quarta-feira, 9 de maio de 2012

Sobre Poodle, Banco Central e Estadão




"A domesticação do Banco Central (BC) poderá custar caro ao Brasil, como custou, em outros tempos, a sua subordinação ao ministro da Fazenda ou a quem comandasse a política econômica. Longe de ser um luxo, a autonomia operacional da autoridade monetária é uma garantia de segurança contra desmandos do governo, um contrapeso para a irresponsabilidade fiscal e uma proteção contra a política eleitoreira e os interesses partidários de curto prazo. As lições de um passado não muito remoto mantêm clara a lembrança de todos esses males. Ninguém, no Palácio do Planalto, deveria desconhecê-las. No entanto, já não pode haver dúvida sobre a influência da presidente Dilma Rousseff na política oficial de juros, principal instrumento da administração monetária. A mansidão do presidente do BC diante da ingerência palaciana encoraja as pressões de ministros, empresários, sindicalistas e políticos e desmoraliza a instituição"(Editorial do Estadão de 09.05.2012).


O paragrafo acima é o primeiro de um editorial virulento do velho jornal Estadão acusando o Banco Central de ter sido domesticado pela atual administração. Infelizmente, devo reconhecer que ele tem razão. A aposta atual de política monetária do Banco Central é resultado de uma decisão política da atual administração, que ele aceitou com extrema docilidade e obediência. Com isto o Bacen deixa de ser o Poodle do mercado e passa a ser o Poodle da Dilma. Não deixa de ser avanço, afinal ela foi - é sempre bom lembrar - democraticamente eleita. A autonomia operacional está longe de ser um tema consensual e entre os opositores, no passado, encontramos figuras como Simonsen e a Dama de Ferro, não exatamente conhecidos pelo esquerdismo político. Sou favorável a autonomia operacional, por reconhecer que o horizonte do político não é o mesmo da política econômica. Reconheço, no entanto, que se, por um lado resolve um problema, cria, potencialmente, um outro: o risco do Banco Central ser capturado pelo mercado e por isto me parece que deveríamos olhar com carinho para o longo e bem sucedido histórico do Itamaraty, como modelo a ser adotado - com as alterações pertinentes - pelo Bacen, que deve estar a serviço do interesse nacional e não deste ou daquele agrupamento político.

O Banco Central errou feio ao responder ao Estadão.Ao faze-lo confirmou as acusações e, pior ainda, seu Presidente, demonstrou, mais uma vez, não estar a altura do cargo que ocupa. A liturgia do cargo exige um padrão de comportamento que ele parece ser incapaz de aceitar e desempenhar.