O "Budget" apresentado pelo Obama é interessante e, aparentemente, é uma ruptura com o consenso suprapartidario dos anos o "Estado é o problema" . Há, contudo, uma grande dose de otimismo em relação a redução de despesas relacionadas ao esforço de guerra: o Iraque está longe de ser um problema resolvido e o Afeganistão poderá demandar um volume razoável de recursos. Já vi este filme antes.
A boa noticia foi a estatização envergonhada, mas estatização, do Citi. É claro que isto, ainda, não resolve o problema: um novo aporte de capital ainda será necessário. O outro banco zumbi também deverá ter o mesmo destino.
Ontem a noite, no grande bananão, o charlatão - que no passado prognosticava um cenário catastrofico que não se realizou - da Praia Vermelha apresentava, no programa da turma da Praia do Flamengo, a mesma história de sempre: a crise vai levar a economia para o ralo e será muito mais dolorosa que nos países de capitalismo maduro. Roteiro de filme de terror de quinta categoria. Continua pensando com o figado...
Vida inteligente nunca foi o forte entre os que se passam por economistas no QG Anticatólico, mas ultimamente estão conseguindo se superar: de braços dados com a nova direita dançando a valsa do apocalipse... é preciso ter estomago forte...
Li e gostei de parte da análise do Chico de Oliveira na entrevista ao portal Carta Maior. É uma leitura que recomendo. Ele força a barra na leitura marxista da crise( mas tem razão na critica, mas não no elogio, ao francês adorado pela turma de sempre), mas compartilho com ele o otimismo quando a possibilidade desta crise ser a oportunidade para o Brasil dar o pulo do gato e retomar o desenvolvimento econômico, agora, com justica social e outras liberdades essenciais listadas por Sen em sua análise magistral do desenvolvimento econômico.
update: curiosa a capa da revista da velha e da nova direita brasileira: está otimista em relação a crise econômica.seria um indicio de racha na conspiração para eleger o vampiro presidente do grande bananão? é divertido ler a opinião de alguns baluartes do besteirol econômico carioca: o que era vicio vira virtude em momento de crise. so mesmo rindo: o cara palida é exatamente em momentos de crise que descobrimos quem( o que) é realmente virtuoso. que tal ler um pouco de filosofia moral, aristoteles e kant, da pro gasto... ah! tem, também, uma fala que é o maximo da obviedade. de quem seria!!! sim, dela mesma: a destruidora dos corações de economistas mineiros, cariocas e ate um alemão.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Economia deve se admitir imperfeita, afirma Frydman
Não concordo, necessariamente, com as criticas, mas devo reconhecer que ele levanta questões importantes. Eu nunca cai no canto de sereia dos novos clássicos, mas a hipotese de racionalidade das expectativas dos agentes, ou conceito a ela semelhante, sempre esteve presente em boa parte do pensamento econômico.
Além de culpar Alan Greenspan, o governo Bush e a desregulamentação financeira feita no governo Clinton, os economistas deveriam olhar para si mesmos ao buscarem as causas da atual crise global. Uma causa subjacente, segundo o economista Roman Frydman, foi a pretensão da corrente dominante do pensamento econômico nos últimos 30 anos de que podia estimar com precisão os preços dos ativos e, consequentemente, prever os movimentos dos mercados. Esse modelo fracassou, diz Frydman. Em seu lugar, ele defende um modelo baseado no que chama de conhecimento imperfeito.
Polonês radicado no EUA, Frydman é professor de economia na Universidade de Nova York, onde se formou. Ele fez doutorado na Universidade Colúmbia, sob orientação de Edmund Phelps, prêmio Nobel de Economia em 2006. Em janeiro Frydman esteve em São Paulo, onde falou com exclusividade ao Valor.
O alvo de Frydman é a teoria (ou hipótese) das expectativas racionais, um pressuposto usado atualmente nos principais modelos macroeconômicos e que prevê que a expectativa dos agentes econômicos (consumidores, empresas, traders, associações etc) é correta na média, pois essas expectativas se baseiam na análise de todos os fatores envolvidos.
"As expectativas racionais são uma metodologia muito poderosa, que postula que os economistas são capazes de determinar com precisão o que os mercados pensam sobre o futuro. Soa estranho, mas é isso", disse Frydman.
Assim, seria possível prever "cientificamente" a evolução dos preços dos ativos, isto é, de ações, imóveis, moedas, commodities etc. Obviamente há oscilações não previstas, mas com o tempo o preço do ativo tenderia a voltar a uma situação de equilíbrio.
"Todos esses modelos são baseados na ideia de que os economistas, analistas ou alguém que trabalha num banco pode precificar uma ação. Isso se chama a precificação racional das ações. O preço depende das expectativas de para onde a ação está indo. Se essa expectativa está errada, então o preço não é o preço racional. Mas, por causa dessa crença dos economistas de que podem saber exatamente quais são as expectativas, eles achavam que podiam desenvolver métodos para modelar os preços."
Essa ideia levou à elaboração de complexos modelos matemáticos que são usados diariamente por instituições financeiras e empresas em todo o mundo para tentar antecipar preços dos ativos. "Isso se tornou um enorme negócio", afirma Frydman.
O que isso tem a ver com esta crise? Frydman cita dois efeitos importantes. Em primeiro lugar, os modelos fracassaram ao não conseguir prever os riscos da valorização contínua dos ativos. Como o modelo previa "cientificamente" o preço dos ativos, e estes só subiam, isso desestimulou os agentes econômicos a prestar atenção aos fundamentos que deveriam sustentar aqueles preços. Os mercados se iludiram de que os preços podiam continuar se apreciando indefinidamente.
Em segundo lugar, se o mercado conseguia fazer uma avaliação científica do risco, o principal fator para se precificar um ativo, então não era necessário que a autoridade regulatória fiscalizasse as instituições. Elas mesmas estariam se fiscalizando continuamente, ao analisarem o risco umas das outras. O ex-presidente do Fed (o banco central americano) Alan Greenspan comprou essa ideia. Deu no que deu.
"Os EUA precisam aceitar o fato de que desregulamentar não foi uma boa ideia. A teoria econômica nos EUA não está muito boa, pois é amplamente baseada nas expectativas racionais. E as expectativas racionais fazem você pensar que, quando os mercados disparam, eles estão certos, ou então não teriam disparado. Essa teoria é incapaz de explicar o que estamos vendo agora."
O embate com as expectativas racionais marcou a atividade acadêmica de Frydman. "Eu tinha acabado de imigrar para os EUA no final dos anos 60, vindo da Polônia, onde a economia planificada havia fracassado, e fiquei muito surpreso de saber que lá se pretendia elaborar um modelo exato para o mercado. Fui até Phelps e perguntei a ele se as pessoas nos EUA acreditavam mesmo que podiam dizer exatamente para onde o mercado estava indo. Então começamos a desenvolver uma crítica às expectativas racionais."
Ele mesmo admite que boa parte dessa crítica (como o livro escrito com Phelps e publicado em 1983, "Individual Forecasting and Aggregate Outcomes: 'Rational Expectations' Examined") foi ignorada. "O pensamento econômico continuou trabalhando com as expectativas racionais."
"Todas essas implicações fracassaram na prática. Há uns dez anos começou a ficar claro que a economia tinha de aceitar que não pode prever exatamente para onde vai o mercado", diz Frydman. "Então, a pergunta principal passou a ser: é possível fazer algum tipo de modelo se você não sabe para onde o mercado está indo? Ou se teríamos de desistir dos modelos?"
Em 2007, Frydman publicou, em conjunto com Michael Goldberg, "Imperfect Knowledge Economics" (Economia do Conhecimento Imperfeito), que viria a ser a sua resposta a essa pergunta. Resumidamente, sim, é possível elaborar modelos, mas eles têm de se basear no fato de que o conhecimento é imperfeito, diz Frydman.
Como isso funciona? "A economia do conhecimento imperfeito postula que há limites para o que os economistas podem saber. Ela permite a formulação de modelos substituindo condições quantitativas - economistas gostam de fortes condições matemáticas nos seus modelos - por condições qualitativas, que são o máximo que podemos ter. Ou seja, regularidades qualitativas, não regularidades quantitativas."
O conceito fundamental para Frydman é o de padrão histórico (historical benchmark) de preços de um certo ativo. Assim, o risco relacionado a determinado ativo cresce à medida que o seu preço se distancia, para cima ou para baixo, de seu padrão histórico. "O modo tradicional de pensar sobre o risco é que ele depende de volatilidade. Nós temos um modo de olhar o risco que retoma Keynes, que mede o risco relativamente ao distanciamento de um ativo, por exemplo uma moeda, em relação a um padrão de valores das moedas."
Como professor, Frydman gosta de dar exemplos de seus conceitos. Foram vários na conversa com o Valor. Eis um deles: "O valor padrão do dólar é perto da paridade com o euro. Sabemos que, na história do dólar, quando ele sobe 30% ou 35% acima da paridade, é muito alto. Então, as chances são grandes de que ele vá cair".
Assim, o modelo de Frydman não consegue prever (mas será que alguém hoje consegue?) onde o dólar estará em relação ao euro na semana que vem, mas pode dizer se ele está alto ou baixo demais em relação a onde normalmente está.
Esse padrão histórico proposto por Frydman para a avaliação de preços de ativos não é um valor, mas um intervalo dentro do qual o preço do ativo costuma oscilar. Esse intervalo também não é fixo, já que ao longo do tempo vários fatores, como ganhos de produtividade, podem alterar a tendência de preço de longo prazo. "Essa visão que temos, de conhecimento imperfeito, implica que só fundamentos sólidos podem mover os preços dos ativos para além de seu padrão. Nós não negamos que a psicologia tenha um papel, mas não precisamos da psicologia para ter flutuações. O importante é que as flutuações de preços ocorrem por conta dos fundamentos."
Frydman acha que seu modelo ajuda a evitar grandes oscilações nos mercados, que acabam resultando em grandes correções, com custos sociais elevados. Ele defende que, em caso de distanciamento importante do preço de um ativo em relação ao seu padrão histórico, caberia à autoridade reguladora intervir, mas sem se comprometer com um determinado preço.
Exemplo: "O índice Shiller-Case [de preço de moradias nos EUA] dobrou de 2000 a 2006. E, ainda assim, o governo continuou a oferecer financiamento imobiliário a taxas mais e mais vantajosas. É o oposto do que deveria ser feito."
Ele admite que seria superficial atribuir toda a culpa à economia. "Houve pressão política, dos democratas e dos republicanos, para a concessão de financiamento imobiliário, para que todo mundo possuísse uma casa. Isso é bem documentado. Instituições como a Fannie Mae foram informadas de que deveriam expandir os financiamentos. Isso é política."
"A solução que propomos para esse tipo de problema é que sejam tomadas medidas que contenham a magnitude das oscilações, mas sem assumir nenhuma posição sobre onde os preços devem estar amanhã", diz Frydman.
Que medidas? "Pode haver intervenção direta e indireta. O Fed tem discutido se a política monetária deve ser usada para limitar as oscilações do mercado. Mas as taxas de juros não são uma medida adequada, pois afetam toda a economia. Uma coisa simples que pode ser feita é ressaltar os padrões históricos de vários tipos de ativos. Isso deixaria claro que o risco está aumentando para os investidores, quanto mais o mercado sobe."
Frydman sugere que as autoridades reguladoras divulguem regularmente o seu padrão histórico para os preços de ativos. O banco central, por exemplo, divulgaria o que considera o padrão para a cotação do real em relação ao dólar. Mas não se comprometeria a manter a moeda nesse padrão, apenas alertaria o mercado de que se reserva o direito de intervir sempre que a cotação estiver muito fora do padrão. "Quanto mais ela se distanciar, mas arriscado será para o mercado. O BC nunca perde credibilidade, pois ele nunca se compromete em manter uma certa taxa de câmbio." Essa intervenção poderia ser feita comprando ou vendendo dólares ou por meio de medidas administrativas que onerem (ou desonerem) as operações.
"Se acreditarmos que as flutuações são o normal no mercado, e não que os mercados estão sempre em equilíbrio, e se não acreditarmos que, quando o mercado sobe, a única coisa a fazer é rezar para que volte, então teremos a chance de limitar, não de eliminar, mas de limitar as crises."
Apesar dessa extensa acusação a um pensamento econômico que se julgava preciso, científico, Frydman não acredita que os economistas se tornarão menos arrogantes no futuro. "Num fenômeno tão complexo como essa crise, não é fácil atribuir as responsabilidades. Eu ainda não vi o movimento entre meus colegas de que tudo isso tenha de ser reexaminado. Há pessoas, como Phelps, que acham que essa responsabilidade é inequívoca. Mas é muito difícil para os economistas aceitar que a economia não pode afinal dizer o que vai acontecer. É duro. Os economistas tiraram fortes conclusões a partir disso. E economistas têm a tendência de ser muito seguros de si mesmos."
Fonte: Valor
Além de culpar Alan Greenspan, o governo Bush e a desregulamentação financeira feita no governo Clinton, os economistas deveriam olhar para si mesmos ao buscarem as causas da atual crise global. Uma causa subjacente, segundo o economista Roman Frydman, foi a pretensão da corrente dominante do pensamento econômico nos últimos 30 anos de que podia estimar com precisão os preços dos ativos e, consequentemente, prever os movimentos dos mercados. Esse modelo fracassou, diz Frydman. Em seu lugar, ele defende um modelo baseado no que chama de conhecimento imperfeito.
Polonês radicado no EUA, Frydman é professor de economia na Universidade de Nova York, onde se formou. Ele fez doutorado na Universidade Colúmbia, sob orientação de Edmund Phelps, prêmio Nobel de Economia em 2006. Em janeiro Frydman esteve em São Paulo, onde falou com exclusividade ao Valor.
O alvo de Frydman é a teoria (ou hipótese) das expectativas racionais, um pressuposto usado atualmente nos principais modelos macroeconômicos e que prevê que a expectativa dos agentes econômicos (consumidores, empresas, traders, associações etc) é correta na média, pois essas expectativas se baseiam na análise de todos os fatores envolvidos.
"As expectativas racionais são uma metodologia muito poderosa, que postula que os economistas são capazes de determinar com precisão o que os mercados pensam sobre o futuro. Soa estranho, mas é isso", disse Frydman.
Assim, seria possível prever "cientificamente" a evolução dos preços dos ativos, isto é, de ações, imóveis, moedas, commodities etc. Obviamente há oscilações não previstas, mas com o tempo o preço do ativo tenderia a voltar a uma situação de equilíbrio.
"Todos esses modelos são baseados na ideia de que os economistas, analistas ou alguém que trabalha num banco pode precificar uma ação. Isso se chama a precificação racional das ações. O preço depende das expectativas de para onde a ação está indo. Se essa expectativa está errada, então o preço não é o preço racional. Mas, por causa dessa crença dos economistas de que podem saber exatamente quais são as expectativas, eles achavam que podiam desenvolver métodos para modelar os preços."
Essa ideia levou à elaboração de complexos modelos matemáticos que são usados diariamente por instituições financeiras e empresas em todo o mundo para tentar antecipar preços dos ativos. "Isso se tornou um enorme negócio", afirma Frydman.
O que isso tem a ver com esta crise? Frydman cita dois efeitos importantes. Em primeiro lugar, os modelos fracassaram ao não conseguir prever os riscos da valorização contínua dos ativos. Como o modelo previa "cientificamente" o preço dos ativos, e estes só subiam, isso desestimulou os agentes econômicos a prestar atenção aos fundamentos que deveriam sustentar aqueles preços. Os mercados se iludiram de que os preços podiam continuar se apreciando indefinidamente.
Em segundo lugar, se o mercado conseguia fazer uma avaliação científica do risco, o principal fator para se precificar um ativo, então não era necessário que a autoridade regulatória fiscalizasse as instituições. Elas mesmas estariam se fiscalizando continuamente, ao analisarem o risco umas das outras. O ex-presidente do Fed (o banco central americano) Alan Greenspan comprou essa ideia. Deu no que deu.
"Os EUA precisam aceitar o fato de que desregulamentar não foi uma boa ideia. A teoria econômica nos EUA não está muito boa, pois é amplamente baseada nas expectativas racionais. E as expectativas racionais fazem você pensar que, quando os mercados disparam, eles estão certos, ou então não teriam disparado. Essa teoria é incapaz de explicar o que estamos vendo agora."
O embate com as expectativas racionais marcou a atividade acadêmica de Frydman. "Eu tinha acabado de imigrar para os EUA no final dos anos 60, vindo da Polônia, onde a economia planificada havia fracassado, e fiquei muito surpreso de saber que lá se pretendia elaborar um modelo exato para o mercado. Fui até Phelps e perguntei a ele se as pessoas nos EUA acreditavam mesmo que podiam dizer exatamente para onde o mercado estava indo. Então começamos a desenvolver uma crítica às expectativas racionais."
Ele mesmo admite que boa parte dessa crítica (como o livro escrito com Phelps e publicado em 1983, "Individual Forecasting and Aggregate Outcomes: 'Rational Expectations' Examined") foi ignorada. "O pensamento econômico continuou trabalhando com as expectativas racionais."
"Todas essas implicações fracassaram na prática. Há uns dez anos começou a ficar claro que a economia tinha de aceitar que não pode prever exatamente para onde vai o mercado", diz Frydman. "Então, a pergunta principal passou a ser: é possível fazer algum tipo de modelo se você não sabe para onde o mercado está indo? Ou se teríamos de desistir dos modelos?"
Em 2007, Frydman publicou, em conjunto com Michael Goldberg, "Imperfect Knowledge Economics" (Economia do Conhecimento Imperfeito), que viria a ser a sua resposta a essa pergunta. Resumidamente, sim, é possível elaborar modelos, mas eles têm de se basear no fato de que o conhecimento é imperfeito, diz Frydman.
Como isso funciona? "A economia do conhecimento imperfeito postula que há limites para o que os economistas podem saber. Ela permite a formulação de modelos substituindo condições quantitativas - economistas gostam de fortes condições matemáticas nos seus modelos - por condições qualitativas, que são o máximo que podemos ter. Ou seja, regularidades qualitativas, não regularidades quantitativas."
O conceito fundamental para Frydman é o de padrão histórico (historical benchmark) de preços de um certo ativo. Assim, o risco relacionado a determinado ativo cresce à medida que o seu preço se distancia, para cima ou para baixo, de seu padrão histórico. "O modo tradicional de pensar sobre o risco é que ele depende de volatilidade. Nós temos um modo de olhar o risco que retoma Keynes, que mede o risco relativamente ao distanciamento de um ativo, por exemplo uma moeda, em relação a um padrão de valores das moedas."
Como professor, Frydman gosta de dar exemplos de seus conceitos. Foram vários na conversa com o Valor. Eis um deles: "O valor padrão do dólar é perto da paridade com o euro. Sabemos que, na história do dólar, quando ele sobe 30% ou 35% acima da paridade, é muito alto. Então, as chances são grandes de que ele vá cair".
Assim, o modelo de Frydman não consegue prever (mas será que alguém hoje consegue?) onde o dólar estará em relação ao euro na semana que vem, mas pode dizer se ele está alto ou baixo demais em relação a onde normalmente está.
Esse padrão histórico proposto por Frydman para a avaliação de preços de ativos não é um valor, mas um intervalo dentro do qual o preço do ativo costuma oscilar. Esse intervalo também não é fixo, já que ao longo do tempo vários fatores, como ganhos de produtividade, podem alterar a tendência de preço de longo prazo. "Essa visão que temos, de conhecimento imperfeito, implica que só fundamentos sólidos podem mover os preços dos ativos para além de seu padrão. Nós não negamos que a psicologia tenha um papel, mas não precisamos da psicologia para ter flutuações. O importante é que as flutuações de preços ocorrem por conta dos fundamentos."
Frydman acha que seu modelo ajuda a evitar grandes oscilações nos mercados, que acabam resultando em grandes correções, com custos sociais elevados. Ele defende que, em caso de distanciamento importante do preço de um ativo em relação ao seu padrão histórico, caberia à autoridade reguladora intervir, mas sem se comprometer com um determinado preço.
Exemplo: "O índice Shiller-Case [de preço de moradias nos EUA] dobrou de 2000 a 2006. E, ainda assim, o governo continuou a oferecer financiamento imobiliário a taxas mais e mais vantajosas. É o oposto do que deveria ser feito."
Ele admite que seria superficial atribuir toda a culpa à economia. "Houve pressão política, dos democratas e dos republicanos, para a concessão de financiamento imobiliário, para que todo mundo possuísse uma casa. Isso é bem documentado. Instituições como a Fannie Mae foram informadas de que deveriam expandir os financiamentos. Isso é política."
"A solução que propomos para esse tipo de problema é que sejam tomadas medidas que contenham a magnitude das oscilações, mas sem assumir nenhuma posição sobre onde os preços devem estar amanhã", diz Frydman.
Que medidas? "Pode haver intervenção direta e indireta. O Fed tem discutido se a política monetária deve ser usada para limitar as oscilações do mercado. Mas as taxas de juros não são uma medida adequada, pois afetam toda a economia. Uma coisa simples que pode ser feita é ressaltar os padrões históricos de vários tipos de ativos. Isso deixaria claro que o risco está aumentando para os investidores, quanto mais o mercado sobe."
Frydman sugere que as autoridades reguladoras divulguem regularmente o seu padrão histórico para os preços de ativos. O banco central, por exemplo, divulgaria o que considera o padrão para a cotação do real em relação ao dólar. Mas não se comprometeria a manter a moeda nesse padrão, apenas alertaria o mercado de que se reserva o direito de intervir sempre que a cotação estiver muito fora do padrão. "Quanto mais ela se distanciar, mas arriscado será para o mercado. O BC nunca perde credibilidade, pois ele nunca se compromete em manter uma certa taxa de câmbio." Essa intervenção poderia ser feita comprando ou vendendo dólares ou por meio de medidas administrativas que onerem (ou desonerem) as operações.
"Se acreditarmos que as flutuações são o normal no mercado, e não que os mercados estão sempre em equilíbrio, e se não acreditarmos que, quando o mercado sobe, a única coisa a fazer é rezar para que volte, então teremos a chance de limitar, não de eliminar, mas de limitar as crises."
Apesar dessa extensa acusação a um pensamento econômico que se julgava preciso, científico, Frydman não acredita que os economistas se tornarão menos arrogantes no futuro. "Num fenômeno tão complexo como essa crise, não é fácil atribuir as responsabilidades. Eu ainda não vi o movimento entre meus colegas de que tudo isso tenha de ser reexaminado. Há pessoas, como Phelps, que acham que essa responsabilidade é inequívoca. Mas é muito difícil para os economistas aceitar que a economia não pode afinal dizer o que vai acontecer. É duro. Os economistas tiraram fortes conclusões a partir disso. E economistas têm a tendência de ser muito seguros de si mesmos."
Fonte: Valor
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
anyone lived in a pretty how town, E. E. Cummings
anyone lived in a pretty how town
(with up so floating many bells down)
spring summer autumn winter
he sang his didn't he danced his did
Women and men(both little and small)
cared for anyone not at all
they sowed their isn't they reaped their same
sun moon stars rain
children guessed(but only a few
and down they forgot as up they grew
autumn winter spring summer)
that noone loved him more by more
when by now and tree by leaf
she laughed his joy she cried his grief
bird by snow and stir by still
anyone's any was all to her
someones married their everyones
laughed their cryings and did their dance
(sleep wake hope and then)they
said their nevers they slept their dream
stars rain sun moon
(and only the snow can begin to explain
how children are apt to forget to remember
with up so floating many bells down)
one day anyone died i guess
(and noone stooped to kiss his face)
busy folk buried them side by side
little by little and was by was
all by all and deep by deep
and more by more they dream their sleep
noone and anyone earth by april
wish by spirit and if by yes.
Women and men(both dong and ding)
summer autumn winter spring
reaped their sowing and went their came
sun moon stars rain
(with up so floating many bells down)
spring summer autumn winter
he sang his didn't he danced his did
Women and men(both little and small)
cared for anyone not at all
they sowed their isn't they reaped their same
sun moon stars rain
children guessed(but only a few
and down they forgot as up they grew
autumn winter spring summer)
that noone loved him more by more
when by now and tree by leaf
she laughed his joy she cried his grief
bird by snow and stir by still
anyone's any was all to her
someones married their everyones
laughed their cryings and did their dance
(sleep wake hope and then)they
said their nevers they slept their dream
stars rain sun moon
(and only the snow can begin to explain
how children are apt to forget to remember
with up so floating many bells down)
one day anyone died i guess
(and noone stooped to kiss his face)
busy folk buried them side by side
little by little and was by was
all by all and deep by deep
and more by more they dream their sleep
noone and anyone earth by april
wish by spirit and if by yes.
Women and men(both dong and ding)
summer autumn winter spring
reaped their sowing and went their came
sun moon stars rain
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Economia de mercado ainda é o melhor modelo...
Com a crise econômica esta, novamente, aberta a temporada de caça aos economistas, principalmente aqueles que, apesar de tudo, ainda acreditam nos beneficios do livre mercado. Jornalistas trabalham contra o tempo e por isto mesmo deles não se pode esperar grandes análises sobre nenhum tema. Este é um fato a ser levado sempre em consideração, mas ultimamente eles estão passando do limite do aceitável. Um pouco de horas b. na biblioteca é o suficiente para recordar que a alternativa ao sistema de mercado apresenta um histórico de miseria econômica e existencial, para não mencionar a ausência total de qualquer resquicio de liberdade. Ate prova em contrário, liberdade individual ainda está associada a economia de mercado. É preciso, no entanto, reconhecer que há varias modelos de economia de mercado e o que está em crise é o adotado pelo mundo anglo-americano. Os demais modelos, social democrata, democracia social de mercado, etc, pagam o preço de se viver em um mundo em que os mercados estão interligados: a crise de um modelo, acaba respingando, as vezes fortemente, nos outros, mas isto não nos permite afirmar que todos os modelos de economia de mercado estão em crise, muito pelo contrário.
Não há nada de errado em se pensar em alternativas ao atual modelo, mas desde que o resultado não seja pior que o oferecido pelo atual modelo: a economia de mercado ainda é o melhor sistema para produzir riqueza, mas pessimo para distribui-lo. Este deveria ser o ponto de partida pra qualquer alternativa... O resto é conversa de boteco, agradável para quem mora em higienopolis-perdizes e pode dar-se ao luxo de esperar o dia da revolução tomando champanhe e apreciando o que há de melhor na culinaria paulistana; já para o resto, a maioria da população o papo é outro...
Não há nada de errado em se pensar em alternativas ao atual modelo, mas desde que o resultado não seja pior que o oferecido pelo atual modelo: a economia de mercado ainda é o melhor sistema para produzir riqueza, mas pessimo para distribui-lo. Este deveria ser o ponto de partida pra qualquer alternativa... O resto é conversa de boteco, agradável para quem mora em higienopolis-perdizes e pode dar-se ao luxo de esperar o dia da revolução tomando champanhe e apreciando o que há de melhor na culinaria paulistana; já para o resto, a maioria da população o papo é outro...
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
Dire l’histoire à l’échelle du monde
Tema interessante e importante.
L’Histoire mondiale existe-t-elle ? Peut-on produire le même récit pour tous, un récit « taille unique », des événements internationaux ? Une identité narrative est-elle concevable à l’échelle de la planète ? Depuis que l’humanité est en marche, au sens figuré et littéral, les différentes sociétés du globe terrestre ont été en contact ; de là découle une forme d’histoire du fait culturel, social ou économique, mondial. L’historien Robbie Robertson propose une analyse du développement d’une « conscience globale1 » qui remonterait aux premières civilisations connues. Implicitement, Robertson passe du constat d’une réalité globale à la perception collective de celle-ci : l’un n’engendre cependant pas toujours l’autre. Par ailleurs, les deux constituent les premières étapes, nécessaires mais non suffisantes, vers la construction d’un récit mondial. Pour David Harvey, l’existence ou non de la conscience commune d’un phénomène international – planétaire ou plus limité – dépend d’une certaine « compression du temps et de l’espace » (time-space compression2). La mobilité des individus, de l’information et des idées peut, à un moment donné, en fonction du développement technique des transports et de la communication, permettre de dissocier la vérité de l’expérience du lieu où celle-ci s’est produite. Chaque individu ou chaque groupe a alors le sentiment d’assister au même événement quel que soit l’endroit où il se trouve. Selon Harvey, la première manifestation d’une telle conscience collective aura été, à l’échelle de l’Europe, la crise économique des années 1840 et les révolutions qu’elle a engendrées. Zaki Laïdi a analysé l’émergence, dans les années 1980, d’un « temps mondial » caractérisé par la perception commune et simultanée, à l’échelle planétaire, des changements internationaux3. Or, comme le souligne Zaki Laïdi, l’impression collective d’être témoin du même événement n’est pas nécessairement productrice de sens. L’interprétation de l’événement est le plus souvent plurielle, et engendre parfois des discours contradictoires. Le choc du 11 septembre 2001 en est une illustration. L’Amérique de George W. Bush y a vu le point de départ de la « guerre contre la terreur » (War on Terror), un conflit mondial sur le mode bipolaire de l’« avec ou contre nous ». Cette vision a survécu à l’impopularité croissante, aux États-Unis, de la guerre en Iraq4. À quelques exceptions près, notamment la Grande-Bretagne, les pays européens n’ont pas adopté la rhétorique de la « guerre contre la terreur », voyant dans le 11 septembre 2001 une aggravation majeure du terrorisme islamiste, mais non l’événement fondateur d’un nouvel ordre mondial structuré par l’affrontement planétaire entre deux camps.
George W. Bush, dans son discours du 21 septembre 2001, reprend, tel un pastiche, nombre d’images et d’idées des grandes déclarations de guerre de ses prédécesseurs ; Woodrow Wilson et la grande guerre, Franklin Roosevelt et la seconde guerre mondiale, Harry Truman et la guerre froide. Si l’objectif de ces multiples références est évident – construire le récit d’une guerre universelle –, son efficacité l’est moins. Dans l’histoire des entreprises narratives de l’Amérique sur la scène internationale, c’est probablement celle de la « seconde guerre mondiale » qui a rencontré la plus grande adhésion. Toutes les nations ont été les témoins directs ou indirects du conflit de 1939-1945. La plupart d’entre elles ont intégré l’idée que celui-ci a constitué une guerre « mondiale », quand bien même il ne les concernait pas vraiment – soit parce qu’elles n’y étaient physiquement pas impliquées, comme en Amérique du Sud, soit parce que ce conflit était complètement hors de leur volonté et de leur contrôle, comme pour de nombreux pays colonisés d’Asie et d’Afrique. Alors que ces témoins ont adopté l’expression de « seconde guerre mondiale », certains protagonistes au cœur de l’événement ne l’ont pas retenue. L’Union soviétique et la République populaire de Chine l’ont respectivement appelé « grande guerre patriotique » (velikaya otechestvenaya vojna) et « guerre de résistance contre le Japon » (kang ri zhan zheng), évoquant des récits singuliers, ayant chacun leur temps et leur espace propres. Ce contre-pied narratif de la part de deux acteurs importants du conflit de 1939-1945 est une première indication de la difficulté à passer de la perception collective d’un événement à sa représentation commune. Plus généralement, l’histoire de la labellisation de la « seconde guerre mondiale », et de ses conséquences, illustre de façon significative la complexité des enjeux de la construction d’un récit qui se veut à la fois universel et global, complexité dont on trouve la traduction tangible dans l’organisation du système international.
La guerre, véhicule incertain d’un récit mondial
La notion de « guerre mondiale » remonte au conflit de 1914-1918 mais ne s’est pas imposée dans le répertoire géopolitique international avant la fin des années 1930. Comme le note l’historien David Reynolds5, c’est au bout du compte par l’établissement du terme de « seconde guerre mondiale » que s’est installé celui de « première guerre mondiale ». Durant les années 1914-1918, les Français et les Britanniques ne qualifièrent pas leur combat de « mondial », et l’événement est entré dans leurs historiographies sous les noms de « grande guerre » et great war. Les États-Unis de Woodrow Wilson et l’Allemagne de Guillaume II furent les premiers à se référer à une guerre à l’échelle du monde, respectivement world war et Weltkrieg. Pour les Allemands, Weltkrieg renvoyait à une idée centrale de la pensée géopolitique de la fin du XIXe siècle : celle de « puissance mondiale » ou Weltmacht, c’est-à-dire une conception impériale, et nécessairement territorialisée, de la puissance. Par contraste, la définition de Woodrow Wilson de la guerre « mondiale » était révolutionnaire. Dans son discours du 2 avril 1917, le président américain affirma que, contrairement aux Européens, les États-Unis n’avaient pas d’ambition territoriale, ni matérielle. Leur seul objectif était la viabilité de la démocratie dans le monde (to make the world safe for democracy). L’objet de la guerre était déterritorialisé ; et parce qu’elle concernait un universalisme idéel, elle était intrinsèquement mondiale.
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L’Histoire mondiale existe-t-elle ? Peut-on produire le même récit pour tous, un récit « taille unique », des événements internationaux ? Une identité narrative est-elle concevable à l’échelle de la planète ? Depuis que l’humanité est en marche, au sens figuré et littéral, les différentes sociétés du globe terrestre ont été en contact ; de là découle une forme d’histoire du fait culturel, social ou économique, mondial. L’historien Robbie Robertson propose une analyse du développement d’une « conscience globale1 » qui remonterait aux premières civilisations connues. Implicitement, Robertson passe du constat d’une réalité globale à la perception collective de celle-ci : l’un n’engendre cependant pas toujours l’autre. Par ailleurs, les deux constituent les premières étapes, nécessaires mais non suffisantes, vers la construction d’un récit mondial. Pour David Harvey, l’existence ou non de la conscience commune d’un phénomène international – planétaire ou plus limité – dépend d’une certaine « compression du temps et de l’espace » (time-space compression2). La mobilité des individus, de l’information et des idées peut, à un moment donné, en fonction du développement technique des transports et de la communication, permettre de dissocier la vérité de l’expérience du lieu où celle-ci s’est produite. Chaque individu ou chaque groupe a alors le sentiment d’assister au même événement quel que soit l’endroit où il se trouve. Selon Harvey, la première manifestation d’une telle conscience collective aura été, à l’échelle de l’Europe, la crise économique des années 1840 et les révolutions qu’elle a engendrées. Zaki Laïdi a analysé l’émergence, dans les années 1980, d’un « temps mondial » caractérisé par la perception commune et simultanée, à l’échelle planétaire, des changements internationaux3. Or, comme le souligne Zaki Laïdi, l’impression collective d’être témoin du même événement n’est pas nécessairement productrice de sens. L’interprétation de l’événement est le plus souvent plurielle, et engendre parfois des discours contradictoires. Le choc du 11 septembre 2001 en est une illustration. L’Amérique de George W. Bush y a vu le point de départ de la « guerre contre la terreur » (War on Terror), un conflit mondial sur le mode bipolaire de l’« avec ou contre nous ». Cette vision a survécu à l’impopularité croissante, aux États-Unis, de la guerre en Iraq4. À quelques exceptions près, notamment la Grande-Bretagne, les pays européens n’ont pas adopté la rhétorique de la « guerre contre la terreur », voyant dans le 11 septembre 2001 une aggravation majeure du terrorisme islamiste, mais non l’événement fondateur d’un nouvel ordre mondial structuré par l’affrontement planétaire entre deux camps.
George W. Bush, dans son discours du 21 septembre 2001, reprend, tel un pastiche, nombre d’images et d’idées des grandes déclarations de guerre de ses prédécesseurs ; Woodrow Wilson et la grande guerre, Franklin Roosevelt et la seconde guerre mondiale, Harry Truman et la guerre froide. Si l’objectif de ces multiples références est évident – construire le récit d’une guerre universelle –, son efficacité l’est moins. Dans l’histoire des entreprises narratives de l’Amérique sur la scène internationale, c’est probablement celle de la « seconde guerre mondiale » qui a rencontré la plus grande adhésion. Toutes les nations ont été les témoins directs ou indirects du conflit de 1939-1945. La plupart d’entre elles ont intégré l’idée que celui-ci a constitué une guerre « mondiale », quand bien même il ne les concernait pas vraiment – soit parce qu’elles n’y étaient physiquement pas impliquées, comme en Amérique du Sud, soit parce que ce conflit était complètement hors de leur volonté et de leur contrôle, comme pour de nombreux pays colonisés d’Asie et d’Afrique. Alors que ces témoins ont adopté l’expression de « seconde guerre mondiale », certains protagonistes au cœur de l’événement ne l’ont pas retenue. L’Union soviétique et la République populaire de Chine l’ont respectivement appelé « grande guerre patriotique » (velikaya otechestvenaya vojna) et « guerre de résistance contre le Japon » (kang ri zhan zheng), évoquant des récits singuliers, ayant chacun leur temps et leur espace propres. Ce contre-pied narratif de la part de deux acteurs importants du conflit de 1939-1945 est une première indication de la difficulté à passer de la perception collective d’un événement à sa représentation commune. Plus généralement, l’histoire de la labellisation de la « seconde guerre mondiale », et de ses conséquences, illustre de façon significative la complexité des enjeux de la construction d’un récit qui se veut à la fois universel et global, complexité dont on trouve la traduction tangible dans l’organisation du système international.
La guerre, véhicule incertain d’un récit mondial
La notion de « guerre mondiale » remonte au conflit de 1914-1918 mais ne s’est pas imposée dans le répertoire géopolitique international avant la fin des années 1930. Comme le note l’historien David Reynolds5, c’est au bout du compte par l’établissement du terme de « seconde guerre mondiale » que s’est installé celui de « première guerre mondiale ». Durant les années 1914-1918, les Français et les Britanniques ne qualifièrent pas leur combat de « mondial », et l’événement est entré dans leurs historiographies sous les noms de « grande guerre » et great war. Les États-Unis de Woodrow Wilson et l’Allemagne de Guillaume II furent les premiers à se référer à une guerre à l’échelle du monde, respectivement world war et Weltkrieg. Pour les Allemands, Weltkrieg renvoyait à une idée centrale de la pensée géopolitique de la fin du XIXe siècle : celle de « puissance mondiale » ou Weltmacht, c’est-à-dire une conception impériale, et nécessairement territorialisée, de la puissance. Par contraste, la définition de Woodrow Wilson de la guerre « mondiale » était révolutionnaire. Dans son discours du 2 avril 1917, le président américain affirma que, contrairement aux Européens, les États-Unis n’avaient pas d’ambition territoriale, ni matérielle. Leur seul objectif était la viabilité de la démocratie dans le monde (to make the world safe for democracy). L’objet de la guerre était déterritorialisé ; et parce qu’elle concernait un universalisme idéel, elle était intrinsèquement mondiale.
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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Lições japonesas para um mundo de deflação no balancete
Ainda não li nenhum paper do Richard Koo, para ser honesto sequer o conhecia antes da menção ao seu nome em outro artigo do Wolf. Curiosamente, a leitura que ele faz da crise e o conceito de deflação do balancete, não é muito diferente da análise que apresentamos em outros posts: é o que defini como sendo um desequilibrio entre ativos e passívos, com o valor do primeiro despencando rapidamente e o do segundo mantendo-se praticamente constante. Neste cenário, como observa o Wolf so nos resta a política fiscal( aumento dos gastos públicos) e mesmo ela não é garantia de sucesso pois o período de tempo em que tem que ser mantida é muito longo em relação ao tempo na política. Este é o grande risco e foi o grande problema na política fiscal dos anos 30.
O que a "década perdida" do Japão nos ensinou? Mesmo há um ano, esta parecia uma pergunta absurda. O consenso geral da opinião informada era de que os Estados Unidos, o Reino Unido e outras economias ocidentais altamente endividadas não poderiam sofrer tanto quanto o Japão sofreu. Agora a pergunta está mudando para se estes países conseguirão se sair tão bem quanto o Japão. Bem-vindo ao mundo da deflação no balancete.
Como notei antes, a melhor análise sobre o que aconteceu no Japão é de Richard Koo, do Instituto Nomura de Pesquisa. O ponto principal que ele levanta, apesar de simples, é ignorado pela economia convencional: os balancetes importam. Ameaçado de falência, o superendividado lutará para pagar suas dívidas. Um colapso nos preços dos ativos comprados por meio de dívida terá um impacto bem mais devastador do que o mesmo colapso acompanhado por pouca dívida.
Grande parte do declínio nos gastos privados e tomadas de empréstimo japoneses nos anos 90 ocorreu, segundo Koo, não por causa do estado dos bancos, mas sim pelo de seus tomadores de empréstimo. Aquela foi uma situação na qual, nas palavras de John Maynard Keynes, as baixas taxas de juros - e as do Japão foram, por anos, as mais baixas possíveis - estavam "pushing on a string" (conseguindo mover algo em apenas uma direção). Os devedores continuaram pagando seus empréstimos.
Logo, o quanto este ponto de vista nos informa sobre o apuro em que estamos agora? Muito, é a resposta.
Primeiro, as comparações entre hoje e as profundas recessões do início dos anos 80 são completamente equivocadas. Em 1981, a dívida privada americana era de 123% do produto interno bruto; no terceiro trimestre de 2008 ela era de 290%. Em 1981, a dívida dos lares era de 48% do PIB; em 2007, era de 100%. Em 1980, a taxa de intervenção do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) alcançou entre 19% e 20%. Hoje, é quase zero.
Quando as taxas de juros caíram no início dos anos 80, a tomada de empréstimos saltou. As chances de provocar um aumento nos empréstimos agora são próximas de zero. Uma recessão causada pela determinação do banco central de conter a inflação é bem diferente daquela causada pelo endividamento excessivo e pelo colapso do valor líquido. No primeiro caso, o banco central causa a recessão. No segundo, ele está se esforçando para evitá-la.
Segundo, aqueles que argumentam que a expansão fiscal do governo japonês fracassou estão, de novo, enganados. Quando o setor privado tenta pagar sua dívida ao longo de muitos anos, um país tem três opções: deixar o governo tomar o empréstimo; expandir a exportação líquida; ou deixar a economia sofrer o colapso em um mergulho em parafuso de falência em massa.
Apesar de uma perda de riqueza equivalente a três vezes o PIB e uma mudança de 20% do PIB no balanço financeiro do setor corporativo, de déficits para superávits, o Japão não sofreu uma depressão. Isso foi um triunfo. A explicação foi os grandes déficits fiscais. Quando, em 1997, o governo Hashimoto tentou reduzir os déficits fiscais, a economia sofreu um colapso e os déficits fiscais na verdade cresceram.
Terceiro, reconhecer as perdas e recapitalizar o sistema financeiro são elementos vitais, mesmo se, como argumenta Koo, a não disposição de tomar empréstimo for ainda mais importante. Os japoneses conviveram com bancos zumbis por quase uma década. A explicação foi um impasse político: a hostilidade pública em relação aos banqueiros tornou impossível a injeção de dinheiro do governo em grande escala, e o poder dos banqueiros impossibilitava a nacionalização das instituições insolventes. Por anos, as pessoas fingiram que o problema era a queda do preços dos ativos. No final, a implosão financeira forçou a mão do governo japonês. O mesmo vale para o último trimestre do ano passado americano, mas a oportunidade de uma reestruturação plena e recapitalização do sistema foi perdida.
Nos Estados Unidos, o estado do setor financeiro pode ser bem mais importante do que foi no Japão. Os grandes acúmulos de dívida americanos não foram pelas corporações não-financeiras, mas pelos lares e pelo setor financeiro. A dívida bruta do setor financeiro saltou de 22% do PIB, em 1981, para 117% no terceiro trimestre de 2008, enquanto a dívida das corporações não-financeiras saltou apenas de 53% para 76% do PIB. Logo, o desejo das instituições financeiras de encolher os balancetes poderá ser uma causa ainda maior de recessão nos Estados Unidos.
Mas quanto a experiência geral do Japão é relevante para o que está acontecendo hoje?
A boa notícia é que as bolhas de preços de ativos em si foram bem menores nos Estados Unidos do que no Japão. Além disso, o banco central americano foi bem mais rápido em reconhecer a realidade, cortando rapidamente as taxas de juros até próximo de zero e buscando uma política monetária "não convencional".
A má notícia é que o debate em torno da política fiscal nos Estados Unidos parece bem mais neanderthal do que no Japão: não pode ser destacado mais fortemente que em uma deflação no balancete, com taxa de juro oficial zero, a política fiscal é tudo o que temos. O grande risco é que será feita uma tentativa de reduzir o déficit fiscal prematuramente, com resultados terríveis. De novo, as propostas do governo americano para uma parceria público/privada, para compra dos ativos tóxicos, parecem insuficientes. Mesmo que consiga funcionar operacionalmente, os preços provavelmente serão baixos demais para encorajar os bancos a vender ou para representar um grande subsídio do contribuinte aos compradores, vendedores ou ambos. Bem mais importante, é improvável que aumentos modestos de preços para uma série de ativos ruins serão capazes de recapitalizar as instituições em dificuldades. No final, a realidade vira à tona. Mas poderá ocorrer após um longo tempo.
Mas o que está acontecendo dentro dos Estados Unidos está longe de ser a pior notícia. Esta é uma crise de alcance global. O Japão pôde depender das exportações para uma economia mundial animada. Esta crise é global: as bolhas e booms de gastos associados se espalharam por grande parte do mundo ocidental, assim como a mania financeira e as compras de ativos ruins. As economias diretamente afetadas respondem por quase metade da economia mundial. As economias afetadas indiretamente, por meio da queda da demanda externa e do colapso financeiro, representam o restante. Os Estados Unidos, está claro, continuam sendo o centro da economia mundial.
Como resultado, nós estamos diante de uma deflação no balancete que, apesar de bem menor do que no Japão nos anos 90, tem um alcance muito maior. Por este motivo, é irreal imaginar um retorno rápido e forte do crescimento global. De onde virá a demanda? Dos consumidores ocidentais excessivamente endividados? Dificilmente. Dos consumidores dos países emergentes? Improvável. Da expansão fiscal? Apenas até certo ponto. Mas isso ainda parece muito fraco e desequilibrado, com muito vindo dos Estados Unidos. A China está ajudando, mas a zona do euro e o Japão parecem paralisados, enquanto a maioria das economias emergentes agora não pode correr o risco de uma ação agressiva.
O ano passado marcou o fim de uma era esperançosa. Hoje, é impossível descartar uma década perdida para a economia mundial. Isto tem que ser impedido. A posteridade não perdoará os líderes que fracassarem diante deste grande desafio
Martin Wolf
O que a "década perdida" do Japão nos ensinou? Mesmo há um ano, esta parecia uma pergunta absurda. O consenso geral da opinião informada era de que os Estados Unidos, o Reino Unido e outras economias ocidentais altamente endividadas não poderiam sofrer tanto quanto o Japão sofreu. Agora a pergunta está mudando para se estes países conseguirão se sair tão bem quanto o Japão. Bem-vindo ao mundo da deflação no balancete.
Como notei antes, a melhor análise sobre o que aconteceu no Japão é de Richard Koo, do Instituto Nomura de Pesquisa. O ponto principal que ele levanta, apesar de simples, é ignorado pela economia convencional: os balancetes importam. Ameaçado de falência, o superendividado lutará para pagar suas dívidas. Um colapso nos preços dos ativos comprados por meio de dívida terá um impacto bem mais devastador do que o mesmo colapso acompanhado por pouca dívida.
Grande parte do declínio nos gastos privados e tomadas de empréstimo japoneses nos anos 90 ocorreu, segundo Koo, não por causa do estado dos bancos, mas sim pelo de seus tomadores de empréstimo. Aquela foi uma situação na qual, nas palavras de John Maynard Keynes, as baixas taxas de juros - e as do Japão foram, por anos, as mais baixas possíveis - estavam "pushing on a string" (conseguindo mover algo em apenas uma direção). Os devedores continuaram pagando seus empréstimos.
Logo, o quanto este ponto de vista nos informa sobre o apuro em que estamos agora? Muito, é a resposta.
Primeiro, as comparações entre hoje e as profundas recessões do início dos anos 80 são completamente equivocadas. Em 1981, a dívida privada americana era de 123% do produto interno bruto; no terceiro trimestre de 2008 ela era de 290%. Em 1981, a dívida dos lares era de 48% do PIB; em 2007, era de 100%. Em 1980, a taxa de intervenção do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) alcançou entre 19% e 20%. Hoje, é quase zero.
Quando as taxas de juros caíram no início dos anos 80, a tomada de empréstimos saltou. As chances de provocar um aumento nos empréstimos agora são próximas de zero. Uma recessão causada pela determinação do banco central de conter a inflação é bem diferente daquela causada pelo endividamento excessivo e pelo colapso do valor líquido. No primeiro caso, o banco central causa a recessão. No segundo, ele está se esforçando para evitá-la.
Segundo, aqueles que argumentam que a expansão fiscal do governo japonês fracassou estão, de novo, enganados. Quando o setor privado tenta pagar sua dívida ao longo de muitos anos, um país tem três opções: deixar o governo tomar o empréstimo; expandir a exportação líquida; ou deixar a economia sofrer o colapso em um mergulho em parafuso de falência em massa.
Apesar de uma perda de riqueza equivalente a três vezes o PIB e uma mudança de 20% do PIB no balanço financeiro do setor corporativo, de déficits para superávits, o Japão não sofreu uma depressão. Isso foi um triunfo. A explicação foi os grandes déficits fiscais. Quando, em 1997, o governo Hashimoto tentou reduzir os déficits fiscais, a economia sofreu um colapso e os déficits fiscais na verdade cresceram.
Terceiro, reconhecer as perdas e recapitalizar o sistema financeiro são elementos vitais, mesmo se, como argumenta Koo, a não disposição de tomar empréstimo for ainda mais importante. Os japoneses conviveram com bancos zumbis por quase uma década. A explicação foi um impasse político: a hostilidade pública em relação aos banqueiros tornou impossível a injeção de dinheiro do governo em grande escala, e o poder dos banqueiros impossibilitava a nacionalização das instituições insolventes. Por anos, as pessoas fingiram que o problema era a queda do preços dos ativos. No final, a implosão financeira forçou a mão do governo japonês. O mesmo vale para o último trimestre do ano passado americano, mas a oportunidade de uma reestruturação plena e recapitalização do sistema foi perdida.
Nos Estados Unidos, o estado do setor financeiro pode ser bem mais importante do que foi no Japão. Os grandes acúmulos de dívida americanos não foram pelas corporações não-financeiras, mas pelos lares e pelo setor financeiro. A dívida bruta do setor financeiro saltou de 22% do PIB, em 1981, para 117% no terceiro trimestre de 2008, enquanto a dívida das corporações não-financeiras saltou apenas de 53% para 76% do PIB. Logo, o desejo das instituições financeiras de encolher os balancetes poderá ser uma causa ainda maior de recessão nos Estados Unidos.
Mas quanto a experiência geral do Japão é relevante para o que está acontecendo hoje?
A boa notícia é que as bolhas de preços de ativos em si foram bem menores nos Estados Unidos do que no Japão. Além disso, o banco central americano foi bem mais rápido em reconhecer a realidade, cortando rapidamente as taxas de juros até próximo de zero e buscando uma política monetária "não convencional".
A má notícia é que o debate em torno da política fiscal nos Estados Unidos parece bem mais neanderthal do que no Japão: não pode ser destacado mais fortemente que em uma deflação no balancete, com taxa de juro oficial zero, a política fiscal é tudo o que temos. O grande risco é que será feita uma tentativa de reduzir o déficit fiscal prematuramente, com resultados terríveis. De novo, as propostas do governo americano para uma parceria público/privada, para compra dos ativos tóxicos, parecem insuficientes. Mesmo que consiga funcionar operacionalmente, os preços provavelmente serão baixos demais para encorajar os bancos a vender ou para representar um grande subsídio do contribuinte aos compradores, vendedores ou ambos. Bem mais importante, é improvável que aumentos modestos de preços para uma série de ativos ruins serão capazes de recapitalizar as instituições em dificuldades. No final, a realidade vira à tona. Mas poderá ocorrer após um longo tempo.
Mas o que está acontecendo dentro dos Estados Unidos está longe de ser a pior notícia. Esta é uma crise de alcance global. O Japão pôde depender das exportações para uma economia mundial animada. Esta crise é global: as bolhas e booms de gastos associados se espalharam por grande parte do mundo ocidental, assim como a mania financeira e as compras de ativos ruins. As economias diretamente afetadas respondem por quase metade da economia mundial. As economias afetadas indiretamente, por meio da queda da demanda externa e do colapso financeiro, representam o restante. Os Estados Unidos, está claro, continuam sendo o centro da economia mundial.
Como resultado, nós estamos diante de uma deflação no balancete que, apesar de bem menor do que no Japão nos anos 90, tem um alcance muito maior. Por este motivo, é irreal imaginar um retorno rápido e forte do crescimento global. De onde virá a demanda? Dos consumidores ocidentais excessivamente endividados? Dificilmente. Dos consumidores dos países emergentes? Improvável. Da expansão fiscal? Apenas até certo ponto. Mas isso ainda parece muito fraco e desequilibrado, com muito vindo dos Estados Unidos. A China está ajudando, mas a zona do euro e o Japão parecem paralisados, enquanto a maioria das economias emergentes agora não pode correr o risco de uma ação agressiva.
O ano passado marcou o fim de uma era esperançosa. Hoje, é impossível descartar uma década perdida para a economia mundial. Isto tem que ser impedido. A posteridade não perdoará os líderes que fracassarem diante deste grande desafio
Martin Wolf
domingo, 22 de fevereiro de 2009
sábado, 21 de fevereiro de 2009
The Worst Economic and Financial Crisis Since the Great Depression Reveals the Weaknesses of the Laissez Faire Anglo-Saxon Model of Capitalism
Excelente, como sempre, Roubini apresenta uma análise que esta longe de ser exagerada. É interessante notar que as economias com pior performance são aquelas que dependem fortemente das exportações. Alias, as demissões na Embraer, é uma boa indicação do que se pode esperar de empresas brasileiras que produzem, basicamente, para o mercado externo. Para algumas é possível redirecionar o que antes era exportado para o mercado interno, o que naturalmente depende de como vai estar a economia brasileira nos próximos meses.Já para aquelas que não podem contar com esta opção, o futuro não é nada roseo....
It is now clear that this is the worst financial crisis since the Great Depression and the worst economic crisis in the last 60 years. While we are already in a severe and protracted U-shaped recession (as the deluded hope of a short and shallow V-shaped contraction has now evaporated) there is now a rising risk that this crisis will turn into an uglier multi-year L-shaped Japanese style stag-deflation (a deadly combination of stagnation, recession and deflation). The latest data on Q4 2008 GDP growth (at an annual rate) around the world are even worse than the first estimate for the US (-3.8%): -6.0% for the Eurozone; -8% for Germany; -12% for Japan; -16% for Singapore; -20% for Korea. The global economy is now literally in free fall as the contraction of consumption, capital spending, residential investment, production, employment, exports and imports is accelerating rather than decelerating.
To avoid this L-shaped near-depression a strong, aggressive, coherent and credible combination of monetary easing (traditional and unorthodox), fiscal stimulus, proper clean-up of the financial system and reduction of the debt burden of insolvent private agents (households and non-financial companies) is necessary in the US and other economies.
Unfortunately, the Eurozone is well behind the US in its policy efforts as: a) the ECB is behind the curve in cutting policy rates and creating non-traditional facilities to deal with the liquidity and credit crunch; b) the fiscal stimulus is too modest as those who can afford it (Germany) are lukewarm about it and those who need it the most (Spain, Portugal, Greece, Italy) can least afford it as they already have large budget deficits; c) there is lack of cross-border burden sharing of the fiscal costs of bailing out financial institutions.
The U.S. has done more (with its aggressive monetary easing and large fiscal stimulus putting it ahead) but two key elements are key to avoid a near-depression and still seriously missing: a proper clean-up of the banking system that may require a proper triage between solvent and insolvent banks and the nationalization of many banks, even some of the largest ones; and a more aggressive and across-the-board reduction unsustainable debt burden of millions of insolvent households (i.e. principal reduction of the face value of the mortgages, not just mortgage payments relief).
Moreover, in many countries the banks may be too-big-to-fail but also too- big-to-save, as the fiscal/financial resources of the sovereign may not be large enough to rescue such large insolvencies in the financial system.
Traditionally only emerging markets suffered – and still suffer - from such a problem. But now such sovereign risk – as measured by the sovereign spread - is also rising in many European economies whose banks may be larger than the ability of the sovereign to rescue them: Iceland, Greece, Spain, Italy, Belgium, Switzerland and, some suggest, even the UK.
The process of socializing the private losses from this crisis has already moved many of the liabilities of the private sector onto the books of the sovereign: banks, other financial institutions and, soon enough possibly, households and some important non-financial corporate companies.
At some point a sovereign [bank] may crack, in which case the ability of governments to credibly commit to act as a backstop for the financial system – including deposit guarantees – could come unglued.Thus, the L-shaped near-depression scenario is still quite possible – I assign to it a 30% probability - unless appropriate and aggressive policy action is undertaken by the US and other economies.This severe economic and financial crisis is now also leading to a severe backlash against financial globalization, free trade and the free markets economic model.But, to paraphrase Churchill, capitalist market economies open to trade and financial flows may be the worst economic regime, apart from the alternative, as non-market economy models have failed.However, while this crisis does not imply the end of market economy capitalism it has shown the failure of a particular model of capitalism: the laissez faire unregulated (or aggressively deregulated) wild-west model of free market capitalism with lack of prudential regulation and supervision of financial markets and with the lack of proper provision of public goods by governments.
It is the failures of ideas such as the “efficient market hypothesis” that deluded itself about the absence of market failures such as asset bubbles; the “rational expectations” paradigm that clashes with the insights of behavioral economics and finance; the “self-regulation of markets and institutions” that clashes with the classical agency problems in corporate governance that are themselves exacerbated in financial companies by the greater degree of asymmetric information -how can a chief executive or a board monitor the risk-taking of thousands of separate profit-and-loss accounts? Then there are the distortions of compensation paid to bankers and traders.
This crisis also shows the failure of ideas such as the one that securitization reduces systemic risk rather than actually increase it; that risk can properly priced when the opacity and lack of transparency of financial firms and new instruments leads to unpriceable uncertainty rather than priceable risk.
It is clear that the Anglo-Saxon model of supervision and regulation of the financial system has failed. It relied on self-regulation that, in effect, meant no regulation; on market discipline that does not exist when there is euphoria and irrational exuberance; on internal risk management models that fail because – as a former chief executive of Citi put it – when the music is playing you gotta stand up and dance.
Furthermore, the self-regulation approach created rating agencies that had massive conflicts of interest and a supervisory system dependent on principles rather than rules. This light-touch regulation in effect became regulation of the softest-touch.
Thus, all the pillars of Basel II have already failed even before being implemented. Since the pendulum had swung too much in the direction of self-regulation and the principles-based approach, we now need more binding rules on liquidity, capital, leverage, transparency, compensation and so on.
But the design of the new system should be robust enough to counter three types of problems with rules: A tendency toward ‘regulatory arbitrage’ should be borne in mind, as bankers can find creative ways to bypass rules faster than regulators can improve them. Then there is ‘jurisdictional arbitrage’ as financial activity may move to more lax jurisdictions. And finally, ‘regulatory capture’ as regulators and supervisors are often captured - via revolving doors and other mechanisms - by the financial industry. So the new rules will have to be incentive compatible, i.e. robust enough to overcome to these regulatory failures.
Correction: The text above said "At some point a sovereign bank may crack"; I meant "At some point a sovereign may crack". Apologies for the confusion due to my typo.
Fonte:Nouriel Roubini's Global EconoMonitor
It is now clear that this is the worst financial crisis since the Great Depression and the worst economic crisis in the last 60 years. While we are already in a severe and protracted U-shaped recession (as the deluded hope of a short and shallow V-shaped contraction has now evaporated) there is now a rising risk that this crisis will turn into an uglier multi-year L-shaped Japanese style stag-deflation (a deadly combination of stagnation, recession and deflation). The latest data on Q4 2008 GDP growth (at an annual rate) around the world are even worse than the first estimate for the US (-3.8%): -6.0% for the Eurozone; -8% for Germany; -12% for Japan; -16% for Singapore; -20% for Korea. The global economy is now literally in free fall as the contraction of consumption, capital spending, residential investment, production, employment, exports and imports is accelerating rather than decelerating.
To avoid this L-shaped near-depression a strong, aggressive, coherent and credible combination of monetary easing (traditional and unorthodox), fiscal stimulus, proper clean-up of the financial system and reduction of the debt burden of insolvent private agents (households and non-financial companies) is necessary in the US and other economies.
Unfortunately, the Eurozone is well behind the US in its policy efforts as: a) the ECB is behind the curve in cutting policy rates and creating non-traditional facilities to deal with the liquidity and credit crunch; b) the fiscal stimulus is too modest as those who can afford it (Germany) are lukewarm about it and those who need it the most (Spain, Portugal, Greece, Italy) can least afford it as they already have large budget deficits; c) there is lack of cross-border burden sharing of the fiscal costs of bailing out financial institutions.
The U.S. has done more (with its aggressive monetary easing and large fiscal stimulus putting it ahead) but two key elements are key to avoid a near-depression and still seriously missing: a proper clean-up of the banking system that may require a proper triage between solvent and insolvent banks and the nationalization of many banks, even some of the largest ones; and a more aggressive and across-the-board reduction unsustainable debt burden of millions of insolvent households (i.e. principal reduction of the face value of the mortgages, not just mortgage payments relief).
Moreover, in many countries the banks may be too-big-to-fail but also too- big-to-save, as the fiscal/financial resources of the sovereign may not be large enough to rescue such large insolvencies in the financial system.
Traditionally only emerging markets suffered – and still suffer - from such a problem. But now such sovereign risk – as measured by the sovereign spread - is also rising in many European economies whose banks may be larger than the ability of the sovereign to rescue them: Iceland, Greece, Spain, Italy, Belgium, Switzerland and, some suggest, even the UK.
The process of socializing the private losses from this crisis has already moved many of the liabilities of the private sector onto the books of the sovereign: banks, other financial institutions and, soon enough possibly, households and some important non-financial corporate companies.
At some point a sovereign [bank] may crack, in which case the ability of governments to credibly commit to act as a backstop for the financial system – including deposit guarantees – could come unglued.Thus, the L-shaped near-depression scenario is still quite possible – I assign to it a 30% probability - unless appropriate and aggressive policy action is undertaken by the US and other economies.This severe economic and financial crisis is now also leading to a severe backlash against financial globalization, free trade and the free markets economic model.But, to paraphrase Churchill, capitalist market economies open to trade and financial flows may be the worst economic regime, apart from the alternative, as non-market economy models have failed.However, while this crisis does not imply the end of market economy capitalism it has shown the failure of a particular model of capitalism: the laissez faire unregulated (or aggressively deregulated) wild-west model of free market capitalism with lack of prudential regulation and supervision of financial markets and with the lack of proper provision of public goods by governments.
It is the failures of ideas such as the “efficient market hypothesis” that deluded itself about the absence of market failures such as asset bubbles; the “rational expectations” paradigm that clashes with the insights of behavioral economics and finance; the “self-regulation of markets and institutions” that clashes with the classical agency problems in corporate governance that are themselves exacerbated in financial companies by the greater degree of asymmetric information -how can a chief executive or a board monitor the risk-taking of thousands of separate profit-and-loss accounts? Then there are the distortions of compensation paid to bankers and traders.
This crisis also shows the failure of ideas such as the one that securitization reduces systemic risk rather than actually increase it; that risk can properly priced when the opacity and lack of transparency of financial firms and new instruments leads to unpriceable uncertainty rather than priceable risk.
It is clear that the Anglo-Saxon model of supervision and regulation of the financial system has failed. It relied on self-regulation that, in effect, meant no regulation; on market discipline that does not exist when there is euphoria and irrational exuberance; on internal risk management models that fail because – as a former chief executive of Citi put it – when the music is playing you gotta stand up and dance.
Furthermore, the self-regulation approach created rating agencies that had massive conflicts of interest and a supervisory system dependent on principles rather than rules. This light-touch regulation in effect became regulation of the softest-touch.
Thus, all the pillars of Basel II have already failed even before being implemented. Since the pendulum had swung too much in the direction of self-regulation and the principles-based approach, we now need more binding rules on liquidity, capital, leverage, transparency, compensation and so on.
But the design of the new system should be robust enough to counter three types of problems with rules: A tendency toward ‘regulatory arbitrage’ should be borne in mind, as bankers can find creative ways to bypass rules faster than regulators can improve them. Then there is ‘jurisdictional arbitrage’ as financial activity may move to more lax jurisdictions. And finally, ‘regulatory capture’ as regulators and supervisors are often captured - via revolving doors and other mechanisms - by the financial industry. So the new rules will have to be incentive compatible, i.e. robust enough to overcome to these regulatory failures.
Correction: The text above said "At some point a sovereign bank may crack"; I meant "At some point a sovereign may crack". Apologies for the confusion due to my typo.
Fonte:Nouriel Roubini's Global EconoMonitor
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Deflation and Democracy
No grande bananão e principalmente no circuito higienopolis-perdizes a única ciencia social merecedora de crédito é de matriz marxista, em geral na sua forma vulgar, as outras abordagens são colocadas no index de publicações burguesas. O texto abaixo é um bom exemplo do que perdemos com a hegemonia desse pensamento único. Não estou sugerindo a exclusão do marxismo do curriculumu - nem mesmo a sua versão vulgar- apenas lembrando como o monopolio de um único pensamento é sempre empobrecedor.
The history of finance is partly the history of a struggle for a stable, secure way to measure value. And, like any quest for certainty in our unpredictable world, it was doomed to failure. The latest financial crisis powerfully highlights this vulnerability, as it destroys any sense that we can put an accurate price on assets. Most people are now convinced that this shortcoming is inherent in the financial system. But uncertainties about value also expose deep problems in the political order.
In the past, metallic money provided an inconvenient and unsatisfactory solution to the question of value. It was inconvenient because gold was awkward for everyday transactions, and silver had too little value for major transfers.
Moreover, metallic money was prone to unpredictable shifts in value with the discovery of new supplies. The arrival of silver from the New World in the sixteenth century triggered sustained inflation. The discovery of gold in California in the mid-nineteenth century, and in Alaska, South Africa, and Australia 50 years later, also produced mild inflation, while the absence of such new discoveries in the 1870’s and 1880’s led to mild deflation.
Para ler o resto do artigo clique aqui
The history of finance is partly the history of a struggle for a stable, secure way to measure value. And, like any quest for certainty in our unpredictable world, it was doomed to failure. The latest financial crisis powerfully highlights this vulnerability, as it destroys any sense that we can put an accurate price on assets. Most people are now convinced that this shortcoming is inherent in the financial system. But uncertainties about value also expose deep problems in the political order.
In the past, metallic money provided an inconvenient and unsatisfactory solution to the question of value. It was inconvenient because gold was awkward for everyday transactions, and silver had too little value for major transfers.
Moreover, metallic money was prone to unpredictable shifts in value with the discovery of new supplies. The arrival of silver from the New World in the sixteenth century triggered sustained inflation. The discovery of gold in California in the mid-nineteenth century, and in Alaska, South Africa, and Australia 50 years later, also produced mild inflation, while the absence of such new discoveries in the 1870’s and 1880’s led to mild deflation.
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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
i carry your heart with me , E. E. Cummings
i carry your heart with me(i carry it in
my heart)i am never without it(anywhere
i go you go,my dear; and whatever is done
by only me is your doing,my darling)
i fear
no fate(for you are my fate,my sweet)i want
no world(for beautiful you are my world,my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you
here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart
i carry your heart(i carry it in my heart)
my heart)i am never without it(anywhere
i go you go,my dear; and whatever is done
by only me is your doing,my darling)
i fear
no fate(for you are my fate,my sweet)i want
no world(for beautiful you are my world,my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you
here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart
i carry your heart(i carry it in my heart)
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
The Case for Fiscal Stimulus
Para quem tem dúvidas a respeito do estimulo fiscal.
Governments around the world are now developing massive fiscal stimulus packages that will cause unprecedented peacetime budget deficits. The fiscal deficit in the United States this year is likely to exceed 10% of GDP. A substantial part of the increased deficit will be due to a wide range of new government spending.
Under normal circumstances, I would oppose this rise in the budget deficit and the higher level of government spending. When an economy is closer to full employment, government borrowing to finance budget deficits can crowd out private investment that would raise productivity and the standard of living. Budget deficits automatically increase government debt, requiring higher future taxes to pay the interest on that debt. The resulting higher tax rates distort economic incentives and thus weaken future economic performance.
Of course, some government spending is desirable or necessary. But an increase in government outlays often means wasteful spending that produces less value than consumers would get from those same dollars.
Martin Feldstein
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Governments around the world are now developing massive fiscal stimulus packages that will cause unprecedented peacetime budget deficits. The fiscal deficit in the United States this year is likely to exceed 10% of GDP. A substantial part of the increased deficit will be due to a wide range of new government spending.
Under normal circumstances, I would oppose this rise in the budget deficit and the higher level of government spending. When an economy is closer to full employment, government borrowing to finance budget deficits can crowd out private investment that would raise productivity and the standard of living. Budget deficits automatically increase government debt, requiring higher future taxes to pay the interest on that debt. The resulting higher tax rates distort economic incentives and thus weaken future economic performance.
Of course, some government spending is desirable or necessary. But an increase in government outlays often means wasteful spending that produces less value than consumers would get from those same dollars.
Martin Feldstein
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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
A crise econômica a mídia e o desacoplamento
Os números ainda não são muito preocupantes, muito pelo contrário: diante dos números de outros países os brasileiros são muito bons. Apesar disto, a midia não para de falar em crise econômica. Quais seriam os motivos para este descasamento entre a realidade dos números e as manchetes do jornais? Desprezo e dificuldade em reconhecer que o barbudo não levou o país para o buraco, nem mesmo em uma situação complicada como a que estamos vivendo? Ainda há um tempo razoavel ate a eleição presidencial, mas aparentemente, ele já esta contaminando a cobertura jornalistica. É o que alguns amigos argumentam, mas prefiro ficar com uma explicação menos conspiratória: uma somatória de incompetência, como diria um velho mestre, com complexo de vira lata explicaria o comportamento da nossa mídia.
No comentário ao artigo do Bresser Pereira, mencionei minha discordância com a leitura que ele faz do papel magico da redução dos impostos sobre o consumo e esqueci de comentar a seguinte afirmação: "a tese do desacoplamento dos países em desenvolvimento foi pelos ares". A referência é, naturalmente, a tese do descolamento. Se incluir a palavra "total" então eu assinaria embaixo, porem sem esta qualificação me parece prematuro afirmar que ela "foi pelos ares". Esta ocorrendo sim um certo descolamento, como já comentamos em outro post, a passagem da posição de equilibrio atual para uma nova posição, no caso dos emergentes, será bem menos dolorosa que nos países de economia madura. É isto que os números, ate o momento, indicam.
No comentário ao artigo do Bresser Pereira, mencionei minha discordância com a leitura que ele faz do papel magico da redução dos impostos sobre o consumo e esqueci de comentar a seguinte afirmação: "a tese do desacoplamento dos países em desenvolvimento foi pelos ares". A referência é, naturalmente, a tese do descolamento. Se incluir a palavra "total" então eu assinaria embaixo, porem sem esta qualificação me parece prematuro afirmar que ela "foi pelos ares". Esta ocorrendo sim um certo descolamento, como já comentamos em outro post, a passagem da posição de equilibrio atual para uma nova posição, no caso dos emergentes, será bem menos dolorosa que nos países de economia madura. É isto que os números, ate o momento, indicam.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Por onde atacar a crise?
Bresser Pereira, aparentemente não tem grande objeções ao plano do Obama e parece acreditar no poder magico da redução dos impostos como estimulo ao consumo dos mais pobres. Em situações normais isto seria correto, mas não em um cenário em que as familias estão com passivo elevado. Neste caso a maior parcela do ganho obtido com a redução dos impostos será usada para pagar dívidas. É este aspecto que várias analistas parecem esquecer: o forte desequilibrio entre passivos e ativos das familias torna a redução de imposto pouco eficaz, sendo muito melhor focar nos gastos públicos.
A crise financeira de outubro de 2008 já se transformou em crise econômica global, todos os países desenvolvidos estão em recessão e a previsão é que seu PIB (Produto Interno Bruto) diminuirá 2% em 2009! A tese do desacoplamento dos países em desenvolvimento foi pelos ares, e em todos aumenta o desemprego. Dividem-se, porém, entre aqueles que rejeitaram a política de "crescimento com poupança externa", ou seja, de incorrer em déficits em conta corrente, não se endividaram; e aqueles que continuaram a acreditar nessa estratégia que seus concorrentes ricos lhes propõem. Os primeiros não estão agora ameaçados por crises de insolvência; já os segundos, entre os quais estão vários países da Europa central, enfrentam agora uma crise redobrada.
A crise financeira se transformou em crise econômica porque o pânico financeiro de outubro de 2008 atingiu os bancos e paralisou o financiamento às empresas, inclusive a mera rolagem das dívidas de empresas sadias; e também porque, diante do pânico bancário, os investidores e os consumidores de cada país suspenderam seus investimentos e seu consumo postergável, e os importadores fizeram o mesmo em relação às importações. Assim, a demanda agregada entrou em queda livre.
Para evitar o agravamento de um quadro gravíssimo, os governos estão procurando aumentar suas despesas, para, dessa forma, restabelecer a demanda agregada e a confiança. Os déficits fiscais deverão, em média, dobrar em 2009. A questão, agora, é saber quais despesas serão as mais eficientes para atingir os dois objetivos. Em relação aos bancos, o Estado, primeiro, elevou a liquidez; em seguida, forneceu recursos para aumento do capital; finalmente comprou ativos sem liquidez ("tóxicos"). Se essas medidas não foram suficientes e o banco continua ameaçado de quebra, o problema é de confiança, e a alternativa de criar um banco "lata de lixo" não resolverá o problema; solução mais econômica será, provavelmente, nacionalizá-los temporariamente. Com isso ninguém estará "implantando o socialismo", mas simplesmente salvando o capitalismo da distorção financeira de que foi vítima. No Brasil, felizmente, não há grandes bancos nessa situação.
Quanto ao estímulo aos consumidores e aos empresários para que voltem a consumir e investir, o governo pode realizar grandes obras de infraestrutura ou aumentar o poder de compra dos consumidores mais pobres por meio de redução de impostos e de mecanismos de transferência de renda. Os dois caminhos estão sendo seguidos (cerca de 50% para cada lado no pacote de Obama), mas a prioridade deve ser dada às transferências para consumo imediato. As obras de infraestrutura tomam tempo para serem planejadas e iniciadas, e, quando feitas às pressas, facilmente se revelam desnecessárias ou superdimensionadas. Já as transferências, como é no Brasil a Bolsa Família, e como são os sistemas de auxílio-desemprego nos países ricos, têm efeito imediato sobre o consumo e fazem a economia voltar a funcionar.
Tanto os aumentos dos gastos do Estado para financiar o consumo das famílias como os investimentos devem ser realizados com cuidado.
Essa crise mostrou como cada Estado é importante para sua nação -como essa instituição nacional é o único porto seguro com o qual os cidadãos contam. Para, entretanto, que assim se mantenha e conserve a confiança dos agentes econômicos, é essencial que não descuide de sua própria saúde financeira
L.C.Bresser Pereira
A crise financeira de outubro de 2008 já se transformou em crise econômica global, todos os países desenvolvidos estão em recessão e a previsão é que seu PIB (Produto Interno Bruto) diminuirá 2% em 2009! A tese do desacoplamento dos países em desenvolvimento foi pelos ares, e em todos aumenta o desemprego. Dividem-se, porém, entre aqueles que rejeitaram a política de "crescimento com poupança externa", ou seja, de incorrer em déficits em conta corrente, não se endividaram; e aqueles que continuaram a acreditar nessa estratégia que seus concorrentes ricos lhes propõem. Os primeiros não estão agora ameaçados por crises de insolvência; já os segundos, entre os quais estão vários países da Europa central, enfrentam agora uma crise redobrada.
A crise financeira se transformou em crise econômica porque o pânico financeiro de outubro de 2008 atingiu os bancos e paralisou o financiamento às empresas, inclusive a mera rolagem das dívidas de empresas sadias; e também porque, diante do pânico bancário, os investidores e os consumidores de cada país suspenderam seus investimentos e seu consumo postergável, e os importadores fizeram o mesmo em relação às importações. Assim, a demanda agregada entrou em queda livre.
Para evitar o agravamento de um quadro gravíssimo, os governos estão procurando aumentar suas despesas, para, dessa forma, restabelecer a demanda agregada e a confiança. Os déficits fiscais deverão, em média, dobrar em 2009. A questão, agora, é saber quais despesas serão as mais eficientes para atingir os dois objetivos. Em relação aos bancos, o Estado, primeiro, elevou a liquidez; em seguida, forneceu recursos para aumento do capital; finalmente comprou ativos sem liquidez ("tóxicos"). Se essas medidas não foram suficientes e o banco continua ameaçado de quebra, o problema é de confiança, e a alternativa de criar um banco "lata de lixo" não resolverá o problema; solução mais econômica será, provavelmente, nacionalizá-los temporariamente. Com isso ninguém estará "implantando o socialismo", mas simplesmente salvando o capitalismo da distorção financeira de que foi vítima. No Brasil, felizmente, não há grandes bancos nessa situação.
Quanto ao estímulo aos consumidores e aos empresários para que voltem a consumir e investir, o governo pode realizar grandes obras de infraestrutura ou aumentar o poder de compra dos consumidores mais pobres por meio de redução de impostos e de mecanismos de transferência de renda. Os dois caminhos estão sendo seguidos (cerca de 50% para cada lado no pacote de Obama), mas a prioridade deve ser dada às transferências para consumo imediato. As obras de infraestrutura tomam tempo para serem planejadas e iniciadas, e, quando feitas às pressas, facilmente se revelam desnecessárias ou superdimensionadas. Já as transferências, como é no Brasil a Bolsa Família, e como são os sistemas de auxílio-desemprego nos países ricos, têm efeito imediato sobre o consumo e fazem a economia voltar a funcionar.
Tanto os aumentos dos gastos do Estado para financiar o consumo das famílias como os investimentos devem ser realizados com cuidado.
Essa crise mostrou como cada Estado é importante para sua nação -como essa instituição nacional é o único porto seguro com o qual os cidadãos contam. Para, entretanto, que assim se mantenha e conserve a confiança dos agentes econômicos, é essencial que não descuide de sua própria saúde financeira
L.C.Bresser Pereira
domingo, 15 de fevereiro de 2009
sábado, 14 de fevereiro de 2009
In praise of Darwin and the spirit of inquiry
This week we will be celebrating the 200th anniversary of the birth of Charles Darwin, one of Britain's most extraordinary scientists. His theory of evolution, one of the greatest discoveries of all time, gives us a way of understanding the connectedness of all life and the uniqueness of human life within it. Together with other branches of scientific exploration, evolution begins to unfold and illuminate the interplay of forces that make our universe such an extraordinary dynamic reality. In this sense, science is itself a journey of learning and exploration. This I find exciting and humbling.
Towards the end of his life Darwin wrote: “It seems to me absurd to doubt that a man may be an ardent Theist and an evolutionist.” The science opens me not only to puzzles and to questions about the world I live in; it leads me to marvel at its complexity. Here, I find science is a good friend to my faith. It also calls me to a journey of learning and understanding. One of the things that mars our culture is the fracture between faith and science. It impoverishes our inquiry into the realities that make up our life and world. This is a false opposition.
If we see the two as fundamentally opposed - science endangering and undermining faith, or faith obstructing knowledge - then distortions are produced on both sides. For example, some Christians argue for “Young Earth Creationism” or Intelligent Design as an alternative to evolutionary theory. Creationism is the belief that the biblical stories of Creation as described in the Book of Genesis are literally true.
Is genuine Christianity obliged to adopt any of these positions? No, it is not. Belief in creation is not equivalent to any one of them. It is a mistake to treat the theology of creation in the Book of Genesis as a scientific textbook. It does unfold a profound and valid truth about the world in which we live, its order and purpose. The Book of Genesis speaks about the relationship between God and creation and especially about the place of humanity in that relationship. That wonderful narrative of creation offers us a first vision of an “ecology of holiness” in which every material and living thing has a place and its creativity is consecrated in goodness by God. The account of creation in Genesis is pointing us beyond the question “how?” to the question “why?” Ultimately, science as well as faith must come to that most fundamental of all questions: the question of meaning and purpose
Cardeal Cormac Murphy-O'Connor, Presidente da Conferência de Bispos da Inglaterra e País de Gales
Para ler o resto do artigo clique aqui
Towards the end of his life Darwin wrote: “It seems to me absurd to doubt that a man may be an ardent Theist and an evolutionist.” The science opens me not only to puzzles and to questions about the world I live in; it leads me to marvel at its complexity. Here, I find science is a good friend to my faith. It also calls me to a journey of learning and understanding. One of the things that mars our culture is the fracture between faith and science. It impoverishes our inquiry into the realities that make up our life and world. This is a false opposition.
If we see the two as fundamentally opposed - science endangering and undermining faith, or faith obstructing knowledge - then distortions are produced on both sides. For example, some Christians argue for “Young Earth Creationism” or Intelligent Design as an alternative to evolutionary theory. Creationism is the belief that the biblical stories of Creation as described in the Book of Genesis are literally true.
Is genuine Christianity obliged to adopt any of these positions? No, it is not. Belief in creation is not equivalent to any one of them. It is a mistake to treat the theology of creation in the Book of Genesis as a scientific textbook. It does unfold a profound and valid truth about the world in which we live, its order and purpose. The Book of Genesis speaks about the relationship between God and creation and especially about the place of humanity in that relationship. That wonderful narrative of creation offers us a first vision of an “ecology of holiness” in which every material and living thing has a place and its creativity is consecrated in goodness by God. The account of creation in Genesis is pointing us beyond the question “how?” to the question “why?” Ultimately, science as well as faith must come to that most fundamental of all questions: the question of meaning and purpose
Cardeal Cormac Murphy-O'Connor, Presidente da Conferência de Bispos da Inglaterra e País de Gales
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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Seguro desemprego
Jornalismo econômico de qualidade no Brasil é raro e ate mesmo os poucos bons jornalistas de vez em quando emitem opiniões, no mínimo, estranhas. É o caso do Vinicius Torres. Na coluna de ontem ele afirma que "remendos disparatados, como os que estão sendo paridos sob inspiração do Ministério do Trabalho, apenas vão aumentar a confusão e o risco de que lobbies ganhem favores que em nada auxiliam o desempenho geral da economia".
As medidas anunciadas ontem dificilmente podem ser consideradas "disparatadas": regras para concessão da bolsa-qualificação e regras para concessão de parcelas adicionais do seguro desemprego são corretas e, se não resolvem o problema de fundo, ajudam a manter um mínimo de bem estar social que é, sempre bom lembrar, o objetivo da política econômica.
São medidas emergenciais corretas e no caso da última poderia ir um pouco alem, aumentado para 10 meses o número de parcelas do seguro desemprego. Correta também me parece ser a concessão de crédito de capital de giro de empresas de revenda de carros usados com a contrapartida de geração/manutenção dos empregos pelo prazo de duração do contrato.
O momento econômico que estamos vivendo requer medidas aparentemente heterodoxas, mas que na verdade nada mais são que o bom uso da boa e velha teoria econômica, desconhecida, ao que parece, por jornalistas e os auto-proclamados economistas heterodoxos.
As medidas anunciadas ontem dificilmente podem ser consideradas "disparatadas": regras para concessão da bolsa-qualificação e regras para concessão de parcelas adicionais do seguro desemprego são corretas e, se não resolvem o problema de fundo, ajudam a manter um mínimo de bem estar social que é, sempre bom lembrar, o objetivo da política econômica.
São medidas emergenciais corretas e no caso da última poderia ir um pouco alem, aumentado para 10 meses o número de parcelas do seguro desemprego. Correta também me parece ser a concessão de crédito de capital de giro de empresas de revenda de carros usados com a contrapartida de geração/manutenção dos empregos pelo prazo de duração do contrato.
O momento econômico que estamos vivendo requer medidas aparentemente heterodoxas, mas que na verdade nada mais são que o bom uso da boa e velha teoria econômica, desconhecida, ao que parece, por jornalistas e os auto-proclamados economistas heterodoxos.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Break of Day , John Donne
Tis true, 'tis day; what though it be?
O wilt thou therefore rise from me?
Why should we rise, because 'tis light?
Did we lie down, because 'twas night?
Love, which in spite of darkness brought us hither,
Should in despite of light keep us together.
Light hath no tongue, but is all eye;
If it could speak as well as spy,
This were the worst that it could say,
That being well, I fain would stay,
And that I loved my heart and honor so,
That I would not from him, that had them, go.
Must business thee from hence remove?
O, that's the worst disease of love.
The poor, the foul, the false, love can
Admit, but not the busied man.
He which hath business, and makes love, doth do
Such wrong, as when a married man doth woo.
O wilt thou therefore rise from me?
Why should we rise, because 'tis light?
Did we lie down, because 'twas night?
Love, which in spite of darkness brought us hither,
Should in despite of light keep us together.
Light hath no tongue, but is all eye;
If it could speak as well as spy,
This were the worst that it could say,
That being well, I fain would stay,
And that I loved my heart and honor so,
That I would not from him, that had them, go.
Must business thee from hence remove?
O, that's the worst disease of love.
The poor, the foul, the false, love can
Admit, but not the busied man.
He which hath business, and makes love, doth do
Such wrong, as when a married man doth woo.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Adeus as ilusões
O poço, nos estados unidos, parece não possuir fundo: uma viagem ao centro da terra? E o plano Obama, como já comentado anteriormente, está longe de ser uma Brastemp. Muito pelo contrário. Há o risco daquele que empresta seu nome ao plano entrar para a história como Pepino o Breve do Imperio americano.
E as alternativas? Ao plano existem e já foram aqui comentadas e não vejo motivo para repeti-las. Ao sistema econômico, seguramente não há. O seculo passado foi rico em experiências e tragedias e hoje sabemos que o famoso slogam da Rosa Luxemburgo: Socialismo ou Barbarie, era um grande equivoco. O socialismo mostrou ser ele mesmo uma variante, particularmente, terrível da barbarie. Os mortos sem sepultura no Camboja, China e os Gulags russos são prova indiscutivel do grande engodo do seculo passado.
Este é um ponto em que a crise atual é diferente da de 1929: não temos mais ilusões a respeito de alternativas, do homem novo do socialismo e outras tolices que deixaram como lembrança um rastro de sangue ... Há é obvio, quem ainda mantem-se firme neste auto-engano . Nenhuma surpresa: mas eles não tem a menor importancia política ou influência intelectual, exceto, naturalmente no circuito chic de higienopolis-perdizes.
update: escrevi o comentário antes de ler o ótimo artigo do Wolf do FT, estranhamente não há diferenças significativas, exceto na qualidade superior do texto e dos argumentos por ele apresentado.
E as alternativas? Ao plano existem e já foram aqui comentadas e não vejo motivo para repeti-las. Ao sistema econômico, seguramente não há. O seculo passado foi rico em experiências e tragedias e hoje sabemos que o famoso slogam da Rosa Luxemburgo: Socialismo ou Barbarie, era um grande equivoco. O socialismo mostrou ser ele mesmo uma variante, particularmente, terrível da barbarie. Os mortos sem sepultura no Camboja, China e os Gulags russos são prova indiscutivel do grande engodo do seculo passado.
Este é um ponto em que a crise atual é diferente da de 1929: não temos mais ilusões a respeito de alternativas, do homem novo do socialismo e outras tolices que deixaram como lembrança um rastro de sangue ... Há é obvio, quem ainda mantem-se firme neste auto-engano . Nenhuma surpresa: mas eles não tem a menor importancia política ou influência intelectual, exceto, naturalmente no circuito chic de higienopolis-perdizes.
update: escrevi o comentário antes de ler o ótimo artigo do Wolf do FT, estranhamente não há diferenças significativas, exceto na qualidade superior do texto e dos argumentos por ele apresentado.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Nouriel Roubini
Convidado da seção "ask the expert" do FT, Nouriel Roubini, responde questões do internauta sobre a crise econômica. Como sempre, em se tratanto dele é leitura obrigatória...
It is pretty much consensus now that 2009 will be a zero growth year for the world economy (something that you forecast well in advance). It seems that the major risk for the following years is having a lost decade of Japanese-style stagnation but on a worldwide basis. How are the governments in US and Europe faring so far in their effort to avoid that?
Marco, Sao Paulo
Nouriel Roubini: To avoid a Japanese style multi-year L-shaped near-depression or stag-deflation (a deadly combination of stagnation, recession and deflation) the appropriate, coherent and credible combination of monetary easing (traditional and unorthodox), fiscal stimulus, proper clean-up of the financial system and reduction of the debt burden of insolvent private agents (households and non-financial companies) is necessary.
The eurozone is well behind the US in its efforts as: a) the ECB is behind the curve in cutting policy rates and creating non-traditional facilities to deal with the liquidity and credit crunch; b) the fiscal stimulus is too modest as those who can afford it (Germany) are lukewarm about it and those who need it the most (Spain, Portugal, Greece, Italy) can least afford it as they already have large budget deficits; c) there is lack of cross-border burden sharing of the fiscal costs of bailing out financial institutions.
The U.S. has done more (with its aggressive monetary easing and large fiscal stimulus putting it ahead) but two key elements are key to avoid a near-depression and still missing: a proper clean-up of the banking system that may require a proper triage between solvent and insolvent banks and the nationalization of many banks; and a more aggressive and across-the-board solution to the unsustainable debt burden of millions of insolvent households.
Thus, I would say the L-shaped near-depression scenario is possible.
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How can Davos, a gathering of the greediest, most avaricious and incompetent people of the planet, ever fix any of the problems they have created in the first place, and hugely benefited from?. Do you agree that when the boom was at its height, you were mistreated there when you tried to draw attention on the looming crisis? Are you now afraid of being now co-opted by the system and losing your independence?
Marcel Knecht, Villa Santiago, Mexico
NR: It is important to keep one’s intellectual rigor and honesty free from any financial conflict of interest (I never trade in markets and so I am never “talk my book” when I present my views).
I have kept my balanced and analytically rigorous but bearish view over time and adjusted my outlook only at the margin in light of the evolving circumstances.
But the basic thrust of my analysis and views about the severity of this financial and economic crisis – the worst since the Great Depression - has not changed.
I don’t think anyone could suggest that I have been co-opted by the system and lost my independence. If anything my concerns that a severe U-shaped global recession may turn into a worse, L-shaped near-depression have somewhat increased over time.
Para ler a reportagem completa clique aqui
It is pretty much consensus now that 2009 will be a zero growth year for the world economy (something that you forecast well in advance). It seems that the major risk for the following years is having a lost decade of Japanese-style stagnation but on a worldwide basis. How are the governments in US and Europe faring so far in their effort to avoid that?
Marco, Sao Paulo
Nouriel Roubini: To avoid a Japanese style multi-year L-shaped near-depression or stag-deflation (a deadly combination of stagnation, recession and deflation) the appropriate, coherent and credible combination of monetary easing (traditional and unorthodox), fiscal stimulus, proper clean-up of the financial system and reduction of the debt burden of insolvent private agents (households and non-financial companies) is necessary.
The eurozone is well behind the US in its efforts as: a) the ECB is behind the curve in cutting policy rates and creating non-traditional facilities to deal with the liquidity and credit crunch; b) the fiscal stimulus is too modest as those who can afford it (Germany) are lukewarm about it and those who need it the most (Spain, Portugal, Greece, Italy) can least afford it as they already have large budget deficits; c) there is lack of cross-border burden sharing of the fiscal costs of bailing out financial institutions.
The U.S. has done more (with its aggressive monetary easing and large fiscal stimulus putting it ahead) but two key elements are key to avoid a near-depression and still missing: a proper clean-up of the banking system that may require a proper triage between solvent and insolvent banks and the nationalization of many banks; and a more aggressive and across-the-board solution to the unsustainable debt burden of millions of insolvent households.
Thus, I would say the L-shaped near-depression scenario is possible.
-------------------------------------------------------------------------------------
How can Davos, a gathering of the greediest, most avaricious and incompetent people of the planet, ever fix any of the problems they have created in the first place, and hugely benefited from?. Do you agree that when the boom was at its height, you were mistreated there when you tried to draw attention on the looming crisis? Are you now afraid of being now co-opted by the system and losing your independence?
Marcel Knecht, Villa Santiago, Mexico
NR: It is important to keep one’s intellectual rigor and honesty free from any financial conflict of interest (I never trade in markets and so I am never “talk my book” when I present my views).
I have kept my balanced and analytically rigorous but bearish view over time and adjusted my outlook only at the margin in light of the evolving circumstances.
But the basic thrust of my analysis and views about the severity of this financial and economic crisis – the worst since the Great Depression - has not changed.
I don’t think anyone could suggest that I have been co-opted by the system and lost my independence. If anything my concerns that a severe U-shaped global recession may turn into a worse, L-shaped near-depression have somewhat increased over time.
Para ler a reportagem completa clique aqui
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
A mídia e crise econômica
Como a crise teima em não chegar com toda força nos tristes trópicos, a mídia da um jeito de aumenta-la, criando falsos fatos jornalisticos. A Folha, por ex. usou seu instituto de pesquisas para saber qual o percentual de familias com pelo menos um desempregado. Tolice brava: devido a rotatividade existente no mercado de trabalho, o resultado da pesquisa não tem a menor importancia, mas justifica a manchete sensacionalista. Parece que a Folha resolveu criar sua própria versão da realidade virtual, uma especie de retorno/homenagemm a realiadade muito peculiar de alguns dos seus quadros na já distante mocidade.
É claro que ninguem está imune a crise: esta é uma obviedade para qualquer um com o minimo conhecimento do modelo de equilibrio geral. O que não é nada obvio e por isto mesmo excitante, para quem gosta de economia, é como será o seu impacto nos paises emergentes e nas economias maduras. Naturalmente devera ser diferente em sua profundidade, extensão e duração. É isto que chamamos de descolamento. Ele dificilmente será total, mas tão´pouco deixará de ocorrer em graus diferentes em diferentes paises.
Como a formação do jornalista no Brasil fica muito a desejar e há os interesses de sempre, os leitores de jornais são levados a acreditar em uma realidade bastante distante da nossa.
É claro que ninguem está imune a crise: esta é uma obviedade para qualquer um com o minimo conhecimento do modelo de equilibrio geral. O que não é nada obvio e por isto mesmo excitante, para quem gosta de economia, é como será o seu impacto nos paises emergentes e nas economias maduras. Naturalmente devera ser diferente em sua profundidade, extensão e duração. É isto que chamamos de descolamento. Ele dificilmente será total, mas tão´pouco deixará de ocorrer em graus diferentes em diferentes paises.
Como a formação do jornalista no Brasil fica muito a desejar e há os interesses de sempre, os leitores de jornais são levados a acreditar em uma realidade bastante distante da nossa.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
sábado, 7 de fevereiro de 2009
America Needs to Cancel Its Debt
Interessante entrevista com o Ferguson, um bom historiador econômico, ignorado, ao que parece, nos tristes trópicos.
Michael Hogan: First of all, this whole financial collapse is great timing for your book. Are you psyched?
Niall Ferguson: Well, I can say with a degree of self-satisfaction that it wasn’t luck. Two and a half years ago I decided to write this book, because I was sure that this financial crisis was going to happen, and the reason I was sure was because people kept coming up to me—whether it was investment bankers or hedge fund managers—telling me that volatility was dead that there would never be another recession. I just thought, “These people have completely disconnected from reality, and financial history is going to come back and bite them in the ass.”
In the book, you identify the five stages of a bubble. What stage are we at now?
We’re pretty much at the last stage, which is the Panic stage.
If you remember roughly how it goes, you begin with some kind of Displacement or shift that changes the economic environment. I would say in this case, the displacement was really caused by the wall of Asian savings coming into the U.S. and keeping interest rates lower than would have normally been in the cycle.
Then you get the Euphoria, which is when people say, “God, now prices can only go up, we should buy more. We should borrow more, because this is a one-way bet.” And then more and more people enter the market, first-time buyers, and that’s the classic run-up phase of the bubble. Then there’s this sort of irrational-exuberance Mania—which came at the end of ’06, when we still had property prices rising at an annualized rate of 20 percent. But then you get Distress. That’s when the insiders, the smart people, start to look at one another and say, “This is nuts, we should get out.” That’s when the John Paulsons start to short the market.
And then you get the shift into downward movement of prices, which ultimately culminates in Panic, when everybody heads for the exit together. In this bubble, it happened in a strange kind of slow motion, because the game was really up in August 2007, but it wasn’t really a full-fledged panic—at least across the board—until Lehman Brothers, September 15, 2008, more than a year later. Wile E. Coyote ran off the cliff in August of ’07, but he didn’t really look down until over a year later.
Para ler a entrevista completa clique aqui
Michael Hogan: First of all, this whole financial collapse is great timing for your book. Are you psyched?
Niall Ferguson: Well, I can say with a degree of self-satisfaction that it wasn’t luck. Two and a half years ago I decided to write this book, because I was sure that this financial crisis was going to happen, and the reason I was sure was because people kept coming up to me—whether it was investment bankers or hedge fund managers—telling me that volatility was dead that there would never be another recession. I just thought, “These people have completely disconnected from reality, and financial history is going to come back and bite them in the ass.”
In the book, you identify the five stages of a bubble. What stage are we at now?
We’re pretty much at the last stage, which is the Panic stage.
If you remember roughly how it goes, you begin with some kind of Displacement or shift that changes the economic environment. I would say in this case, the displacement was really caused by the wall of Asian savings coming into the U.S. and keeping interest rates lower than would have normally been in the cycle.
Then you get the Euphoria, which is when people say, “God, now prices can only go up, we should buy more. We should borrow more, because this is a one-way bet.” And then more and more people enter the market, first-time buyers, and that’s the classic run-up phase of the bubble. Then there’s this sort of irrational-exuberance Mania—which came at the end of ’06, when we still had property prices rising at an annualized rate of 20 percent. But then you get Distress. That’s when the insiders, the smart people, start to look at one another and say, “This is nuts, we should get out.” That’s when the John Paulsons start to short the market.
And then you get the shift into downward movement of prices, which ultimately culminates in Panic, when everybody heads for the exit together. In this bubble, it happened in a strange kind of slow motion, because the game was really up in August 2007, but it wasn’t really a full-fledged panic—at least across the board—until Lehman Brothers, September 15, 2008, more than a year later. Wile E. Coyote ran off the cliff in August of ’07, but he didn’t really look down until over a year later.
Para ler a entrevista completa clique aqui
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Auto-engano
A vida de coordenador de curso não é nada fácil, ainda mais quando se mora a uma distância razoavel do Campus,..., por isto dei um tempo e somente ontem voltei a visitar os blogs de alguns economistas do mundo anglo-americano. O clima está estranho: há uma dificuldade imensa de reconhecer a realidade do jogo político e entender a lógica de propostas para sair da crise, que, na verdade, simplesmente, a aprofunda ainda mais. A racionalidade da aparente irracionalidade do agente político e do econômico ainda prega peças em mentes brilhantes.
O clima, como ,não poderia deixar de ser, é pessimista: a depressão econômica, antes uma possibilidade remota, agora tornou-se um evento cada vez mais provável. Isto é assustador para uma geração de economistas acostumados à administrar os revezes triviais da economia e que consideravam algo mais sério como uma reliquia do passado, do período em que o parco conhecimento econômico somado as tolices do mundo político permitia que surgissem crises de grande dimensão. Puro auto-engano, ou desconhecimento da história econômica. Crises, principalmente, financeiras graves, são recorrentes ao longo da história econômica e servem pra nos lembrar da tolice que é achar que possam ser totalmente eliminadas, não pelas razões apresentadas pela heterodoxia, mas pelo simples fato da economia de mercado ser o locus do agir humano individual e coletivo e eles nem sempre são triviais.
O clima, como ,não poderia deixar de ser, é pessimista: a depressão econômica, antes uma possibilidade remota, agora tornou-se um evento cada vez mais provável. Isto é assustador para uma geração de economistas acostumados à administrar os revezes triviais da economia e que consideravam algo mais sério como uma reliquia do passado, do período em que o parco conhecimento econômico somado as tolices do mundo político permitia que surgissem crises de grande dimensão. Puro auto-engano, ou desconhecimento da história econômica. Crises, principalmente, financeiras graves, são recorrentes ao longo da história econômica e servem pra nos lembrar da tolice que é achar que possam ser totalmente eliminadas, não pelas razões apresentadas pela heterodoxia, mas pelo simples fato da economia de mercado ser o locus do agir humano individual e coletivo e eles nem sempre são triviais.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
When You are Old , W.B.Yeats
When you are old and grey and full of sleep,
And nodding by the fire, take down this book,
And slowly read, and dream of the soft look
Your eyes had once, and of their shadows deep;
How many loved your moments of glad grace,
And loved your beauty with love false or true,
But one man loved the pilgrim soul in you,
And loved the sorrows of your changing face;
And bending down beside the glowing bars,
Murmur, a little sadly, how Love fled
And paced upon the mountains overhead
And hid his face amid a crowd of stars.
And nodding by the fire, take down this book,
And slowly read, and dream of the soft look
Your eyes had once, and of their shadows deep;
How many loved your moments of glad grace,
And loved your beauty with love false or true,
But one man loved the pilgrim soul in you,
And loved the sorrows of your changing face;
And bending down beside the glowing bars,
Murmur, a little sadly, how Love fled
And paced upon the mountains overhead
And hid his face amid a crowd of stars.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Keynes, de novo
O Bruxo realmente anda inspirado e tem toda razão. A reação ao artigo dele é muito mais comum do que se imagina: o desconhecimento do pensamento do keynes e das políticas keynesianas é amplo geral e irrestrito. No QG Anticatólico - onde, para vários iletrados em teoria econômica, o que conta em economia começa e termina com o barba - esta tem sido uma luta inglória.
Há duas semanas , publicamos nesta mesma coluna um "suelto" no qual reconhecíamos que o New Deal do presidente Roosevelt ajudou a superar os aspectos mais dramáticos da profunda recessão instalada em 1929 nos Estados Unidos, que era então, como é hoje, o coração do "capitalismo". Por outro lado, sugerimos que a "glamourização" do New Deal como uma política "keynesiana" era equivocada.
A singela "prova" que apresentamos foi a seguinte: em 1937, a receita pública cresceu em resposta às ações do New Deal, mas o nível do PIB estava longe do "equilíbrio", (a taxa de desemprego era de 15%) e a expansão monetária (juntamente com o "corporatismo" criado pelo New Deal) produziu uma inflação de 4,7% (com o nível dos preços muito abaixo dos de 1929). A resposta de Roosevelt foi produzir um superávit fiscal e (através do Fed) aumentar a taxa de juros, o que gerou uma nova recessão em 1938, quando o PIB caiu 4,6%!. Tudo claro, simples e aborrecidamente numérico!
Felizmente, não. Fui honrado com meia dúzia de observações de leitores civilizados. Descobri que existe uma seita de adoradores do "keynesianismo hidráulico" tão desinformada sobre o papel do "mercado" (suas virtudes e problemas e sua relação com o Estado) quanto a seita dos "neoliberais", que, agora, depois da crise, tem um "ar de cachorro que caiu do caminhão de mudança"...
Para tranquilizar mentes e corações dos keynesianos hidráulicos mais sanguíneos, gostaria de sugerir-lhes a leitura do artigo (hoje clássico) do grande economista E.C. Brown, "Política Fiscal nos Anos Trinta: uma Reavaliação" ("The American Economic Review", Vol. XLVI, December 1956: 857-879), cuja conclusão é clara e irrefutável: "A política fiscal (obviamente, a de inspiração keynesiana) nos anos 30 parece não ter sido bem sucedida, não porque não funcionou, mas porque não foi tentada". Vão gostar. Estão lá todos os velhos fantasmas que nos assombraram nos anos 50 do século passado.
Para os detratores do poderoso Maynard, transcrevo frases (tradução livre) de uma carta que ele enviou a Roosevelt (1º de fevereiro de 1938): a política de 1937 "foi um erro de otimismo". Nela dá dois conselhos: 1º) "renovar os esforços no gasto público" e 2º) tentar cooptar o setor privado: "você pode fazer o que quiser com ele"... "mas, sem realinhá-lo no esforço comum, a recuperação não acontecerá". Este, aliás, é um bom conselho para certas autoridades brasileiras cujo autismo é manifesto.
Delfim Netto
Há duas semanas , publicamos nesta mesma coluna um "suelto" no qual reconhecíamos que o New Deal do presidente Roosevelt ajudou a superar os aspectos mais dramáticos da profunda recessão instalada em 1929 nos Estados Unidos, que era então, como é hoje, o coração do "capitalismo". Por outro lado, sugerimos que a "glamourização" do New Deal como uma política "keynesiana" era equivocada.
A singela "prova" que apresentamos foi a seguinte: em 1937, a receita pública cresceu em resposta às ações do New Deal, mas o nível do PIB estava longe do "equilíbrio", (a taxa de desemprego era de 15%) e a expansão monetária (juntamente com o "corporatismo" criado pelo New Deal) produziu uma inflação de 4,7% (com o nível dos preços muito abaixo dos de 1929). A resposta de Roosevelt foi produzir um superávit fiscal e (através do Fed) aumentar a taxa de juros, o que gerou uma nova recessão em 1938, quando o PIB caiu 4,6%!. Tudo claro, simples e aborrecidamente numérico!
Felizmente, não. Fui honrado com meia dúzia de observações de leitores civilizados. Descobri que existe uma seita de adoradores do "keynesianismo hidráulico" tão desinformada sobre o papel do "mercado" (suas virtudes e problemas e sua relação com o Estado) quanto a seita dos "neoliberais", que, agora, depois da crise, tem um "ar de cachorro que caiu do caminhão de mudança"...
Para tranquilizar mentes e corações dos keynesianos hidráulicos mais sanguíneos, gostaria de sugerir-lhes a leitura do artigo (hoje clássico) do grande economista E.C. Brown, "Política Fiscal nos Anos Trinta: uma Reavaliação" ("The American Economic Review", Vol. XLVI, December 1956: 857-879), cuja conclusão é clara e irrefutável: "A política fiscal (obviamente, a de inspiração keynesiana) nos anos 30 parece não ter sido bem sucedida, não porque não funcionou, mas porque não foi tentada". Vão gostar. Estão lá todos os velhos fantasmas que nos assombraram nos anos 50 do século passado.
Para os detratores do poderoso Maynard, transcrevo frases (tradução livre) de uma carta que ele enviou a Roosevelt (1º de fevereiro de 1938): a política de 1937 "foi um erro de otimismo". Nela dá dois conselhos: 1º) "renovar os esforços no gasto público" e 2º) tentar cooptar o setor privado: "você pode fazer o que quiser com ele"... "mas, sem realinhá-lo no esforço comum, a recuperação não acontecerá". Este, aliás, é um bom conselho para certas autoridades brasileiras cujo autismo é manifesto.
Delfim Netto
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
It's the spread, stupid!
O Cintra está certo: o problema é e sempre foi o spread. A questão é saber como resolve-lo e, antes, qual a sua origem.
Sim. Em julho de 2003, publiquei outro artigo com esse mesmo título em "O Estado de S. Paulo", no qual afirmei, com Michel Etlin, que a discussão sobre os altos juros no Brasil estava desfocada. O debate não devia se ater exclusivamente à taxa Selic, mas prioritariamente ao "spread", ou seja, a diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram nos empréstimos que fazem.
O objetivo daquele texto foi colocar em debate a atuação oligopolística dos bancos, que permite a cobrança de "spreads" superiores a cinco vezes a média dos praticados em outros países emergentes e, na média, 11 vezes os praticados nos países desenvolvidos, como mostrado neste domingo pela Folha.
A taxa Selic tem efeito limitado no custo final do crédito no Brasil. A Selic, ainda elevada apesar da redução, estimula a poupança, atrai recursos externos de curto prazo e eleva os custos de carregamento da dívida pública. Mas está longe de explicar os extorsivos juros cobrados dos tomadores de crédito no Brasil na ponta final do consumidor ou do produtor.
Se sobre a Selic de 12,75% fosse aplicado um "spread" normal de 40% sobre o custo de captação, como ocorre mais comumente nos mercados financeiros mundiais, os tomadores de crédito no Brasil teriam a felicidade de pagar um "spread" ao redor de seis pontos percentuais, em vez de pagar os 30 pontos percentuais que são cobrados atualmente.
Voltei a publicar outros artigos retratando a questão do "spread" e do cartel dos bancos no Brasil. Em um deles mostrei que as abusivas tarifas bancárias haviam aumentado impressionantes 740%, devendo, portanto, eliminar o efeito dos custos administrativos dos bancos na formação dos "spreads". A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) contestou raivosamente.
Mas, felizmente, o foco das discussões sobre os juros no Brasil foi mudando. Colunistas, técnicos e instituições internacionais passaram a ressaltar a necessidade de maior competição bancária e de redução dos "spreads" como condição fundamental para o país contar com juros que estimulem o crescimento.
A atual crise econômica intensificou a convicção sobre a necessidade de reduzir os juros como forma de fortalecer o mercado interno. Mas o impacto mais significativo da recente redução da Selic não será no custo do crédito no país. Ficará restrito ao custo da dívida pública, que será reduzido em cerca de R$ 7 bilhões com o recuo da taxa de 13,75% para 12,75%.
Quanto aos juros finais, a Anefac (associação de executivos de finanças) estima que a taxa média cobrada dos consumidores cairia de 7,49% ao mês para 7,41%, e, para as empresas, passaria de 4,35% para 4,27%. Ou seja, impacto praticamente imperceptível para os tomadores de crédito. Conclui-se que o juro primário pode ser reduzido em quatro ou cinco pontos percentuais pelo Copom e, mesmo assim, os juros finais continuarão inviabilizando as atividades produtivas se os "spreads" não caírem substancialmente.
Em países emergentes como China, Argentina, Coreia, Chile e Malásia, os "spreads" estão na casa de seis pontos percentuais, contra os 30 pontos, em média, no Brasil.
Se a intenção for utilizar os juros como instrumento de defesa contra a crise mundial, estimulando o consumo e os investimentos por meio de sua redução na ponta, é indispensável enfrentar o cartel bancário e reduzir impostos sobre o setor, de tal forma que os "spreads" sejam trazidos para níveis próximos dos praticados pelos demais países emergentes.
Atividade bancária é uma forma de concessão pública e deve ser rigorosamente acompanhada pelo governo para combater abusos.
Ademais, no artigo "Cartel, juros e "spreads" bancários", publicado pela Folha em 21/8/2006, afirmei que uma forma de enfrentar o oligopólio bancário seria o governo usar a CEF, o Banco do Brasil e outras instituições financeiras públicas como referências para criar um ambiente mais competitivo nesse mercado.
Um adágio inglês diz que "coragem exige olhos atentos e armas eficazes".
Os fatos estão ficando a cada dia mais visíveis, e os bancos públicos podem ser poderosos instrumentos para ampliar a concorrência e reduzir os custos do crédito.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE
Sim. Em julho de 2003, publiquei outro artigo com esse mesmo título em "O Estado de S. Paulo", no qual afirmei, com Michel Etlin, que a discussão sobre os altos juros no Brasil estava desfocada. O debate não devia se ater exclusivamente à taxa Selic, mas prioritariamente ao "spread", ou seja, a diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram nos empréstimos que fazem.
O objetivo daquele texto foi colocar em debate a atuação oligopolística dos bancos, que permite a cobrança de "spreads" superiores a cinco vezes a média dos praticados em outros países emergentes e, na média, 11 vezes os praticados nos países desenvolvidos, como mostrado neste domingo pela Folha.
A taxa Selic tem efeito limitado no custo final do crédito no Brasil. A Selic, ainda elevada apesar da redução, estimula a poupança, atrai recursos externos de curto prazo e eleva os custos de carregamento da dívida pública. Mas está longe de explicar os extorsivos juros cobrados dos tomadores de crédito no Brasil na ponta final do consumidor ou do produtor.
Se sobre a Selic de 12,75% fosse aplicado um "spread" normal de 40% sobre o custo de captação, como ocorre mais comumente nos mercados financeiros mundiais, os tomadores de crédito no Brasil teriam a felicidade de pagar um "spread" ao redor de seis pontos percentuais, em vez de pagar os 30 pontos percentuais que são cobrados atualmente.
Voltei a publicar outros artigos retratando a questão do "spread" e do cartel dos bancos no Brasil. Em um deles mostrei que as abusivas tarifas bancárias haviam aumentado impressionantes 740%, devendo, portanto, eliminar o efeito dos custos administrativos dos bancos na formação dos "spreads". A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) contestou raivosamente.
Mas, felizmente, o foco das discussões sobre os juros no Brasil foi mudando. Colunistas, técnicos e instituições internacionais passaram a ressaltar a necessidade de maior competição bancária e de redução dos "spreads" como condição fundamental para o país contar com juros que estimulem o crescimento.
A atual crise econômica intensificou a convicção sobre a necessidade de reduzir os juros como forma de fortalecer o mercado interno. Mas o impacto mais significativo da recente redução da Selic não será no custo do crédito no país. Ficará restrito ao custo da dívida pública, que será reduzido em cerca de R$ 7 bilhões com o recuo da taxa de 13,75% para 12,75%.
Quanto aos juros finais, a Anefac (associação de executivos de finanças) estima que a taxa média cobrada dos consumidores cairia de 7,49% ao mês para 7,41%, e, para as empresas, passaria de 4,35% para 4,27%. Ou seja, impacto praticamente imperceptível para os tomadores de crédito. Conclui-se que o juro primário pode ser reduzido em quatro ou cinco pontos percentuais pelo Copom e, mesmo assim, os juros finais continuarão inviabilizando as atividades produtivas se os "spreads" não caírem substancialmente.
Em países emergentes como China, Argentina, Coreia, Chile e Malásia, os "spreads" estão na casa de seis pontos percentuais, contra os 30 pontos, em média, no Brasil.
Se a intenção for utilizar os juros como instrumento de defesa contra a crise mundial, estimulando o consumo e os investimentos por meio de sua redução na ponta, é indispensável enfrentar o cartel bancário e reduzir impostos sobre o setor, de tal forma que os "spreads" sejam trazidos para níveis próximos dos praticados pelos demais países emergentes.
Atividade bancária é uma forma de concessão pública e deve ser rigorosamente acompanhada pelo governo para combater abusos.
Ademais, no artigo "Cartel, juros e "spreads" bancários", publicado pela Folha em 21/8/2006, afirmei que uma forma de enfrentar o oligopólio bancário seria o governo usar a CEF, o Banco do Brasil e outras instituições financeiras públicas como referências para criar um ambiente mais competitivo nesse mercado.
Um adágio inglês diz que "coragem exige olhos atentos e armas eficazes".
Os fatos estão ficando a cada dia mais visíveis, e os bancos públicos podem ser poderosos instrumentos para ampliar a concorrência e reduzir os custos do crédito.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
O pequeno herói
Bresser esta cada vez melhor. Tenho dúvidas quanto a necessidade de heróis, mas reconheço que eles são raros, principalmente na política. Morales tem sido uma figura notável e, como era de se esperar, criticado pela elite brasileira e pela esquerda do circuito perdizes-higienópolis
Exceção feita das histórias juvenis, os heróis são raros. Em um mundo materialista no qual o neoliberalismo ensina que a única motivação humana é o autointeresse, ninguém está disposto a reconhecer os heróis -os homens e as mulheres que têm a coragem de agir de acordo com seus ideais humanos e cívicos arriscando sua vida para enfrentar a violência das forças naturais e principalmente a ganância dos poderosos. Quando os reconhecemos, isso decorre de uma ação isolada -de alguém que, em certo momento, salva uma criança da morte ou, como o piloto americano, amerissa com sucesso no rio Hudson e salva 150 passageiros.
Neste mundo desencantado em que vivemos, porém, a última coisa que nos dispomos a reconhecer é um político herói. Podemos até admitir que determinado político seja um estadista, mas um herói... Nosso modelo de herói é o de Davi enfrentando Golias, e é difícil pensar em um político -alguém dotado de poder- como um Davi.
Não obstante, eu estou hoje convencido de que há um pequeno e admirável herói na política mundial: o presidente da Bolívia, Evo Morales. Não estou seguro de que ele terá êxito em sua missão -a de criar uma democracia social na Bolívia- porque é muito difícil governar democraticamente países pobres e, ainda por cima, divididos em termos étnicos -e aquele país sofre dos dois males. Em países pré-industriais, como a Bolívia, a apropriação do excedente econômico não se realiza principalmente no mercado, mas por meio do controle direto do Estado, de forma que as oligarquias locais estão sempre dispostas a derrubar governantes que não se amoldem a elas. Para eles, a solução mais simples é aderir aos poderosos locais -aos proprietários de terras "brancos" de Santa Cruz e Beni- e aos países poderosos ao seu redor: o Brasil e os Estados Unidos. Com algumas exceções, foi isso o que os presidentes bolivianos fizeram no passado, esquecendo-se dos índios e dos pobres, que são a grande maioria. Assim, não promoveram nem o desenvolvimento econômico nem a diminuição da desigualdade, e vários nem sequer conseguiram evitar que fossem derrubados.
Morales não se deixa atemorizar.
É o primeiro presidente índio eleito na Bolívia e tem mostrado coragem para ser fiel ao seu mandato. Em seguida à sua eleição chegou a ser ameaçado pelas elites dos Departamentos mais ricos e menos povoados por índios, porque desejava definir uma nova Constituição para seu país. Em certo momento, avançou o sinal e tentou aprová-la com maioria simples -o que deu argumentos à oposição conservadora.
Para resolver o impasse, buscou negociar e aceitou arriscar a revogação de seu mandato presidencial em um referendo. Ganhou-o com 67% dos votos -o que não impediu que os governadores dos Departamentos mais ricos continuassem seu movimento separatista. Agora, a nova Constituição foi referendada por quase 60% dos eleitores, mas as elites locais já exigem sua revisão.
Morales teve também a coragem de nacionalizar a exploração e o refino de petróleo -o que causou a ira de nossas elites, que, de repente, tornaram-se nacionalistas. Felizmente, o presidente Lula as ignorou. Mas o nosso pequeno Galahad enfrentará ainda muitos obstáculos. O graal não existe a não ser para os heróis
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA, 74, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".
Internet: www.bresserpereira.org.b
Exceção feita das histórias juvenis, os heróis são raros. Em um mundo materialista no qual o neoliberalismo ensina que a única motivação humana é o autointeresse, ninguém está disposto a reconhecer os heróis -os homens e as mulheres que têm a coragem de agir de acordo com seus ideais humanos e cívicos arriscando sua vida para enfrentar a violência das forças naturais e principalmente a ganância dos poderosos. Quando os reconhecemos, isso decorre de uma ação isolada -de alguém que, em certo momento, salva uma criança da morte ou, como o piloto americano, amerissa com sucesso no rio Hudson e salva 150 passageiros.
Neste mundo desencantado em que vivemos, porém, a última coisa que nos dispomos a reconhecer é um político herói. Podemos até admitir que determinado político seja um estadista, mas um herói... Nosso modelo de herói é o de Davi enfrentando Golias, e é difícil pensar em um político -alguém dotado de poder- como um Davi.
Não obstante, eu estou hoje convencido de que há um pequeno e admirável herói na política mundial: o presidente da Bolívia, Evo Morales. Não estou seguro de que ele terá êxito em sua missão -a de criar uma democracia social na Bolívia- porque é muito difícil governar democraticamente países pobres e, ainda por cima, divididos em termos étnicos -e aquele país sofre dos dois males. Em países pré-industriais, como a Bolívia, a apropriação do excedente econômico não se realiza principalmente no mercado, mas por meio do controle direto do Estado, de forma que as oligarquias locais estão sempre dispostas a derrubar governantes que não se amoldem a elas. Para eles, a solução mais simples é aderir aos poderosos locais -aos proprietários de terras "brancos" de Santa Cruz e Beni- e aos países poderosos ao seu redor: o Brasil e os Estados Unidos. Com algumas exceções, foi isso o que os presidentes bolivianos fizeram no passado, esquecendo-se dos índios e dos pobres, que são a grande maioria. Assim, não promoveram nem o desenvolvimento econômico nem a diminuição da desigualdade, e vários nem sequer conseguiram evitar que fossem derrubados.
Morales não se deixa atemorizar.
É o primeiro presidente índio eleito na Bolívia e tem mostrado coragem para ser fiel ao seu mandato. Em seguida à sua eleição chegou a ser ameaçado pelas elites dos Departamentos mais ricos e menos povoados por índios, porque desejava definir uma nova Constituição para seu país. Em certo momento, avançou o sinal e tentou aprová-la com maioria simples -o que deu argumentos à oposição conservadora.
Para resolver o impasse, buscou negociar e aceitou arriscar a revogação de seu mandato presidencial em um referendo. Ganhou-o com 67% dos votos -o que não impediu que os governadores dos Departamentos mais ricos continuassem seu movimento separatista. Agora, a nova Constituição foi referendada por quase 60% dos eleitores, mas as elites locais já exigem sua revisão.
Morales teve também a coragem de nacionalizar a exploração e o refino de petróleo -o que causou a ira de nossas elites, que, de repente, tornaram-se nacionalistas. Felizmente, o presidente Lula as ignorou. Mas o nosso pequeno Galahad enfrentará ainda muitos obstáculos. O graal não existe a não ser para os heróis
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA, 74, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".
Internet: www.bresserpereira.org.b
domingo, 1 de fevereiro de 2009
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