quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Memorias

Nunca fui comunista, ou seja membro ou simpatizante de qualquer um dos PCs da vida. Muito pelo contrário. Meus herois, neste campo, são figuras notáveis - melhor dizendo, exs. de fracassos notaveis - que ainda continuo a admirar, apesar de não mais acreditar naquilo pelo qual perderam a vida: Allende e Rosa Luxemburgo. Marxistas, é claro, porem realmente democratas. Exemplos de integridade moral e dedicação a luta dos trabalhadores por uma vida digna. Eles fazem companhia a um grande economista neoclassico que sempre esteve lado a lado com os trabalhadores, o sueco Wicksell.

No período do meu idílio marxista - o curto, mas memorável período em que fui aluno do curso de graduação em economia da puc. Alias ela era o melhor lugar para se estar, respirava-se um clima acadêmico que é dificil recuperar - nunca nutri qualquer simpatia ou ilusão em relação ao leste europeu ou a Cuba. Esta última sempre chamei de a grande fazenda de Fidel Castro.

Neste período, tão pouco era simpático ao chamado catolicismo marxista. Ele aumentou a minha solidão e agravou a crise normal, me parece, naquela idade e me afastou da religião. Faltava a este tipo de catolicismo os elementos que faziam parte da minha infância em uma familia e comunidade profundamente católicas. Por paradoxal que possa parecer, no período na minha juventude em que acreditava na fantasia marxista, nunca perdi minha atração pelo catolicismo popular das festas da minha infância com sua liturgia e mistérios que tanto me encantavam e ainda encanta. A idéia de usar o pulpito para pregações politico partidárias que agradava a tantos militantes de esquerda nunca foi do meu agrado. Não me parecia correto, mas um verdadeiro sacrilégio. É claro que era uma reação sem nenhum fundamento em leituras, apenas baseado em valores em que fui educado.

O retorno a Igreja, por uma feliz coincidência, aconteceu em Oxford, onde comecei a frequentar as missas em uma igreja, que se não estou errado, era a mesma do Oratorio do Cardeal Newman. A liturgia era em inglês, mas todo o ambiente me parecia totalmente familiar e me fazia sentir em casa, o que raramente era o caso nas missas no Brasil. Desnecessário mencionar que tão pouco via com bons olhos o sucesso de movimento católico de forte apelo midiatico. Em sintese, em se tratando de catolicismo o meu lado é bem claro: me sinto bem na companhia de Ratzinger, Lubac, Balthasar e Guardini. Sou feliz por ter retornado a Igreja e pela descoberta da tradição intelectual católica que deveria ter conhecido na graduação.