A lei seca não é nada agradável para quem tem o hábito, salutar, de tomar dois copos de vinho no jantar, mas, é no mínimo estranho dedicar dois artigos, em um curto espaço de tempo, ao mesmo assunto. Mais estranho, ainda, quando o argumento do segundo não é muito melhor que o apresentado no primeiro artigo. Serial normal e, ate esperado, não fosse o autor um festejado filosofo.
Para ele “numa democracia o legislador pode conformar modos de conduta existentes, mas não lhe cabe inventar uma cultura, em particular uma cultura de abstinência e da repressão necessária”(FSP,16.07.08, A3). Em outras palavras, para o nosso renomado filosofo, a lei que tornou obrigatório o uso do cinto de segurança e ajudou a reduzir o numero de mortes nos acidentes é um equivoco e, também, deveria ser revogada. Para aqueles com memoria curta é bom lembrar que, antes da aprovação desta lei, não havia na cidade de São Paulo a cultura do uso do cinto de segurança. A cultura é resultado da aprovação da legislação e da perda financeira – significativa à época – do desrespeito a mesma. Este é apenas um exemplo e não é difícil encontrar outros.
O filosofo do eterno Príncipe aproveita a ocasião para opinar, também, sobre os eventos recentes. Para não perder o costume, o argumento não é lá grande coisa:
“Uma lei seca espetacular cai como uma luva nesse processo de transformação da lei em espetáculo que está ocorrendo no país. Em vez de combater a impunidade apertando a legislação e aparelhando o Estado, a fim de que ele possa reprimir respeitando os direitos humanos, vem sendo armada, em praça pública, a guilhotina da respeitabilidade, a humilhação do investigado”
É muito senso de oportunidade indicar a lei seca como mais um exemplo de espetacularização e humilhação do investigado. Exagero maior ainda é ver nela um desrespeito aos direitos humanos. Tão pouco é convincente usar estes mesmos argumentos, como faz nosso filosofo, para criticar os trabalhos dos agentes da Lei e da Ordem. E pensar que ele é um especialista em J.S.Mill e Wittgenstein, para não mencionar Marx.