-feira, 10 de maio de 2010
domingo, 9 de maio de 2010
sábado, 8 de maio de 2010
Autumn song, W.H.Auden
Now the leaves are falling fast,
Nurse's flowers will not last;
Nurses to the graves are gone,
And the prams go rolling on.
Whispering neighbours, left and right,
Pluck us from the real delight;
And the active hands must freeze
Lonely on the separate knees.
Dead in hundreds at the back
Follow wooden in our track,
Arms raised stiffly to reprove
In false attitudes of love.
Starving through the leafless wood
Trolls run scolding for their food;
And the nightingale is dumb,
And the angel will not come.
Cold, impossible, ahead
Lifts the mountain's lovely head
Whose white waterfall could bless
Travellers in their last distress.
Nurse's flowers will not last;
Nurses to the graves are gone,
And the prams go rolling on.
Whispering neighbours, left and right,
Pluck us from the real delight;
And the active hands must freeze
Lonely on the separate knees.
Dead in hundreds at the back
Follow wooden in our track,
Arms raised stiffly to reprove
In false attitudes of love.
Starving through the leafless wood
Trolls run scolding for their food;
And the nightingale is dumb,
And the angel will not come.
Cold, impossible, ahead
Lifts the mountain's lovely head
Whose white waterfall could bless
Travellers in their last distress.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Miscêlaneas
Ontem mencionei que o Stiglitz, aparentemente, havia se transformado em um economista pop. Outro que parece ter seguido pelo mesmo caminho é o Krugman. O ironico é que esse último é o criador da expressão que, hoje, cai como uma luva para descrever algumas de suas análises econômicas. Por enquanto o número é ainda muito pequeno, mas o suficiente, para que ambos tenham despertado o interesse dos leitores de economistas pop. Como sou um otimista incorrigivel não considero este evento de todo negativo. Quem sabe possa ser a porta de entrada para os textos que eles produziram no passado e que tornaram-se grandes classícos do pensamento econômico.
Mudando de assunto. Se é algo que a Europa não precisa nesse momento é de um governo sem um forte mandato no Reino Unido. Com uma relação divida/pib próxima dos países listados como bola da vez, a condição econômica do barco ancorado na esquina do mundo esta longe de ser confortável. Medidas duras, necessárias, e, portanto, inevitáveis não combinam com um governo sem uma maioria confortável no parlamento.
Mudando de assunto. Se é algo que a Europa não precisa nesse momento é de um governo sem um forte mandato no Reino Unido. Com uma relação divida/pib próxima dos países listados como bola da vez, a condição econômica do barco ancorado na esquina do mundo esta longe de ser confortável. Medidas duras, necessárias, e, portanto, inevitáveis não combinam com um governo sem uma maioria confortável no parlamento.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Stiglitz e o euro
O pessimismo do Stiglitz em relação ao Euro está longe de ser justificado, assim como sua analise de elevador: o que aconteceu com o brilhante economista, autor de "papers" fantasticos e um ótimo livro sobre socialismo? Tornou-se um economista pop o que, alias, explicaria seu sucesso, entre a turma que se passa por economista.
A crise financeira grega colocou em jogo a sobrevivência do euro. Quando a moeda unificada foi criada, muita gente se preocupava com sua viabilidade no longo prazo. Porque tudo transcorreu bem, essas preocupações foram esquecidas.
Mas a questão de como realizar ajustes caso uma parte da zona do euro fosse atingida por fortes efeitos adversos persistiu. Determinar uma taxa fixa de câmbio e entregar a autoridade monetária ao Banco Central Europeu eliminou os dois meios primários pelos quais governos nacionais estimulam suas economias a fim de evitar recessões. Como substituí-los?
Robert Mundell, Nobel de Economia, estabeleceu as condições sob as quais uma moeda unificada seria capaz de funcionar. A Europa não cumpria essas condições quando da adoção do euro; e ainda não o faz.
A remoção das barreiras jurídicas ao movimento de trabalhadores criou um mercado de trabalho unificado, mas as diferenças linguísticas e culturais tornam irrealizável uma mobilidade de mão de obra como a que existe nos EUA.
Além disso, a Europa não tem um meio de ajudar os países que enfrentam sérios problemas. Tomemos como exemplo a Espanha, que tem um índice de desemprego de 20% -e de mais de 40% entre os jovens.
O país tinha superavit fiscal antes da crise; depois, seu deficit inchou para mais de 11% do PIB. Mas, sob as regras da UE (União Europeia), a Espanha agora precisa reduzir seus gastos, o que provavelmente exacerbará o desemprego. Com a desaceleração da economia, a melhora na posição fiscal do país pode ser mínima.
Para os países de menor porte na UE, a lição é clara: caso não reduzam seus deficit orçamentários, existe um alto risco de ataques especulativos, com pouca esperança de ajuda adequada dos vizinhos, ao menos não sem dolorosas e contraproducentes medidas de restrição orçamentária pró-cíclicas.
As consequências sociais e econômicas do arranjo atual devem ser inaceitáveis. Os países cujos deficit dispararam como resultado da recessão mundial não devem ser forçados a uma espiral de morte como a Argentina há uma década.
Uma das soluções propostas é que esses países organizem o equivalente a uma desvalorização cambial -um corte uniforme nos salários. Creio que seja impossível, e as consequências distributivas seriam inaceitáveis. As tensões sociais seriam enormes. É uma fantasia.
Existe uma segunda solução: que a Alemanha deixe a zona do euro ou que esta seja dividida em duas subáreas. O euro foi uma experiência interessante, mas falta-lhe o apoio institucional para que funcione.
Há também uma terceira solução que a Europa talvez venha a compreender como a mais promissora de todas: implementar as reformas institucionais, incluindo a criação da estrutura fiscal necessária, que deveriam ter sido adotadas quando do lançamento do euro.
Não é tarde demais para que a Europa implemente as reformas e recupere os ideais, baseados na solidariedade, que embasaram a criação do euro.
Mas, caso a Europa não possa fazê-lo, talvez o melhor seja admitir o fracasso e seguir em frente, em lugar de pagar o alto preço em termos de desemprego e sofrimento humano que a preservação de um modelo econômico falho requereria.
Fonte: FSP
A crise financeira grega colocou em jogo a sobrevivência do euro. Quando a moeda unificada foi criada, muita gente se preocupava com sua viabilidade no longo prazo. Porque tudo transcorreu bem, essas preocupações foram esquecidas.
Mas a questão de como realizar ajustes caso uma parte da zona do euro fosse atingida por fortes efeitos adversos persistiu. Determinar uma taxa fixa de câmbio e entregar a autoridade monetária ao Banco Central Europeu eliminou os dois meios primários pelos quais governos nacionais estimulam suas economias a fim de evitar recessões. Como substituí-los?
Robert Mundell, Nobel de Economia, estabeleceu as condições sob as quais uma moeda unificada seria capaz de funcionar. A Europa não cumpria essas condições quando da adoção do euro; e ainda não o faz.
A remoção das barreiras jurídicas ao movimento de trabalhadores criou um mercado de trabalho unificado, mas as diferenças linguísticas e culturais tornam irrealizável uma mobilidade de mão de obra como a que existe nos EUA.
Além disso, a Europa não tem um meio de ajudar os países que enfrentam sérios problemas. Tomemos como exemplo a Espanha, que tem um índice de desemprego de 20% -e de mais de 40% entre os jovens.
O país tinha superavit fiscal antes da crise; depois, seu deficit inchou para mais de 11% do PIB. Mas, sob as regras da UE (União Europeia), a Espanha agora precisa reduzir seus gastos, o que provavelmente exacerbará o desemprego. Com a desaceleração da economia, a melhora na posição fiscal do país pode ser mínima.
Para os países de menor porte na UE, a lição é clara: caso não reduzam seus deficit orçamentários, existe um alto risco de ataques especulativos, com pouca esperança de ajuda adequada dos vizinhos, ao menos não sem dolorosas e contraproducentes medidas de restrição orçamentária pró-cíclicas.
As consequências sociais e econômicas do arranjo atual devem ser inaceitáveis. Os países cujos deficit dispararam como resultado da recessão mundial não devem ser forçados a uma espiral de morte como a Argentina há uma década.
Uma das soluções propostas é que esses países organizem o equivalente a uma desvalorização cambial -um corte uniforme nos salários. Creio que seja impossível, e as consequências distributivas seriam inaceitáveis. As tensões sociais seriam enormes. É uma fantasia.
Existe uma segunda solução: que a Alemanha deixe a zona do euro ou que esta seja dividida em duas subáreas. O euro foi uma experiência interessante, mas falta-lhe o apoio institucional para que funcione.
Há também uma terceira solução que a Europa talvez venha a compreender como a mais promissora de todas: implementar as reformas institucionais, incluindo a criação da estrutura fiscal necessária, que deveriam ter sido adotadas quando do lançamento do euro.
Não é tarde demais para que a Europa implemente as reformas e recupere os ideais, baseados na solidariedade, que embasaram a criação do euro.
Mas, caso a Europa não possa fazê-lo, talvez o melhor seja admitir o fracasso e seguir em frente, em lugar de pagar o alto preço em termos de desemprego e sofrimento humano que a preservação de um modelo econômico falho requereria.
Fonte: FSP
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Presente de grego
Mais um ótimo artigo do Martin Wolf.Pessimista? Não, apenas realista. Alguma forma de moratoria negociada/reestruturação da dívida parece inevitável. Vai ter impacto negativo no grande bananão? Acredito que não, exceto se for um preambulo para uma crise em escala maior englobando outros mercados. Esta é uma possibilidade,mas ainda não chegamos lá.
Momentos de desespero requerem medidas desesperadas. Depois de meses de dispendiosa postergação, a zona do euro fechou um enorme pacote de apoio à Grécia. Ao envolver o FMI, a pedido da Alemanha, os países europeus conseguiram alguns recursos adicionais e um programa melhor. Mas será que vai funcionar? Infelizmente, tenho sérias dúvidas.
Duas características do que foi decidido merecem menção. Primeiro, não haverá reestruturação da dívida; segundo, será suspenso o requisito de uma classificação mínima de crédito para os ativos garantidos pelo governo grego utilizados nas operações de liquidez, o que oferece alguma assistência aos vulneráveis bancos locais.
Assim, será que o programa é sensato, quer para a Grécia, quer para a zona do euro? Sim e não, em ambos os casos.
Comecemos pela Grécia. O país já perdeu o acesso aos mercados. Assim, a alternativa a aceitar esse pacote seria decretar uma moratória.
O país nesse caso deixaria de pagar os juros sobre suas dívidas, mas teria de reduzir seu deficit fiscal primário (ou seja, anterior aos pagamentos de juros) para 9% a 10% do PIB imediatamente. Isso resultaria em um aperto muito mais brutal do que aquele que a Grécia aceitou como parte do pacote.
Além disso, uma moratória traria o colapso do sistema bancário. A Grécia está certa em prometer mundos e fundos, a fim de ganhar tempo e eliminar de maneira mais suave o seu deficit primário.
Mas é difícil acreditar que a Grécia venha a ser capaz de evitar uma reestruturação da dívida. Primeiro, presumamos que tudo corra de acordo com o plano. E que a taxa média de juros sobre a dívida grega de longo prazo fique em apenas 5%.
O país precisaria, com isso, manter um superavit primário da ordem de 4,5% e dedicar o equivalente a 7,5% do PIB de sua arrecadação tributária para manter o serviço da dívida.
O público grego será capaz de suportar esse fardo ano após ano, sem descanso?
A Grécia está sendo solicitada a fazer o que a América Latina fez nos anos 80. Isso resultou em uma década perdida, da qual os únicos beneficiários foram os credores estrangeiros.
Além disso, já que os credores agora estão sendo pagos para escapar, quem os substituirá? O pacote certamente fracassará em seu objetivo de devolver a Grécia aos mercados, em termos administráveis, dentro de poucos anos.
Para a zona do euro, duas lições são claras: primeiro, a escolha é ou permitir moratórias de dívidas soberanas, por mais complicadas que sejam, ou criar uma união fiscal, com forte disciplina e fundos suficientes para permitir o amparo a economias devastadas.
Segundo, os ajustes na zona do euro não funcionarão sem que os países mais importantes realizem ajustes compensatórios. Se a zona do euro estiver disposta a viver próxima da estagnação em sua demanda geral, ela se tornará uma arena para medidas agressivas de desinflação competitiva e dependerá mais dos mercados mundiais como destino para seus excedentes de produção.
A crise que está em curso confirma a sabedoria daqueles que viam o euro como uma empreitada de alto risco. No entanto, agora que a zona do euro foi criada, é preciso fazer com que ela funcione. A tentativa de resgate à Grécia é só o começo da história. Há muito mais que precisa ser feito, em termos de resposta imediata à crise e de reforma da zona do euro, em futuro não muito distante.
Fonte: FSP
Momentos de desespero requerem medidas desesperadas. Depois de meses de dispendiosa postergação, a zona do euro fechou um enorme pacote de apoio à Grécia. Ao envolver o FMI, a pedido da Alemanha, os países europeus conseguiram alguns recursos adicionais e um programa melhor. Mas será que vai funcionar? Infelizmente, tenho sérias dúvidas.
Duas características do que foi decidido merecem menção. Primeiro, não haverá reestruturação da dívida; segundo, será suspenso o requisito de uma classificação mínima de crédito para os ativos garantidos pelo governo grego utilizados nas operações de liquidez, o que oferece alguma assistência aos vulneráveis bancos locais.
Assim, será que o programa é sensato, quer para a Grécia, quer para a zona do euro? Sim e não, em ambos os casos.
Comecemos pela Grécia. O país já perdeu o acesso aos mercados. Assim, a alternativa a aceitar esse pacote seria decretar uma moratória.
O país nesse caso deixaria de pagar os juros sobre suas dívidas, mas teria de reduzir seu deficit fiscal primário (ou seja, anterior aos pagamentos de juros) para 9% a 10% do PIB imediatamente. Isso resultaria em um aperto muito mais brutal do que aquele que a Grécia aceitou como parte do pacote.
Além disso, uma moratória traria o colapso do sistema bancário. A Grécia está certa em prometer mundos e fundos, a fim de ganhar tempo e eliminar de maneira mais suave o seu deficit primário.
Mas é difícil acreditar que a Grécia venha a ser capaz de evitar uma reestruturação da dívida. Primeiro, presumamos que tudo corra de acordo com o plano. E que a taxa média de juros sobre a dívida grega de longo prazo fique em apenas 5%.
O país precisaria, com isso, manter um superavit primário da ordem de 4,5% e dedicar o equivalente a 7,5% do PIB de sua arrecadação tributária para manter o serviço da dívida.
O público grego será capaz de suportar esse fardo ano após ano, sem descanso?
A Grécia está sendo solicitada a fazer o que a América Latina fez nos anos 80. Isso resultou em uma década perdida, da qual os únicos beneficiários foram os credores estrangeiros.
Além disso, já que os credores agora estão sendo pagos para escapar, quem os substituirá? O pacote certamente fracassará em seu objetivo de devolver a Grécia aos mercados, em termos administráveis, dentro de poucos anos.
Para a zona do euro, duas lições são claras: primeiro, a escolha é ou permitir moratórias de dívidas soberanas, por mais complicadas que sejam, ou criar uma união fiscal, com forte disciplina e fundos suficientes para permitir o amparo a economias devastadas.
Segundo, os ajustes na zona do euro não funcionarão sem que os países mais importantes realizem ajustes compensatórios. Se a zona do euro estiver disposta a viver próxima da estagnação em sua demanda geral, ela se tornará uma arena para medidas agressivas de desinflação competitiva e dependerá mais dos mercados mundiais como destino para seus excedentes de produção.
A crise que está em curso confirma a sabedoria daqueles que viam o euro como uma empreitada de alto risco. No entanto, agora que a zona do euro foi criada, é preciso fazer com que ela funcione. A tentativa de resgate à Grécia é só o começo da história. Há muito mais que precisa ser feito, em termos de resposta imediata à crise e de reforma da zona do euro, em futuro não muito distante.
Fonte: FSP
terça-feira, 4 de maio de 2010
Ainda sobre a nova direita
No domingo a colunista do jornal da ditabranda, Eliane Cantanhêde, defendeu uma tese semelhante ao post de 20 de abril de 2010, mas com título diferente: direita, volver, o do blog era "a nova direita". Mas isto é apenas um detalhe. O fundamental é o trecho abaixo:
" Uma peculiaridade da campanha é que Serra, Dilma e Marina Silva vêm da esquerda. Mas serristas e dilmistas se estapeiam pelo apoio de siglas como PP, PTB, PRB e PSC (de Joaquim Roriz no DF), e uma certeza paira no ar: alguém vai ter que ocupar o espaço "de direita".
Uma coisa é a armação do tempo na TV e dos palanques, quando os candidatos tapam o nariz e correm atrás de partidos e caciques. Outra é ajustar o discurso e os compromissos para agradar o eleitor -inclusive de setores nada desprezíveis que rejeitam as teses e práticas da esquerda e têm, além de recurso$, influência política e peso eleitoral. Como o agronegócio no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste.
Ou seja, agora é hora de montar o time, não importa se com gente de direita ou de esquerda, com ficha limpa ou ficha suja. Mas, depois, o foco sai dos partidos e dos políticos e vai para o voto do eleitor.
Marina manterá coerência, Dilma fará concessões e Serra terá que se moldar como "candidato da direita". Não é questão de convicção ou de opção.
Com poucos recursos para competir com Dilma entre os pobres e os nordestinos que endeusam Lula, Serra terá de tirar votos dela entre produtores rurais e na classe média urbana, conservadora e refratária ao PT. Com pose e discurso de esquerda é que não vai ser."
É o tipo de artigo que não agrada, com certeza, alguns eleitores-intelectuais, do candidato da Nova Direita que ainda tem dificuldade em reconhecer o fato obvio que é neste segmento do mercado eleitoral que ele deverá encontrar parcela significativa do seu eleitorado. Se será suficiente para elege-lo é uma grande incognita o que torna a eleição ainda mais interessante.
Cantanhêde, contudo, ainda parece acreditar que o partido do candidato da nova direita se encontra no campo da esquerda. Tese equivocada, me parece, ele é um tipico partido da direita ilustrada e envergonhada, os novos Carlos Lacerda,com roupagem chic e melhor dominio da literatura de esquerda.
" Uma peculiaridade da campanha é que Serra, Dilma e Marina Silva vêm da esquerda. Mas serristas e dilmistas se estapeiam pelo apoio de siglas como PP, PTB, PRB e PSC (de Joaquim Roriz no DF), e uma certeza paira no ar: alguém vai ter que ocupar o espaço "de direita".
Uma coisa é a armação do tempo na TV e dos palanques, quando os candidatos tapam o nariz e correm atrás de partidos e caciques. Outra é ajustar o discurso e os compromissos para agradar o eleitor -inclusive de setores nada desprezíveis que rejeitam as teses e práticas da esquerda e têm, além de recurso$, influência política e peso eleitoral. Como o agronegócio no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste.
Ou seja, agora é hora de montar o time, não importa se com gente de direita ou de esquerda, com ficha limpa ou ficha suja. Mas, depois, o foco sai dos partidos e dos políticos e vai para o voto do eleitor.
Marina manterá coerência, Dilma fará concessões e Serra terá que se moldar como "candidato da direita". Não é questão de convicção ou de opção.
Com poucos recursos para competir com Dilma entre os pobres e os nordestinos que endeusam Lula, Serra terá de tirar votos dela entre produtores rurais e na classe média urbana, conservadora e refratária ao PT. Com pose e discurso de esquerda é que não vai ser."
É o tipo de artigo que não agrada, com certeza, alguns eleitores-intelectuais, do candidato da Nova Direita que ainda tem dificuldade em reconhecer o fato obvio que é neste segmento do mercado eleitoral que ele deverá encontrar parcela significativa do seu eleitorado. Se será suficiente para elege-lo é uma grande incognita o que torna a eleição ainda mais interessante.
Cantanhêde, contudo, ainda parece acreditar que o partido do candidato da nova direita se encontra no campo da esquerda. Tese equivocada, me parece, ele é um tipico partido da direita ilustrada e envergonhada, os novos Carlos Lacerda,com roupagem chic e melhor dominio da literatura de esquerda.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
A ideologia marxista
O ótimo artigo do Antonio Cicero, publicado na edição de sabado do jornal da ditabranda, é uma excelente análise do marxismo vulgar ou marxismo talebã , ainda muito popular na terra das jabuticabas exóticas. Ele explica a popularidade de um famoso axioma das jabuticabas exóticas : ser marxista é condição suficiente para lecionar economia, historia, filosofia, política, etc...
Já citei uma vez, nesta coluna, a observação do filósofo Theodor Adorno no ensaio "As Estrelas Descem à Terra" de que, ao semierudito, "a astrologia [...] oferece um atalho, reduzindo o que é complexo a uma fórmula prática e oferecendo, simultaneamente, uma agradável gratificação: o indivíduo que se sente excluído dos privilégios educacionais supõe pertencer a uma minoria que está "por dentro'". Na época, mostrei que tal descrição convém também à ideologia religiosa do apóstolo Paulo, assim como à de Martinho Lutero. Pois bem, o fato é que ela se aplica igualmente bem a ideologias seculares, tais como o marxismo vulgar.
Embora tencione dar uma chave para o entendimento do mundo, como uma religião, o marxismo, longe de se tomar como religião, considera-se inteiramente racional, declarando-se tanto filosofia quanto ciência da história e da sociedade. Isso faculta ao semierudito ter-se, do ponto de vista cognitivo, como superior também aos eruditos que, por diferentes razões, não tenham adotado a concepção marxista.
Como, além disso, essa concepção do mundo quer fundamentar uma teoria revolucionária, tendo em vista a superação do capitalismo e a instauração do comunismo, sociedade em que pretende que não haverá mais propriedade privada dos meios de produção, nem diferentes classes sociais nem os flagelos da exploração e da opressão do ser humano pelo ser humano, os marxistas, já pelo simples fato de se posicionarem a favor de tal revolução, consideram-se, a priori, superiores, também do ponto de vista ético, a todos que não o tenham feito.
Para esse modo de pensar, o mundo existente, em que domina o modo de produção capitalista, é inteiramente desvalorizado. Nele, qualquer progresso é tido como meramente adjetivo, quando não fictício. A democracia existente -qualificada de "burguesa"- não é valorizada senão enquanto caminho para a revolução. Só esta deverá trazer um progresso real.
Hoje, porém, nem os marxistas podem pretender saber como se daria a superação do capitalismo. Não ignoro que, se questionados, certamente falariam em "socialismo". Concretamente, porém, que poderia significar para eles tal palavra?
Seu socialismo certamente nada teria a ver com a social-democracia, pois esta, sendo compatível com o capitalismo, não representaria sua superação. Tratar-se-ia então do socialismo como a estatização dos meios de produção, tal como se deu, por exemplo, na URSS?
Tomando a estatização da economia sob a ditadura do Partido Comunista, pretenso representante do proletariado, como a propriedade social dos meios de produção, os revolucionários russos supuseram que já haviam deixado para trás o modo de produção capitalista.
Será possível identificar a estatização com o socialismo? Friedrich Engels diria que não, pois afirmava que "quanto mais forças produtivas o Estado moderno passa a possuir, quanto mais se torna um capitalista total real, tantos mais cidadãos ele explora. Os trabalhadores continuam assalariados, proletários. Longe de ser superada, a relação capitalista chega ao auge". Dado que a propriedade estatal dos meios de produção não garante a posse real deles pelos trabalhadores, ela é capaz de não passar de uma forma de capitalismo estatal.
A Revolução Cultural Chinesa pode ser entendida como uma tentativa de mobilizar as massas contra o estabelecimento de situação semelhante, na China. Seu líder, Mao Tse-tung, chegou a dizer: "Não se sabe onde está a burguesia? Mas ela está no Partido Comunista!".
É possível. Como, porém, a verdade é que as "massas" são inerentemente plurais, particulares, instáveis e manobráveis, o fato é que, na época moderna, qualquer "democracia direta" não pode passar de uma quimera. Não admira, portanto, que a Revolução Cultural se tenha tornado extremamente caótica e violenta, de modo que, por fim, tenha sido necessário, ainda nas palavras de Badiou, "restabelecer a ordem nas piores condições". O resultado é que impera hoje na China o mais brutal capitalismo, tanto estatal quanto privado.
Contudo, só a miopia ideológica impede de ver que, embora a "revolução" se tenha revelado um beco sem saída, o mundo em que vivemos encontra-se em fluxo incessante; e que a sociedade aberta, os direitos humanos, a livre expressão do pensamento, a maximização da liberdade individual compatível com a existência da sociedade, a autonomia da arte e da ciência etc. -que constituem exigências inegociáveis da crítica, isto é, da razão- constituem também as verdadeiras condições para torná-lo melhor.
Fonte: FSP
Já citei uma vez, nesta coluna, a observação do filósofo Theodor Adorno no ensaio "As Estrelas Descem à Terra" de que, ao semierudito, "a astrologia [...] oferece um atalho, reduzindo o que é complexo a uma fórmula prática e oferecendo, simultaneamente, uma agradável gratificação: o indivíduo que se sente excluído dos privilégios educacionais supõe pertencer a uma minoria que está "por dentro'". Na época, mostrei que tal descrição convém também à ideologia religiosa do apóstolo Paulo, assim como à de Martinho Lutero. Pois bem, o fato é que ela se aplica igualmente bem a ideologias seculares, tais como o marxismo vulgar.
Embora tencione dar uma chave para o entendimento do mundo, como uma religião, o marxismo, longe de se tomar como religião, considera-se inteiramente racional, declarando-se tanto filosofia quanto ciência da história e da sociedade. Isso faculta ao semierudito ter-se, do ponto de vista cognitivo, como superior também aos eruditos que, por diferentes razões, não tenham adotado a concepção marxista.
Como, além disso, essa concepção do mundo quer fundamentar uma teoria revolucionária, tendo em vista a superação do capitalismo e a instauração do comunismo, sociedade em que pretende que não haverá mais propriedade privada dos meios de produção, nem diferentes classes sociais nem os flagelos da exploração e da opressão do ser humano pelo ser humano, os marxistas, já pelo simples fato de se posicionarem a favor de tal revolução, consideram-se, a priori, superiores, também do ponto de vista ético, a todos que não o tenham feito.
Para esse modo de pensar, o mundo existente, em que domina o modo de produção capitalista, é inteiramente desvalorizado. Nele, qualquer progresso é tido como meramente adjetivo, quando não fictício. A democracia existente -qualificada de "burguesa"- não é valorizada senão enquanto caminho para a revolução. Só esta deverá trazer um progresso real.
Hoje, porém, nem os marxistas podem pretender saber como se daria a superação do capitalismo. Não ignoro que, se questionados, certamente falariam em "socialismo". Concretamente, porém, que poderia significar para eles tal palavra?
Seu socialismo certamente nada teria a ver com a social-democracia, pois esta, sendo compatível com o capitalismo, não representaria sua superação. Tratar-se-ia então do socialismo como a estatização dos meios de produção, tal como se deu, por exemplo, na URSS?
Tomando a estatização da economia sob a ditadura do Partido Comunista, pretenso representante do proletariado, como a propriedade social dos meios de produção, os revolucionários russos supuseram que já haviam deixado para trás o modo de produção capitalista.
Será possível identificar a estatização com o socialismo? Friedrich Engels diria que não, pois afirmava que "quanto mais forças produtivas o Estado moderno passa a possuir, quanto mais se torna um capitalista total real, tantos mais cidadãos ele explora. Os trabalhadores continuam assalariados, proletários. Longe de ser superada, a relação capitalista chega ao auge". Dado que a propriedade estatal dos meios de produção não garante a posse real deles pelos trabalhadores, ela é capaz de não passar de uma forma de capitalismo estatal.
A Revolução Cultural Chinesa pode ser entendida como uma tentativa de mobilizar as massas contra o estabelecimento de situação semelhante, na China. Seu líder, Mao Tse-tung, chegou a dizer: "Não se sabe onde está a burguesia? Mas ela está no Partido Comunista!".
É possível. Como, porém, a verdade é que as "massas" são inerentemente plurais, particulares, instáveis e manobráveis, o fato é que, na época moderna, qualquer "democracia direta" não pode passar de uma quimera. Não admira, portanto, que a Revolução Cultural se tenha tornado extremamente caótica e violenta, de modo que, por fim, tenha sido necessário, ainda nas palavras de Badiou, "restabelecer a ordem nas piores condições". O resultado é que impera hoje na China o mais brutal capitalismo, tanto estatal quanto privado.
Contudo, só a miopia ideológica impede de ver que, embora a "revolução" se tenha revelado um beco sem saída, o mundo em que vivemos encontra-se em fluxo incessante; e que a sociedade aberta, os direitos humanos, a livre expressão do pensamento, a maximização da liberdade individual compatível com a existência da sociedade, a autonomia da arte e da ciência etc. -que constituem exigências inegociáveis da crítica, isto é, da razão- constituem também as verdadeiras condições para torná-lo melhor.
Fonte: FSP
domingo, 2 de maio de 2010
sábado, 1 de maio de 2010
Rhapsody on a windy night, T.S.Eliot
Twelve o'clock.
Along the reaches of the street
Held in a lunar synthesis,
Whispering lunar incantations
Dissolve the floors of memory
And all its clear relations,
Its divisions and precisions,
Every street lamp that I pass
Beats like a fatalistic drum,
And through the spaces of the dark
Midnight shakes the memory
As a madman shakes a dead geranium.
Half-past one,
The street lamp sputtered,
The street lamp muttered,
The street lamp said, "Regard that woman
Who hesitates towards you in the light of the door
Which opens on her like a grin.
You see the border of her dress
Is torn and stained with sand,
And you see the corner of her eye
Twists like a crooked pin."
The memory throws up high and dry
A crowd of twisted things;
A twisted branch upon the beach
Eaten smooth, and polished
As if the world gave up
The secret of its skeleton,
Stiff and white.
A broken spring in a factory yard,
Rust that clings to the form that the strength has left
Hard and curled and ready to snap.
Half-past two,
The street lamp said,
"Remark the cat which flattens itself in the gutter,
Slips out its tongue
And devours a morsel of rancid butter."
So the hand of a child, automatic,
Slipped out and pocketed a toy that was running along the quay.
I could see nothing behind that child's eye.
I have seen eyes in the street
Trying to peer through lighted shutters,
And a crab one afternoon in a pool,
An old crab with barnacles on his back,
Gripped the end of a stick which I held him.
Half-past three,
The lamp sputtered,
The lamp muttered in the dark.
The lamp hummed:
"Regard the moon,
La lune ne garde aucune rancune,
She winks a feeble eye,
She smiles into corners.
She smoothes the hair of the grass.
The moon has lost her memory.
A washed-out smallpox cracks her face,
Her hand twists a paper rose,
That smells of dust and old Cologne,
She is alone
With all the old nocturnal smells
That cross and cross across her brain."
The reminiscence comes
Of sunless dry geraniums
And dust in crevices,
Smells of chestnuts in the streets,
And female smells in shuttered rooms,
And cigarettes in corridors
And cocktail smells in bars."
The lamp said,
"Four o'clock,
Here is the number on the door.
Memory!
You have the key,
The little lamp spreads a ring on the stair,
Mount.
The bed is open; the tooth-brush hangs on the wall,
Put your shoes at the door, sleep, prepare for life."
The last twist of the knife
Along the reaches of the street
Held in a lunar synthesis,
Whispering lunar incantations
Dissolve the floors of memory
And all its clear relations,
Its divisions and precisions,
Every street lamp that I pass
Beats like a fatalistic drum,
And through the spaces of the dark
Midnight shakes the memory
As a madman shakes a dead geranium.
Half-past one,
The street lamp sputtered,
The street lamp muttered,
The street lamp said, "Regard that woman
Who hesitates towards you in the light of the door
Which opens on her like a grin.
You see the border of her dress
Is torn and stained with sand,
And you see the corner of her eye
Twists like a crooked pin."
The memory throws up high and dry
A crowd of twisted things;
A twisted branch upon the beach
Eaten smooth, and polished
As if the world gave up
The secret of its skeleton,
Stiff and white.
A broken spring in a factory yard,
Rust that clings to the form that the strength has left
Hard and curled and ready to snap.
Half-past two,
The street lamp said,
"Remark the cat which flattens itself in the gutter,
Slips out its tongue
And devours a morsel of rancid butter."
So the hand of a child, automatic,
Slipped out and pocketed a toy that was running along the quay.
I could see nothing behind that child's eye.
I have seen eyes in the street
Trying to peer through lighted shutters,
And a crab one afternoon in a pool,
An old crab with barnacles on his back,
Gripped the end of a stick which I held him.
Half-past three,
The lamp sputtered,
The lamp muttered in the dark.
The lamp hummed:
"Regard the moon,
La lune ne garde aucune rancune,
She winks a feeble eye,
She smiles into corners.
She smoothes the hair of the grass.
The moon has lost her memory.
A washed-out smallpox cracks her face,
Her hand twists a paper rose,
That smells of dust and old Cologne,
She is alone
With all the old nocturnal smells
That cross and cross across her brain."
The reminiscence comes
Of sunless dry geraniums
And dust in crevices,
Smells of chestnuts in the streets,
And female smells in shuttered rooms,
And cigarettes in corridors
And cocktail smells in bars."
The lamp said,
"Four o'clock,
Here is the number on the door.
Memory!
You have the key,
The little lamp spreads a ring on the stair,
Mount.
The bed is open; the tooth-brush hangs on the wall,
Put your shoes at the door, sleep, prepare for life."
The last twist of the knife
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