É bom estar em boa companhia. Munchau, no FT, apresenta argumento semelhante ao que apresentamos em outro post sobre a Grecia e a zona do euro.
"Não havia escolha. Diante de uma ameaça existencial, a União Europeia demonstrou que é capaz de agir com rapidez, se necessário. Os líderes europeus merecem respeito por enfim terem conseguido se adiantar à situação.
Isso posto, deveríamos também compreender que, ao tentar combater o problema simplesmente por meio de dinheiro, a maior parte do qual na forma de garantias, a UE simplesmente ganhou tempo para resolver a confusa situação de governança da zona do euro. O verdadeiro teste está por vir.
Há importantes paralelos com as garantias da UE ao setor financeiro em outubro de 2008, após o colapso do Lehman Brothers. Aquela decisão resolveu um problema de liquidez imediato no setor europeu, que estava à beira de uma catástrofe. Mas a decisão não resolveu as questões subjacentes de solvência do setor, que continuam a ser problema.
O mesmo se aplica a esse caso. Sabemos agora que Grécia, Portugal e Espanha sempre serão capazes de refinanciar suas dívidas públicas, mas a solvência em longo prazo do Estado espanhol continua não resolvida. O setor privado tem imensas dívidas. Os preços dos ativos que servem como caução continuam a cair.
O governo espanhol, como fiador do setor bancário, ficará sobrecarregado com dívidas crescentes em um período de estagnação da expansão econômica. Deveríamos ter em mente que solvência não se relaciona primordialmente à disposição de emprestar dos mercados. Isso se aplica à liquidez.
Você está solvente se consegue estabilizar sua dívida como proporção de sua renda. A posição de solvência do sul da Europa, portanto, não é afetada pela injeções de bilhões de euros.
Por isso, o atual acordo só será efetivo no curto prazo, a menos que seja seguido por reformas substantivas -a introdução de título de dívida europeu unificado, uma agenda de coordenação de reformas econômicas, políticas que reduzam os desequilíbrios econômicos, fiscalização mais estreita de políticas fiscais.
Em resumo, coisas sobre as quais a UE vivia -e continua vivendo- em negação.
Meu parecer é o de que quase nada disso acontecerá. Portanto, continuo cético quanto às perspectivas em longo prazo da zona do euro. Vai chegar um momento em que usar o dinheiro para resolver problemas, sem mudanças estruturais, deixará de fazer efeito ou mesmo de impressionar."
Wolfgang Munchau
Fonte: FSP