domingo, 13 de abril de 2008

Milbank e a teologia da libertação

Folheando o interessante Dicionário Crítico de Teologia( Lacoste, 2004), encontrei o verbete dedicado a Teologia da Libertação. O autor é o John Milbank, e como seria de esperar, combina concisão com profundidade. Segundo ele “nenhum teológo da libertação é marxista no sentido próprio... e mantem do marxismo a prioridade da práxis” (p.1033), sendo que “o papel central atribuído à práxis aproxima-os das correntes humanistas e voluntaristas do marxismo”, já, “em compensação, o papel central dos ‘pobres’ é antes um desvio com relação ao marxismo”(p.1033).É uma leitura interessante e ate onde, minha ignorância permite, generosa da relação da T.L com o marxismo.

Milbank argumenta que “ deve-se observar que o gosto da modernidade é tão importante na teologia da libertação quanto o aspecto marxista”(p.1034), porque “embora professem formalmente a ortodoxia, os teólogos da libertação atenuam ou relativizam os aspectos metafísicos, míticos, doutrinais, místicos da fé”(p.1034), que seria uma demonstração da influência ou fascínio destes teólogos pelo protestantismo liberal. Esta relativização é o que sempre reprovei na práxis da T.L e a razão pela qual nunca senti nenhum apreço por suas propostas de um novo mundo.

A parte final do verbete é a mais fascinante, pelo menos para alguém como eu, ainda engatinhando nas leituras teólogicas. Segundo Milbank “apesar de todas as censuras feitas à teologia da libertação por seu coletivismo ou seu idealismo utópico, raramente se observa até que ponto sua concepção da religião é individualista”(p.1034). Confesso que fiquei surpreso com esta leitura, já que não me parece refletir a práxis da T.L,mas ela é, contudo, coerente, com a influência, já mencionada, do protestantismo liberal.

Para Milbank, “ a influência de Rahner leva-a a pensar que o conteúdo da revelação está fora da história, indiferente às manifestações concretas e, portanto, estranhamente insensível aos processos dialéticos , que são em compensação onipotentes num domínio social considerado a priori profano” .Isso, conclui o autor, “explica que a teologia da libertação, até ultimamente , tenha atribuído pouca importância à eclesiologia[reflexão consagrada à igreja] e edificação de uma doutrina social especificamente cristã”. A parte referente a eclesiologia é, como diria um aluno grego para mim, mas a passagem referente a doutrina social cristã é a que mais me atrai, já que parece ser uma boa pista pelo pouco apreço da T.L. pela doutrina social católica, o que, naturalmente, me leva a procurar outros trabalhos do Milbank. A questão é onde arrumar tempo para tanta leitura fora da minha área de trabalho que é, sou sempre lembrado, economia e não teologia.