O recente “affair” Bndes é mais um na longa lista de relações perigosas entre o setor privado e o setor público no Brasil. Contudo, ele esta longe de ser um problema exclusivamente brasileiro. Ao contrário, é comum a todo sistema político aberto, com algum grau de intervenção ou regulação estatal na economia.
O funcionário de carreira de uma estatal amarga alguns anos de baixos salários em troca da construção de uma rede de contatos e aprendizado a respeito da obtenção de valiosas informações úteis em uma futura carreira no setor privado. Ele se inseri em um mercado de trabalho que não esta restrito ao seu atual empregador, o estado; mas inclui, também, futuros empregadores no setor privado. Ate que ponto este agir interferi em decisões que possam beneficiar potenciais empregadores é uma questão controversa.
A quarentena tem sido apresentado como solução para o problema, mas me parece que ela esta longe de ser milagrosa e é, no máximo, apenas um paliativo que evita situações escandalosas, como o caso atual. O tempo de quarentena é muito pequeno para ter influência significativa sobre os conhecimentos adquiridos durante o período em que ele foi funcionário público. O impacto é maior no caso de funcionários que passaram pouco tempo na esfera pública. É o caso dos famosos cargos de confiança ou de indicação política.
Um funcionário público racional dividiria sua carreira profissional em duas fases: a primeira, no setor publico dedicada a criação da rede e aquisição de conhecimentos valorizados no mercado; a segunda em uma carreira lucrativa no setor privado. Este, por ex, parece ser o caso do comportamento dos funcionários públicos no Reino Unido e em outras democracias e ,aparentemente, também no Brasil. Contudo, o comportamento dos dois funcionários do Bndes( um de carreira e outra político) não me parece se adequar a esta regra e ser mais um indicativo da nossa fragilidade institucional .