Sempre achei estranho a imensa influência do marxismo na Católica. Em alguns casos ele chega a constituir-se em verdadeiro pensamento único e única verdade aceitável. Outros pensamentos, quando comparados com o marxismo, são tratados como exóticos produtos da decadência burguesa e sua expressão ideológica e por isto mesmo não são merecedores de qualquer respeito. Acostumado a este ambiente levei um tremendo choque cultural na minha temporada de estudos(2 anos de doutorado sanduiche) no St Antony's College da Universidade de Oxford. Lá Marx não fazia parte das conversas entre os alunos e tão pouco o marxismo era um tópico dos longos debates noite adentro entre meus colegas estudantes de economia, historia, relações internacionais, politica, etc. Um mundo totalmente novo povoado por pensadores que nunca havia lido ou ouvido qualquer menção se abria para este pobre enviado de outra planeta habitado por marxistas e simpatizantes. Havia é claro alguns professores marxistas -um fusca seria o suficiente pra transporta-los pela cidade- sofisticados que nem de longe lembrava os seguidores nacionais do velho barba. Era um dos poucos alunos, no College, com passagem pelo marxismo, o que me tornava ainda mais exótico e um colega que sabia que eu não era mais marxista, gostava de me provocar dizendo que ainda era. Minha orientadora, brilhante economista cepalina e católica amiga do famoso teologo da libertação peruano, nunca teve dúvidas a meu respeito: era um economista neoclássico que lutava para não ser, mas era...e me indicava autores heterodoxos que nunca apareceria nos meus papers onde predominava a fina flor do pensamento convencional.
A convivência com ela e outro professor, também católico, brilhante e com longa experiência na america latina, confirmou a minha impressão que a influência do marxismo na Católica estava relacionado com o dialogo de parte da intelectualidade católica da america latina e de outras partes do mundo em desenvolvimento com o marxismo. Desde então tenho lido bons trabalhos sobre este dialogo, ainda defendido por um dos meus filosofos prediletos, MacIntyre, e não sei ate que ponto ele realmente gerou bons frutos. Na Católica, o resultado , é bem conhecido e esta longe de ter sido produtivo do ponto de vista de produção intelectual, tanto para o marxismo, quanto para a tradição intelectual católica. Para o primeiro o ganho político foi e continua a ser imenso e sem equivalente em nenhuma instituição estatal(laica) de prestigio, para o segundo o inverso para ser verdadeiro.
Neste feriado, li um paper bem interessante sobre este dialogo, com o foco nos jesuitas, "os confessores de Marx: a companhia de Jesus e o marxismo (1937-1982" do Iraneidson Santos Costa, na Revista de Historia. Recomendo a leitura...